Trabalhar com Sasuke não era tão assustador quanto eu achei que seria. Não era tão intimador, tão estranho. Na verdade era excitante.

Percebi com o tempo que ele tinha várias manias. Passar a mão pela franja a cada três minutos, arrumar a gravata a toda hora, tirar e colocar o terno novamente, morder a caneta toda vez que lia um relatório ou contrato, e fazer algumas anotações em um pequeno e secreto caderno que ele guardava em uma das suas privativas gavetas. Sempre tive curiosidade em saber o que ele escrevia com tanta veemência naquele caderno, mas eu nunca conseguir a coragem de encarar sua face estoica e perguntar.

Itachi, estranhamente, sempre desaparecia ou recebia um chamado para “uma reunião de emergência” quando nós três deveríamos discutir algum projeto juntos. Devo admitir que aquilo me deixava um tanto quanto insegura. Não que eu tivesse medo de Sasuke, não, de jeito nenhum. Mas estar sozinha na presença dele era aterrorizante. Nunca conseguia decifrar sua cara séria, seu olhar longe e gélido, sua personalidade imperial, monárquica. Pelo menos, com Itachi, o clima da sala de reunião atenuava-se, mas sem ele por perto, eu me sentia um pequeno ratinho na gaiola do grande gato. Acuada, presa, encurralada. Tanto adjetivos que eu poderia usar para me caracterizar naquelas situações. Sim, esse era o efeito de Uchiha Sasuke em mim, e possivelmente, em 90 % da população mundial se eles ficassem em uma pequena sala com ele.

Mas no terceiro mês as coisas mudaram, e muito. No começo, eu pensei que fosse somente minha impressão, minha maluca mente que estava pregando peças em mim. Mas não. Uchiha Sasuke, “O” Uchiha Sasuke, presidente das Empresas Uchiha nos EUA, e co-presidente da mesma no Japão, estava flertando comigo. Comigo! Ele começou sutil, sentando-se perto de mim nas reuniões, levemente roçando nossas peles quando se mexia, falando mais baixo, deixando sua expressão característica séria mais amenizada. E eu, lenta como sempre, não percebi, afinal meus dois antigos relacionamentos foram bem rápidos no estágio ‘flerte’. Ambos Sai e Itachi eram muito diretos, então minha experiência nesse quesito era zero. Então, percebendo que suas primeiras tentativas foram frustradas e mal sucedidas, resolveu ser mais ousado. E quando digo ousado, eu quero dizer encurralar-me no canto de sua sala e me roubar um beijo sufocador, tirando todo o ar dos meus pulmões, fazendo minhas pernas tremerem, como se eu fosse desabar se ele tirasse seus braços do apertado abraço na minha cintura. Sim, ele fez isso, e não somente uma vez, na verdade, ele fez isso por duas longas semanas, toda vez que podia. Ás vezes era somente uma vez por dia, ás vezes eram tantos beijos roubados que eu nem conseguia contar. E apesar de parte do meu sonho estar se realizando, eu não sabia o que ele queria de mim. Eu era somente uma ficada, mais uma para sua coleção, que deveria ser muito longa, pois vamos encarar, era Uchiha Sasuke, ou eu era algo sério? Então resolvi encará-lo. Era uma segunda feira, e nós dois deveríamos fazer uma pequena reunião para acertar as cláusulas de um contrato multimilionário das Empresas Uchiha e da Corporação Hyuuga. Como sempre, tratamos dos assuntos sérios primeiro. Resolvemos o contrato em pouco mais de uma hora, e assim que assinamos o mesmo, ele tentou me encurralar novamente, mas eu desviei. Logo ele fez uma cara de desentendido, o que me deu pena, mas eu não poderia recuar. Ou eu acertava as coisas entre nós ou nós pararíamos com aquele comportamento indecente, antiético e antiprofissional.

Lembro-me bem até hoje aquela situação

Flashback

- O que há? Não gosta dos meus beijos – perguntou Sasuke, com uma voz sensual e rouca, praticamente um sussurro.

- N-Na-Não-oo – Amaldiçoei-me por gaguejar uma palavra monossilábica.

- Então o que é? – Ele disse, soando furioso. Provavelmente por eu ter recuado quando ele se aproximou. Respirei fundo e juntei coragem.

- O que somos? – Ele pareceu confuso com minha pergunta.

- Como assim? Somos colegas de trabalho. – Colegas de trabalho, nem como amiga eu me enquadrava na vida de Uchiha Sasuke. Aquela resposta era uma facada no meu coração. Como pude ser tão boba de acreditar que ele estava apaixonado por mim. Meus olhos ameaçaram derramar lágrimas, mas eu não às fiz. Não poderia, nem deveria. Ele não as valia. Tentei me manter estabilizada.

- Então não há mais nada para se discutir Sr. Uchiha. Estarei em minha sala lendo alguns relatórios. Se quiser algo, fale com minha secretária. Com licença. – Marchei para fora da sala o mais calmo o possível, mas quando cheguei a minha sala, não pude conter minhas lágrimas.

Flashback

Sim, aquele momento foi um dos momentos mais dolorosos da minha vida. E sim, amaldiçoei-me muitas vezes e pensei mil e uma profanidades de Sasuke.

E por dias fiquei evitando-o. Ele tentou, sem sucesso, falar comigo. Mas eu não dei chance. Sabia que se ficasse mais que dois minutos do mesmo ambiente que ele eu desmancharia a minha aparência séria e fria de que eu não importava. Porque eu me importava, e muito.

E dias viraram semanas, e semanas viraram um mês. Um mês evitando-o. Um mês querendo chorar por dentro, mas tentando manter a posição de “eu não me importo”.

Mas como Sasuke é um Uchiha, e Uchihas não desistem nem gostam de ser ignorados, ele conseguiu fazer com que eu parasse de evita-lo.

E como ele fez? Simplesmente me prendeu em sua sala juntamente com ele.

Flashback

Eu estava indo entregar uns papéis importantes para Sasuke. Minha secretária tinha saído para o almoço e aqueles papéis eram muito importantes. Eu não poderia por o meu lado emocional contra a empresa. Isso era antiprofissional.

E assim como a minha secretária, a nova secretária de Sasuke, uma mulher que aparentava quarenta anos e era muito amável, também tinha saído para almoçar.

E então eu bati na porta, e a voz masculina pediu-me para entrar.

Com receio, eu entrei, somente para vê-lo ali, em toda sua glória, lendo uns papéis na sua mesa, com sua cadeira giratória de couro extremamente grande para ele.

Assim que ouviu meus passos, ele levantou a cabeça e olhou para mim. Aquilo fez com que eu congelasse. Era a primeira vez em um mês inteiro que eu estava olhando-o nos olhos. Era como se o tempo estivesse parado.

Ele logo desviou o olhar, coisa que eu nunca conseguiria fazer.

Assim que me recuperei do meu choque com os olhos ônix, eu andei até sua mesa e deixei os papéis nela, e me virei para ir embora, quando sinto uma mão me puxando pelo meu braço e me fazendo sentar em uma das cadeiras opostas a de Sasuke. E eu não sei quando, nem como, eu estava sentada no colo dele e nós estávamos nos beijando como se aquilo fosse à última coisa que poderíamos fazer na vida antes de nossas almas se separassem dos nossos corpos.

Naquele momento eu senti amor no nosso beijo. Mas como? Ele não me amava, ele nem gostava de mim, eu era somente um brinquedo para ele.

- Eu te amo! – Ele me disse, enquanto encostava sua testa na minha, fazendo nossos narizes roçarem. Seus ônix apagados, pois seus olhos estavam fechados, e sua expressão petrificada, como se aquelas três palavras que ele dissera eram muito difíceis de serem ditas por ele.

Eu paralisei. Congelei. Petrifiquei. Ele estava se declarando para mim. Ele dissera que me amava. E meu cérebro escolheu àquela hora para parar de raciocinar.

Depois de alguns minutos naquela posição, ele abriu os olhos, e um brilho diferente estava em seus olhos. Era medo.

Ele estava com medo de que eu não retribuísse o mesmo sentimento, de que nossos sentimentos não eram recíprocos.

E eu fiz a única coisa que eu consegui fazer. Eu o beijei, com todo o amor escondido que eu sentia que por 10 anos eu deixei escondido. Coloquei todos os meus sentimentos ali, esperando que ele entendesse que eu o amava mais que tudo.

Flashback