Monarchy Of Roses escrita por cakew


Capítulo 8
Retorno.




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            A noite estava tão escura e assustadora que tornava os passeios noturnos solitários pouco recomendáveis. Mas mesmo assim Snow White levantou-se de sua cama, pois precisava averiguar certas coisas que inquietavam sua mente e a impediam de dormir. Àquela hora da noite, o castelo era demasiadamente silencioso, sendo os únicos ruídos audíveis aqueles produzidos pelos animais e insetos que se escondiam nas frestas das rachaduras do palácio. Snow White manteve seus passos firmes para evitar um tropeço, já que a iluminação fraca das tochas impedia que ela visualizasse o solo com clareza. Ela automaticamente ignorou cada ruído do castelo, pois vivia ali há tanto tempo que parecia conhecê-los de cor, e poderia até mesmo imitá-los. Obstinada em sua busca, Snow White continuou caminhando e acelerando seu ritmo a cada passo que prosseguia, porém, ela parou quando pensou ter escutado o som de uma risada. Olhou em volta e tentou prender sua respiração ofegante para que pudesse ouvir melhor. Permaneceu assim por alguns instantes, e prosseguiu sua busca quando concluiu de que deveria ser apenas sua mente tentando assustá-la.

            Snow desceu as escadas, porém, para sua surpresa, se deparou com outro longo corredor que ela, até então, desconhecia, mas ignorou o fato continuou a caminhar. Quando estava prestes a virar para direita naquele mesmo corredor, um vulto rápido projetado na parede a assustou e fez com que ela se paralisasse. Snow White estava certa do que havia visto, e aquilo não fora apenas uma projeção imaginária feita em sua mente estranhamente inclinada a aterrorizá-la naquela noite.

            - Greta? – ela chamou baixo com uma insegura voz trêmula. O vulto era alto demais para ser algum dos anões, e Eric ainda não havia retornado de sua viagem.

            - Venha… - um lento sussurro quase inaudível que soava como um uivo de vento a chamou, fazendo um calafrio subir-lhe a espinha.

            - Quem está aí? – ela gaguejou e deu um corajoso passo a frente. Se ao menos estivesse com minha adaga... Ela pensou.

            - Traga-me… - desta vez o som veio de suas costas, fazendo Snow White virar-se abruptamente. Agora ela sentia medo, e gostaria de voltar para a proteção do andar de seu aposento, onde poderia pedir por ajuda. Mas logo se deu conta de que, caso corresse na direção do caminho que utilizou para chegar até ali, ela estaria andando de encontro àquele que tentava assustá-la.

            - Seu… - Snow White não sabia o que fazer, a voz parecia estar por todos os lados.

            - Coração. – o último sussurro foi feito ao pé de sua orelha, ela podia sentir um hálito frio e mórbido percorrer seu pescoço e tocar seu rosto, assim Snow logo soube quem estava ali: Ravenna.

            Não havia qualquer tempo para pensar em como ela poderia estar viva, Snow apenas correu com o horror estampado em seu rosto e motivando suas pernas a movimentarem-se cada vez mais rápido. Uma sonora risada feminina ecoou por todo o castelo, e Snow White começou a rezar para que aquilo fosse o suficiente para acordar alguém que pudesse ajudá-la. Lágrimas corriam por sua face, pois ela tinha noção de sua tamanha vulnerabilidade ali. Ela tentou olhar para trás para ver sua vantagem diante de Ravenna, mas no exato momento em que desviou seu olhar para ver o que havia trás de si, algo a atacou com força e violência, fazendo-a acordar.

            Snow White sentou-se na cama. Sua respiração era ofegante e seus cabelos haviam se colado em sua testa por conta do suor. Quando teve a certeza de que tudo não havia passado de um pesadelo, ela limpou o rosto com o cobertor, em seguida olhou para a porta de seu aposento e observou o corredor que possuía a exata mesma aparência daquele apresentado em seu sonho.

            Lentamente, ela deitou-se novamente na cama, mas era incapaz de desviar sua atenção da porta que mirava o corredor. Estava certa de que não conseguiria pegar no sono novamente, então levantou-se. Com cautela, caminhou até a porta e esticou a cabeça para fora dela com o objetivo de observar cada extremidade daquele corredor, e quando sentiu-se levemente segura de que não havia ninguém ali, Snow correu até o aposento de Greta.

            Com o nó de seu dedo indicador, ela bateu delicadamente na porta do local que estava entreaberta. Vendo que Greta não havia executado qualquer movimento, ela tentou bater com um pouco mais de força, fazendo a dama despertar abruptamente com um olhar espantado. Greta comprimiu as pálpebras até conseguir ver que se tratava de Snow White.

            - Majestade! – ela sussurrou com preocupação. – Há algo de errado?

            - Não consigo dormir. – Snow mordeu o lábio inferior com constrangimento. Ela fitou o chão e passou seus braços em volta de sua própria cintura. – Desculpe-me por acordar-lhe há esta hora, mas pensei que talvez eu pudesse me deitar com você. Tive um sonho ruim e não quero ficar sozinha. – o tom de Snow White era quase infantil.

            Greta sorriu com compaixão. Ela tinha irmãos mais novos, e era sempre a responsável por acalmá-los quando eles tinham pesadelos.

            - Tudo bem, Majestade. – ela arredou-se para o lado, com o objetivo de dar espaço a Snow White – Venha, deite-se aqui.

            Rapidamente Snow White assentiu e deitou-se ao lado de Greta.

            - Quer falar sobre seu pesadelo? – Greta sussurrou.

            - Não. Quero apenas esquecê-lo. – Snow repuxou um dos cantos de seu lábio em um meio sorriso sem qualquer humor.

            - Bem, de qualquer forma, não se preocupe, pois não era real. – Utilizando um tom maternal, Greta tentou tranquilizá-la da mesma forma que fazia com seus irmãos.

            - Obrigada. – Snow White agradeceu e as duas permaneceram em silencio.

            - Pensei que fosse uma assombração me acordando quando você bateu à porta. – Greta confessou e riu.

            - Crê em assombrações, Greta? – perguntou Snow White com curiosidade.

            - Bem, creio que não, pois jamais vi alguma. E quanto a você?

            - Eu não acreditava até certo tempo atrás, porém estou pensando em reavaliar minhas crenças. – confessou Snow.

            Assim, o silencio veio e ambas adormeceram apesar dos pensamentos incessantes.

***

            A garganta de Eric estava seca por conta do cansaço, e tudo que ele desejava no momento era um generoso gole de rum ou cerveja. Porém, ele carregava um problema consigo: William. Se não fosse pelo filho do duque, o caçador poderia simplesmente fazer uma curva e guiar seu cavalo até uma taverna que ele sabia existir não muito longe da estrada na qual estava.

Eric lançou um olhar frustrado para William que aparentava desânimo e não desviava seu olhar do chão lamacento. Este rapaz jamais deve ter estado dentro de uma taverna, Eric pensou. Estava anoitecendo, e, apesar de não faltar muito para que chegassem ao castelo de Snow White, seria arriscado prosseguir viagem no escuro. Além da baixa visibilidade, animais e outras criaturas poderiam atacá-los naquele lugar deserto; e Eric realmente gostaria de ir àquela taverna. Vendo que não haveria outro jeito de saciar sua enorme sede, ele suspirou e disse:

- A noite vem chegando. – o tom de Eric era casual.

- Observei. – disse William com um tom de voz seco que fez Eric notar que sua tentativa de persuasão seria mais difícil do que ele imaginara.

- Seria prudente parar em algum lugar e esperar até o amanhecer para prosseguir viagem. – disse lentamente.

- Estou cansado, caçador. Melhor será o quanto antes chegarmos ao castelo de Snow.

Eric sentiu-se levemente incomodado com a maneira – um tanto íntima – que William havia tratado Snow White. Eles eram amigos, porém agora ela era a rainha, e deveria ser tratada com honra e respeito. O caçador preferiu descartar seu incomodo, pois sua tarefa naquele instante era a de convencer William a galopar até aquela taverna, e ele notou que para isto, seria necessário ludibriá-lo.

- Como preferir. – Eric disse com o objetivo de passar a William a falsa impressão de que estava conformado. Porém, alguns instantes depois ele disse: - Apenas sugeri que parássemos, pois ouvi histórias bastante perturbadoras acerca desta região.

Subitamente, William parecia preocupado e interessado. Ele encarou Eric e lançou-lhe um olhar de curiosidade que pedia para que ele proferisse o que se passava em sua mente.

- Homens em jornada que se depararam com trasgos famintos, bruxas necessitadas de matéria prima humana para seus feitiços e fadas com cantos enlouquecedores. – Eric disse com desinteresse, e então suspirou como se não sentisse medo algum por o que havia dito (e realmente não sentia, uma vez que tudo não se passava de uma grande mentira).

William parecia desconcertado. Olhava para os lados numa freqüência desnecessária, e sua respiração era irregular. O filho do duque nem se quer cogitou a hipótese de que Eric poderia apenas estar mentindo para persuadi-lo, pois ele conhecia histórias sangrentas de peregrinos que não conseguiram completar sua viagem. Mesmo sem saber a localidade onde tais atrocidades haviam ocorrido, William subitamente sentiu-se incrivelmente inclinado a sair daquela estrada.

- O quão longe está tal taverna? – disse William virando-se para Eric, que foi incapaz de esconder um largo sorriso de satisfação.

***

- Eric, posso jurá-lo que o chão está vindo de encontro à minha face. – William disse e no mesmo instante espatifou-se como um saco de batatas aberto sobre o chão. Eric riu estrondosamente, porém sua risada era apenas mais uma das outras másculas e barulhentas gargalhadas que preenchiam qualquer espaço vazio daquela taverna, que, a propósito, possuía um notável e azedo cheiro do resultado da mistura de todas as bebidas alcoólicas existentes e disponíveis naquele local.

- Vejo que alguém precisa de ajuda, e, provavelmente, companhia. – Uma doce voz feminina assinalou enquanto alternava seus olhos verdes entre William e Eric. Olhos que fizeram o caçador lembrar-se de Snow White. Não era a mesma tonalidade do verde de Snow (jamais alguém teria um olhar vívido como o dela), mas o simples fato de serem verdes fez com que a imagem da rainha pousasse na mente de Eric.

O caçador havia bebido exatamente a mesma quantidade de cerveja que William, porém seu organismo estava muito mais acostumado com a presença do álcool do que o do filho do duque, portanto Eric era o único da dupla capaz de estabelecer uma conversação coerente com alguém.

- Acredito que ele ficará bastante satisfeito com a caridade que, creio eu, você pretende fazer. – um sorriso maldoso invadiu a expressão de Eric, fazendo a moça sorrir de forma recatada e ajudar William a pôr-se de pé.

O filho do duque aparentava estar nauseado, então apenas apoiou sua testa sobre o ombro da jovem e fechou os olhos.

- Você o conhece? – ela perguntou a Eric.

- Sim. – confessou Eric com um suspiro. – E infelizmente devo cuidar de sua segurança.

- Creio que ele está apagado. – ela chacoalhou os ombros para fazer William mover-se, mas este quase caiu novamente, porém foi salvo pelas mãos da moça, mas ela não agüentou segurar seu peso por muito tempo, então William caiu sentado no chão, onde ficou. – Meu nome é Agnes. – ela tentou sobrepor sua voz às dos outros homens.

- Me chamo Eric, e este é William. – Eric fez uma careta. – Ele realmente não está bem... Garoto fraco. – Eric desistiu de analisar o filho do duque e tentou prestar atenção em Agnes, procurando qualquer semelhança com alguma mulher com quem já esteve, porém, seria difícil encontrá-la, pois ele apenas dormia com prostitutas de taverna quando estava bêbado a ponto de cair ao chão (como William).

Agnes era ruiva, tinha sardas quase imperceptíveis sobre o nariz e as bochechas seus olhos eram verdes, ela era visivelmente mais alta do que as outras moças de sua idade, seus ombros eram também muito largos, e seu cabelo era surpreendentemente curto (até mais que o de Eric). Ela era magra demais para uma prostituta, e, se fosse uma mulher experiente e ambiciosa, certamente já teria arrancado ouro de Eric e William, ou, do contrário, teria procurado por novos parceiros. O caçador sentiu extrema compaixão por aquela moça. Ela não era como as outras garotas que tiravam seu sustento de tal forma, e provavelmente estava aterrorizada com tudo aquilo – ainda mais, por ser uma das poucas belas jovens que restaram no reino... Eric supôs que seus curtos cabelos haviam qualquer ligação com sua sobrevivência. Subitamente, o caçador foi invadido por uma pequena ideia que beneficiaria a cada um daquele trio informalmente formado naquele local.

- Agnes, darei-lhe três quartos de uma peça de ouro caso você me ajude.

Os olhos da jovem brilharam em emoção. Aquilo era muito mais do que ela ganharia em um mês, já que, frequentemente, tudo que lhe davam era metade de um pão; portanto Agnes mostrou-se inclinada a qualquer proposta.

- Não se preocupe, pois será uma tarefa fácil. – ele inclinou-se para encarar Agnes nos olhos, exigindo toda sua atenção. – O cavalo de William o aguarda ao lado de fora da taverna, você irá montá-lo e segurar William consigo e levá-lo até o castelo do duque Hammond, e, lá, contará a ele o que aconteceu aqui, então peça seu pagamento.

- Ao duque Hammond? – ela parecia em choque. Olhou para William que havia discretamente se encostado contra a parede enquanto permanecia no chão, onde agora cochilava; então notou que aquele era o filho do duque. Ela logo pensou que talvez aquela fosse uma enorme oportunidade.

- Sim, faça exatamente o que lhe disse, e, o quanto antes, para que assim você chegue lá ao amanhecer. Quando encontrar-se com o duque, saliente a incapacidade de William de prosseguir viagem, e diga a ele que eu não poderia acompanhá-lo, pois necessitava de comunicar-me com a rainha o quanto antes. Não se refira a mim como “Eric”, mas como “caçador”.

Atônita, Agnes assentiu. Eric ajudou-a a levar o filho do duque para seu cavalo. Quando ambos estavam montados – Agnes e William -, a moça agradeceu Eric por sua generosidade, certificou-se de que William estava preso a ela com segurança, e então partiu com rapidez e logo desapareceu na escuridão da noite que chegava lentamente ao fim.

Eric pagou por o que consumiu na taverna, montou em seu cavalo e também partiu. O efeito da cerveja estava passando, e ele sentia-se sóbrio o suficiente para pensar com grande coerência. Ao lembrar-se do destino para o qual se dirigia, o caçador chicoteou o cavalo, fazendo-o galopar rápido pela pastagem na qual passava. Eric estava ansioso para contar à rainha o que havia encontrado, estava ansioso por retornar após a longa viagem, e, principalmente, estava ansioso para ver Snow White.


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