Monarchy Of Roses escrita por cakew


Capítulo 7
Descobertas.


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, fim de ano é a maior correria D:



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            Olhando para o céu nublado, William viu-se entre sentimentos conflitantes. Não sabia se ficava satisfeito por não haver raios solares queimando suas costas, ou se ficava apreensivo por conta da possibilidade de chuva.

            Eric e o filho do duque haviam partido do castelo de Snow White naquele mesmo dia antes do nascer do sol, e o caçador não havia dito nada desde que partiram, apesar das frustradas tentativas de William de iniciar um diálogo.

            Percebendo que Eric havia diminuído a velocidade de seu cavalo, William fez o mesmo, porém não compreendia o motivo.

            - Por que estamos parando? – ele perguntou com curiosidade.

            - Esse lugar é amplo e plano, mas a terra não aparenta ser boa. Preciso averiguar. – Eric respondeu. William não havia notado o local a sua volta, por isso se surpreendeu. – Talvez não precisasse perguntar caso mantivesse seus olhos no solo ao invés do céu. – o tom do caçador era seco. Eric desceu de seu cavalo e pegou uma haste de ferro que posicionara anteriormente no cesto de carga amarrado ao animal.

            Sentindo-se um tanto insultado, William imitou o caçador e desceu de seu cavalo e avaliou a terra diante de si com pouca confiança. Eric fincou repetidamente a haste no solo, e fez uma careta a cada perfuração que fazia.

            - E então? – William questionou aceitando o fato de que não saberia classificar diferentes tipos de solo.

            - Como eu suspeitava, é macio demais. – Eric resmungou. – Um pouco de chuva levaria todas as moradias abaixo. – comentou ao guardar o instrumento que utilizou para avaliar o solo, o que fez William suspirar, desejando que encontrassem logo o terreno de Snow White e assim pudessem retornar, porém, no instante seguinte, sentiu-se envergonhado por tal desejo, pois mal haviam iniciado a viagem que seria em favor não somente a Snow White, mas também ao reino em que vivia.

            No mesmo instante, William e Eric montaram em seus respectivos cavalos e assim retornaram à jornada. O silencio tornou a acompanhá-los, nenhum som era ouvido senão o do vento cortante moldando e esfriando suas orelhas. Eric olhou para as nuvens cinzentas e carregadas acima de si e premeditou uma chuva, e com ela uma possível enxurrada de reclamações vindas de William. Aquele garoto sabia atirar, mas provavelmente fora mimado durante toda a vida que passou sob as asas do pai, que, honestamente, era o homem mais medroso que Eric já havia visto. O caçador poderia assegurar que conheceu mulheres mais tenazes e valentes do que o duque Hammond... Como Snow White.

            Andaram cerca de duas milhas e logo uma chuva fina e silenciosa se iniciou. Surpreendentemente William não proferiu qualquer reclamação, apenas perguntou a Eric se não deveriam parar para analisar o solo no qual estavam. O caçador respondeu dizendo que haviam se distanciado muito pouco do solo que haviam testado anteriormente, portanto ainda deveriam estar caminhando sobre ele.

            - Observe: a chuva mal se iniciou e os cavalos já se tornaram mais lentos, pois seus cascos afundam na terra. – Eric ensinou e William assentiu.

            A dupla vagou durante todo o dia, a chuva havia cessado e haviam analisado um total de sete solos quando a noite caiu, todos eles insatisfatórios e longe do padrão que Eric procurava, assim haviam decidido montar um acampamento para continuarem a jornada na manhã do outro dia. Encontraram uma árvore grande e farta de folhas, e sobre ela estenderam duas esteiras de couro para sobre elas dormirem. William logo pegou no sono, apesar do desconforto e da umidade gelando sua esteira que, assim, acabava por gelar suas costas. Eric encolheu-se na cama improvisada, que era pequena demais para abrigar todo seu corpo, e passou alguns minutos apenas pensando e observando as estrelas no céu que se escondiam atrás das folhas da árvore. Não há nuvens. O dia de amanhã será bom. Ele pensou, e poucos instantes depois caiu em um profundo e pesado sono.

***

            - Bom dia, Vossa Majestade. – o cumprimento leve e bem humorado veio com o som das cortinas do aposento sendo abertas, e seguido de um forte clarão. Snow White tentou proteger seus olhos com a barra do cobertor de linho que usou para se aquecer durante a noite. – Pedi a Greta que trouxesse seu desjejum até você para que nenhum tempo fosse perdido. Devemos aproveitar o dia, pois há muitas pessoas lá fora, e muitas outras ainda estão por vir.

            Lentamente, Snow White retirou o cobertor de seu rosto e viu o duque Hammond postado enfrente a sua cama. Greta sorria ao lado dele com uma bandeja decorada e farta de diversos tipos de alimento em mãos.

            - O que está havendo? – ela perguntou com a voz rouca e observou o tempo no exterior do castelo através da janela procurando por pistas. O sol ainda não havia terminado de nascer. – Céus, ainda é tão cedo! – ela se surpreendeu.

            - Os aldeões estão ansiosos a sua espera. Uma fila foi formada no exterior do castelo. – duque Hammond explicou. – Bom, agora irei me retirar para que você se alimente e troque suas vestes em privacidade. Estarei aguardando-a na sala do trono, que já foi preparada e está a sua espera. – ele sorriu e se retirou.

            Greta pediu a Snow White que se sentasse, e assim colocou a bandeja sobre o colo da rainha. Enquanto espalhava uma viscosa geléia de amoras em uma fatia de pão, Snow tentou assimilar as palavras do duque Hammond. Logo ela se lembrou da visita que fizera às vilas para esclarecer os aldeões acerca da construção do novo vilarejo. Hoje seria o dia em que os interessados a trabalhar na construção da vila se manifestariam.

            Snow White mordeu a fatia do pão e tomou um gole de chá quente com leite. Logo ela lançou um olhar ansioso para Greta.

            - Greta, Eric e William já retornaram?

            Notando a expectativa da rainha, Greta comprimiu os lábios em uma expressão de lamentação.

            - Não há qualquer notícia deles, majestade. – a decepção no rosto de Snow era perceptível. – Mas o dia apenas começou. Ainda há muito tempo. – Greta sorriu torto ao tentar soar convincente.

            Snow White finalizou seu desjejum e levantou-se da cama para vestir-se. Enquanto ela tentava manter seu corpo rígido diante dos puxões que Greta dava para fazer um laço apertado na parte traseira do vestido, Snow observava a paisagem lá fora. O sol era pálido e nuvens ameaçavam cobri-lo. Dali ela não era capaz de visualizar a fila formada no portão do castelo, pois a vista de sua janela era posicionada de tal forma que apresentava apenas a bela paisagem do jardim criado pela mãe de Snow e as matas virgens distantes do castelo. Ela observava também uma pastagem, onde ovelhas e cabras caminhavam livremente. No céu, alguns belos pássaros e um grupo de corvos sobrevoavam a região. Enquanto observava a dança aera das aves, Snow quase se esqueceu do universo ao seu redor, até que Greta deu um forte puxão final para apertar o laço.

            - Sente-se Majestade, irei fazer algo em seu cabelo. – Greta disse com suavidade, Snow White olhou para ela sorrindo e sentou-se no banco da penteadeira.

            Lentamente, Greta escovou os cabelos de Snow, e então começou a trançá-los, e de repente os pensamentos de Snow imitaram o movimento dos fios e divagaram para longe. Snow White estava tão distante em mente que acabou indo para o dia em que Ravenna quase foi bem sucedida ao tentar envenená-la. Snow White havia ficado inconsciente por horas, e subitamente acordou sozinha em seu leito de morte. Ravenna queria apenas desacordá-la temporariamente para que, assim, seu objetivo de consumir o coração da jovem fosse mais bem sucedido, ou ela de fato queria matá-la com o veneno, porém, de alguma forma, o feitiço utilizado fora quebrado? Snow franziu o cenho, percebendo que não sabia qual hipótese era mais provável. Quando pensava ter decidido acreditar na primeira, sua mente formulava diversos impedimentos que favoreciam a segunda, e vice versa. Ela gostaria de expor seu pensamento e perguntar a opinião de Greta, mas temia que ela apenas dissesse algo como “Bem, Majestade, não faço qualquer ideia. Mas Ravenna está morta agora, não preocupe-se com isto”. Snow White não queria uma resposta pouco esclarecedora como esta, pois caso a primeira hipótese fosse a real, significaria que a inteligência de Ravenna era maior do que Snow White poderia imaginar, e, talvez, isso também significasse que a vitória de Snow sobre a antiga rainha havia sido fácil demais.

***

            - Veja aquilo Eric! – gritou William entusiasmado, fazendo Eric atender prontamente ao pedido.

            - Bem, creio que toda a caminhada valeu a pena, afinal. – Eric disse animado com um meio sorriso nos lábios.

            Os dois admiravam uma enorme planície envolvida por uma colina - o vigésimo terceiro solo que visitavam. A única vegetação densa existente se encontrava no topo da tal colina, o que era bastante animador, pois poderia significar a presença de uma nascente. O que mais impressionou Eric foi o fato de que a grama e as árvores daquele lugar eram verdes e cheias de vida. Um lugar intocado por Ravenna, pensou o caçador. Ele observou a grama abaixo dos cascos do cavalo e sorriu. Animais selvagens deveriam utilizar aquela grama para pastar, e aquilo já era suficiente para dizer que o solo era bom para construção.

            - Não desça de seu cavalo, William. Vamos subir aquela colina e procurar por um rio, e, caso haja água limpa, correremos até Snow White para contarmos nossa descoberta.

            William o obedeceu e a dupla subiu a colina. Lá encontraram árvores e um suave som de água corrente. Ambos desceram de seus respectivos cavalos e os prenderam em árvores para que não fugissem, logo adentraram na mata em busca do rio que denunciava sua existência por seu barulho incessante. Andaram por alguns minutos e depararam-se com uma peculiar e solitária moradia. Ela era encravada na colina e parecia utilizar o espaço de uma pequena caverna, e isso era possível, pois Eric e William não haviam atingido o cume daquela pequena montanha. As únicas partes descobertas daquela casa eram sua porta arredondada e uma pequena janela quadrada, já o restante de sua estrutura era coberta pelo solo. William e Eric se entreolharam.

            - Crê que há alguém habitando esta casa? – perguntou William com um sussurro.

            - O único jeito de descobrir é se entrarmos. – Eric respondeu, e com um rápido movimento flexionou seu braço direito para trás com o objetivo de esmurrar a porta, porém William o interrompeu.

            - Não, Eric! – repreendeu William. – Não podemos invadir uma casa com tamanha brutalidade.

            Decepcionado, Eric deixou seu braço cair na lateral do corpo e bufou.

            - Lhe dou as honras. – ele murmurou com raiva e frustração.

            William bateu na porta com os nós dos dedos, e disse:

            - Há alguém aí? Estamos aqui em nome da Rainha Snow White, e exijo que se pronuncie caso esteja nesta moradia.

            Tentando conter o riso, Eric fez uma careta que William logo percebeu.

            - Está rindo do que, caçador? – ele sussurrou com os lábios comprimidos.

            - Sua delicadeza é incapaz de fazer um inseto se movimentar, William.

            - Faça melhor. – disse o filho do duque, sentindo-se insultado.

            Eric esmurrou a porta com brutalidade, e a madeira desta quase cedeu ao peso de suas batidas.

            - Abra esta porta ou nós mesmos faremos as honras. – ele gritou com um tom grosseiro.

            - Estou quase certo de que não há ninguém aí. – sussurrou William.

            Ruídos abafados vieram do interior da moradia, fazendo Eric erguer uma sobrancelha diante da afirmação de William.

            - Já eu estou quase certo de que há alguém tentando nos fazer de estúpidos. – ele sussurrou, e em seguida gritou: - Afaste-se da porta, pois irei abri-la.

            Eric deu alguns passos de distancia da porta e com um chute alto e pesado, a arrombou. William lançou-lhe um olhar desaprovador, porém Eric estava satisfeito e sorriu, em seguida entrou na pequena casa, e, sem escolha, William o seguiu.

            - Há alguém aqui? – perguntou William enquanto Eric vasculhava a moradia.

            - Não. – Eric respondeu com decepção parando em frente a William.

            - Nesse caso, acho que já temos uma casa pronta. – concluiu William.

            - Talvez o dono tenha saído. Há poeira em cada canto deste lugar, mas está completamente mobiliado. – Eric disse enquanto coçava o queixo e olhava em volta. – Vamos, me ajude a vasculhar novamente.

            William foi para um canto que parecia ser a cozinha do lugar, e Eric agachou-se para olhar debaixo da cama. Haviam apenas dois cômodos: a cozinha que dividia o pequeno espaço com uma sala que estava coberta por palha, e um aposento nos fundos com nada além de uma cama de aparência confortável apesar da sujeira.

            Embaixo da cama, Eric encontrou um livro escuro e grosso. Fazendo esforço para caber naquele cômodo minúsculo, ele esticou o braço com o objetivo de pegar aquele livro para assim ganhar alguma pista acerca de quem era, ou fora, o morador daquele lugar isolado. Porém, ao tocar no livro, sentiu uma forte picada em seu dedo. Ele protestou a dor com um palavrão e rapidamente esquivou seu braço dali para olhar o que havia acontecido. Uma densa gota de sangue brotava de seu dedo indicador, e com uma careta causada pela dor, Eric limpou-a em sua calça. No mesmo instante, uma grande e barulhenta ratazana saiu debaixo da cama e correu casa afora. Com raiva, Eric levantou-se e pegou um de seus machados que guardava em seu cinto. Ele queria matar aquele animal, porém este era rápido e ágil, e logo saiu da casa, fugindo mata adentro.

            - O que aconteceu? – perguntou William com curiosidade diante da expressão furiosa de Eric.

            - Uma ratazana inútil me mordeu. Tentei matá-la, porém ela foi mais rápida.

            William começou a gargalhar, mas Eric bufou sonoramente e exibiu o machado em sua mão, fazendo o filho do duque calar-se no mesmo instante. Com passos pesados de raiva, Eric voltou ao aposento, e agachou-se novamente. Desta vez ele conseguiu pegar o livro sem qualquer impedimento. O objeto era grande e pesado, e um cadeado protegia seu conteúdo. A capa era grande e negra, e, pela textura, Eric pode sentir que era feita de pele de cervo. Três grandes letras douradas estampavam a capa: “P. M. R.” e abaixo delas algo estava escrito em dourado, porém Eric não sabia ler, conseguia apenas distinguir as letras. Logo o caçador notou que aquele livro representava algo sério e importante, porém ele não queria que William o visse, pois muito provavelmente roubaria todo o mérito por tê-lo encontrado no momento em que contasse a descoberta para Snow White. Vendo que seria impossível esconder aquele grande objeto do filho do duque, Eric deslizou-o novamente para debaixo da cama, decidido a contar acerca de seu achado assim que Snow visitasse o local de construção da nova vila.

            Eric levantou-se e encontrou William desanimado na cozinha.

            - Encontrou algo? – o caçador perguntou.

            - Nada. E quanto a você?

            - Estou na mesma situação. – ele virou-se em direção a porta e chamou William por cima do ombro: - Venha, vamos ver o rio.

            Ambos saíram da moradia, e Eric posicionou o que restou da porta em seu local de origem, a fim de proteger seus achados.  


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