Zack foi acordado por algumas almofadadas em seu corpo e se mexeu por baixo do cobertor, afundando seu rosto no travesseiro quando tentou abrir os olhos e uma luz que podia o deixar cego entrou pelo mesmo. Ele urrou de dor de cabeça, e ficou ainda mais irritado por ouvir a voz de Giovanna.

– Levanta flor do dia. – ela falou e deu um grande gargalhada sendo acompanhada provavelmente por Elliot, Zack definiu.

– Qual é o problema de vocês? – ele quase gritou ficando por baixo dos edredons que logo foram puxados pelo casal ali fora. Donovan suspirou encarando aquele casal ali, eles andavam feliz ultimamente, mas nem ao menos ele queria saber porque. Pensar na relação sexual de Elliot e Giovanna dava pequenos calafrios em Zack. – O que vocês querem?

– Queremos que você vire homem. – Giovanna falou rindo. Depois entregou algo para Elliot, que parecia um envelope e olhou uma ultima vez para Donovan. – E rápido. – depois saiu do quarto fechando a porta em seguida, mas Zack tinha certeza que ela estava ali ouvindo esperando um momento para entrar, ela fazia isso... Quase sempre que Zack e Elliot tinham uma conversa séria, o que significava que...

– O que foi dessa vez Elliot? Cara eu bebi ontem, sei que passei da dose, mas... Não vem com sermão ok?

– E eu devo acreditar, que o motivo de você ter bebido não foi nem um pouco porque ouviu a voz de Victória antes de sair para o bar com Sam? – White se sentou na cama de Donovan que virou o rosto depois coçou os olhos batendo em seu travesseiro fofo em seguida, ele suspirou, não sabia o que falar certamente e por mais que Elliot seja seu melhor amigo era difícil falar com qualquer pessoa quando o assunto era Victória.

– Tanto faz. – Donovan deu somente de ombros quando concluiu para si mesmo que não poderia mentir para Elliot como fazia com os outros sempre. Quando Victória era a questão ele sempre dizia não. “Não sinto saudades dela”, “não a quero de volta”, “não penso nela”, “não, estou bem sem ela”. E na maioria das vezes ele somente estava tentando convencer a si mesmo de que não precisava de Goularth, mas a cada vez ficava difícil porque falar com ela era um desafio que ele queria e ao mesmo tempo não queria. Mas correr daquilo ultimamente vem sido completamente ridículo e altamente intolerante.

– Sabe eu e a Giovanna estávamos pensando...

– Você e a Giovanna? Espera, Giovanna pensa?! – Zack fez voz de confuso, mas fez isso somente para irritar a menina do outro lado da porta, ela abriu a porta e mandou língua para Zack.

– Como você é chato Donovan, muito chato mesmo. – ela falou e se retirou novamente, Elliot sorriu e balançou a cabeça, voltando sua atenção para Zack novamente.

– Como eu ia dizendo... – ele foi interrompido mais uma vez.

– Não cara, vocês estavam pensando algo sobre mim? Mas se me permite falar, eu não me importo. Ultimamente o que vocês tem feito para me animar saiu meio que ridículo, trazer sua prima que eu era apaixonado há quase oito anos atrás não é algo tão sutil Elliot, ou você acha que eu iria mesmo pensar que ela estava fazendo uma “visita”? Qual é! Vocês nem ao menos trocavam presentes de natal. – Donovan riu indiferente e se levantou, na verdade ele queria fugir de Elliot sempre que podia, o amigo sempre vinha com grandes histórias de como ele se tornou irresponsável desde que Victória se foi, e não queria de jeito algum um papo desses a essa hora da manhã.

– Zack escuta! – Elliot também se levantou e caminhou atrás do amigo que foi até o banheiro. – E por isso mesmo que a gente decidiu não interferir mais.

– Ah que bom. Eu fico feliz por vocês terem caído em si. – Donovan debochou fechando a porta do banheiro, mas Elliot continuou lá parado. Zack não aguentou e abriu a porta segundos depois. – Fala Elliot, mas fala rápido porque eu estou atrasado. Preciso me encontrar com David na gravadora daqui à uma hora porque ele tem novos projetos para me mostrar.

– Se vai ser rápido eu não sei, depende de você. – Elliot entregou um envelope branco para Zack, o mesmo fitou e viu que era o mesmo pacotinho branco que Giovanna tinha entregado a White. Ele somente abriu e verificou o conteúdo, percebeu ser uma passagem. Ele olhou do papel para Elliot e depois abriu o pequeno talão que o mais importante das informações era: “Voo internacional, Brazil – Guarulhos, São Paulo. 16h35 PM”. Zack fitou Elliot mais uma vez e depois riu olhando através do mesmo.

– Qual é a piada dessa vez? – ele perguntou erguendo o talão. – Onde você arrumou isso Elliot? No lixo? Cara... Valeu por me animar a esse horário.

– Não Zack! – Elliot falou quase bravo. – Essa passagem é pra hoje, pra daqui a duas horas. E é pra você. – ele praguejou soltando os braços que estavam cruzados. – Estou cansado de você desse jeito, um idiota completo. Você se acaba um pouco a cada dia, e isso faz cinco anos, não cinco dias. – Elliot suspirou e olhou o amigo com compaixão, não sabia se ele iria aceitar o presente, ou se iria jogar na cara dele simplesmente e ir tomar seu banho. Mas precisava tentar, por todos ali, principalmente pela criança Emily. – Então eu e Giovanna estamos te presenteando, vá para São Paulo, conquiste sua mulher de volta, e traga sua família para Londres. Imediatamente!

– Você fala como se ela fosse me aceitar, cara isso é loucura. Victória não quer nem falar comigo por telefone, quanto mais olhar na minha cara. Acho que isso é um bom motivo por ela ter se mandado justo para a América do Sul! – Zack olhou novamente as passagens, já sentindo vontade de chorar.

– Não sabemos, ninguém sabe. Mas é preciso tentar, e eu esperei cinco anos pra ver você tomar essa atitude. Tive que fazer por você. Eu me lembro como se fosse hoje, quando Victória foi embora, quando você soube disso... Lembro-me do meu melhor amigo embarcando com ela naquele avião, e não fui só eu que perdi você Zack. Todos nós aqui sentimos sua falta, do nosso Zack de verdade. Então por favor, pare de chorar e vá atrás da sua mulher, Curly Boy! – Elliot foi subitamente surpreendido com o abraço repentino de Zack, mas sorriu mesmo assim retribuindo.

– Você acha que...

– Não vamos pensar Zack, só entre aí, tome um bom banho e vá para o aeroporto, antes que seja tarde demais. – Ele beijou a bochecha do amigo e o viu entrar correndo novamente para o banheiro e bater a porta, Elliot riu saindo dali.

Zack entrou no banheiro já se despindo e entrando em baixo da ducha, não pode deixar de pensar no que Elliot falará. Tudo era concreto. Ele ter mudado, ter se afastado, ter ficado frio... E ele não queria isso, mas foi preciso. Aprendeu na própria pele, que a falta de felicidade e de amor pode mudar uma pessoa. E a última memória de quando ele chorou feito uma criança passou em sua cabeça completamente vivida.

Flashback de cinco anos atrás

Zack entrou no apartamento de Victória, na esperança de encontrá-la lá e em vez disso encontrou Elliot, Giovanna, Sam e Adriane sentados no sofá, imediatamente Wicthoff disparou pra cima dele, mas foi segurada por White.

– Foi você, seu idiota cretino. Você a tirou daqui! – ela praguejou gritando e cMurphydo ao mesmo tempo. Adriane a segurou e a levou para o quarto passando por Zack e lhe enviando um olhar de decepção, como se ele tivesse feito algo realmente ruim. Sam se levantou indo em direção a Zack mais se virou e foi para a cozinha deixando somente ele e Elliot ali.

– O que... O que tá acontecendo? – Ele gaguejou ainda com as mãos no bolso por conta do frio nas ruas de Londres. Depois que Victória tinha lhe deixado na cafeteria sozinho, ele não foi atrás dela. Simplesmente a deixou ir, e sentiu o gosto amargo na boca de que nunca a teria de volta, mas era preciso assim. Precisava magoá-la para ela realmente o deixar ir. Elliot caminhou até ele e sorriu forçado.

– Victória foi embora. – seu sorriso se desfez e ele ficou com o rosto sério. – Ela pegou o primeiro voo para o Brasil com Emily hoje de tarde, depois que chegou aqui cMurphydo. De alguma forma ela já tinha passagens compradas com alteração de horário e dia disponíveis, malas prontas e estava disposta a ir. Ela saiu daqui falando que iria passar um tempo na casa da avó, mas depois quando David e Joseph deram uma carona para ela até o aeroporto descobrimos que não era bem assim, logo que ela entrou no portão sem volta Joseph a achou, mas ela só se despediu dele de longe e caminhou para o avião. Sam contou que ela estava com você antes de chegar aqui cMurphydo.

– E eu estou, com muita vontade acredite de bater na sua cara. – Evans chegou por trás, mas Elliot foi imediatamente para frente dele. – Como você pode Zack? Nem ao menos para nós você contou! Como assim... Se casar com Larissa, cara?

– Ah! – Zack se lembrou de algumas horas atrás, quando Larissa o ligou e disse que o casamento estava terminado. Ele não questionou apenas concordou achando aquilo estranho e então agora tudo se encaixava. Ela somente queria tirar Victória e Emily de foco, quando ela disse que não deixaria a humilhação de Zack à fez, ela tinha dito seriamente. Mas ao contrario da reputação que ela podia reconstruir Victória nunca confiaria em Zack outra vez. – Não foi... Ela não vai voltar?

– Não ela não vai. – Uma Giovanna veio do corredor com o rosto sério, todos pensaram que ela iria ir para cima do menino quando ela o abraçou fortemente cMurphydo em seu ombro. – Eu entendo Donovan, eu vou te apoiar. Não se preocupe.

Flashback finalizado.

Zack sorriu com a lembrança, mesmo querendo chorar, enquanto se trocava. “Eu entendo Donovan, eu vou te apoiar. Não se preocupe.” Então querendo ou não, Giovanna estava sempre por trás de tudo, ligações e até mesmo presentes. Ele achava chato a menina sempre está no seu pé, mas ela foi a única que acreditou nele na época, mesmo com uma imensa vontade de o deixar roxo, Wicthoff acreditava que ele tinha sido forçado a fazer aquilo, como se soubesse desde o começo de tudo que aconteceu. Ele pegou uma pequena bolsa e colocou algumas roupas que iria precisar dentro, e seus utensílios. Depois saiu do quarto onde era esperado por Elliot, Giovanna e Sam.

– E aí cara. – Sam se levantou e cumprimentou Donovan com um abraço breve. – Fiquei sabendo da sua viagem, vim ajudar. Que tal uma carona até o aeroporto no meu volvo? Acho que temos que correr para estarmos do outro lado de Londres em uma hora.

– Valeu, dude. – Donovan sorriu para Evans que piscou somente. Ele fitou Giovanna com um lindo sorriso no rosto e abraçou a menina.

– Diga a minha melhor amiga que sinto falta dela.

– Obrigada por tudo Gi, por ter acreditado em mim desde o começo. – ele beijou a bochecha de Wicthoff. – Vou trazê-la para você matar sua saudade, eu prometo. – ela somente assentiu deixando uma lágrima cair. Zack abraçou Elliot.

– Vá ser feliz, Hazza. – Elliot riu com o apelido, mas Zack não teve tempo de replicar pegou sua bolsa do chão e foi atrás de Sam, na saída deram de cara com uma Ana Carolina ofegante, ela e Sam trocaram um breve olhar, mas deve se deixar bem claro que eles não voltaram e nem tiveram contato algum. Marins ficou mais próxima de Giovanna desde que Victória fora embora, e agora como dona da loja de CD’s que ficava próxima à casa da menina, elas tinham um contato bem maior.

– Ainda bem que te peguei em casa. – Ela falou, tentando recuperar o ar. – Olhe, entregue isto a Victória para mim? Sei que ela vai saber o que fazer com isso... – ela deu um pacote embrulhado em um papel para Zack, o mesmo continha selos, então era fácil descobrir que tinha vindo de um correio. – Faça o que tenha de fazer Zack, não nos decepcione. – ela falou e sorriu agora menos cansada, deu um beijo na bochecha de Zack e entrou no apartamento passando a milímetros de Sam que sentiu todo o seu corpo enrijecer. – Evans. – ela o cumprimentou formalmente, mas o garoto nem teve chance de lhe responder. Estava confuso demais tentando absorver tudo aquilo. Era a primeira vez em anos que ela lhe dirigia a palavra.

Depois de quarenta incríveis minutos eles estavam estacionados no aeroporto, Zack tinha exatos dez minutos para estar no avião, e provavelmente o voo estava sendo anunciado em embarque imediato agora mesmo, ele saiu rápido do carro quando Sam estacionou num lugar não permitido. Os dois se abraçaram quando Evans chegou ao lado de Zack.

– Ei cara... – Zack falou depois de soltar o abraço. – Tenta correr atrás de Ana Carolina enquanto estou fora.

– Ah! Nós não damos certo. – Evans falou somente, e Zack riu balançando a cabeça já se afastando.

– Estou indo para o outro lado do mundo basicamente, pra encontrar uma garota que me fugiu há cinco anos. Você não sabe o que é “não dar certo” perto disso. – ele acenou e correu para dentro do aeroporto, se tinha fãs e elas o chamaram, ele não percebeu, foi quase como um avião para o portão de seu voo, com medo de se atrasar de novo. Tudo bem que pra quem estava atrasado há cinco anos, cinco minutos não seriam nada, mas Zack sentia, como nunca sentiu antes que aquela era hora. E que quando chegasse ao Brasil iria tudo se encaixar perfeitamente.

Victória riu de sua filha que dançava ao som do CD do pai no quarto. O primeiro disco que foi lançado há quase seis anos atrás, mas que ainda estava conservado com a pequena Emily, poderia se dizer que aquilo era uma verdadeira relíquia, e entre todos e muitos que foram lançados, o preferido da menina era com toda certeza o EP de Up All Night, que também era o favorito da mãe.

– It’s Everything That You do, do, do. It’s Everything About You! – Emily cantava animadamente. Quando Everything About You acabou, Victória entrou no quarto, mas parou subitamente quando ouviu a voz de Zack na caixa de som ali se reproduzindo. Parecia até que ele estava perto dela. “Circles, we going in circles, dizzy's all it makes us. We know where it takes us we've been before. Closer, maybe looking closer; There's more to discover. Find that what went wrong without blaming each other.”Victória voltou a se mover quando a voz de Evans rodou nos altos falantes, e ela foi até o pequeno som de Emily e o desligou, olhando a menina cair sentada em sua cama de susto.

– Vai acordar os vizinhos Emily. Já são quase 22h da noite, a senhorita já escovou os dentes? – Lily bufou ouvindo a mãe e fui para o banheiro pulando. “Achar o que deu errado sem culpar um ao outro.”Como se isso fosse possível, Victória pensou. Emily voltou alguns minutos depois que sua cama já estava arrumada e sua mãe a esperava ali ao lado.

– Mamãe, amanhã a senhora vai passar o dia comigo? – Emily perguntou sorridente.

– Eu pretendo, porque não quer?

– Não. Claro que eu quero! – ela abraçou a mãe pelo pescoço. Victória raramente conseguia tempo para filhar com Emily, então a menina sempre ficava feliz quando isso acontecia. – Podemos ir ao parque?

– Eu estava pensando que podíamos ir ao shopping... – Goularth sorriu cobrindo a filha. – Afinal, se você for mesmo para aquele acampamento, precisa de roupas novas. – Emily agora ia dormir com um sorriso no rosto maior do que podia, Vick deu um beijo na testa da filha acendendo a luz do abajur em seguida. – Boa noite querida.

– Boa noite, mamãe. – ela sussurrou com os olhos fechados e Goularth saiu do seu quarto.

Andou até a cozinha e pegou uma xícara de chá com remédio para dor de cabeça pronta no balcão ao lado da pia, olhou a mesa de jantar e viu que seu notebook ainda estava ali com milhares de papeis em volta, viraria a noite trabalhando. Goularth olhou ao seu redor a sala vazia, se pudesse morava em um lugar bem menor que aquele, mas Emily gostava dali então era um ponto a mais para a sua pequena filha ser feliz.

Ela arrumou o cabelo em um coque alto, vestia seus pijamas e estava cansada porque tinha realmente sido um dia longo e bem cansativo. Pensou em ligar para Giovanna, mas percebeu que seria manhã essa hora em Londres então buscou seu celular e fitou um número no mesmo por várias vezes, o número era internacional e tinha o nome "Zack" grande em cima, estava sem foto, mas só de ler o nome várias vezes o coração de Victória palpitou, era sempre assim. Ouviu sua campainha tocar e achou estranho, quem apareceria às 23h da noite? Pensou que fosse Letícia e abriu a porta com um grande sorriso no rosto que se desfez rapidamente.

– Zack? - ela perguntou paralisada com a mão na maçaneta e o garoto ali, com um sorriso no rosto que explodiria mil corações.

– Quanto tempo, Victória.