À Prova De Balas escrita por Corrupta
Notas iniciais do capítulo
Enjoy it (:
No outro dia acordei atrasada novamente, tomei um táxi e sai até a escola. Pedi para o motorista parar um pouco antes e desci por lá. Avistei Ana e João correndo, pois o portão estava fechando. Continuei caminhando devagar, até que por fim ele se fechou e eu me sentei em um banco um pouco pra frente da escola.
Fiquei lá por mais alguns minutos com a cabeça baixa. Ela doía um pouco. Percebi um vulto passando correndo por mim. Olhei de lado e ele tinha parado, olhou pra trás e com um sotaque estranho perguntou:
- Já fechou, né?
- Claro Caio! Tá vendo ele aberto?
- Não precisava, não!
- E... - fiz cara de impaciente.
Ele chegou perto e ficou me olhando com cara de espera.
- O que você quer?
- Posso sentar?
Fiquei por alguns segundo o olhando.
- Fazer o quê, né?
Tirei a mochila com raiva. E ele se sentou. Ficamos os dois por mais de 20 minutos sem falar nada. Eu continuava com a cabeça abaixada e ele olhando pro nada, mechendo no celular, abrindo os cadernos, rindo sozinho e conversando com os pássaros...
- Que é isso?
- Tô falando com eles, ué! - Ele disse, apontando para as pombas.
- Você é louco! Isso sim!
- Você fica esse tempo todo com a cabeça abaixada, não diz um A. E por eu falar com os pobres passáros, você me condena? Ninguém liga pra eles, tadinhos!
Comecei a rir dele. Lembrando de quando jogavamos pedrinhas nas pessoas que passavam na rua e nos escondiamos atrás das árvores.
- Tudo bem, então! Bom dia passarinhos! Qual o nome de vocês? - Disse entrando na brincadeira.
Um silêncio se formou. Olhei pra Caio com uma interrogação de todo tamanho no rosto.
- Isso não tem graça! - falei.
- Eles não te responderam? - ele perguntou indignado.
- Não! - olhei com raiva. - É lógico que não, seu idiota! Eles não falam!
Eu nem acreditava no que eu estava fazendo.
- Ou você que não escuta! Claro que isso tem graça, você que é sem graça demais, pra achar alguma coisa! - Agora ele estava com raiva. - Você contumava ser mais engraçada, sabe...
- Costumava... é...
- E por que mudou? Eu gostava daquela antiga Izzie!
- Eu sei bem do que você gostava!
- Ah, não! Aquilo já passou, meu bem! Para de ficar jogando isso na minha cara! Eu bem sei que no primeiro dia de aula, era o que você e Sophie queriam fazer, mas já passou!
- Com todos os motivos!
- Claro! Vocês tem motivos, sim! Mas vocês não tinham me perdoado?
- Perdoado, sim! Esquecido... Ai é outra história!
- Tá! Mas eu só queria que você soubesse que eu sinto muito!
- Tá! Tá! Você já disse isso... Umas trezentas vezes! Tá tudo bem! Me desculpa também! E força do hábito!
Os alunos já começavam a sair para o intervalo. Olhei às horas.
- Estão saindo mais cedo!
- Pra nossa felicidade! - Caio completou.
Entramos na sala e novamente me sentei atrás do menino loiro.
- Bom dia! - Sorri pra ele.
- Bom dia! - ele retribuiu.
João puxou uma cadeira e se sentou perto de mim.
- E queria matar aula, porque? - ele perguntou.
- Hã? Quem queria matar aula?
- Eu te vi chegando na escola e dava tempo de entrar!
- Ah, nada! Eu só não queria ter aula de história!
- Agora era matemática!
- Ah, isso! Não queria ter aula de matemática!
- Conta outra, Izzie! Fala o que tá havendo ai!
Olhei pra ele baçançando a cabeça.
- Voltou!
- O quê?
Fiz silêncio.
- Aquela onda de pesadelos!
- De novo?
- É!
- Eu já te falei pra procurar um médico. Você não em escuta! Isso não é normal, menina!
- Mas... eu ainda não tenho certeza! Começou de novo quando voltei de viagem! Talvez sejam só pesadelos! E não vai durar muito!
- Não sei não, ein!
- Tô falando sério! Se continuar... eu procuro um médico!
- Promete?
- Eu penso. - ele me olhou e balançou a cabeça de um lado pro outro com sentido de negação, bem devagar. - Você acha que eu mudei?
- Mudou.
- Sério?
- Claro, Izz! Todo mundo muda!
- Não! Não assim! Mudei pra melhor ou pra pior! Há quanto tempo?
- Por que você tá preocupada com isso?
- Não sei! Me disseram que mudei pra melhor, que estou mais feliz e vivendo minha vida. Mas também me disseram que mudei pra pior, que não vejo mais as coisas do jeito que eu via.
- E isso é ruim? Ás vezes elas que não estão te vendo do mesmo jeito!
- O que você acha?
- Não importa! Quem tem que achar alguma coisa é você!
- Mas eu queria...
- Izzie, relaxa! Para de se preocupar com isso! Vai viver!
Ele me deu um beijo na testa, sorriu e saiu gritando, chamando Ana pra ir na lanchonete.
Abaixei a cabeça novamente. Já estava virando mania. E quer saber? Ele estava certo. Preocupação atoa! Se mudei ou não, sei lá, não importa.
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