Eu esquecera esse pequeno detalhe. Nos finais dos Jogos os idealizadores sempre fazem um ágape para nos dar o que mais precisamos, mas isso é somente uma maneira de nos juntar e começar uma matança. Nossos parentes provavelmente estão sendo entrevistados de novo sobre nossas capacidades de conseguir capturar nossas dádivas e outras perguntas a mais para deixá-los perturbados.

                                           Lembro-me dos tributos restantes. Sobraram seis no total: Eu, Clove e seu parceiro, o garoto do distrito 11, Katniss e seu parceiro. Se eu não perdi nenhum canhão estou certa. Pergunto-me o que eles devem ter na mochila: Os carreiristas provavelmente tem comida, acho que eles não são aptos para a caça. O tributo do 11 deve ser alguns acessórios a mais . Ele era esperto suficiente para caçar e pegar água e aparentemente forte para pegar doenças graves. Katniss e seu ‘’amor’’ não faço a mínima ideia do que precisam. Ela é boa no arco, então caça é bem fácil, consequentemente a água, e a matança a distância. Ela é bem estratégica: seu plano de explodir suprimentos foi bem planejado. Ela não teria muito que precisar a não ser que a sorte não estivesse a seu favor em algum dia. Percebo que só estou pensando nela e não em seu parceiro. Na verdade não há muito que pensar já que eu não sei absolutamente nada sobre ele. Talvez o garoto esteja precisando de remédios ou algo para se aquecer.

                                          Percebo que já está totalmente escuro ao meu redor e a temperatura começa a esfriar anormalmente. Desço minhas calças do joelho até os tornozelos, visto minha jaqueta e espero que meu corpo contribua comigo e não me deixe congelada. Subo numa árvore, me enfio dentro do saco de dormir, amarro-me com as cordas e coloco a mochila á minha frente. O hino toca novamente, mas nenhum rosto aparece. É decepcionante saber que terei de enfrentar os carreiristas naquele ágape. Olho para o céu estrelado e dou um longo suspiro.

                                          Quando já ia me entregando ao sono, levo um susto: Não havia feito nenhum plano. Eu realmente estou evitando a luta contra qualquer tributo para me manter ilesa e forte nos jogos, mas não faço a mínima ideia de como irei conseguir sair de lá sem ter algum ferimento.

                                          Primeiro tomo ideia de onde cada um estará. Não é algo difícil já que todos terão medo de por o primeiro pé na área da cornucópia. Katniss não terá problema em matar a distância, e só se aproximará se estiver segura ou na hora do confronto em que todos estarão ocupados demais se matando. Seu parceiro é algo indecifrável, não sei nenhuma de suas habilidades na arena. Só irei saber se ele está junto com Katniss, quando no ágape só houver uma bolsa do distrito 12 que significa que estão juntos. O garoto do distrito 11 é forte, tem boas armas e seu medo está erradicado, então é uma grande ameaça. Possivelmente seria o primeiro a pegar sua mochila. Os carreiristas são um perigo ainda maior: São dois e isso significa que tem cobertura, além da famosa capacidade de ganhar.

                                        Fico um breve momento pensando no amanhã, quando uma ideia me vem à cabeça. Algo quase impossível de se sair viva, mas era o mais perto que poderia chegar sem luta: Na verdade é o primeiro passo que é o mais seguro, claro que vindo do lugar certo. Um movimento rápido e espantoso e que todos ficariam sem ação, somente tentando raciocinar o que houvera. Escondo-me dentro da cornucópia perto do amanhecer, espero as mochilas aparecerem e em seguida as pego e saio correndo.

                                        Depois de pensar no plano faço várias tentativas para pegar no sono, mas todas falham. O frio intenso chega e uma brisa gelada bate contra minha pele transformando-a num gelo. Começo a tremer-me e meus dentes se chocam uns contra os outros. A sede começa a entrar num estágio mais rigoroso: câimbras começam a atacar meus músculos, uma dor de cabeça intensa atinge-me e minha língua começa a inchar. Minha ansiedade para o ágape está ficando bem maior.

                                       A noite inteira fiquei me encolhendo e consequentemente piorando o estado da minha costa que está extremamente dolorida. Percebo que uma névoa prateada começa a rondar embaixo de mim. Vejo que se não sair logo de lá, poderei não chegar a tempo á cornucópia e perderei minha única chance de vida. Desamarro-me dali e desço até o solo. A névoa atrapalha minha visão e embaralha minha cabeça, pois não me localizo bem ali. Mesmo com as dificuldades que existem vou andando para frente tentando não entortar o passo e rodar em círculos.

                                      Quanto mais meu sono vai se perdendo, mais vou acelerando o passo. Com isso começo a ignorar todas as fazes de minha desidratação e digo ao meu corpo que conseguirei água. Ando durante quase uma hora e o céu começa a apresentar pequenos riscos alaranjados e prateados e o céu fica um tom de cinza. Agora consigo distinguir as árvores eu seu devido lugar.

                                      Penso a cada minuto em situações ou objetos que envolvam água. Minha ansiedade já está virando uma inimiga e eu odeio isso. Olho a paisagem muito nervosa esperando ser o que eu encontrara antes e a respiração aumenta e ouço-a mais alto que meus próprios passos. Olho para o céu novamente e seu cinza está se transformando num tom mais claro e traços rosados e amarelados se mesclam com os outros. A tonalidade está dando uma leveza grande e delicada, mas admirar céu não está nos planos. A névoa está baixando de nível e com um tom agora mais branco que prateado ela está batendo somente em meus joelhos.

                                      Depois de quase três horas e meia andando sem pausa, minha surpresa não podia ser maior. Com o céu adquirindo sua tonalidade azul normal e a névoa totalmente erradicada, vejo que numa árvore há uma leve marquinha de faca. Um sorriso sai pelo canto da boca e ele se completa quando olho para trás e as outras árvores também possuem marquinhas. Isso quer dizer que há um tempo ando no caminho certo então estou quase chegando, e começo a correr devagarinho como se fosse uma caminhada.

                                     Não é de admirar que mais uma hora de caminhada me levasse á uma clareira. Nunca estive daquele lado, mas cheguei ao ponto que eu queria. Onde eu estava era ao sul do acampamento destruído, então o atravessando chegaria á cornucópia, exatamente na outra entrada. Com a adrenalina ativada em meu corpo, corro através do acampamento, desço o pequeno morrinho que leva ao ágape e sem respirar entro na cornucópia e me arremesso no chão, rolo para o lado e começo a bufar tampando o barulho com a jaqueta. Ninguém estava ali, a primeira parte do plano funcionara.