Distrito 5 - A Força Da Inteligência escrita por BelleJRock


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, tudo bom? Espero que goste desse capítulo! ^^



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          Quando acordei o dia estava cinzento e triste. Suspeitei que fosse chover e estava torcendo para isso. Passei a noite num arbusto, para meu gosto, e fui delicadamente me retirando de dentro dele. E no ato em que estiquei meus braços para espreguiçar-me e vi que não senti nenhuma dor no ombro quase dei um grito de excitação. Tirei a tira de tecido e vi que o machucado ainda estava meio roxo com vermelho, porém bem menos e fechado. Jurei a mim mesma que se saísse viva daqui daria um estoque de barrinhas de cereal para Rodney pelo resto da vida. Essa lembrança me fez soltar um sorriso melancólico. Rodney me lembrava muito de Ethan, e assim Ed, e meu irmão mais velho, meus pais... E o sorriso foi se transformando em uma mera lembrança afundada em lágrimas e desespero.

         Noite passada, depois que saí do lago, andei no máximo dez minutos. Usei a técnica de marcar as árvores para não andar em círculos, porém tudo que acontecera no dia me fez dormir profundamente. Decorei de como voltar ao lago, pois precisaria voltar ali pela água e também um animal para comer já que muitos coelhos e esquilos desavisados vão beber água. Conferi tudo na mochila: as tiras de tecido estavam ali, junto com o saco de dormir, fios, cordas, minha garrafa pela metade e fósforos. Dei um gole na água e fui hidratando minha garganta que ainda doía. As duas facas e o estilingue estavam presos no cinto. Preparei-me e fui seguindo meu caminho de volta. Ainda era cedo, pois os primeiros raios da manhã se desenvolviam. Felizmente meus pontos de referências deram certo, e a técnica das marquinhas nas árvores começou a aparecer e a me guiar para as vegetações mais ricas e variadas. Em questão de oito a dez minutos atinjo o primeiro lírio d’água. Fiquei muito aliviada e fui seguindo-os, e assim achei o leito do rio. Não havia nenhum sinal de que algum tributo estivera por lá, conferi nas árvores próximas, assim como atrás de pedras e troncos caídos, dentro de arbustos e muitos outros lugares. Aproximei-me e ajoelhei ao lado do leito e fiquei observando meu reflexo nas águas calmas do lago.

             O silêncio absoluto naquela região ora me perturbava ora me acalmava. Voltando meu pensamento ao que deveria fazer, abri o primeiro compartimento da minha mochila e vi algumas das tiras que estavam sujas de gordura. Peguei-as mergulhei na água e comecei a dar uma básica limpeza. O momento em que eu esfregava algumas tiras e sentia aquela água geladinha em minhas mãos eu suspirava. Mergulhava meus pulsos e jogava água em meu rosto e as gotas apostavam corrida e percorriam meu pescoço e assim meu corpo até chegar ao solo. Meus olhos estavam cerrados e apreciando a escuridão e todos os músculos do meu corpo pareciam relaxados. Precisava de um mergulho naquele lago. Procurei pelo leito do rio três gravetos fortes e fiz uma espécie de varal improvisado. Retirei o casaco, as botas, minha calça e outros artefatos. Fiquei somente com a blusa apertada que ficava por de baixo do casaco e a parte de baixo da roupa íntima e sem me importar com câmeras ou tributos, fiquei submersa no rio. Toda vez que eu mergulhava ficava um grande tempo embaixo d’água, deixando o estresse escorrer pela leve correnteza. 

            Talvez isso fosse um ponto fraco meu. A saudade. Enquanto estava na água fiquei pensando sobre o distrito 5 e minha família. Tem pessoas que conseguem lidar com isso e não importa o quanto ela ame tal pessoa ela consegue disfarçar. Muitas vezes, claramente percebo o quanto minha reação muda ao falar em minha família na capital. E isso só piora quando vejo as pequenas coisas que me lembram de meu distrito. Meus pais também sempre deram seus valores sobre a vida que eu, meu irmão e Ed nunca gostaríamos de esquecer e desperdiça-los aqui também é uma maneira de me deixar triste.

            Parecendo horas, porém passando-se somente dez minutos saí da água, sacudi-me um pouco e coloquei minhas roupas. Desmontei o varal e guardei as tiras. A garrafa d’água estava pela metade, dei dois goles cheios nela e a reabasteci novamente, coloquei as pílulas e esperei agir. Enquanto isso acontecia iria atrás de comida. Eu poderia escolher entre peixe e algum animal terrestre. Acabei optando pelo animal terrestre já que poderia comer mais tarde também. Observei a região do lago e vi algumas pedras achatadas, gravetos fortes como a do meu simples varal, folhas, outros tipos de pedras e um arbusto com algumas frutinhas que eu desconhecia. Algum animal passaria por ali para a bebida matinal e pensei numa ideia maravilhosa.

                O princípio da manivela. Foi assim que eu e meu pai batizamos a armadilha. Como nosso distrito era responsável pela energia, sabemos várias formas de obtê-la. Meu pai contava que antigamente, muito antes de Panem existia uma nação como a nossa. Aprendemos isso na escola, mas nunca falava o quanto eles eram mais racionais que a capital e que consequentemente fazia uma nação muito melhor. Enfim, ele dizia que hoje em dia ainda se usa algumas das técnicas de lá para captação de energia que era o movimento giratório de umas turbinas enormes por meio de água, vento e outras formas gerava energia elétrica. Um dia eu e meu pai pusemos isso em prática numa armadilha só que o que movimentava as turbinas em tamanhos extremamente menores era uma manivela que nós girávamos. Elas não geravam muito a ponto de eletrocutar, mas se um animal fica preso dentro de um quadrado com pequenos choquinhos em todo canto ele fica atordoado e assim é só matá-lo.

           Era incrível poder usar aquela armadilha aqui. E era bem fácil. Achei algumas pedras achatadas no leito e fiz como se fosse pequenas hélices (ou as mini turbinas) amarrei-as e liguei-as a um pequeno toco de madeira que chegava até a manivela improvisada. Os diversos fios que existia em minha mochila ajudou muito. Fiz uma espécie de pequena cerca com fios que conduziam energia e liguei-os as pequenas turbinas e finalizei com uma parte de uma armadilha bem arcaica: peguei uma pedra grande e um graveto a segurando e quando o animal encostasse no graveto a pedra cairia, porém ela não é o suficiente para matar um animal e quando o mesmo tentasse fugir estaria cercado por fios eletrizantes que com uma série de pequenos choques o atordoaria. Coloquei umas frutinhas em baixo da pedra e fiquei esperando. Ás vezes parece um exagero tudo isso, mas há alguns animaizinhos espertinhos por aí que conseguem escapar facilmente de algumas armadilhas, porém eles desconhecem o princípio das manivelas.

            Aquele lugar parecia uma dádiva de Rodney. Um lago, arbustos e quietude. Talvez aquilo esteja tão bom que daqui a pouco algo de terrível aconteça, mas preciso terminar de recompor todas as minhas energias. Foi em questão de uma hora e dez minutos um esquilo apareceu. Somente mexendo minhas mãos com cuidado comecei a movimentar a manivela. O bichano apesar de parecer bem atento parou em frente às frutinhas e avançou nelas, e sem muita surpresa, esbarrou no graveto e a pedra caiu sobre seu rabo. Não foi nem em questão de minutos ele retirou o rabo e tentou uma fuga rápida. Zap. Um leve choque o atingiu. Ele deu um passo atordoado para trás e seu pelo arrepiou-se. Foi pelo outro lado e levou outro choque em seguida. Foi sempre indo às direções das cerquinhas até que seu pelo todo arrepiado, e a cabeça tremendo freneticamente deitou no chão e ficou tentando se recompor. Fui até lá e espetei a faca no esquilo. Um sangue espirrou em meus braços, mas o esquilo ficou imóvel e de olhos fechados. Fiquei mais feliz de saber que a armadilha funcionou bem do que com o esquilo que continha em mãos. Infelizmente, mesmo com todo o tempo que gastei na armadilha tive que desmontá-la e jogar ela pelos matos ou dentro do rio. Só guardei os fios de volta e as pequenas hélices.

             Com o estômago clamando por comida, abro o esquilo, eviscero-o, corto em várias partes e resolvo acender uma fogueira. E assim que terminasse de usar o fogo iria sair o mais rápido possível. Com alguns gravetos que restou da minha armadilha e outros nas matas ciliares do lago acendi uma fogueira. Começo a cozinhar as partes do esquilo. A carne fica com uma aparência melhor e deixo por mais alguns minutinhos.

               No momento em que percebo que a fumaça está ficando mais alta resolvo parar. Sinto que não é uma boa ideia deixar um aviso em forma de fumaça: Ei carreiristas, estou aqui! Me matem! U-hu. Guardo as partes dos esquilos ainda quente enrolados nas tiras limpinhas de tecido e começo a apagar a fogueira. Não é um trabalho difícil, mas eu demoro um pouco mais do que o necessário quando ouço uns sons ao longe.

               -Mas o que é isso? – Digo a mim mesma. 

               As vozes vão ficando mais perto e percebo que não é um animal ou algo da minha cabeça. São várias pessoas gritando desesperadamente. Por uma fração de segundos penso logo ser duas ou mais pessoas correndo de um bando de sanguinários: os carreiristas. Eu poderia ser a próxima vítima. Começo a pagar rapidamente as chamas. BUM. Um canhão atira. E nas últimas chama do fogo me desespero e começo a correr contra o tempo e as vozes que se aproximavam. BUM. Outro canhão soa. Meu coração acelerou e suas batidas ficaram iguais aos tiros que os canhões deram. Chutei os pedaços de brasas que tinha no chão e com um alívio enorme fui me adentrar na mata, porém dei uma última olhada para trás e vi do outro lado do lago três rostos horríveis, modificados, aterrorizados gritando por ajuda.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Odiaram? Amaram? Algum erro? Mande reviews, me motiva muito. Obrigado pessoal! ^^



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