Spell The Most escrita por Angel Salvatore


Capítulo 32
Capítulo 31


Notas iniciais do capítulo

Programei esse capítulo e mais alguns para que não aconteça de ficar dois meses sem postar. Beijos.



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“Você está distante”, Nick comentou enquanto caminhávamos na noite fria da Spell the Most.

Assim que eu tinha voltado, quase o arrastei porta afora comigo. Na verdade, eu poderia ter ido embora muito bem sozinha, mas Nick insistiu para vir comigo. Eu fiquei um pouco chateada, porque quando eu voltei, vi que ele e Lien estavam se dando bem. Ele estavam rindo juntos.

Lien pareceu um pouco chateada quando eu e Nick estávamos indo embora. Mas logo voltou a fachada fria e rolou os olhos. Mas eu vi algo no fundo deles que, eu não sei como explicar. Mas não parecia muito do feitio de Lien ter aquilo nos olhos.

“Não, nada”, eu respondi. “Só não queria ir para o quarto agora”

“Quer ir para o meu?”, ele perguntou com um sorriso que iluminou seus olhos azuis. Isso me fez sorrir também. “Quero te mostrar a música que Drake me ensinou. Ele disse que você ia gostar”

“O qual?”, eu perguntei curiosa.

“Você só vai saber se for”, ele disse e me puxou na direção dos dormitórios.

Subir para o quarto de Nick foi fácil. Como era final de semana, muitos dos inspetores tiveram que o prazer de sair e os que ficaram tiveram que cobrir a entrada e a saída do campus. Então, em resumo, estávamos livres para ir e vir nos dormitórios.

Enquanto eu esperava Nick destrancar a porta, olhei para a porta de Nathan/Ryan. Será que a gente tinha brigado de novo? Será que tínhamos feito as pazes? Será que ele e Lana estavam juntos? Será que eu sou apenas um jogo para ele?

Esse jogo é para dois.

A culpa era minha. Quer dizer, eu comecei esse jogo idiota. Eu que arque com as consequências. Nathan apenas aproveitará essa oportunidade e me torturará ainda mais.

“Pronto”, Nick anunciou quando abriu a porta.

Voltei para o mundo real quando ele entrelaçou os meus dedos mos deles e me puxou para dentro do quarto. Diferente do quarto ao lado, o cheiro era mais límpido. O que mais eu iria querer? Ali moravam um bruxo da água e um gênio.

Nick me deixou sozinha enquanto eu me sentava na sua cama. Abracei meus joelhos e pousei minha cabeça neles, fechando os olhos. O cheiro suave de Nick me envolveu e me trouxe, inconscientemente, lembranças do cheiro picante e marcante de Nathan.

Eu não podia pensar nele. Não aqui no quarto de Nick. Não hoje.

Nem nunca.

Meus pensamentos foram cortados quando escutei o som das cordas do violão de Nick. Eu abri os olhos e o observei se sentado na ponta da cama e começando a dedilhar o violão. Ele parou, levantando os olhos para mim e sorrindo.

“Drake disse que essa música se chama Alexa's Song*” (* A Canção de Alexa)

Acho que parei de respirar. Nick começou a tocar a minha música em seu violão, e , como se fosse para ter a certeza do meu ataque cardíaco, ele começou a cantar.

E que voz.

Nathan poderia ser um príncipe encantado falando, andando, até mesmo respirando, mas ninguém (tirando os vampiros), se igualava a voz de Nick. Tão doce e fresca. Um pouco rouca. Super sexy. Fechei meus olhos novamente e fiquei saboreando a música.

Quando Drake cantou ela para mim, eu era tão ingênua que nem tinha visto o duplo sentido da música. Como ele tinha posto seu amor em forma de despedida. Como ele colocou seu coração ali. E como eu tinha desprezado-o.

Tudo bem. Não é como se eu fosse um tipo inusitado de Casa Nova feminino, mas também não ficava com uma pessoa só porque estava acostumada com ela. Ficava quando gostava e quando não gostava mais, era sincera e conversava. Esse era um dos motivos de eu ainda estar com Nick. Além da atração elementar ( e o fato de que Nathan estava com a minha pior inimiga). Ele me completava. Além dos meus poderes.

E aquilo que ele fez por mim, aprender aquela música que tanto fazia parte do meu passado, me fez enxergar a realidade. Mesmo que Nick não tenha dito, (o que eu agradeço) ele me amava e faria qualquer coisa para me ver feliz. Ou se ele não me amava, gostava o suficiente para achar que amava.

Quando a música acabou, eu abri meus olhos, ao mesmo tempo que Nick. Por um momento fiquei apenas presa naqueles lindos olhos azuis. Tão claro, que eu pensei que poderia ver a sua alma enquanto ele colocava o violão no chão e vinha na minha direção.

A paixão que banhava seus olhos deteve todas as palavras que sairiam da minha boca. Ele só parou quando seu corpo estava parado em cima do meu. Sua respiração no meu rosto, deixando meu coração a mil. Ele aproximou nossos rosto e suas mão pararam uma de cada lado do meu corpo, sem me tocar, mas irradiando calor.

“Alexa, eu...”, ele tentou dizer, mas eu coloquei meu dedo em seus lábios.

“Não diz nada, Nick”, eu disse sem desviar os olhos dos deles. Tão meu. Tão certo. “Só me beija. Me beije agora”, eu pedi.

Ele começou o beijo com calma, até que começou a acelerar e esquentar. Eu me contorci embaixo do seu corpo e consegui colocar minhas mãos em seus cabelos negros. Senti ele pressionando seu corpo no meu e quase pirei de vez. Aquele corpo tão perfeito era meu, apenas meu. Ele passou uma das mãos pela lateral do meu corpo e eu contorci um pouco aquecida pelo desejo. Não, eu estava pegando fogo.

Sorte que meu namorado dominava a água. Será que se eu abrisse os olhos, eu veria fumaça saindo de nós dois? Eu não queria saber nesse momento. Oh, não. Tinha coisas melhores para fazer.

Minhas mãos se moveram para baixo, pelas suas costas, sentindo-as e adorando-as, até alcançar (com um pouco de esforço) a borda de sua camisa azul. Nick, parecendo entender, sentou na cama e tirou ele mesmo a própria blusa. Eu apenas fiquei deitada, o observando. Até que me sentei também e toquei sua barriga , seu peito, seu pescoço, seu rosto. Parei em sua bochecha.

“Tão lindo”, eu suspirei.

“Não tanto quanto você”, ele respondeu. “Você não sabe como eu fiquei quando te vi sem camisa hoje de dia. Tive que segurar para não te atacar lá na enfermaria mesmo”, ele sorriu.

Eu ri.

Mas logo meu riso foi cortado pela boca de Nick novamente na minha. Me aconcheguei nele, enquanto suas mãos exploravam as minhas costas e iam descendo, até chegar a borda da minha blusa branca. Me afastei dele para que pudesse tirá-la.

Ele ficou me encarando por alguns momentos, parte por parte do meu corpo. Tive que me segurar para não me encolher de vergonha, mas senti minhas bochechas queimando e sabia que estava corada. Nick, que estava sério durante toda a sua inspeção, se aproximou e tocou meu rosto.

“Não tenha vergonha. Sou apenas eu.”, ele sorriu.

Eu assenti, enquanto ele me puxava novamente para os seus braços e voltava a me beijar. Coloquei minhas mãos novamente em seu cabelo , puxando seu rosto cada vez para mais perto do meu. Nick tirou uma das mãos do meu cabelo ( que deveria estar parecendo um ninho de cobras) e alisou minha barriga. Senti um tipo de arrepio pelo meu corpo.

Era tão fácil ficar com Nathan.

Me afastei de súbito de Nick. Ele se assustou um pouco com a minha mudança repentina de humor. De quente e sexy para Mais Que Droga!

Não abri meus olhos, por que sabia exatamente o que veria, e me arrependeria mais ainda. Me afastei até sentir o encosto da cama em minhas costas. Mesmo sem abrir os olhos, eu senti o colchão se mexendo e afundando enquanto Nick se aproximava de mim.

Senti seu corpo parando na minha frente, e em seguida sua mão estava em meu rosto. Dessa vez eu me encolhi. Estava fazendo tudo errado. Um erro depois do outro e estava sendo tão injusta com Nick também.

“Alex, o que foi?”, ele perguntou. Pelo seu tom de voz, ele parecia preocupado. “Fomos rápido demais, é isso?”

Eu apenas balancei a cabeça.

“O que foi, então?”, ele perguntou. “Me responda, Alex. Ou pelo menos, abra os olhos”, ele pediu carinhosamente.

Eu passei a língua nos lábios, estranhamente secos, então suspirei. Lentamente, eu abri os olhos. Então eu vi o que eu mais temia. Antes que ele pudesse me perguntar alguma coisa, levantei das cama e peguei minha blusa no chão. Vestiria ela no caminho de volta. Que se dane.

Enquanto ia em direção a porta, não dei nenhum olhar para Nick, mas sabia que ele estava me observando. O que eu poderia dizer: Desculpa por não poder transar com você? Não, melhor que dizer uma besteira , era dizer nada.

Apenas quando eu abri a porta, escutei a sua voz.

“Por que, Alexa?”, Nick perguntou. E , pela primeira vez, ele parecia desesperado.

Eu não respondi, nem sequer o encarei, apenas sai dali como um raio. No corredor, encontrei alguns garotos que me olhavam como nunca, então me lembrei de vestir a blusa. Só melhorei mesmo quando senti o ar gelado da escola batendo em meu rosto. Pela primeira vez nesse ano, eu me sentia fria.

Enquanto eu caminhava a pequena distância entre o dormitório masculino e o feminino, observava algumas pessoas conversando entusiasmadas, com certeza por causa do resultado final do jogo. Ou talvez, pela festa pôs jogo.

Eu estava passando igual a um furacão. Mas um furacão silencioso. Olhei para os lados para ver se alguém tinha me notado, no mesmo momento em que encontrei seu olhar.

Eles dois estavam mais afastados da multidão, ele debruçado em uma árvore ( a árvore dos emo) e ela debruçada nele. Mas seus olhos negros me encaravam, enquanto aquela loira artificial se contorcia em seu corpo e passava o dedo por seu peito e sorria sugestivamente.

Como uma distância tão curta entre os dois dormitórios, pareceu tão longa? Será , porque eu estava parada igual a uma idiota encarando Nathan e Lana se agarrando? Eu balancei a cabeça de novo e voltei a caminhar.

“Eu sou uma grande idiota”, eu disse enquanto me jogava na cama e afundava meu rosto no travesseiro.

“Idiota, não. Apenas confusa”, Sam me respondeu.

Eu nem tinha o sentido sair de mim. Levantei minha cabeça e o encarei deitado na cama de Lana. Ele realmente gostava daquela cama.

“Eu estou perdendo o controle dos meus poderes, de novo”, eu disse me sentando e passando a mão pelo meu cabelo emaranhado. “Estou me sentindo uma novata estúpida”

“Você não é novata”, Sam disse. Mas ele não negou a parte de estar perdendo o controle dos meus poderes e de ser estúpida.

“Seus olhos, também?”, eu disse finalmente reparando nos olhos vermelhos de Sam. Ele estavam num verdadeiro rubro. Na verdade, pareciam duas pedras de rubi e não roubavam o ar de sarcasmo de Sam. Muito menos diminuíam o efeito do seu tão famoso, rolar de olhos.

“É, claro”, ele rolou os olhos. “Sou parte de você. Isso faz parte de mim”, ele disse se referindo aos olhos vermelhos. Ele ficou sério. “Assim como essa dúvida incondicional entre a atração elementar com Nick e essa atração humana por Nathan”

Passei a língua pelos lábios.

“Sam, você também, não”, eu pedi.

“Aly, apenas me prometa que vai tomar cuidado com Castille”, ele me pediu de volta.

“Tudo bem”, eu coloquei uma camisola e me deitei na minha cama. Quando estava pronta para recolher Sam, parei. “Por que, Sam?”, eu perguntei. “Por que eu não consegui ir além com Nick?”

Sam pulou da cama de Lana e caminhou até mim. Senti seu pelo macio tocando minha mão, e antes que eu percebesse, ele estava se recolhendo. Quando a fumaça avermelhada começou a sumir e entrar no meu corpo, a resposta instalou em minha mente.

Naquele momento em que abri os olhos, não encontrei o par de olhos negros que gostaria.

*******

“Estamos atrasadas, Luen”, eu gritei batendo na porta do banheiro.

“Espere”, ela gritou de volta.

“Droga!”, murmurei. “Ele vai embora e eu nem vou me despedi dele, Luen”, gritei novamente. Coloquei as mãos nas têmporas e gemi. Tinha acordado com a pior dor de cabeça de todo o mundo.

Nesse momento a porta do banheiro se abriu e Luen saiu, já pronta , com um sorriso de orelha a orelha. Os cabelos ruivos perfeitamente presos em um rabo da cavalo. Um suéter lilás super fofo e um short jeans com fitinhas rosas. Total Luen.

“Vamos”, eu disse pegando em sua mão e puxando-a.

Que tipo de namorada eu era? Primeiro abandonava o garoto no quarto, sozinho e confuso. Depois me atrasava para a despedida dele. Tudo culpa de Luen e sua mania por espelho. Por que eu não poderia dividir o quarto com Lien?

“Então?”, Luen disse tentando puxar assunto. Eu estava quieta , apenas tentando chegar rápido no estacionamento, sem cansar as pequenas e finas perninhas dela. “Como foi o seu encontro ontem?”

Isso me fez parar.

“Acho que isso não significa boa coisa”, ela disse, entrelaçando nossos braços e nos fazendo andar de novo. “O que aconteceu?”

Passei a mão pelo meu cabelo e suspirei.

Eu tinha que em abrir com alguém. Tudo aquilo estava me sufocando de um jeito aterrorizante. Me sentia claustrofóbica. Mas, ao mesmo tempo, eu não achava certo contar sobre Nathan primeiro para Luen. Por que, bem, Luen poderia ser uma das minhas melhores amigas, mas Suzy era a minha segunda irmã. E deixar ela cega nessa situação, era como a estar traindo.

“Nada.”, eu respondi e colei um sorriso no rosto. “Nosso time ganhou”

Ela rolou os olhos azuis.

“Você sabe que eu poderia ter dito isso antes”, ela disse. “Alex, ou você me conta o que aconteceu ou eu vou ser obrigada a recomeçar a olhar o seu futuro”

“Oh, chegamos”, eu disse quando pisamos no estacionamento.

E estávamos atrasadas. Todos já estavam ali, esperando a gente. Nick estava encostado distraidamente no carro enquanto o motorista colocava as suas malas dentro do carro. Quando nossos olhares se encontraram, senti minhas bochechas queimando, mas continuei com a cabeça erguida e sorri.

Ele pareceu confuso no começo, mas sorriu e volta.

Acho que eles só estavam nos esperando, por que assim que pisamos ali, as despedidas começaram. Primeiro foram Daemen e Luen até Nick. Luen deu lhe um abraço apertado e um sorriso e Daemen apertou sua mão e disse algumas coisas. Eu estava longe demais para escutar. Mas vi também quando Luen assentiu e concordou. Nick riu e também assentiu dizendo mais algumas coisas.

Logo depois foram Suzy e Ryan. Vou ser sincera, Ryan e Nick nunca foram BFF's. Desde que Ryan tinha entrado na escola, que Nick tinha começado com aquele ciúme doentio dele. E , além disso, Ryan era o melhor amigo de Nathan, tanto que, mesmo sem admitir abertamente, eu sabia que ele estava torcendo para que eu ficasse com Nate, não com Nick.

Ryan apertou a mão de Nick e deu um breve sorriso. Nick retribuiu e assentiu. Até hoje eu acho que Nick só andava com Ryan por causa de mim e de Suzy. Já que ela era a minha melhor amiga, eles teriam que se ver por bem ou por mal.

Suzy deu um abraço em Nick e disse algumas palavras, depois dirigiu seu olhar até mim. Eu já até poderia adivinhar o que ela estava dizendo: Não se preocupe, estaremos de olho nela. Pelo olhar de Ryan, acho que ele ia empurrar essa missão para alguém que iria gostar mais. Nathan , por exemplo. Nick apenas assentiu e sorriu, também olhando para mim. E foi assim que mesmo sem ninguém me dizer nada, eu soube que era a minha vez de ir lá me despedir.

“Vou sentir a sua falta.”, eu sussurrei no ouvido de Nick enquanto o abraçava.

“Eu também”, ele se afastou e olhou no fundo dos meus olhos. Suas mãos ainda estavam em meus ombros. “Tenha cuidado.”

“Claro”, eu confirmei.

“Não estou dizendo apenas sobre aquele Assassino Mágico.”, ele disse. Seus olhos azuis super sérios. “Estou dizendo também sobre Dylan, Lana e ...”, ele se deteve e suspirou. “E Castille. Eu ainda não gosto daquele cara”, ele balançou a cabeça ainda ainda sério.

Eu não iria discutir com ele no último dia dele na escola. Oh, não. Por isso, eu apenas assenti e lhe dei um beijo leve nos lábios. Eu sentiria realmente a falta de Nick. Ainda mais se eu fosse fazer a maior burrada de toda a minha vida quando ele fosse embora.

“Droga, eu estou atrasada”, a voz de Lien soou logo atrás de mim.

Eu mal tinha percebido que ela não tinha vindo. Não, eu tinha percebido, mas pensei que ela realmente não viria. Por causa das discussões com Nick e essas coisas. Mas lá estava ela. Esbaforida e corada.

Eu me afastei e dei espaço para ela. Lien deu um passo a frente e apertou a mão de Nick.

“Tenha uma boa viagem , Mauricinho.”, ela disse. “Vou sentir falta das nossas brigas”

“Pare de ser tão dura , Lien”, Nick disse a ela, e a puxou para o conforto de seus braços. “Viu? Não é tão ruim assim”, percebi Lien balançando a cabeça e suspirando, enquanto apertava Nick num longo abraço.

Eles ficaram assim até que afastaram e coraram.

“Bem, então, tchau”, Lien disse olhando para os seus pés.

“Tchau”, Nick disse e surpreendendo a todos, deu um beijo na bochecha de Lien.

“Idiota”, ela disse passando a mão na bochecha e socando o braço de Nick.

“Só para não perdermos o hábito”, ele riu. Depois a puxou para mais um abraço que ela aceitou de súbito. Mas esse foi mais rápido. Sem querer, um sorriso saiu dos meus lábios ao ver que eles não eram tão inimigos assim.

Eles se olharam e sorriram um para o outro. Então, Nick se virou para nós e acenou alegremente, enquanto entrava no carro. Ele parou um momento e me encarou. Eu sorri e lhe mandei um beijo. Ele retribuiu, mas seus olhos estavam escuros demais para o meu gosto.

Logo que ele entrou completamente no carro, eu e meus amigos começamos a acenar feitos malucos para ele. Nick se virou e começou a acenar também. O motorista tomou seu lugar atrás do volante e começou a se afastar com o carro.

Eu só parei de acenar quando o carro não estava mais a vista.

*************

Acordei no meio da noite, totalmente inquieta. Tinha que sair, tomar um ar, ou iria ficar louca. Olhei para o lado e vi Luen presa no quinto sono, enquanto eu levantava e vestia a primeira roupa que aparecia na minha frente. Tudo o que eu queria era sair.

Minha cabeça estava um turbilhão de pensamentos e eu preferia, mil vezes, pegar um detenção do que ficar rolando na cama a noite inteira. Saí do quarto prendendo meu cabelo em um rabo de cavalo e me arrastei em silêncio pelo corredor até a porta de saída de emergência.

Assim que senti o ar gelado tocando minha pele, fiquei mais leve. Caminhei, sentindo a grama batendo em meus chinelos e , sem que eu percebesse, estava sorrindo. Eu deveria estar meia lunática, esses dias. Ontem eu tinha sido atacada por andar sozinha e tarde, mas mesmo assim, ali estava eu.

Balancei minha cabeça e continuei caminhando até a área de arco e flecha. Pelo menos, se alguém me atacasse, eu estaria protegida. Fox sempre deixava aquilo fechado, mas um vez ele tinha me contado onde escondia a chave extra.

Peguei tudo o que achava que seria útil e me preparei para atirar. Ombros retos, cabeça levantada, pés alinhados e ... tiro no alvo. E, particularmente, desde que tinha ganho a super visão avermelhada, tinha uma pontaria mais que perfeita. Acho que conseguia acertar uma agulha no palheiro.

Aquele era o meu refúgio. Ali, eu conseguia esquecer todos os problemas afora. Esquecer o que estava acontecendo comigo e o que estava para acontecer. Estava tão concentrada em acertar o alvo que mal escutei os passos atrás de mim, apenas quando escutei a voz dele que me dei conta de estar sendo observada.

“Estou começando a achar que te mostrar onde ficava a chave extra, foi um erro”

Abafei um grito e me virei encarando os lindos olhos verdes de Fox. Ele estava casual em sua camisa azul com a manga dobrada até o cotovelo, e com as mãos no bolso de sua calça jeans. O jeito como sua cabeça pendia para o lado, fazia com que seu cabelo loiro ficasse na frente do seu rosto, o deixando mais sexy do que ele era. E o sorriso que ficava presente ali, meio que ajudava.

“Me desculpe por tê-la assustado”, ele disse, mas o sorriso em seu rosto me dizia o contrário. Ele deu um passo a frente e tomou o arco e a flecha de minha mão, pegando meu lugar e mirando no alvo. “Posso perguntar o que está fazendo aqui , uma hora dessas?”

“Eu meio que precisava pensar”, eu respondi.

Ele abaixo o arco e me encarou de cima a baixo, só que sério.

“Nicolas foi embora hoje, não é?”, ele perguntou.

Eu apenas assenti e virei o rosto para a floresta.

Nem mesmo escutei ele colocando o arco no chão e parando em minha frente. Só percebi que ele estava perto de mim quando senti sua mão em meu rosto, o levantando para que o olhasse. Seus olhos, sempre tão verdes e bonitos, parecia compreensíveis. Nós ficamos um tempo nos encarando, até que um sorriso deslisou pelos seus lábios (e pelos meus) e ele me soltou.

“Ás vezes, eu queria que minhas irmãs mais novas fossem iguais a vocês”, ele voltou a pegar o arco no chão e a mirar. Eu me coloquei ao seu lado, o observando. O único barulho, além de sua linda voz, era o do vento sendo contado pela flecha.

“Você tem irmãs?”, eu perguntei, tentando fazê-lo falar.

“Claro! Duas.”, ele sorriu e soltou a flecha.

No alvo.

“Duas bruxas. Uma é do ar e outra da água”, ele sorriu e me encarou. Com certeza deve ter visto minha confusão, porque riu e se pôs a explicar. “Sabe, minha mãe se casou muitas vezes. Uma com meu pai, humano. Outra com o pai de minha irmã do meio, bruxa da água. A caçula é adotada. Incrível como tantos bruxos podem ser encontrados abandonados em algum orfanato de esquina.”, ele parou e balançou a cabeça. “Elas são tão diferentes. A caçula é um doce de pessoa, mas a do meio”, ele balançou a cabeça de novo, só que com um sorriso. “Ela vai muito pelos impulsos, sem pensar e isso um dia, vai acabar com a sua vida”

Eu apenas levantei minha sobrancelha. Não é como se eu fosse a pessoa mais racional do mundo. Muito pelo contrário. Esses últimos dias , eu tenho agido muito pelo impulso, sem pensar duas vezes nas consequências.

Fox levantou os braços novamente para lançar mais uma flecha e nesse momento eu vi uma coisa que me fez arfar. Três linhas retas e profundas em seu braço, e pareciam ser recente. Ainda conseguia enxergar um pouco do sangue seco ali. Fox seguiu meu olhar e abaixou o braço.

“Oh, Deus! O que aconteceu com você?”, eu perguntei dando um passo a frente.

Fox largou o arco de novo no chão e recuou, colocando a mão livre no machucado.

“Não foi nada!”, ele disse, mas parecia um pouco perturbado ou constrangido. “Fui tentar usar meus poderes além do que deveria e não tive um bom resultado”

“Oh! Luir?”, eu arrisquei.

“Não, um morcego”, ele me corrigiu.

Fiquei confusa.

“Não existem morcegos por aqui”, eu disse e estreitei as sobrancelhas.

“Por isso mesmo”, ele sorriu, sem graça. “Usei para chamar um para cá, mas não consegui controlá-lo o suficiente para mantê-lo aqui.”, ele passou a mão pelo cabelo palhado. “Acho que sou arrogante demais para um bruxo normal”, ele riu e me olhou.

“O que foi?”, eu perguntei. Algo no olhar dele me fez dar um passo para trás.

“Você é linda, parece que eu nunca notei antes”, ele disse , antes de parecer se arrepender e balançar a cabeça. “Sei que vou me arrepender de dizer isso, mas...”, ele deu um passo a frente e tocou o meu rosto com a ponta dos dedos. “Nicolas foi um idiota em te largar aqui, sozinha. Na toca os lobos. E dos vampiros, e dos gênios, dos videntes... e dos bruxos”

Ele se aproximou de mim, o bastante para que eu conseguisse sentir o seu hálito de menta. Ele continuou acariciando o meu rosto e tocou a ponta dos meus cabelos.

“Tão macia”, ele murmurou.

Enquanto a mim? Eu estava perdida em um mar de prazer. Se isso tivesse acontecido a dois anos atrás, eu coraria e me afastaria, pronta para contar para as garotas. Mas agora, eu estava me pressionando cada vez mais no corpo de Fox, vendo que ele não era só perfeito por fora, quando por dentro de sua camisa.

Um pigarro fez com que nos afastássemos. Parecia que tínhamos levado um choque. Eu passei amão pelo meu cabelo, incapaz de me virar e ver quem tinha nos pego em uma cena tão inapropriada. Fox parecia estar corado, mas não tanto quanto eu. Se fosse a diretora, eu estava completamente ferrada....

“Boa noite, professor Fox”, Nathan disse as minhas costas.

Eu congelei.

Literalmente, congelei. Parei de respirar e meu coração traidor, fez aquilo de parar e acelerar. Eu não conseguia virar. Não tinha coragem. Com certeza Nathan tinha assistido tudo e pelo tom duro de sua voz, não tinha gostado nada. Ele que se ferrasse. Ele tinha Lana. Que se preocupasse com ela. Eu mesma poderia ter dito isso, se não estivesse arfando igual a uma maluca asmática, olhando para o nada.

“Boa noite, Nathan Castille”, Fox respondeu e se virou para Nathan.

Eu também tomei coragem e o encarei.

Seus olhos cravaram em mim e pareciam ver a minha alma. De um passo involuntário para trás e a minha mão foi automaticamente para o coração que batia feito louco. A cor de seus olhos estavam tão negra que parecia não ter fim. Eu conseguia sentir a tensão no ar, quase que apalpá-la. Parecendo sentir também, Fox deu um passo a frente e encarou Nathan.

Nathan, por outro lado, parecia contrariado em tirar os olhos de mim para encarar Fox, mas foi o que ele fez.

“O que faz uma hora dessas aqui, Castille?”, Fox perguntou.

“Uma coisa bem mais construtiva do que você, não é, Fox?”, Nathan retruquiu.

“Veja como fala comigo, Castille”, Fox disse dando um passo a frente e ele não parecia nada feliz. Nathan não ficou por baixo e também deu um passo a frente. Eles eram quase do mesmo tamanho, mas se tivesse uma briga, com certeza Fox sairia ganhando.

Por essas e outras, eu intercedi.

Como sempre.

“Hey, vocês dois”, eu chamei atenção deles e me pus no meio. “Parem”, eles me encararam. Esse momento foi um pouco constrangedor. Porque, bem, eu era a mais baixa dali e eles tiveram que olhar consideravelmente para baixo. E quando me olharam parecia ter uma pergunta de Que Diabos Ela Está Fazendo Aqui em seus olhos.

Aproveitando a distração deles na minha altura, ou na falta dela, agarrei o braço de Nathan, pela jaqueta de couro e o puxei para longe. Por um momento , me deixei aproveitar dos seus músculos através da jaqueta, mas logo depois levei a sério.

“Vamos embora!”, eu disse e comecei a arrastá-lo para longe. Por cima do ombro, encarei Fox, que assim que nossos olhares se encontraram, desviou-os. Eu tremi. Tinha algo ali que eu realmente não queria ter visto. Mas antes que eu pudesse pensar no que era, Nathan começou a falar.

“O que, diabos, você estava fazendo com aquele cara?”, ele perguntou. Então, percebendo que eu ainda estava pendurada em seu braço, se livrou de minhas mãos. Ele parecia realmente fulo.

“Nada”, eu respondi inutilmente.

“Nada”, ele me imitou. Então parou e se virou para mim, me estudando de baixo a cima. Como estávamos a uma boa distância do campo de arco e flecha, não tinha chance de Fox o escutar. Graças a Deus. “Vocês tem um caso?”

Eu quase engasguei com a minha própria saliva.

“Você tem problema de cabeça?”, eu retruqui. A expressão de Nathan não se suavizou. Ele queria uma resposta séria. Eu suspirei. “É claro que não. Nós nunca passamos da relação, aluna – professor”

“Não me pareceu isso lá no campo”, ele disse, ainda de braços cruzados, como se eu fosse a culpada de tudo. O imitei , cruzado os braços.

“Como você consegue ser tão idiota? Não disse para você não falar comigo a não ser que fosse profissional. E o que rolou ali no campo”, eu apontei para o lugar da onde acabamos de sair. “não lhe diz respeito”

Ficamos um bom tempo nos encarando, sem dizer nenhuma palavra. Eu estudei a postura reta de Nathan. Os cabelos lisos e longos, até o queixo. Os olhos escuros. As roupas escuras. E a falta do sorriso arrogante. Alguém teria que ceder, ou se não ficaríamos ali até amanhecer.

Nathan finalmente suspirou e descruzou os braços.

“Tem razão, me desculpe”, ele disse. Então passou a mão pelos cabelos negros. “É só que quando vi aquele cara quase te beijando”, ele balançou a cabeça. “Acho que fiquei com ciúmes, mesmo não tendo direito”

Ele deu um olhar significativo para mim, esperando que eu dissesse alguma coisa que o contrariasse, mas a única coisa que vinha na minha cabeça era: Você é o único que possuí meu coração. Mas era meloso demais, então me mantive quieta.

Parecendo entender meu silêncio, ele deu seu sorriso arrogante e deu um passo a frente, diminuindo a distância entre nós dois. Eu admirava mais uma coisa em Nathan que não tinha notado até aquele momento. O modo como ele era sincero. Dizia tudo o que vinha a sua mente, sem se deter.

“Eu queria realmente lhe fazer uma proposta.”, ele disse e seu sorriso aumentou.

“Nathan”, eu avisei, mas também tinha um sorriso em meu rosto.

“Profissional”, ele levantou suas mãos, como se fosse inocente. Eu assenti para que ele prosseguisse. “Bem, na minha antiga escola, eu tinha um professor de mágica particular, contratado pelo meu pai”, ele rolou os olhos, como se fosse a coisa mais estúpida do mundo. “Mas, cortando a história trágica da minha vida deprimente, esse meu professor me ensinou uma coisa que poucos bruxos sabem. E eu queria passar para você”

“Tudo bem, duas perguntas”, eu disse e levantei meus dedos contando. “O que você quer me passar e porque você quer me passar?”

“Sejamos sinceros, Alexa”, Nathan disse, só que no seu modo sarcástico. “Eu gosto de você, e quero passar um tempo com você, mas com esse negócio de 'apenas assuntos profissionais' meio que me restringi”

“Essa é a ideia”, eu interrompi, mas meu peito estava pulando dele dizer que gostava de mim. Ele continuou como se eu não tivesse tido nada.

“Então, já que eu quero passar um tempo com você e quero que me conheça melhor, por que não fazer isso enquanto te ensino algo?”, ele sorriu, mas logo esse sorriso amigável se dissolveu em algo maldoso e quente. “Claro que eu poderia te ensinar muitas coisas, mas.... a pressa é inimiga da perfeição, então estou unindo o útil ao agradável.”

“Você ainda não me respondeu o que vai me ensinar”, eu insisti.

“Vou te ensinar a ler a mente de Sam, seu animal elementar.”, ele ficou sério. “Meu professor me ensinou isso no primeiro ano, antes de eu ter Fleur, mas depois que a tive foi melhor para entendê-la.”, isso meio que explicava os momentos em que eles se olhavam sem dizer nada e pareciam ler um a mente do outro. Um , realmente estava lendo a mente do outro.

Por um momento me imaginei lendo a mente de Sam.

Tremi.

Deveria ser uma sujeirada só.

Rolei os olhos.

“Então, o que me diz?”, Nathan perguntou me fazendo acordar do sonho bem distante. “Topa me deixar ensiná-la a ler a mente de Sam?”


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