Shadow Touch escrita por Lady TMS


Capítulo 13
Mudando de atitude




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Estava na sala de jantar do Governador quando o viu pela primeira vez desde o “Acidente”. Era assim que preferiu chamar seu pequeno estado de temperamento naquela manhã. Ou pelo menos achava que aquilo tudo tinha corrido de manha. As horas eram contadas diferentemente aqui. Seu relógio não funcionava, a bateria tinha sido torrada e os números holográficos que regiam a sua vida tinham sumido só para comprovar que nada seria normal novamente.

Foi uma surpresa ser chamada para jantar. Pensou que teria que ficar encerrada no quarto até que o oficial acordasse e recomeçassem a brincar de gato e rato. No entanto, logo foi nítido que ela era só um brinquedo com um prazo de validade bem curto. Morgan estava curioso sobre ela e não parava de anotar tudo em um pequeno livro que agora ficava claro, carregava para todos os lugares. Na sala fria e com pouca luz uma fileira do que parecia ser outro tipo de soldados com a mesma finalidade dos oficiais, protegia seu amo.

Havia sido submetida ao um interrogatório bem formulado. As perguntas eram tão naturais e entrelaçadas em uma conversa normal - o que fosse possível considerar normal- que ela quase relaxou achando que não passasse disso, uma conversa. Mas é claro que o homem gorducho na frente dela precisava de informações: como estava a Inglaterra, a comida, as pessoas, os costumes, a política, o clima, a história por trás de tudo...

Quando por fim acabou o relato a garganta estava em frangalhos e a refeição se estendido por metade da noite. Não culpava o homem por estar curioso quando ela também só esperava a oportunidade de formular suas próprias perguntas.

E então o viu. Com a cara tão machucada quanto à dela. E se alegrou por fim. Tomara que esteja com muita dor. Bloqueou o sorriso que descaradamente se alargava em seu rosto. Tinhas muita mágoa dentro dela, muita raiva contida e o sentimento de impotência que a derrubava para baixo cada vez mais. Mas a comida estava deliciosa. E deus como estava faminta! Nunca podia se fartar daquele jeito. No entanto agora, temia ficar igual à Morgon e precisar de ajuda para se levantar.

Este deu uma sonora boa vinda ao homem que chegava. Muito melhor do que tinha sido a recepção dela com certeza. Absteve-se em comer. As roupas que ambos vestiam eram parecidas. Calças cáqui e uma camisa branca. Só que nele provavelmente ficava muito melhor. Os músculos dele eram contrastados com a camisa que se ajustava ao abdômen bem definido e as costas largas. Ela podia ver a fuligem de barba voltando a crescer e em como ele estava desconfortável com isso. Coçando seu rosto um pouco avermelhado com marcas de unha.

– Sou Jonh senhor. – e prostrou-se curvado em uma reverência.

–Morgan. Sente-se. Temos muito que conversar essa noite. Isso. Pegue esse prato. Sirva-se. Johana percebeu que ele devia estar com tanta fome senão mais do que ela.

Um instante de silêncio se seguiu antes que Morgan começasse os mesmos tipos de pergunta que havia feito a Johana.

Jonh Malister Reginald Victorian etc etc etc era seu nome. Estava na academia da realeza. Não formando. Era um dos oficiais mais novos a entrar em campo. Tinha uma longa família próxima ao Governo, formada de juízes, policiais, matronas da sociedade. Era elite. Prendia foras da lei. Ladrões, falsificadores, encrenqueiros e ameaças contra o governo...

Essa foi a primeira vez que olhou para ela desde que entrou. Não havia nada que pudesse ler em seus olhos azuis. Nem culpa, nem raiva. Só o julgamento de que ela era uma indecente, alguém que ameaçava seu ideal. Porque ele falou disso também. O quanto amava tudo que havia na Nova Inglaterra.

É logico que quem era da elite amaria. Tudo foi feito para eles. Tudo beneficiava só a eles.

O lado pobre. Os que viviam em cidades ramificadas da Cidade-Principal não sabiam até quando viveriam. Tinham que trabalhar todos os dias em pequenas colheitas rezando para que desse. Rezando para não serem roubados. Rezando para que seus filhos aguentassem mais um pouco. E aí, tinha a “N.Y.C”. e a Metanic – a maior fábrica da Inglaterra que vendia energéticos azuis. No começo as pessoas compravam para se manterem acordadas, e aumentar a carga de trabalho. No entanto, logo ficou claro que com o interrompimento das doses os utilizadores ficavam doentes rapidamente tendo sintomas de envelhecimento precoce, instabilidade emocional, dores de cabeça, náuseas, tontura, calafrios, convulsões e morte.

Era uma droga legalizada. Os consumidores faziam qualquer coisa para manter o vicio. Jogos, roubos, homicídios. Essa era causa de tanto perigo nas cidades mais pobres. Uma causa que nem se preocupava em tentar mudar.

As histórias sobre O Governo ter adotado normas rígidas para proteção era uma mentira. Eles ditavam o que devia ser lido, o que devia ser ensinado, o que vestir e o que fazer. Eram contra a modernidade. A não ser que fossem eles que a usassem...

E foi isso o que ela ouviu o oficial chefe falar por cima antes de ficar enjoada com tanto idealismo podre. Das modernidades. Armas de choque e luz. Que se alimentavam de calor e etc...

Um frio na espinha aumentou de intensidade fazendo-a cerrar os dentes. Vozes sem som em sua cabeça. O frio descia até a ponta dos pés. Sentiu o coração acelerado. O fluxo de seus pensamentos interrompidos enquanto tentava entender.

Todos a olhavam. Estava em pé, tremendo, um grito sufocado em sua boca. Seu corpo era uma gelatina sem forma, textura ou cor. Tentou relaxar. As unhas machucando a palma da mão. Os homens alinhados a parede observavam com frias afeições como se fosse algo perigoso. Morgan a olhava com o divertimento de um brinquedo novo ter ganhado vida. E Jonh, o ofical. O nome estranho ainda dentro dela. Não quis saber o que ele via. Sentou-se. Era assim que seria toda vez? Se fosse, entendia o motivo dos suicídios.

Encurvada sobre o prato como se tivesse perdido uma corrida, pensava em como reagir ao estranho silêncio que pairava como uma neblina pesada impossibilitando a conversa.

Um... Dois... Três... Quatro... Cinco... Seis...

–O que está acontecendo? – ele a olhava como se possuísse todos os segredos do mundo. Não era verdade...

Morgan a olhava. Ela podia ver em seus olhos. Contar ou não contar. Um sorriso quase imperceptível em sua face gorducha decidiu o rumo.

– Ela foi atacada. Pelas mesmas coisas que você. Mulheres sem rosto. Sem calor – contou cada mínimo detalhe que sabia sobre o assunto. Mais do que havia dito a ela. Levantou-se e caminhou até a janela em suas costas perdendo a fome rapidamente.

A casa de Morgan ficava a metros de altura. Tudo era tão escuro aqui. As pontes estavam desertas balançando como um barco em águas calmas. As camadas mais baixas de casas estavam camufladas pela noite. Não havia luzes acesas, nem risos de crianças. E as de cima eram tão fracas que tinha que forçar as vistas procurando.

Ficou encarando a escuridão lá embaixo perdida em pensamentos. Nunca tinha se sentindo tão solitária e vazia. Ninguém que quisesse ajudar. Seu destino já estava decidido. Só a informaram para que saísse do caminho. Era alguém não desejada. Uma coisa. Um objeto que atrapalhava e causava incômodo. Lembrou-se da morte do seu avô. O ultimo a morrer. E como embora as situações fossem diferentes parecia à mesma criança de sempre, tentando lutar com algo que não via. Indo contra a correnteza com todas as suas forças até se cansar e depois desistir. Abraçou-se tentando não chorar e cair em auto piedade. Já havia estado nessas ocasiões mais do que podia ultimamente.

Mas como desistir agora? Isso significava morrer. E porque viver? Era outra voz em sua cabeça.

Só haviam contado como era impossível voltar para casa. Que não sabiam como faze-lo. Não sabiam quem era o que a havia atacado. Só a certeza que morreria. E parecia tão difícil ir contra que já a deixava exausta. Deixou seus pensamentos irem em possibilidades... E depois... Depois como um suicida ficou pensando em motivos para continuar a respirar. Não havia muitos... Ela estava desistindo do mesmo jeito que quando foi pega saindo no trem. De quando oficiais a encontraram. Não sabia o que a tinha impulsionada a fugir. Mas duvidava que ocorresse novamente.

Lembrou-se de não conseguir se mexer quando as viu. Só a palidez de suas faces e vestes brancas contra a escuridão. Diferentemente dos oficiais não conseguia nem gritar.

Voltou sua cabeça em esperança para Jonh. Ele havia escapado. Ele estava olhando para ela agora. Não quis ver pena ou compreensão. Não depois de como ele demonstrou não ter esses sentimentos uma vez...

Caminhou para mesa. E voltou a se sentar. Empurrou o prato para longe. Cruzando os braços em cima da mesa, inclinou-se inconscientemente disposta a não perder nenhuma palavra a seguir.

–Como você conseguiu escapar? E sem nenhuma marca?


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