Shadow Touch escrita por Lady TMS


Capítulo 12
Jogando o Jogo




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Talvez seja só um sonho ruim. E eu vou acordar dentro daquele maldito trem. Porque eu nunca! Nunca, teria respondido alguém de classe superior. Não iria conhecer aquele homem e me sentir torpe quando ele evitou que eu caísse. Não ia participar de um motim, não seria quase estuprada e nem perseguida pela floresta e quase ser morta. E não, não iria estar quase acreditando em magia!


Não queria abrir os olhos e encarar a realidade. Lentamente tomou consciência e esperou ouvir gente rindo dela por ter dormido em pé e ver o saco de batata caído em seu pé. Não, estava muito fácil respirar. Ela estava sem corpete o que era bom porque ela se sentia livre. No entanto isso só comprava que ela estava em uma realidade que não queria estar. Pareciam anos que havia acontecido tudo. As lembranças estavam bagunçadas e não se lembrava de muito do que aconteceu na floresta. Contudo os sentimentos permaneciam.


Tentou organizar os pensamentos caóticos que lutavam dentro de si. Arfando levantou da cama e se aproximou da cama ao seu lado. A noite passada havia sido a pior da sua vida e não lembrava como havia voltado para cama. Não tinha certeza se faria o que fosse necessário para sobreviver, se o mataria antes que ele tentasse. No momento, cada coisa em sua hora.

Primeiro passo. Verificar seu companheiro de quarto. Era uma pessoa prática. E trataria tudo isso com praticidade.

Caminhou lentamente, muito lentamente, super lentamente a cama encostada do outro lado do quarto. Seu braço levantou para tirar o lençol branco do rosto que o cobria. Como em um daqueles filmes de terror parecia que só sua respiração era ouvida, a madeira rangia como um monstro preste a devorar e ela não parecia absolutamente corajosa como pensava que fosse. Inclinou-se o mais próximo que poderia na tentativa de tirar o lençol delicadamente do corpo que se encontrava respirando levemente, seu braço foi preso de repente por uma mão masculina. Respirando entrecortadamente encarou o homem-menino que se sentava com dor, mas não deixava aparecer, piscou como se pudesse afastar tudo aquilo e a ficou encarando. Johana tentou se soltar, mas estava fraca. Mais fraca ainda do que ele.

Como pensei que poderia enfrenta-lo? Porque ele nunca deixava de perseguir?

Sentia como se toda a raiva que tinha em anos explodisse vigorosamente dentro dela. Tudo era culpa dele. Ela ter que ficar fugindo que nem retardada, ter que enfrentar coisas que nunca conseguiria esquecer, se sentir tão perdida e ter que esperar para ficar louca e morrer. Enquanto isso ele ficava a encarando sem ter forças além que segurar o braço dela. Sem saber tudo que ela sabia o que iria acontecer. Com o torso desnudo não possuía marcas, sem fraturas, nenhuma mancha como ela parecia possuir por todo corpo. Ele era bonito, com aqueles cabelos loiros e a pele branca. Como queria mata-lo por ser simplesmente ele. Seus olhos eram levemente azuis. Mas isso não queria dizer nada. Talvez ele tivesse sobrevivido por um golpe de sorte. E só de imaginar que ele talvez não morresse que poderia ter uma vida normal enquanto ela que não tinha feito nada para merecer teria que esperar... Tantas coisas teria feito diferente... Queria ter vivido mais, ter conhecido o mundo bonito que poetas tinham escrito naqueles livros que lia escondido. Ter amizades e viver tranquilamente. No final eu sou só uma garota da minha idade, como todas as outras. E não tinha mais possibilidade nenhuma por causa dele! Antes que pudesse pensar nas consequências sentiu a cara toda sua força no murro desajeitado que deu no rosto dele bem em cima do nariz. Ainda descontrolada continuou:

–Isso é por me arrastar para um maldito beco – sentiu seu braço erguer para dar outro soco perto do maxilar – esse é por me chutar na floresta. Esse por me fazer encontrar com elas – seus olhos turvaram e ela não conseguia mais respirar. Saiu de cima dele que estava ensanguentado e desmaiado outra vez. Deus! Acabei de bater em alguém que nem consegue se levantar. Antes que se sentisse culpada se perdoou. Ele merecia e só tinha tido essa chance por ele estar débil.

Como estivesse se afogando mais ainda em um mundo obscuro que não tinha volta Johana sentou no chão em frente à cama tremendo esperando que tudo parasse de balançar. A mão doía ligeiramente, mas não prestou atenção. A adrenalina seguia nela. E era deliciosa. O que está acontecendo comigo? Pensou começando a notar desespero. Quando fiquei tão volúvel? Desde quando eu passei a ser tão impulsiva? Ela tinha orgulho de ser controlada e analisar as situações antes. Desde aquela noite. Quando se achou no direito de encarar de igual para igual um grupo de pessoas ricas. Céus! Havia até pego o pão de um dos pratinhos do casal que jantava no trem. E depois disso tudo havia dado errado. Começou quando ela saiu do plano que era sua vida. Só tinha que levar a batatas que havia plantado junto com alguns empregados, vender, repartir o dinheiro e tentar sobreviver antes de plantar de novo. De onde tirou coragem para desafiar algo que estava além de sua capacidade? Queria mudar o mundo? Mulheres não faziam isso. Elas ficam em casa cuidando da família e assistindo um programa idiota! Exceto que ela não tinha família. E ousou pensar que era igual a todo mundo ao mesmo tempo em que poderia fazer a diferença.

Quase riu de si mesma. Como ela era inocente. Pensava em mudar algumas coisas e nem sabia como fazê-las. E se não fosse tão ruim o Governo como estava? Balançou a cabeça tirando essas coisas da sua mente. Sua vida já estava condenada e ninguém sentiria sua falta.

Iria acabar com o homem inconsciente na cama, mas quando pudesse encara-lo de frente. Isso era o único jeito de conseguir viver consigo mesmo. Ignorou a parte dela que dizia que desse jeito era perigoso. E a outra parte que dizia que não iria viver por muito tempo. Continuou respirando agora mais calmamente sabendo que se ela fosse para o inferno ele iria junto de qualquer jeito.




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