Burning Up a Sun Just to Say Goodbye escrita por Bad Wolf


Capítulo 2
O Lobo em Pedaços




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Ele conseguiu forçar a TARDIS a rematerializar-se acima de uma espécie de floresta, e depois cair – causando danos leves a várias árvores no caminho para o chão -. Lembrou do quão bem foi e o quão surpreso ficou quando voou com a TARDIS pela primeira vez – nunca tinha conhecido ninguém que voasse com uma TARDIS daquele jeito -, e verdade seja dita, agora ele voava muito melhor do que jamais voou. Estava em sincronia com sua nave. Mas, bem, pousos... nunca foram o seu forte.

A TARDIS tinha sido bastante danificada, é claro. Ele poderia consertar isso, disse fixamente a si mesmo. De repente, percebeu que estava rindo quase que histericamente, com o enorme alívio por ainda estar sobre controle.

Então ele a viu, ainda presa no assento de salto. Correu para o seu lado, desafivelando as correias e a levantando do assento. Parou por um momento, segurando-a com força contra ele, de olhos fechados, e saiu da sala de controle.

Quando chegou ao quarto dela, a porta estava aberta, como se ela tivesse acabado de sair. Ele empurrou a porta com o pé – uma porta adequada; lembrou-se pelo que parecia ser a primeira vez. A TARDIS tinha dado a ela o que parecia ser uma boa e comum porta de madeira - e entrou, ouvindo a porta bater silenciosamente atrás de si.

Ele fez o caminho através do quarto e parou a beira da cama. De repente, percebendo que não queria deixá-la sozinha, deitou-a num dos lados da cama de casal, e deitou ao seu lado; apoiando-se no cotovelo para que pudesse olhá-la. Se não a conhecesse tanto, diria que estava apenas dormindo. Ele enfiou a mão no bolso de seu casado e pegou sua Chave de Fenda Sônica, utilizando-a para verificar a cabeça dela e então o coração. Ele vibrava como um pássaro em seu peito. Gentilmente, ele abriu um de seus olhos e examinou. Seus olhos estavam negros, as pupilas enormes. Ainda assim, nenhum sinal da luz dourada que tinha inundado-os anteriormente. Ele não se permitiu imaginar se isso deveria ser uma coisa boa ou ruim. O corpo dela irradiava calor. Ele deslizou uma mão pra dentro da dela e a sentiu tremer ligeiramente, diante do toque um pouco mais frio de seu corpo.

Queimando um sol apenas para dizer adeus, ele pensou de repente, a memória parecendo vir de muito tempo atrás. Era isso que você estava fazendo, Rose? Queimando-se para me salvar? Para me dizer adeus?

Ele curvou o braço embaixo da cabeça e ficou lá, olhando para ela. Ele tinha, literalmente, uma tonelada de aparelhos médicos na enfermaria, mas os seus pés o trouxeram até aqui. Ele sabia que não havia nada que pudesse fazer, ele era menos do que inútil agora. A TARDIS já deveria ter começado com sua fixação. E ele tentava desesperadamente não reconhecer a sensação de que se deixasse Rose sozinha, ela desapareceria completamente.

~~~

Rose abriu os olhos, olhando para a escuridão acima dela. Pela primeira vez em muito tempo, não sentiu o pânico que geralmente sentia ao acordar. Em torno de si, ela podia ouvir os sons que sempre tinha associado como sendo a respiração da TARDIS, o suave sussurrar que a nave fazia quando não estava em movimento. O som que imediatamente lhe disse onde estava e que ela estava segura.

Com a sensação de absoluta segurança, lentamente veio a percepção de que alguém estava ali com ela. Ela virou a cabeça, fazendo uma careta com a leve dor na parte de trás do seu pescoço, por ter dormido em uma posição estranha. O Doutor parecia estar dormindo ao seu lado – aparentemente, sua biologia superior havia falhado. Sua cabeça estava em seu braço esquerdo, os dedos da outra mão descansando suavemente contra o antebraço dela.

Ela nunca o tinha visto dormir antes. Inconsciente, sim, mas não dormindo. Isso a preocupou. Será que algo tinha dado errado? Na falta de um estetoscópio – e de vontade de levantar da cama para buscar um – ela virou-se lentamente, observando que quando seu braço se afastou, os dedos dele o seguiram. Agora estava deitada de frente para ele. Ela estendeu timidamente sua mão e a pousou no peito dele, sentindo a batida de um coração, e depois do outro. Ambos pareciam bater num ritmo normal de descanso.

Ciente de que ele, pelo menos, parecia bem, ela permitiu-se estudar seu rosto, notando as diferenças existentes. Ele parecia mais velho, o que ela sabia ser impossível, e mesmo dormindo seu rosto não havia relaxado.

De repente, ela se lembrou do que Harriet Jones havia dito no Natal, logo após derrotarem os Sycorax. Absolutamente o mesmo homem. Na época, ela concordou, apesar dos sentimentos incomuns que ele demonstrava em sua presença e de olhá-la com a expressão mais intensa que já havia visto. Seja sincera. Como eu estou?

Ela percebeu agora que a antiga Primeira-Ministra estava errada. Oh, ele ainda era definitivamente o Doutor – cérebro mais inteligente e maior ego do universo – mas fundamentalmente, ele estava diferente do homem que ela conhecera. Tão mais leve e mais obscuro, muito mais obscuro, do que sua encarnação anterior.

Por alguns momentos na sala de controle, o Lobo Mau tinha visto tudo o que ele havia feito. Todos esses passos para o caminho da condenação que o tinham esgotado, finalmente.

Uma imagem lhe veio em mente, uma imagem claríssima do Doutor sentado em um café em algum lugar com o avô de Donna. Seu Doutor. Chorando. Parecendo absolutamente miserável e muito vulnerável.

Demasiadamente humano. As palavras vieram do nada, mas ela entendeu seu significado. Foi uma das coisas que levaram tanto tempo para que ela se acostumar quando ele tinha regenerado. Ele era tão humano e ao mesmo tempo, muito mais do que humano. Parecendo sentir tudo muito mais intensamente do que antes. Raiva, medo, tristeza, alegria, amor. Cada emoção que ele tinha era muito mais imediata; mais próxima da superfície e, em seguida era amplificada pelo fato dele não ser humano.

No início, ele tinha sido muito mais humano do que quando se conheceram, mas agora – ela viu mais da tempestade nele do que nunca. Ela teve um deslumbre dele, quando a deixou na Darlig Ulv Stranden – a Baía do Lobo Mau – com seu clone metracrise humana. Ele estava distante, mantendo-se longe da situação como se ela não fosse importante.

Sua metade humana tinha falado sobre ele quando estava morrendo. Ela fechou os olhos tentando parar as lágrimas que de repente marcaram sua visão.

"Você tem que entender!" ele sussurrou, seu corpo arqueado no chão.

"Eu vou ajudá-lo" ela respondeu, consciente de sua mãe que chamava uma ambulância em algum lugar atrás dela.

"Você não pode. Você sabe que não pode. Mas eu posso te ajudar se você me ouvir... Isso foi um erro, você tem que entender, um erro. Eu – nós – ele está com medo. Assustado e não sabe o que fazer. Algo está quebrado e ele não sabe como consertar."

"Mas você... "

"Não eu! Ele. Ele está quebrado. Eu não estou mais do que apenas existindo." Seus olhos se fecharam então, e ela quase gritou seu nome. Eles piscaram abertos novamente, mas ela podia ver que ele iria perder a consciência logo. "Rose", ele disse. Ela olhou-o nos olhos, recusando-se a piscar no caso dele ir antes que ela pudesse olhá-lo novamente. "Eu sinto muito. Eu te amo tanto. Tanto.”

"Eu sei", ela disse.

Ele olhou exasperado. "Você não vê – Eu sou ele, ele é eu. Eu não posso sentir qualquer coisa que ele não sinta." De repente, ele estendeu a mão e agarrou seu rosto, puxando-a pra mais perto. "Ele precisa de você." Seus olhos caíram fechados novamente, seus cílios escuros contra sua pele pálida.

Próprias palavras do Doutor, ditas poucas horas antes, ecoaram em sua cabeça, em seguida: 'Isso é muito eu'.

"Ele se foi! Eu não posso perder você também!" ela soluçou.

"Você me encontrou antes", ele soprou, engatando sua respiração. Ele ficou em silencio por vários segundos, então
seus olhos se abriram; cheios de medo, dor e outra coisa. 'Rose Tyler-'.

~~~

O Doutor acordou, estranhamente percebendo que havia adormecido. Estranho. Ele realmente não precisava dormir, embora tenha notado que essa sua encarnação apreciasse uma soneca ocasional. No entanto, ele não tinha absolutamente nenhuma intenção de dormir e, mesmo assim, ali estava ele, acordando.

Ele sentiu um arrepio percorrer seu corpo. Algo estava errado. Muito, muito errado.

Rose! Rose não estava mais deitada ao seu lado na cama. Em pânico, ele sentou-se ereto, balançando as pernas para levá-las para o chão.

"Oi! "

Bem em tempo, ele ouviu o grito e por pouco conseguiu evitar chutar Rose, que estava sentada numa cadeira ao pé da cama, na cabeça. Com a mudança abrupta de posição, ele quase caiu no chão do quarto.

Após alguns segundos de silencio, ela disse "Você manteve o meu quarto então?"

"A TARDIS manteve" ele respondeu, antes que pudesse pensar em como isso iria soar. Percebendo que era exatamente honesto, embora não sendo totalmente verdade, acrescentou: "Para mim."

Ela olhou para a decoração e disse simplesmente "Não acho que essa seja sua cor, de verdade."

O Doutor seguiu o olhar dela para as paredes roxas. "Não! Eu quis dizer-"

"Eu sei o que você quis dizer. "

Ele olhou para ela de forma acentuada e percebeu que ela estava sorrindo maliciosamente. Ele estreitou seus olhos para ela. "Então..."

"Então? "

"Eu acho que é melhor você me dizer o que aconteceu".



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