Fui até a cozinha e peguei a água. Não queria voltar para o quarto e ter de encarar uma conversa socialmente estranha com Mcfly. Fiquei enrolando até que decidi mexer na máquina do tempo.

Entrei no DeLorean e fiquei fuçando. Estava sem cabeça para consertá-lo de verdade. Quando abri o porta-luvas, uma porção de ferramentas caiu. Eu, delicada como sempre, joguei-as de volta com força. E ai algo estranho aconteceu.

O fundo do porta-luvas rasgou.

Era um fundo falso!

Enfiei minha mão lá dentro morrendo de medo - e se uma barata saísse de lá?! - e puxei os papéis que ali estavam. O primeiro era um jornal muito velho, daqueles que se você fixar o olhar já rasga. Quando li a manchete, quase enfartei.

"Acidente nuclear mata casal, apenas bebê sobrevive.

No último sábado, 12 de novembro de 1968, os jovens cientistas Rupert e Emma Estrela morreram em um acidente nuclear. Apenas a filha Lara, de 9 meses e 10 dias, sobreviveu. Rupert e Emma eram conhecidos por serem gênios, ele da física e ela da química. Ambos tinham apenas 16 anos. Casaram-se muito jovens, mas prometiam viverem para sempre juntos. O bebê foi entregue aos pais de Emma, Tereza e Ferdinand Balbo. As autoridades investigam a causa do acidente."

Fiquei completamente paralisada. Doc escondera esses jornais de mim por todo esse tempo? Ai diz que apenas o bebê, no caso eu, sobreviveu. Então quem era o bebê na barriga de minha mãe? Um possível irmão que morreu junto com ela? E, essa data, 12 de novembro de 1968 me parece familiar...

Não pode ser.

É a data que o raio atinge a Torre do Relógio.

Como é que eu vou poder evitar o acidente dos meus pais e voltar no tempo, tudo isso na mesma noite?

Resolvi não pensar nisso agora e continuei analisando todo o conteúdo do porta-luvas. Havia vários cadernos de anotação e desenhos. Alguns assinados por Rupert e outros por Emma. Alguns até eram de Doc. Todos eles eram sobre a mesma coisa: construir uma máquina do tempo.

Então meus pais também trabalhavam nesse projeto? Foi assim que Doc criou amizade com eles? Quem me deixou na porta do laboratório junto com o bilhete misterioso e a fotografia? Eram muitas perguntas e nenhuma resposta. Ainda.

Lá no fundo do fundo falso havia uma carta amarelada. Estava lacrada e destinada a mim. Rompi o lacre e li seu conteúdo:

"Minha Querida Lara,

Tenho certeza que você lerá essa carta algum dia. É esperta demais para não descobrir o fundo falso. Só fiz isso para que você não soubesse da verdade quando criança, e sim quando estivesse mais velha. 

Seus pais se conheceram em uma das minhas aulas de Química (na época eu era apenas professor). Eu os coloquei para trabalharem em dupla e assim acabei unindo duas brilhantes mentes. Ambos achavam que o céu era o limite e começaram a pedir minha ajuda em suas experiências. No começo eram apenas modelos de reciclagem, mas depois de um tempo nós três tivemos uma ideia ambiciosa: uma máquina do tempo.

Enquanto tudo isso acontecia, sua mãe engravidou aos 16 anos. Para ela e Rupert não foi um problema, afinal eles se amavam muito. Porém sua avó, Tereza Balbo a milionária, quase morreu de desgosto e deserdou sua mãe. Emma no entanto não se importou e casou-se com Rupert um mês antes do seu nascimento. 

Logo depois engravidou de novo. E então veio o acidente e só você sobreviveu de uma maneira misteriosa. O feto tinha 3 meses e seus pais tinham 17 anos. Sim, eram muito jovens para terem uma família, mas dedicaram suas vidas á ciência e um ao outro. 

Quando soube do acidente fiquei desolado. Tanto por ter perdido amigos tão próximos e também por pensar que, se não fosse uma forte dor de cabeça, eu estaria lá aquela noite e teria morrido junto. O acidente foi em novembro e sua avó ficou com você. Mas ela te odiava e não aguentou muito tempo: em fevereiro te deixou em minha porta. Só fui descobrir que foi ela quem fez isso quando você tinha uns 7 anos de idade.

Te criei e levei adiante o projeto da máquina, em memória à seus pais. Espero que me perdoe por esconder tanta informação por tantos anos, mas achei que seria melhor para você. Fiz pelo seu bem. 

Querida filha, você foi a melhor coisa que já aconteceu em minha vida. Deu-me luz e esperança e encheu meu coração de amor. Eu te amo.

Por favor me perdoe.

‘Doc’ Emmett Brown." 

Depois de ler a carta eu chorei por tudo o que aconteceu: desde o acidente de meus pais e o ódio de minha avó até a declaração de Doc e o fato de que ele estava morto agora. Chorei tanto que adormeci no banco do passageiro do DeLorean.