– O... O que eles estão fazendo? – Soraya perguntou completamente surpresa.

– Não é possível...! – Mabel disse. – Eu não acredito que aquela maguinha vai fazer isso...!

Valery estava se divertindo com a cara de surpresa daqueles quatro. Diziam que ela não passava de uma “maguinha de araque”. Diziam que ela era fraca. Diziam que ela não era capaz de chegar a um nível alto.

Queimaram as línguas. E, em breve, queimariam o resto de seus corpos e almas no mais profundo abismo flamejante e tormentoso do inferno. E gostaria de contribuir com a queda de um deles em especial, com as suas próprias mãos.

O gostinho da vingança já começava a ser sentido.

Concentrou-se, enquanto Tavius e Thales se posicionaram a certa distância dela, sob os olhos vigilantes de Samira, que estava encarregada de alertá-los caso algo desse errado... Embora duvidasse muito que aquele quarteto fosse se mover tão cedo.

A maga fechou os olhos por alguns instantes, para depois abri-los com um intenso brilho azulado enquanto murmurava as seguintes palavras:

– Nome dela fortojde la lumo,mi jxetistiu grandapotenco demallumo!Mi proponas altiusangoverŝadokontraŭkion mi volas! NUN!*

Nisso, um círculo luminoso se desenhou no chão, em meio à estupefação dos espectadores daquele confronto. Dentro desse círculo, com palavras em esperanto e vários hieróglifos misturados a runas, desenhou-se um triângulo, no qual cada ponta chegava a cada um dos três – Tavius, Thales e Valery.

O sangue que caía dos pulsos dos dois irmãos percorria todo o triângulo, até chegar ao vértice no qual estava Valery. Quando a maga e os dois irmãos fincaram suas espadas no chão, um facho luminoso se ergueu assim que o sangue completou seu caminho.

Nisso, novas palavras foram proferidas pela maga:

– Ĉisangoverŝadonun estoskuntiujklingoj. Kaj ĉi tiujklingojtranĉismalbonon permalbono!**

Imediatamente aquele sangue se deslocou rumo às três lâminas, recobrindo-as de vermelho. O facho luminoso se dividiu em três, deslocando-se também para as três espadas.

Em seguida, houve uma explosão de luz, que fez com que Mabel e seus liderados procurassem proteger os olhos completamente atordoados. Até agora não estavam acreditando no que estavam vendo ali.

Aquela era a maguinha medíocre de antes? De onde ela tirara aquele poder?

Assim que o clarão se dissipou, era possível ver linhas vermelhas luminosas ligando os demônios à Tabita através de seu corte recente no pulso. O sorriso confiante migrou das faces surpresas dos quatro feiticeiros para os rostos dos quatro amigos.

Quem é que estava dizendo que os demônios não poderiam ser derrotados antes?

*

Tabita assistia a tudo de camarote, por assim dizer. Via Tavius, Thales, Samira e Valery, de um lado. Do outro, Mabel, Fabian, Soraya e Servia. No meio, os quatro demônios que deveriam ser abatidos.

Assim como Mabel e sua corja, a jovem também estava surpresa. Não imaginava que Valery era capaz de fazer o que fez. O que a maga pretendia com aquilo?

Não sabia, mas, a julgar pelo semblante confiante de Valery, outras surpresas estariam por vir. E mais uma vez suas esperanças se renovariam, pois pressentia que desta vez eles venceriam aquelas aberrações sem prejudicá-la.

Um sorriso quase imperceptível passou pelo rosto de Tabita diante de tal possibilidade.

*

Tavius, Samira, Valery e Thales saíram correndo ao ataque, com a arqueira indo diretamente até os demônios, enquanto os outros três, com suas espadas em punho, se desviaram e foram direto às linhas vermelhas que agora se tornaram visíveis.

Sob os olhares estupefatos dos donos daquelas monstruosidades, o alquimista, o espadachim e a maga, em poucos golpes, cortaram em fração de segundos todas as linhas que os ligavam a Tabita. E, logo que via isso acontecer a cada demônio, Samira os atingia com suas poderosas flechas.

Claro que apenas isso não seria fatal o suficiente para abater aquelas criaturas. A arqueira ganhou tempo suficiente para que os outros três se aproximassem dela. Mesmo com as flechas fincadas em várias partes do corpo, aqueles seres se aproximaram do quarteto, cercando os quatro amigos.

Os olhares do quarteto eram totalmente determinados. Transmitiam a sensação de que eles eram capazes de absolutamente tudo. E, de fato, eram realmente capazes de tudo.

Samira retesou imediatamente seu arco, com algumas flechas bastante especiais, que foram banhadas em sangue previamente por Valery. Imediatamente, atirou suas várias flechas de uma só vez, quase que “metralhando” seu horrendo adversário, sem chances de defesa.

Ao mesmo instante, Valery, empunhando sua espada, partiu para cima de outro demônio, ao qual aplicou um poderoso golpe que gerou um grande corte de cima a baixo. A criatura deu um estrondoso urro de dor e caiu pesadamente no chão. Quando o demônio ia reagir, a maga criou um escudo e, em seguida, partiu para o contra-ataque, cravando impiedosamente a espada no coração, que jorrou sangue, decretando assim a primeira baixa.

Tavius e Thales, juntos, avançaram contra os dois demônios restantes, trocando toda hora de lado durante a corrida para atacá-los, até que o espadachim deu um salto e atingiu o demônio maior e mais poderoso que havia ali, perfurando seu olho com sua espada. O alquimista foi pra cima do outro monstro, decepando um dos braços, jorrando mais sangue naquele campo de batalha.

Os dois irmãos trocaram de adversário. Thales acertou no maior demônio sua espada, perfurando sua barriga, para depois, num salto, separar a cabeça de seu corpo em um único corte. Tavius foi mais objetivo e cravou sua espada no coração de seu adversário, para depois degolá-lo.

Samira, por fim, partiu novamente ao ataque e acertou mais flechas contra seu inimigo, perfurando-lhe os dois olhos. A criatura, desorientada por estar completamente cega, tropeçou em suas próprias pernas e caiu. A arqueira não perdeu tempo e, com uma flecha envenenada em sua mão, cravou-a sem misericórdia no pescoço do monstro e outra no coração, resultando em sua morte imediata.

O quarteto voltou a se reunir. Tavius, Thales, Valery e Samira, frente a frente com Mabel, Fabian, Servia e Soraya. Olhares desafiadores contra olhares arrogantes. Bem e mal finalmente se encontravam, representados pelos dois quartetos.

O último obstáculo finalmente fora derrubado. E agora, estavam cara a cara uns com os outros.

O vento soprou, dando a sensação de que vinha um grande acerto de contas por aí.