A vida era mágica, tudo fazia sentido, tudo era lindo, colorido, maravilhoso, esplendoroso e claro o amor estava no ar. Lola e o príncipe Lars estavam casados, e o reino estava em festa, à vida não podia ser melhor! Desde o primeiro dia em que ela havia visto o charmoso príncipe, sentiu em cada fibra de seu corpo que ele era seu amor verdadeiro, o homem de sua vida, e como em contos de fadas seu amor foi instantaneamente correspondido.

Eles formavam o casal mais lindo de todo o reino, ele loiro atlético, simpático, generoso e um homem extraordinário, e ela, linda, jovem, pálida, e com lindos cabelos castanhos escuros, e claro uma grande mentirosa, mas por razões nobres, que incluíam salvar sua pele e de sua família.

Seus pais não conseguiam entender como tudo isso havia acontecido, como ela tinha conseguido transformar a palha em ouro, e como ela ainda estava viva. Lola nunca tocava no assunto, ela havia jurado a si mesma que jamais em toda a sua existência iria relembrar o que aconteceu, ou contar para alguém, afinal de contas isto eram águas passadas, e ninguém iria lembrar-se deste pequeno incidente, a não ser o temível homenzinho, que sempre atormentava os piores pesadelos de Lola, em quase todas as suas noites de sono, o que acabaria ocasionado pequenos gritos noturnos e um coração bastante acelerado.

O novo casal real vivia com luxo e glamour, uma vida bastante confortável e cercada por riquezas, algo que era totalmente novo para Lola, mas que não a intimidava nem um pouco, pelo contrario, depois de uma vida de miséria e pobreza era até gratificante.

Poucos meses depois Lola tinha uma noticia maravilhosa para partilhar com sua família, a realeza e seus pais, que agora moravam nas proximidades do castelo, e haviam sido convidados para um jantar especialmente para que a jovem compartilhasse as boas novas.

Usando um lindo vestido rosa claro com detalhes bordados a ouro (ah sim o ouro!) com um generoso decote, e com os cabelos trançados, Lola reuniu toda sua família na enorme mesa de jantar, do salão principal do castelo, onde um farto banquete, com as melhores especiarias do reino, e claro uma ótima safra de vinho estavam sendo servidos, para anunciar a novidade.

— Queridos e honrados familiares, primeiramente gostaria de agradecer a presença de todos nesta linda noite de verão em nosso castelo, e também estou ansiosa para anunciar uma novidade maravilhosa!

Todos viraram suas atenções para Lola, surpresos.

— A família irá aumentar, estou grávida!

Todos se levantaram para abraçar a nova mamãe, o Rei Leônidas propôs um brinde ao novo herdeiro que vinha a caminho.

O reino estava novamente em festa, foram três dias e três noites para comemorar a grande notícia, e em todas as noites Lola notava algo curioso: um sujeito com encapuzado com uma capa marrom, sempre estava nestas festas, e sempre com toda sua atenção voltada para ela.

Lola achou estranho, mas gente estranha tem em todo lugar, e isto não era importante o suficiente para tomar muita de sua atenção, pois ela tinha ao seu lado o melhor homem do mundo, o mais honesto, amoroso e charmoso.

Os nove maravilhosos meses passavam rapidamente, e exatamente três dias antes da data prevista para Lola dar a luz, em uma linda e serena noite, Lola recebeu uma visita inesperada.

Lars havia ido caçar, e voltaria apenas na manhã seguinte, portando Lola teria que passar a noite sozinha. Ela havia colocado sua enorme camisola de seda, já havia escovado seus lindos cabelos castanhos e tinha ido até a sacada de seu aposento para tomar um ar antes de deitar-se. De repente uma voz, familiar chegou até seus ouvidos.

—Está uma linda noite, não acha minha querida?

Lola congelou simplesmente o tempo havia parado cada músculo de seu corpo tinha paralisado, e aquela velha sensação de temor acompanhada daquele friozinho na espinha tinha voltado. Aquele sotaque escocês era tudo o que ela não queria ouvir. Lentamente tentando não esboçar nenhum sinal de temor ou espanto ela se virou para trás. Suas suspeitas acabavam de se confirmar, era ELE mesmo.

—O que você faz aqui?

—Achei que ficaria feliz em me ver. Quem não deve não teme, ah sim, já havia me esquecido, você me deve, não é mesmo dearie?

—Devo abrir o cofre e ir pegando minhas jóias para você?

O estranho homem soltou sua clássica risada sarcástica.

—Poupe seu tempo minha querida, o que eu quero não esta em cofre algum, alias nem esta pronto ainda, mas logo logo estará.— A criatura disse olhando fixamente para a saliente barriga de Lola

—Você não esta insinuando que? Não, você não pode fazer isso, isto não é parte do acordo, você não tem este direito!

—Eu não estou insinuando nada, estou dizendo claramente que como sua parte do acordo você irá me dar esta criança que esta crescendo em seu ventre. Sim eu posso fazer isso, e devo, e o acordo não dizia o que eu queria, estava implícito e você topou.

—Se eu soubesse que você pretendia pegar o meu bebê eu jamais teria feito acordo algum com você.

—Por isso mesmo que eu não disse o que queria brilhante não acha? Nha hahahaha

—Isto não é justo! Eu sou uma mulher importante, posso te dar o que você quiser terras, posses, dinheiro, ouro, tudo! Menos esta criança, veja bem, deve haver um meio termo.

—Não me entenda mal, mas eu faço ouro então isso não compensa muito para mim. Não quero nada disso que você esta me oferecendo, a propósito, muito obrigado pela tentadora proposta, mas vou continuar com o meu lance inicial, o bebê! E não, não há meio termo, não tente me barganhar eu nunca, ouça bem NUNCA quebro um acordo!

—Escute Senhor... Senhor qual o seu nome mesmo?

—Muito esperta! Eu nunca lhe disse meu nome e nem irei, boa tentativa.

—Por isso mesmo! Vamos fazer outro trato, me dê três dias, que provavelmente será a data de nascimento deste bebê, para descobrir seu nome, se eu descobrir continuarei com a criança, se não, ela será toda sua.

—Não acho que você está em posição de negociar, mas pensando bem, é praticamente impossível que você descubra meu nome, ou seja, a vitória será MINHA! Feito! Você já escolheu o nome desta criança, ou vai deixar que eu a nomeie?

—Isto não será necessário, e sim ela já tem nome, seu nome é Rapunzel!

Após dizer estas palavras, o homem sombrio lhe deu um sorriso forçado, com sua arcada dentaria gasta e escura, e sumiu entre a escuridão da noite.

—Três dias, minha querida, três dias e voltarei para buscar o que me pertence!

Lola ainda podia o ouvir falando na escuridão. Que diabos ela havia pensando? Mais uma vez ela estava desnorteada e sem saída, como em meio de tantos nomes ela iria descobrir o daquela criatura? Se ao menos ela pudesse perguntar a alguém, mas como? Sua mentira seria revelada se alguém sonhasse com seu acordo com aquele homem nojento.