As Duas Faces De Johanna escrita por Lina Pond


Capítulo 13
Eu queria tanto aquele machado.




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Estávamos andando em direção ao avião. Eram lá que os chips eram inseridos pra que eles não nos perdessem na arena. Estava sentada em frente à Katniss e prestei bastante atenção em todos os movimentos dela. Era dela que eu tinha que cuidar. 

- O que foi Johanna? – ela questionou quando notou que eu a encarava.

- Acho que estou com medo – sussurrei.

- Isso seria estranho – ela sussurrou de volta e riu.

“Nem tanto” disse pra mim mesma antes de um pacificador entrar e atrapalhar meus sonhos. Nós estávamos pousando. Segurei com força minha cadeira e respirei fundo. Olhei para Finnick, Peeta, Katniss. Todos aqueles jovens, todas aquelas pessoas que tinham uma vida inteira pela frente. Minhas mãos tremiam, eu não tinha controle sobre meu corpo e meu estilista quase me carregou pra dentro. Ali, tudo voltou. A primeira vez que fui pra arena, as pessoas que eu matei e as que deixei de salvar.

- Está pronta Johanna?

- Estou – disse enquanto prendia o cabelo e ajeitava o traje leve. Prendi o cinto e entrei na cabine, aquela que nos levava até a arena. Abaixei a cabeça e pude ouvir a voz do Presidente Snow. Mais nós não estávamos no Terceiro massacre quartenário. Nós estávamos na minha primeira vez na arena.

- Johanna, pare de chorar – entoava meu estilista – eles vão te matar desse jeito.

- Já parei – disse enquanto secava minhas lágrimas.

- Você tem uma família, só se esforce pra voltar pra eles.

Entrei na cabine, coloquei a mão sobre o vidro e senti meu corpo subir. Uma luz forte, o sol. A contagem. “Onde você está Johanna, onde você está?” entoava em minha mente. A claridade era forte e eu já podia sentir o suor tomar conta do meu corpo. Olhei para os lados, ouvi os últimos segundos do relógio e avistei a Cornucópia. Eu queria tanto aquele machado. Mas eu não podia. Ouvi os microfones entoarem que os jogos tinham oficialmente começado e corri pra longe da Cornucópia. Tropecei uma, duas, três vezes. Me levantei, peguei duas mochilas do chão e corri. Não havia árvores, rios, nada. Era um deserto. Eu não fazia ideia de onde eu podia me esconder. Corri, corri, até não avistar mais ninguém atrás de mim. Até que parei e me sentei.

- Que merda é essa? Não tem nada aqui. – olhei pros lados tentando avistar qualquer coisa que pudesse me proteger do calor, uma árvore, uma caverna, qualquer coisa – Sério que vocês vão nos deixar morrer assim? – disse tentando fazer que falsas lágrimas escorressem.

 Joguei a mochila no chão e tentei dormir, apesar do calor, dos mosquitos e da noite, que não chegou. Quando abri os olhos, o cenário tinha mudado. Árvores pra todos os lados, cavernas, riachos com fortes correntezas que quase levaram minha mochila. Tudo aquilo brotou do chão. Em menos de 12 horas tudo havia mudado. E alguma coisa me dizia que continuaria assim.

Abri minhas mochilas e encontrei duas garrafas vazias que corri pra encher antes que o riacho sumisse. Procurei por todos os lados algum sinal de vida. Meu medo era encontrar. Subi numa árvore e continuei a mexer em minha mochila. Um relógio, carne desidratada, um mapa (que não servia muito pra um lugar que mudava de cenário por dia), uma faca, espelhos, uma jaqueta e uma manta. Deixei minha mente vaguear por um momento até ouvir um canhão. E então uma música e os tributos mortos começaram a aparecer no céu:

A garota e o garoto do três, a garota do quatro, o garoto do seis, a garota do oito, o garoto do nove, a garota do onze e os dois tributos do doze.

Nove tributos no começo da disputa. Era um pouco assustador. Me encolhi e tentei voltar ao papel de garota fraca. Agora não era tão difícil. Peguei no sono, mas acordei inúmeras vezes com os pesadelos. Acompanhei as horas no relógio e quando anoiteceu (apenas no relógio) desci da árvore e corri o risco de ir pro meio do campo. De longe vi mais alguns tributos. Todos bem longe uns dos outros, alguns em grupos, a maioria deles sozinhos. Boa parte das pessoas já tinha entendido a coisa da arena. Quem não entendeu, ia ser devorado pela floresta. E foi isso que aconteceu. A floresta começou a se desmontar e a descer, até sumir. O chão tremia, Mas nada que levasse os tributos que estavam no meio da arena pra debaixo da terra. Um canhão, dois, três. E parou. Outro mundo começou a sair do chão. Uma selva, eu diria. Árvores pegajosas e cobras, muitas cobras. Ouvi gritos e decidi que ficar quieta salvaria minha vida. Peguei a manta, amarrei sobre minha boca e todo e qualquer grito que eu podia soltar involuntariamente foi abafado pelo pano. Outras pessoas não tiveram a mesma sorte. Os gritos chamavam a atenção dos carreiristas, que mesmo com o caos, iam fazer seu trabalho. Mais dois canhões e mais cobras. Aranhas, pássaros, tordos. Todos fugindo do lugar que estava renascendo das cinzas. Usei a faca pra me livrar de algumas cobras, mais era impossível. Esperei até o chão parar de tremer e corri pra dentro de floresta. Senti as aranhas subindo em minhas pernas e tudo o que eu mais desejava é que elas não fossem venenosas. Então senti uma leve fisgada na perna e na hora minhas mãos ficaram gélidas. Encontrei uma cobra e antes que ela pudesse reagir, esmaguei sua cabeça com os pés. Depois disso não suportei mais o peso do meu corpo. Todo o mundo girava e eu sabia que precisava tirar o veneno. Puxei a manta, a amarrei em volta da perna e com a faca abri um buraco grande o suficiente pra uma poça de sangue surgir no chão. Peguei a garrafa de água, enchi a boca e comecei a chupar o veneno e cuspi-lo. Eu tinha visto isso antes, mais eu não fazia ideia de como fazer. Usei a jaqueta pra limpar o sangue e continuei sugando até notar que não podia fazer mais do que aquilo. Se o veneno já estivesse em minha corrente sanguínea, eu estava morta. Encostei-me numa árvore, apertei com força a manta no machucado e torci pra ninguém me encontrar naquele estado. Ou eu estaria morta.

Acordei com o som da música que anunciava os mortos:

Os carreiristas do distrito um provavelmente tinham sido devorados pela terra. O garoto do quatro também estava morto. E os dois tributos do cinco. Mortos, todos mortos.

Dois dias e só restavam dez tributos. Eu não me lembrava direito se as mortes costumavam ser tão rápidas. Minha perna estava melhor na questão do veneno, mais eu tinha perdido sangue demais. Sempre fui impulsiva demais e acabei exagerando no corte que devia salvar minha vida. Me encostei numa árvore e notei o quão tremulas minhas mãos estavam. Era fome, eu tinha esquecido completamente que carne desidratada não ia me manter viva por muito tempo. Eu precisava de comida e de remédio. Me levantei e antes que eu pudesse tomar qualquer decisão um garoto pulou a minha frente com um facão em mãos.

- Johanna. - Minha respiração ficou ofegante e minha mente procurava em todos os cantos uma maneira de se livrar dele. A faca estava em minha cintura mais eu não tinha condição nenhuma de matar alguém. - Você é tão bonita. É uma pena eu ter que te matar.

Um estrondo balançou a terra e mais um canhão. Mais um morto. Os olhos do garoto passearam pelas árvores, como se eu não fosse dar muito trabalho. Puxei minha mochila, peguei o espelho e a faca e esperei ele olhar pra mim.

- Eu não vou morrer – entoei, fraca demais pra fazer aquilo ter algum efeito.

- Na verdade – ele disse se virando em minha direção – você vai...

Tarde demais. Usei o espelho e o reflexo da faca em seus olhos o que o deixou um pouco confuso. Confuso o suficiente pra não notar que eu ainda conseguia andar em sua direção. Quando finalmente cheguei a seu pescoço, ele já lutava desesperadamente pra se soltar.

- Eu nunca fiz isso. Então me desculpe se doer – disse enquanto cortava seu pescoço. Ele ficou lá agonizando por alguns minutos, até que ouvi o barulho do canhão. Cai no chão ao lado daquele corpo e notei que aquilo provavelmente ia acabar um pouco com a reputação de garota fraca. Respirei fundo, puxei sua mochila pra perto e encontrei o que eu tanto precisava, medicamento. O garoto devia ser bom porque sua mochila tinha comida o suficiente pra mais uma semana naquele inferno. Usei o remédio e enfaixei minha perna. Eu ia precisar de uns dois dias pra ficar boa. Eu podia enrolar o suficiente pra isso. Me fartei da comida do garoto e só então lembrei da floresta. Passei as coisas da sua mochila pra minha, inclusive uma coleção de facas e manquei o mais rápido que pude pra fora da floresta. Estava quase saindo de lá quando fui jogada pra longe. Alguém me empurrou. Minha cabeça rodava junto com a floresta e só tive tempo de me segurar nas poucas plantas que havia no centro da arena. E foi ali que a coisa mais assustadora aconteceu. A arena desapareceu.


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Notas finais do capítulo

Acho que esse é o capítulo que fiquei mais insegura pra postar. Quem acompanha sabe que enrolei um pouquinho. Isso é porque cheguei na parte díficil das mortes e obviamente não chego aos pés da Suzanne. Então especialmente nesse capítulo eu ia gostar demais se vocês me falassem o que gostaram e o que não gostaram. Ah e lembram que eu falei que a fic estava acabando? Pelo menos mais uns três capítulos eu prometo. Beijos.