As Duas Faces De Johanna escrita por Lina Pond


Capítulo 10
Eu sou seu dono agora.




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- Jo? Você está bem? - Senti as mãos geladas de Finnick ao redor do meu corpo e notei que estava quase caindo pro lado. – Você estava me falando sobre o Cody e...

- Eu to bem Finn. Posso terminar essa história depois?

- Claro, claro.

Subi correndo pro quarto e fiquei pensando em Cody, nas crianças, em tudo que eu deixei escapar. E então a voz do Snow voltou a minha mente: “Os homens daqui não vão querer ver você apenas pela televisão”.

Eu já estava de volta a Capital, depois de toda a viagem pelo distrito. A época em que nós temos que encarar os pais das pessoas que nós matamos. Meus irmãos tinham ficado com meu pai, já que eu não confiava em Cody. Deixei claro pra toda a cidade (num tom um pouco ameaçador, confesso) que meus irmãos não tinham que receber o ódio que eles sentiam por mim. Nesse quesito, ser má ajudou bastante. Eu viajava em meus pensamentos enquanto mexia na gola do meu novo vestido, mais bonito do que as árvores que normalmente me obrigavam a usar. Senti o cheiro de rosas de longe e me virei.

- Johanna, você tem um cabelo muito bonito. Não devia prendê-lo o tempo inteiro.

- É costume – respondi enquanto me ajoelhava sobre o sofá e o encarava – porque eu tenho que voltar pra cá?

- Porque é aqui que fica sua primeira vida. A principal. Você tem uma casa na aldeia dos vitoriosos, ótimo. Mais você é uma vencedora, seu lugar é aqui.

- Eu odeio a Capital, presidente – saiu muito sem querer – não quero ficar aqui. Não tenho o direito de escolher?

- Na verdade não.

- Uau, que democrático – me levantei e parei bem a sua frente – como te deixam governar Panem? Você é um banana.

- É melhor tomar cuidado com as palavras Johanna. Posso acabar com você em um segundo.

- Acabe, por favor. Morrer é bem melhor do que ter que ficar aqui pra sempre.

- Eu até te mataria se o vereador não quisesse tanto te conhecer.

- O que? Do que o senhor está falando?

- Estou falando do fato de que você vai passar a noite com ele hoje.

Tudo naquela sala virou e por um momento eu desejei ter morrido naquela arena.

- O senhor está brincando certo? Poupe-me, eu não sou uma...

- Uma o que Johanna?

Prostituta. Meu pai tinha me falado delas. Na verdade existiam muitas delas hoje em dia, mais normalmente era porque elas eram desesperadas por comida e por isso, elas não eram chamadas assim. Eram mulheres que vendiam seu corpo por dinheiro, por comida, por qualquer coisa. Mais eu não precisava de comida, nem de dinheiro. Mais eu sabia o que ele ia usar contra mim.

- Eu não vou dormir com ele Presidente Snow. E se o senhor me obrigar, conto isso pra todo mundo.

- É o seguinte Johanna – ele disse enquanto segurava meu braço com força suficiente pra quebra-lo – tem um pacificador do lado de fora da sua casa. Faça uma graçinha e eu mato todas as pessoas que você ama. Eu sou seu dono agora.

Engoli em seco. Sophia e David estavam lá e só à ideia de perder eles já me fazia querer vomitar.

- Como eu vou saber que você já não está os machucando?

- Você não vai. Mais se você não fizer o que eu mando aí que eles vão realmente se machucar.

Sai arrastada da sala. Eu teria um dia de preparação, como o que eu tive assim que cheguei à Capital. Todas as pessoas que estavam comigo pareciam tão tristes quanto eu. Não levantei os olhos sequer por um segundo. Queria que eles tentassem me salvar daquilo. A noite chegou e eu fui mandada pra um quarto de hotel no estilo chique da Capital. O tal homem não estava lá ainda então fiquei lá mudando de canal. Jogos Vorazes, Jogos Vorazes, Jogos Vorazes. Por favor, hora de desligar a TV. Ouvi o trinco da porta e corri pra me esconder no banheiro. Um homem velho, baixinho e careca entrou no quarto. Era o vereador. Só então notei que tinha levado uma garrafa de champagne por banheiro. Demorei um pouco pra captar a mensagem. Aquilo era pra me defender. É isso que a arena causa em você. Você fica sempre na defensiva. Sai do banheiro e aquele homem olhou pra mim como se eu fosse o último pedaço de carne num banquete e aquilo era nojento. Ele sorriu e mostrou um dente de ouro. Ainda mais nojento. Comecei a me aproximar sem soltar um som, até esbarrar no rádio. Ótimo. Liguei-o e aumentei a música no máximo. Senti a garrafa gelada encostando em meu corpo e senti um leve calafrio. Era aquilo, eu ia fugir daquele lugar. Eu não sei o que eu faria depois, mais naquele momento, era aquilo que eu precisava fazer. Quando ele se aproximou, soltei um suspiro.

- Espero que você se divirta, doci...

E então ele estava no chão. O sangue escorria pelo tapete e só então eu voltei a mim. Peguei um casaco, o coloquei e cheguei perto do corpo. Ele não respirava. O coração já havia parado e ele estava frio. Fugir naquelas condições me entregaria demais. Então tirei sua roupa coberta de sangue, a lavei e a deixei jogada no banheiro. Com muita dificuldade o coloquei na cama, o cobri e fiquei observando o corte que eu tinha feito. O costurei e passei maquiagem. Na hora da autópsia eles provavelmente descobririam isso, mais pelo menos eu ganharia tempo. Então tirei meu casaco e me deitei ao seu lado. Não preguei o olho à noite inteira. Eu estava deitada ao lado de um cadáver. E eu tinha matado mais uma pessoa. Isso me tornava uma pessoa terrível? Acho que sim. Eu ainda tinha todo um plano sobre isso, o que só me tornava mais horrível. Me levantei e me preparei pro escândalo. Seja uma boa atriz Johanna. Baguncei meus cabelos e sai correndo pelo corredor:

“Ele está morto, ele está morto.”

E ele estava morto.


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