-Acorde Santana! –dizia Meryl batendo na porta do quarto da latina.

Santana ignorou o chamado da mãe, e virou-se na cama. Mas não conseguiu dormir novamente. A mulher continuava a bater na porta do quarto cada vez mais forte.

-Argh! Já vou! –gritou Santana.

Ela sentou-se na cama e pegou o celular que estava debaixo do travesseiro. A claridade do aparelho cegou-a por um momento, porque era a única coisa que iluminava o quarto escuro. Depois de esfregar os olhos, a morena olhou novamente para o aparelho e espantou-se. Eram 12h 10min. A latina queria saber por que estava acordando tão tarde nesses últimos dias. Ela deitava cedo e também tinha o sono leve. Pelo menos era o que achava, mas já que ela não percebia Brittany saindo do quarto, talvez não fosse verdade. Brittany! Ela olhou para a cama da garota, ela não estava mais lá.

Suspirou e levantou-se caminhando em direção ao banheiro.

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Depois de se arrumar, Santana desceu as escadas. Encontrou seus irmãos na sala. Mônica estava sentada no chão brincando com algumas bonecas, enquanto Ian parecia estar dormindo, estirado no sofá maior. Ela caminhou então até a cozinha, encontrando ali sua mãe, que estava preparando algo no fogão, enquanto Brittany estava sentada a mesa e terminava seu almoço. As duas conversavam sobre algo que a latina não fez questão de saber, seus olhos procuravam os de Brittany.

Quando a loira percebeu a presença da morena, parou de rir de algo que sua tia falara, e ficou com a expressão séria. Toda a sua atenção caiu sobre o prato, que ainda tinha um pouco de salada.

-A bela adormecida finalmente acordou! –disse Meryl, quando Santana aproximou-se da pia para lavar as mãos.

-Não to acordando tarde por mal. - disse Santana.

-Claro que não é por mal, é por preguiça mesmo. –Meryl falou olhando para a filha, Santana a olhou de volta. –Mas essa mordomia vai acabar a partir de amanhã. –disse a mulher voltando a dar atenção para o que cozinhava no fogão.

Santana terminou de lavar as mãos e as secou em um pano, quando se virou novamente para a mesa, Brittany não estava mais lá.  Ouviu risadas vindas da sala, presumiu que eram da loira e de Mônica.  A morena começou a ir em direção a porta quando ouviu sua mãe perguntar.

-Não vai almoçar?

-Não estou com fome. –disse a latina virando-se para a mãe.

-Como assim não está com fome? Você não jantou ontem, não tomou café da manhã hoje porque acordou tarde, e agora não vai almoçar! –disse a mulher.

-Daqui a pouco eu como alguma coisa. Não estou com fome agora. –disse voltando a se encaminhar em direção à sala. Antes de sair do cômodo, Santana ouviu sua mãe dizer: ‘’Essa menina ainda vai parar no hospital, e se ela pensa que eu vou ficar com ela lá enquanto ela tiver morrendo, ta muito enganada!’’.  A latina apenas revirou os olhos e continuou caminhando. Aquela era uma frase típica que sua mãe usava quando ela ficava sem comer.

Chegando à sala, encontrou Brittany brincando com sua irmã de bonecas e seu irmão na mesma posição de antes no sofá. Chegou perto do sofá em que ele se encontrava e segurou uma de suas pernas, a jogando para o lado em seguida. O menino acordou num pulo.

-Que diabos você pensa que está fazendo? –perguntou ele, ofegante pelo susto que levara.

-Você ocupa o sofá todo! –disse a latina, sentando-se onde, antes, se encontravam as pernas do rapaz.

Enquanto isso, Ian apenas se sentou no outro lado do sofá e continuou a assistir um desenho animado que passava na tevê.

-Então Brittany, quer passar o dia hoje com o primo maneiro da família? –perguntou o garoto, depois de alguns minutos, para Brittany.

-Primo maneiro? –A loira devolveu a pergunta em tom de riso.

-É, acho que você precisa de um pouco de diversão. Afinal, você ontem você passou o dia inteiro com Santana, deve ter sido muito chato. –disse o garoto provocando a irmã.

-E que tipo de programa legal você iria fazer com ela? Leva-la para ficar de vela enquanto você se agarra com alguma de suas vadias, ou leva-la para fumar um baseado no beco? –disse Santana respondendo a provocação do irmão.

-Já disse para você não chamar Jessica de vadia! –respondeu Ian, aumentando o tom de voz.

-Ah então agora você tem uma particular? E ainda por cima deu nome para ela. Hmm, interessante. –disse a latina, colocando o dedo no queixo fingindo impressionada.

-Cale a boca Santana! –gritou Ian levantando do sofá. Santana levantou-se em seguida.

-Você começa e depois não aguenta né, seu ótario! –disse a latina, ainda mais alto que o irmão.

-O que está acontecendo aqui? –disse Meryl aparecendo no cômodo.

Enquanto isso, Mônica havia começado a chorar, e Brittany tentava acalma-la envolvendo-a em um abraço, enquanto observava a cena.

-Esse idiota, começa a me provocar e depois reclama. –disse Santana se acalmando.

-É você que sempre leva as coisas pra outro nível! –respondeu Ian, ainda exaltado.

-Não quero saber quem começou! Vejam o que vocês fizeram. –disse a mulher chegando perto de Brittany, que agora que estava de pé, com Mônica no colo ainda chorando. –Fizeram a irmã de vocês chorarem. –completou Meryl, passando a mão pelos cabelos negros da filha e depositando um beijo no topo de sua cabeça. –Leve-a para cima Brittany, por favor. –terminou a mulher.

Brittany apenas assentiu e subiu as escadas com a menina no colo. Meryl se virou para os dois e disse:

-Não quero saber quem começou e nem o porquê. Se vocês fizerem isso na frente da sua irmã outra vez, eu não irei mais responder por mim mesma. Fui clara? –o tom da mulher era frio, e ela tinha uma calma que assustava a Santana e Ian.

-Sim. –responderam os dois ao mesmo tempo.

-Ótimo. Santana suba e dê uma olhada em sua irmã. Veja se Brittany precisa de ajuda com algo.

Santana assentiu e subiu as escadas indo em direção ao quarto da irmã. Parou na porta e ficou observando a cena que se passava lá dentro. Brittany estava deitava na cama da pequena enquanto a mesma se agarrava a boneca com que brincava na sala. A loira cantarolava uma canção e aos poucos a menina ia adormecendo.

Quando Brittany terminou de cantar, a menina tinha dormido. Ela a cobriu com uma coberta, e se levantou. Ela parou e olhou para Santana que continuava parada na porta, então caminhou para fora do quarto. Quando a loira passou pela porta, Santana segurou o braço dela, Brittany olhou para a morena e viu que ela ainda encarava Mônica que dormia tranquilamente em sua cama.

-Podemos conversar? –perguntou a morena, olhando em seguida para Brittany. A loira nada respondeu apenas se soltou da mão da morena e caminhou em direção o quarto da mesma.

Santana a seguiu, entrando logo em seguida dela e fechando a porta atrás de si.

-Será que a gente pode conversar? –perguntou, novamente, Santana se virando para a loira.

-Sobre o que? –Brittany devolveu a pergunta, enquanto caminhava para onde as sacolas de compras do dia anterior estavam.

-Sobre a noite passada. –disse a morena acompanhando a loira com o olhar.

Brittany suspirou e abaixou-se, começou a pegar as roupas que compara no shopping, de dentro da sacola. Depois de um tempo respondeu:

-Acho que não temos nada para falar. Apenas lhe devo desculpas. –Brittany havia ensaiado o que falar desde que deitara na cama. Ela queria evitar uma conversa constrangedora com a outra.

-Desculpas pelo que? Fui eu quem te beijou. –disse Santana se aproximando da loira e parando atrás dela.

Brittany não respondeu, continuou a tirar as roupas de dentro da sacola. Quando a loira levantou-se e se virou para o outro lado ficou frente a frente com a latina. Ela sentia a respiração quente da morena contra a sua, sentiu seu coração acelerar. Antes que fizesse alguma loucura, ela foi em direção a sua parte no quarda-roupa e começou a arrumar as roupas ali.

-Você sabe que não poderá me evitar, certo? Pelo que eu sei você ficará aqui até o final do ano, talvez até mais tempo. –disse a latina com um sorriso no rosto. Santana não sabia o motivo do sorriso. Não era apropriado para aquela hora. Mas ela começava a gostar da ideia de ter Brittany ali em sua casa por um bom tempo.

-Olha você não pode apenas esquecer aquilo? –perguntou Brittany se virando para encarar a latina.

Agora foi a vez de Santana ficar sem responder. Ela não queria esquecer, ela gostou demais do beijo para simplesmente fingir que não aconteceu. Mas também não queria dizer que estava tudo bem. Ela decidiu que teria que correr atrás da loira, não estava certa dessa decisão, afinal tinha um detalhe que sempre atrapalhava, elas eram primas. Sua mãe havia pirado quando soube que ela era lésbica, e levou um bom tempo para voltarem a se falar, se ela soubesse que a latina havia beijado Brittany, provavelmente teria um infarto.

Ela respirou fundo e voltou sua atenção para as sacolas, que agora tinham apenas roupas suas. Ela caminhou até elas e retirou de lá as vestimentas. Foi em direção ao quarda-roupa e começou a guarda-las. Ela e Brittany não trocaram mais nenhuma palavra.

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Assim que o pai de Santana chegou do trabalho, eles foram jantar, eram cerca de 20h da noite, e estavam todos sentados na mesa.

-[...] e ele disse que não tinha a mínima ideia do que estava acontecendo. –dizia David. O homem contava a história de um paciente que atendera naquele dia. Ele era médico no principal hospital de Lima.

Toda a família ria da história. Santana não prestava atenção, estava ocupada demais pensando no que fazer para que Brittany falasse com ela sobre o beijo. Várias perguntas rondavam a cabeça da latina naquele momento. ‘‘Porque Brittany fugiu? Porque a loira tinha medo de falar? E Porque ela se preocupava tanto?’’ Eram as principais que estavam deixando a latina a beira da loucura.

Já Brittany ouvia de relance o que o tio falava, ela sentia vontade de rir da situação do homem da historia, mas por algum motivo ela não conseguia. Não tirava Santana da cabeça, e para ela aquilo era mal. Brittany nunca havia se apaixonado por ninguém, mas pelo o que ouvia de outras pessoas que já haviam passado pela experiência, era como ela estava começando a se sentir. Ela balançou a cabeça, na esperança de parar de ter aqueles pensamentos. Ela levantou o olhar e notou que Santana a encarava, o desviou rapidamente e voltou a fitar o prato, quase intocado.

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Após o jantar tenso para as meninas, porém muito divertido para o resto da família. Eles decidiram se reunir na sala para assistir a um filme comédia.

David, Meryl e Santana sentaram no sofá maior, Ian tomou de conta do outro sofá, enquanto Brittany e Mônica ficaram deitadas no chão. Meryl havia forrado para elas e colocado dois travesseiros, poderia se dizer que elas eram as mais acomodadas dali. Mas Brittany não se sentia tão confortável quanto à pequena garotinha deitada ao seu lado. Ela podia sentir o olhar da morena, sentada no sofá atrás dela, lhe perfurando.

Quando o filme terminou, Mônica havia dormido e Ian também. Brittany até teria dormido, mas perdera o sono, coisa que era ruim, já que no dia seguinte ela teria que acordar cedo para ir para a escola.

-Ian, acorda. –disse Santana sacudindo o irmão. –Acorda! –disse ela, sacudindo ele mais uma vez.

-Não preciso ir mais pra escola mãe... –disse ele sem abrir os olhos.

-Eu não sou tua mãe, palhaço! Acorda logo! –disse Santana sacudindo ele mais forte e dando um tapa no braço do garoto. Em seguida ela subiu para o quarto sem dar atenção ao xingamento que ele soltara em sua direção. 

Quando entrou no quarto viu Brittany se preparando para deitar. A morena não disse nada, ainda não decidira como começaria aquilo que planejava. Apenas se dirigiu para a cama. Ela teria mais chances nos próximos dias, afinal ela e Brittany estudariam na mesma escola, as duas fariam o 2º ano, com certeza teriam algumas aulas juntas, e além do mais, a loira faria o teste para as Cheerios, e Santana tinha certeza de que ela conseguiria a vaga. Seria melhor ter uma boa noite de sono, e deixar para entrar em ação no dia seguinte.