Opposite escrita por Giovana Marques


Capítulo 8
Chamas Apagadas


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores ^^ Demorei, mas consegui postar. Agora que as férias acabaram vou começar postar um capítulo por semana. Posso postar até mais de vez em quando, mas aí vai depender do meu tempo.
Bom, espero que gostem do capítulo. Por favor, me digam o que estão achando do rumo que a história está tomando.
Beijos e boa leitura :3



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É óbvio que penso em correr ou me esconder ou quaquer coisa do tipo, mas Luke já está dentro da sala. E já está olhando para mim, o que me deixa totalmente sem graça. Ele me examina da cabeça aos pés, como se estivesse estudando cada detalhe daquele maldito vestido.

– O que foi? – Pergunto, como se nada tivesse acontecido.

– Nada. – Ele diz, dando de ombros. – Só é estranho ver uma feiticeira branca vestida em preto, mas ficou bem em você.

Não entendo se a intenção do seu comentário foi me ofender ou me elogiar. Estou confusa e tudo que sei é que meu rosto está tão vermelho quanto um pimentão.

– Obrigada, eu acho. É da Nina. – Digo envergonhada e aponto para a garota de cabelos vermelhos ao meu lado.

Nina confirma com a cabeça, dando um sorrisinho com toda a situação.

– O jantar ainda não está pronto. – Nina muda de assunto, felizmente.

– Eu sei, só queria perguntar se tem algum problema se Katherine e o namorado dela vierem jantar também. Não vai sobrecarregar sua mãe na cozinha?

– Lógico que não. Você sabe que a minha mãe adora cozinhar!

– Tudo bem, então voltamos mais tarde. – Ele diz se despedindo já perto da porta.

Ele sai e eu me sinto totalmente aliviada. Nina não deixa de dar uma gargalhada e eu sou obrigada a acompanhá-la.

– Não sei quem ficou mais sem graça, você ou Luke. – Ela comenta, entre os risos.

– Pode ter certeza que fui eu. – Murmuro, revirando os olhos e amaldiçoando meu novo modelito de rendas.

Espero Nina entrar na cozinha para tirar aquela tiara, afinal, está mesmo meio exagerada.

***

– Eu acho – Katherine se interrompe, dando mais uma garfada na comida. – que a Tortilla de batata da sua mãe é a melhor do mundo, Nina.

Também concordo mas não digo nada, afinal, estou concentrada mastigando e saboreando a comida.

Eu, Luke, Nina, Jeremy, Katherine e seu namorado estamos sentados à mesa da cozinha de Nina, jantando. O fato de Katherine ter um namorado me surpreende, já que ela e Fred parecem combinar tão bem um com o outro.

– Isso é porque você não experimentou a do meu pai. Ele era chefe de cozinha. – Ela diz, sorrindo. Mas ao perceber que disse algo errado, corrige-se. – É.

Me pego com uma ponta de pena, não deve ser fácil para Nina ter que ficar longe de seu pai por tanto tempo.

O silêncio prevalece, e o sorriso no rosto de Nina se transforma em uma linha reta. Ela abaixa os olhos e volta a comer, em silêncio. Parece que lembrar de seu pai não é lá muito agradável.

Estou em um relacionamento sério com essa Tortilla quando sinto uma pancada em meu pé. Dou um pulo, nada agradável, ao perceber que alguém acaba de me chutar. Alguém chamado Luke, claro.

Olho para ele, raivosa, e reprimo a vontade de estrangulá-lo. Me surpreendo quando percebo que Luke não parece ter feito isso para me irritar, mas sim para chamar a minha atenção. Ou melhor, para que eu fale qualquer coisa que distraia Nina.

Até que acho seu ato bem terno e gentil, então digo a primeira coisa que vem à minha mente. Na verdade é algo que já estava pensando, mas não que eu quisesse tocar nesse assunto agora.

– Ahn, eu sei que isso pode soar meio estúpido já que ser feiticeira é uma coisa nova para mim, mas quando chegarmos ao Oráculo porque não perguntamos logo sobre a “garota perdida”? Porque temos que perguntar sobre o meu passado?

É claro que isso não faz muito sentido. Katherine é quem responde a minha pergunta.

– O Oráculo sabe sobre as origens dos feiticeiros, mas para isso, é preciso perguntar o nome da pessoa e bom... Blake Darkbloom desapareceu com a “garota perdida” antes de colocar-lhe um nome.

– Então Therion Darkbloom não sabe o nome de sua própria filha? – Pergunto, mas chocada do que relamente pareço.

– Não, ele não sabe.

***

Já estou deitada em uma cama no quarto de Nina. Ela dorme na cama ao lado, feito uma pedra.

Por mais que meu dia tenha sido prá lá de cansativo, não consigo relaxar. Não sei se é porque estou ansiosa e preocupada, ou se é porque estou com medo de tudo que teremos de enfrentar.

Antes de ir embora, Katherine deixou claro que amanhã bem cedinho meu treinamento começará. Tentei protestar, mas ela disse que só vou ajudar Luke se estiver bem treinada. Se não estiver, serei um fardo à mais. Esses argumentos me fizeram mudar de ideia totalmente.

Fecho os olhos mais uma vez, mas fico irritada com o fato de não conseguir adormecer. Estico meu braço direito e tateio o criado-mudo até encontrar meu celular.

Claro que não consigo fazer ligações aqui em Opposite, afinal, meu celular não tem sinal e além disso, os feiticeiros devem ter uma maneira melhor de se comunicar. Como é inútil, o desligo e volto a colocá-lo no criado.

Estou pensando na vida, quando escuto uma música vindo de fora e pessoas conversando. Não parece ser muito longe daqui, e é claro que isso me deixa curiosa.

Levanto-me e vou andando, silenciosamente, até a janela. Abro-a, sem fazer nenhum ruído, e coloco minha cabeça para fora, me encantando com o que vejo.

No fim da rua da casa de Nina há uma grande fogueira. Ela brilha de forma mágica e incrível no meio dos feiticeiros que dançam e se divertem com uns intrumentos musicais, que para a minha surpresa, estão tocando sozinhos. Há homens, mulheres e até mesmo crianças se divertindo.

Uma das coisas que também me chamam atenção é o fato dos feiticeiros brincarem com o fogo da enorme fogueira, usando apenas as mãos. Jogam o fogo para o alto, e ele explode em silenciosos fogos de artíficios, formando lindas figuras no céu.

Como ainda está cedo e só estamos na cama porque Nina está cansada, decido sair. Não que alguém tenha que ficar sabendo sobre minha fuga noturna.

Já estou vestindo o vestido negro de Nina, quando pulo a janela. Olho para os lados para ver se estou sendo observada, mas para a minha surpresa não. Sinto a brisa da noite tocar minha pele, acariciando-a, e posso sentir pela primeira vez o gosto da liberdade. Acho que nunca havia saído assim por conta própria, afinal, odiava sair de casa em New York.

Ando até chegar à grande fogueira e me sento em um banco de madeira bem perto dali. Fico observando a dança dos feiticeiros até que um deles anda até mim.

Até que é bonito e tudo mais, com seus olhos azuis e cabelos claros. Deve ter mais ou menos a minha idade. Ele se senta ao meu lado e sorri de forma amigável.

– O que uma feiticeira, bonita como você, faz sentada aqui? Deveria estar dançando.

Meu rosto fica escarlate, imediatamente, devido à minha incômoda timidez. É claro que ele não consegue perceber, pois onde estamos não é um lugar muito iluminado. Mesmo sendo tímida, não deixo de ser gentil e sorrio de volta.

– Pode parecer meio bobo, mas eu não sei dançar.

– Não creio. – Ele ri, de forma gentil. – Meu nome é Peter.

– Sou Emily. – Me apresento.

– É um nome muito bonito. – Ele me elogia e não sei porque, mas isso me alegra. Não é todo dia que eu saio e algum garoto conversa comigo. – Posso ensiná-la a dançar, Emily. Se quiser, claro.

Fico pensativa e receosa, afinal, sou realmente um desastre quando se trata de dançar e além do mais, não deveria estar nem ali sentada. Deveria estar indo embora, afinal, prometi à mim mesma que não ficaria por muito tempo.

– Claro! – Digo, pouco me importando com os meus princípios.

A música que está tocando é um pouco classica e medieval, mas um tanto agitada. Eu e Peter nos misturamos no meio dos feiticeiros e ele segura, firmemente, em minha cintura. Com a outra mão, segura uma de minhas mãos. Mas aí ele me solta, assustado.

– Você é uma feiticeira branca? – Pergunta, um pouco arrasado.

Peter deve ter descoberto devido ao nosso toque. Como pude me esquecer desse detalhe?

– É uma longa história. – Explico-me, o mais rápido que posso. – Descobri que sou feiticeira à pouco e estou ajudando Luke Gray com o caso da filha de Therion Darkbloom. Não me importo em dançar com um feiticeiro negro, você se importa em dançar comigo?

Ele parece um pouco pensativo, mas sorri com minhas palavras. Então, segura minha mão e cintura novamente, sussurrando.

– Não. Na verdade, é raro encontrar feiticeiros assim, que se aceitam, hoje em dia. Mas eu não vejo o porquê. Me deixe conduzí-la.

E então começa a dançar, mais rápido do que eu espero. Mas até que Peter é bom, afinal, consegue me conduzir sem deixar que eu caia. Isso é, de longe, uma tarefa muito difícil.

Sinto meu corpo rodopiar, girar e flutuar em volta daquela fogueira e pela primeira vez, me sinto viva. Me sinto feliz, como se esse fosse o meu lugar, como se Opposite fosse o meu lugar.

Esse meu momento de felicidade e prosperidade faz-me sentir diferente, como se estivesse forte. Estou sendo levada por essa força e por incrível que pareça, minhas mãos formigam, da mesma forma que formigaram há alguns dias atrás. No dia em que atirei um jato de água na direção dos lobiomens.

É aí que acordo de meu momento de êxtase e me solto de Peter, mais assustada do que nunca.

– O que...?

– Abaixe-se! – É a única coisa que consigo gritar antes de outro enorme jato d’água sair de minhas mãos.

A água passa por cima da cabeça de Peter, que me olha como se eu fosse uma maluca e de outros feiticeiros, e para o meu pânico, chega à enorme fogueira.

Na mesma hora, ela se apaga e a música para. Os instrumentos musicais dissolvem e os fogos no céu desaparecem. Uma grande quantidade de fumaça sai da fogueira, já apagada e eu não consigo parar a água que sai de minhas mãos nem por um segundo.

Os feiticeiros negros já pararam de dançar. Muitos parecem revoltados, outros assustados e outros já avançam para cima de mim. “É uma feiticeira branca!”, “Foi enviada para acabar com a nossa festa.”, “Vamos pegá-la.” – Escuto coisas do tipo quando finalmente consigo controlar meu poder.

Peter ainda olha para mim como se eu fosse louca, mas quando percebe que alguns feiticeiros estão se aproximando se coloca na minha frente, numa tentativa de me proteger.

– Esperem! Foi um mal entendido. – Ele tenta explicar, mas é impossível.

Quero correr, ou fazer qualquer coisa, mas estou totalmente sem reação, afinal, uma multidão de feiticeiros negros quer acabar comigo. Sinto que é o fim, quando alguém me puxa com força pelo braço. Olho para trás e juro que levo um susto.

– L-Luke?! – Gaguejo, trêmula.

É claro ele me ignora, já que está totalmente nervoso e impaciente. Sua mão aperta meu braço e isso me machuca.

– Senhores, acalmem-se! – Ele berra e os outros param um pouco para escutar. – Essa garota veio comigo do mundo humano para me ajudar à encontrar a filha de Therion Darkbloom. Ela não sabe como controlar seus poderes e o fato dela ter apagado a Fogueira da Fortuna foi um terrível acidente. Pedimos nossas sinceras desculpas.

Todos olham para mim como se eu fosse a pior pessoa do mundo e eu me sinto mal e envergonhada por isso. Na verdade, tenho vontade de correr e sumir, mas estou presa à Luke.

Muitos resmungam e ainda protestam mas então, um feiticeiro mais velho faz algo ainda pior.

– Como você quer achar a filha dos Darkbloom com a ajuda de uma feiticeira branca inútil, que não sabe ao menos se comportar como uma feiticeira? – Ele grita para Luke, chateando-me. – Eu sempre soube que deixar essa tarefa para você, Gray, foi o maior erro do rei Therion.

Olho para Luke, nervosa, esperando por uma resposta. Seu rosto de ódio se transforma em desespero e mágoa. É claro que me sinto culpada por ter acabado com sua reputação, afinal, ele é o responsável pela paz entre feiticeiros brancos e negros. Luke carrega esse peso nas costas e eu acabo de fazer os seus amigos perderem a fé que tinham nele.

Alguns feiticeiros ainda protestam, andando em nossa direção e gritando absurdos parecidos com o anterior. Ficamos paralisados, eu e Luke, que ainda me aperta com força.

E então, Katherine, Jer e Sr. Gray entram em nosso campo de visão, para a minha surpresa. É claro que devem ter acordado com toda a gritaria. Katherine chega perto de Luke e diz:

– Deixe isso conosco, nós vamos acalmá-los. Leve Emy para casa e descansem.

Luke não responde. Apenas anda, me puxando pelo braço.

Percebo que não estamos andando em direção de sua casa, mas sim à uma campina próxima às casas, não tão iluminada pelas luminárias flutuantes de Raven Place. Ele ainda parece irritado, frustrado e cheio de ódio.

Quando chegamos na campina, Luke finalmente me solta. Ele respira fundo e passa a mão nos cabelos de forma nervosa. Quero me desculpar e dizer tanta coisa, mas não sei como.

– Luke, eu sinto muito...

Ele se vira e me encara meus olhos com uma expressão furiosa, que nunca havia visto antes.

– Você sente muito?! É isso, então? – Ele pergunta, irônicamente. – Sentir muito não vai mudar o que você fez. Por que saiu escondida? Você sabe muito bem que seus poderes ainda estão descontrolados e além disso... Além disso, apagou a Fogueira da Fortuna! O que você estava pensando?! Você sabe o que a Fogueira significa para nós, feiticeiros negros?

Meu sentimento de culpa e remorso mudam. Eles se transformam em um ódio extremo. Ódio de Luke, por ser tão injusto.

– Eu não sei o que essa porcaria de Fogueira significa, você sabe muito bem que eu não sei! – Grito, descontrolando-me. – Eu não quis apagá-la! Foi um acidente, Luke! Eu estava me divertindo, pela primeira vez na vida...

Ele me aperta meu braço novamente, mas eu não me assusto dessa vez. Encaro seus olhos ainda mais firme.

– Não se faça de coitada. – Ele me interrompe, friamente. – Você destruiu a última gota de esperança que os feiticeiros tinham em mim. Você não tem ideia do quanto eu estou arrependido por ter te trazido para cá! Acho que aquele feiticeiro na fogueira tinha mesmo razão, você é inútil e ainda me fez parecer... Um idiota.

Isso realmente me machuca, mas ainda assim me mantenho firme. Ele não tem o direito de dizer essas coisas e estar nervoso ou chateado não é desculpa para isso. Luke está sendo cínico e egoísta!

– Não preciso fazer você parecer um idiota. – Digo, empurrando-o para longe de mim. – O único que está se fazendo de coitado aqui é você! O tempo todo nervoso por causa do peso que você carrega, a responsabilidade. Qual é? Que culpa eu tenho se Blake Darkbloom sumiu com a filha dela e você foi escolhido para encontrá-la? Aliás, eu estou aqui tentando te ajudar e você é um grosso comigo, sempre me desprezando. Não precisa ficar esfregando na minha cara que eu não tenho utilidade aqui, porque eu estou saindo fora!

Cambaleio para trás, afastando-me de Luke. Não sei se o que acabo de dizer o acertou em cheio, pois ele continua quieto e apenas me encara de cara fechada.

Mãos me agarram por trás, me assustando, mas me acalmo quando vejo Nina. Ela me puxa em um rápido abraço e depois me solta.

– Eu fiquei preocupada. Você está bem?

– Sim, me desculpe. – Respondo, envergonhada pelos meus atos.

Se soubesse que sair teria causado todo esse problema, não teria saído. Eu não sai na intenção de arrumar confusão... Só queria me divertir um pouco, o que tem de mal nisso? É claro que eu deveria ter sido um pouco mais cautelosa e ter ficado sentada no banco o tempo todo.

– Essa garota só nos preocupa mesmo. – Luke rosna.

– Luke! – Nina o repreende.

– Não, Nina. – Digo, tão cínica quanto ele. – Ele está certo. Eu só não desisto de ajudá-lo com a “garota perdida” por que quero descobrir quem são meus pais.

Luke bufa e eu tenho de admitir que me divirto com isso. Ele sai andando rapidamente, para dentro de Raven Place.

– Ei, Luke! Volta aqui. Onde você vai? – Nina grita, chamando-o.

Mas ele não responde.

***

– Estou tão envergonhada. – Sou sincera, me enfiando debaixo das cobertas pela segunda vez no dia.

Nina, que já está deitada na cama ao lado, dá um sorrisinho em forma de consolo. Parece bem mais exausta do que eu, o que me faz parecer egoísta já que não estava deixando-a dormir até então.

– A culpa não foi sua, você só queria um pouco de liberdade. Eu entendo.

– Sei que você está cansada, mas pode me explicar a importância da Fogueira da Fortuna?

Nina balança a cabeça, como se não estivesse mais aguentando. Mas é claro que ela não quer ser mal educada, então me explica.

– A Fogueira da Fortuna existe desde que Raven Place foi fundada. E bom, ela só acende quando quer, o que são raras as vezes.

– Ela acende sozinha? – Pergunto, meio confusa.

– Sim. Ela é uma fogueira diferente, tem poderes próprios. – Nina me explica, entre um bocejo e outro. – Se algum feiticeiro precisa muito de algum objeto e não tem moedas suficientes para comprar, basta pedir à Fogueira da Fortuna.

– Uau. Ela dá qualquer objeto à quem pedir? – Pergunto, surpresa.

– Não qualquer objeto, como eu disse, só o que o feiticeiro realmente precisa para viver, sem cobiçar: Algum remédio raro, muitas vezes comida e coisas assim. Só funciona com feiticeiros negros, mas é óbvio que os feiticeiros brancos possuem algo similar, a Fonte da Fortuna.

Fico um pouco pensativa e então tudo se encaixa.

– Deve ser por causa disso que os feiticeiros se odeiam, quer dizer, essa deve ser a origem do ódio.

– Em parte. O ódio entre os feiticeiros se dá mesmo pelo egoísmo, pois não querem dividir Opposite. A Fogueira e a Fonte existem à muito tempo e ninguém sabe quem as criou. Existem várias lendas, mas eu não acredito em nenhuma. Mas sim, elas foram os primeiros motivos da divisão entre feiticeiros negros e brancos. Como você pode perceber, quando a fogueira acende, os feiticeiros ficam tão felizes que festejam em volta dela.

Quando mais Nina fala, mais me sinto culpada por ter apagado aquela maldita fogueira. Fico pensativa, e torço para que Nina responda minha próxima pergunta positivamente.

– Mas... A fogueira vai voltar à se acender, não é?

Ela morde o lábio inferior, fazendo meu coração acelerar. Será que destrui definitivamente a alegria dos feiticeiros negros?

– Sim, mas isso demora, quer dizer, não podemos interferir na magia da Fogueira da Fortuna. Da última vez que isso aconteceu ela demorou alguns anos para acender novamente.

Essa informação me deixa mais frustrada e chateada do que já estava. Me sinto péssima, de verdade.

– Não tem como acendê-la de outra maneira?

Apesar de Nina estar cansada, agora parece mais interessada na conversa. Fico ansiosa para o que vai dizer. Se tivesse qualquer coisa que eu pudesse fazer para consertar meu erro, eu faria.

– Tem, na verdade. – Ela responde, cautelosa. – Mas é muito difícil, pois é preciso ser um feiticeiro muito poderoso. Nem mesmo Therion Darkbloom conseguiu reacender a fogueira na primeira vez que alguém a apagou. Isso só aconteceu com uma feiticeira muito bem instruída e preparada.

– Quem?!

– Blake Darkbloom.

***

Estou em um dos grandes campos nas proximidades de Raven Place. Felizmente, o local é deserto e não há absolutamente ninguém que não sejam eu e Katherine. Não sei se ela está gostando mais do que eu estou odiando tudo isso.

Estou vestindo uma espécie de armadura negra, que por mais que seja confortável, não deixa de ser chamativa.

Katherine me manda fazer centenas de exercícios físicos diferentes. E quando sinto que estou prester a morrer, ela me manda fazer mais.

É claro que estou mais do que empenhada, já que se encontrarmos meus pais poderemos encontrar Blake Darkbloom e assim poderei perguntar à ela se pode me ajudar com a Fogueira da Fortuna.

Faço todos os exercícios, sem reclamar. Estou suada e acabada, quando Katherine diz que precisa buscar algo em Raven Place.

– Pode ir, enquanto isso eu descanso. – Digo, respirando aceleradamente.

Kathy, como prefere ser chamada, dá uma risadinha e depois sai.

Deito naquele enorme gramado e agradeço por aquele momento de repouso. Já estou quase cochilando, quando alguém me assusta.

Levanto, nervosa e pronta para explodir com qualquer um que tenha me assustado, mas me supreendo quando vejo Peter.

– Olá. – Ele diz, sorrindo. – Desculpe se eu a assustei.

Sorrio de volta, claro. Peter é um bom feiticeiro, afinal, é um dos poucos que não tem rivalidade com feiticeiros brancos.

– Oi.

– Eu fiquei preocupado, por causa de ontem. Como você está?

– Bem... Mal. Quer dizer, eu não sabia que a Fogueira da Fortuna significava tanto. Mas eu vou trazer o fogo de volta, você vai ver! – Digo, confiante. A esperança é a última que morre, não?

Ele parece assustado com minhas palavras, como se eu estivesse exagerando. E como se fosse impossivel trazer o fogo de volta.

– Como você pretende fazer isso?

– Com Blake Darkbloom e muita força de vontade.

Peter parece ainda mais chocado e isso me faz rir. É claro que ele me acompanha.

– Então, você é uma heroína bastante batalhadora e esforçada mesmo. – Diz, admirado.

Baixo os olhos por ele falar desse jeito, não é bem assim na verdade.

– Não. Sou só uma feiticeira querendo reparar um grande erro.

***

Katherine já está de volta e Peter resolve assistir ao meu treinamento, o que me deixa nervosa, já que não sou lá a feiticeira mais hábil de todas.

Kathy me entrega uma espada de cabo dourado, que na minha opinião, é linda. Não sei o que ela está pensando, mas torço para que Katherine não espere que eu saiba manusear uma espada. Deve ter percebido minha preocupação, pois ri e diz:

– Acalme-se. Primeiro vou te ensinar alguns golpes, depois a gente luta.

Solto uma risada nervosa. Lutar? Com Katherine? Só se eu quiser morrer.

– Com você?

– Prometo pegar leve. – Ela dá um sorriso, exibindo seus dentes brilhantes.

Katherine me ensina a atacar de várias maneiras diferentes, mas é claro que demoro para entender algumas coisas. Sinto que vou progredindo à cada hora que se passa.

Peter vai embora já que precisa almoçar. Fico esperando algo de Katherine, sei lá, algum descanso para o almoço, mas ela não diz absolutamente nada sobre o assunto. Espero, fielmente, não morrer de fome.

Para a minha alegria, Nina aparece com as sobras da Totilla de ontem. Fazemos, então, uma pequena pausa para comer.

– Sabe de Luke? – Nina pergunta para Katherine e isso me faz estremecer. – Ele desapareceu ontem depois de...

– De brigar comigo. – Completo a frase de Nina, que não consegue por medo de me chatear.

– Ele está na livraria, ajudando meu tio. – Katherine responde.

Pensar em Luke me faz sentir raiva e um pouco de tristeza, afinal, aquelas coisas que me disse foram imperdoáveis. É claro que fiz besteira, apagando a Fogueira da Fortuna, mas meu erro não justifica o dele.

Katherine deve perceber meu momento de reflexão e muda de assunto:

– Nina, vou precisar da sua ajuda. Trouxe seu arco e sua aljava de flechas?

Não sei porque, mas essa pergunta me faz estremecer.


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