Opposite escrita por Giovana Marques


Capítulo 19
Coragem


Notas iniciais do capítulo

Oi! Espero que você goste do cap. e mande reviews com suas opiniões. Só peço que se não estiver gostando da história, não pare de lê-la e me dê sugestões para mudá-la. Ou então, me diga exatamente do que não te agradou para que eu possa melhorá-la. Isso seria um grande favor para mim e estou agradecida desde já.Enfim, semana que vem tem outro capítulo, ok?
Um beijo e boa leitura. :3



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Os três feiticeiros negros diante de mim perdem o folêgo com a inesperada revelação. Jeremy tapa a boca com as mãos, Nina grita com a surpresa e Luke cai de joelhos ao meu lado. Todos tem seus olhos arregalados e posso ouvir seus batímentos cardíacos bem mais acelerados que o normal.

Encaro ao Oráculo, bem atrás de nós, que já possui meu verdadeiro nome gravado em runas douradas. Emily I. Darkbloom. Essa é minha verdadeira identidade, afinal. Meu nome vai desaparecendo lentamente, junto com a luz dourada e eu reprimo a vontade de gritar e colocar para fora toda a agonia que sinto.

Luke ainda está caído de joelhos, um pouco distante de mim. Parece tão arrasado como jamais o vi. Por um momento me sinto culpada, por outro, triste.

– Não pode ser. Não faz nenhum sentido. Blake Darkbloom é uma feiticeira negra, – Jeremy quebra o silêncio, me assustando. – enquanto que Emily é uma feiticeira branca.

Luke respira fundo e me encara finalmente. Ele franze o cenho e me observa com raiva e decepção, como se a culpa fosse minha. Tenho de evitar andar até ele e começar a gritar certos absurdos. Ou talvez só esteja imaginando coisas, estou tão atordoada que poderia ter um colapso nervoso.

Nina para ao meu lado e coloca uma de suas mãos em meu ombro direito, numa tentativa frustrada de me acalmar. Meu coração está tão acelerado que fazem minhas mãos tremerem e é claro que ela percebe.

Sinto-me péssima, traída por mim mesma, traída pelo meu passado. Lágrimas enchem meus olhos de novo, mas dessa vez eu as enxugo com rapidez, antes mesmo que despenquem e rolem pela minha face.

Totalmente destruído, Luke se levanta e volta a ficar paralizado, com o olhar congelado na minha direção. Não o culpo, afinal, tem razão em estar tão inconformado. Tudo o que ele sempre procurou estava bem debaixo do seu nariz durante o último mês.

– Emily, e quanto ao seu pai? – Nina pergunta, com tota a delicadeza do mundo. – E sua verdadeira data de nascimento?

– Nasci no dia vinte oito de outubro de 1996. – Respondo com a voz tão estridente, que não a reconheço. – E quanto a meu pai, ele é sim o homem esquisito que se comunica comigo através dos meus sonhos. Seu nome é Agramon Illuminati.

Para a minha surpresa, meus amigos parecem novamente chocados com o que acabo de dizer.

– Agramon Illuminati! – Nina repete, perplexa.

– Impossível! – Jeremy contesta, balançando a cabeça. – Esse cara já não está morto há anos? Não poderia ser o pai da Emily. E além disso, feiticeiros brancos e negros nunca se relacionaram antes, não no sentido de procriar. Tem alguma coisa muito esquisita nessa história!

Respiro fundo, meio confusa sobre o que conversam. Eu realmente não faço ideia de quem possa ser Agramon Illuminati.

– Acalme-se, Emy. – Nina tenta me consolar, já passando um de seus braços por cima de meus ombros. Percebo que está na ponta dos pés para fazer isso, já que não é muito alta. – Você não é filha de Therion... Vai ver a garota perdida ainda está por aí.

Não sei nem como responder à sua tentativa de consolo então não o faço.

– Ela é a garota perdida. – Luke finalmente coloca para fora com um rosnado. – A data de nascimento... Não tinha como Blake Darkbloom ter duas filhas na mesma data. A não ser que Emily tenha uma irmã, mas ainda assim, isso não faria o menor sentido.

O fato de Luke se referir à mim como se eu não estivesse presente me deixa aborrecida, não que isso me afete muito. Tenho outros problemas maiores para lidar, como ser a “garota perdida”.

– Uma irmã... – Nina repete o que Luke acabou de dizer, numa tentativa de encontrar uma solução para eu não ser a “garota perdida”.

– Emily tendo uma irmã ou não, – Jeremy nos lembra do óbvio, mais confuso que o habitual. – Blake traiu o rei Therion, com o seu próprio cunhado. Isso seria um escândalo e tanto.

Isso me pega mais desprevenida do que eu penso que estou.

– Espere. – Grito, não me importando mais se pareço escandalosa demais. – Agramon e Therion são irmãos?!

Nina, Jeremy e Luke se entreolham, mas não me respondem. Mesmo assim entendo que a resposta é positiva, o que me enlouquece ainda mais.

– Mas Agramon é um feiticeiro branco e Therion, negro!

– Therion foi adotado quando ainda era um bebê pelos pais biológicos de Agramon. – Jeremy responde, incrédulo com a minha falta de conhecimento. – Francamente, você nunca ouviu falar em como o rei Therion chegou ao trono? Ele teve de derrotar Agramon, seu próprio irmão.

Essa informação me chateia mais do que estou chateada, se é que é possível. Sou nada mais que o fruto de um relacionamento extraconjugal da rainha dos feiticeiros negros com o irmão do rei, que por sinal, é o vilão da história. Isso sem mencionar o fato que provavelmente sou a primeira mistura de feiticeiros negros e brancos, podendo ser uma ameaça, um monstro ou até mesmo um demônio.

– Não, porque embora vocês sempre esqueçam, eu fui criada como humana e não sei de mais da metade das coisas que acontecem por aqui!

Minha voz ecoa pela caverna e eu me sinto envergonhada por perder a cabeça e estar gritando desse jeito. Acontece que é tanta informação de uma só vez, que não consigo processar sem antes explodir.

Então para a minha infelicidade, as lágrimas começam a jorrar dos meus olhos e quando me dou conta, estou chorando tanto que perco até o fôlego.

Meus amigos me encaram assustados, sem reação, e eu cubro meu rosto com as mãos, com vergonha. Vergonha de ser quem eu sou e até mesmo, vergonha por estar chorando.

– Eu não posso acreditar – Arfo, entre os soluços. – que sou fruto da traição de Blake e Agramon. Já pensaram no que isso pode significar? Que eu sou uma aberração! Pode ser que eu seja uma ameaça à todos os feiticeiros, afinal, sou a primeira mestiça entre os negros e brancos...

Sou calada e envolvida por braços que surgem completamente do nada. Luke. O reconheço por causa do perfume amadeirado, que instantaneamente, me acalma. Ele me abraça com doçura e eu deixo minhas lágrimas rolarem cada vez mais enquanto enterro minha cabeça em seu peito.

Luke me abraça apertado, acariciando meus cabelos e para a minha surpresa, isso me conforta. Me dá segurança, como já mais tive na vida. É como se eu finalmente tivesse um refúgio, um porto seguro. Ou alguém que se importe comigo de verdade.

– Você não é uma aberração, entendeu? É encantadora. Já percebeu que seus poderes são mais fortes que os nossos? Deve-se à isso, Emily. Deve-se ao fato de você ser a junção de negros e brancos. – Ele sussurra.

Até que suas palavras fazem um certo sentido em minha mente e me deixam mais leve. Pressiono meus dedos em seus braços, numa tentativa de agradecimento por estar me confortando, já que não consigo levantar minha cabeça e agradecer como uma pessoa normal agradeceria.

Eu estou com você. E nós vamos dar um jeito nisso.

Se eu sou a “garota perdida”, isso faz de Luke meu escudeiro, o que até tem sentido já que ele vive me protegendo. Mas o que mais dói nisso tudo é que se realmente for verdade, então tenho minha mão prometida a Leo Lightlair, o filho do rei e rainha feiticeiros brancos. E nunca poderei ficar com Luke.

Estremeço com a ideia, mas me sinto mais reconfortada quando Luke me beija no alto da testa, de forma protetora. Ele pega meu rosto com as mãos e enxuga as minhas lágrimas com as pontas dos dedos. Minha respiração é irregular e contrangedora, mas eu não me importo.

Tiro meus olhos dos dele e abaixo minha cabeça, tentando voltar ao controle. Ou pelo menos tentando fingir que estou voltando ao controle.

Luke não desiste e volta a tocar meu queixo, como se me forçasse a olhar em seus olhos. De repente percebo o que está fazendo e finalmente deixo que me beije.

Não ligo se Nina e Jeremy estão presentes e na verdade, não sei nem mais para o que eu ligo. Estou tão destruída, que preciso dele para me reanimar. Eu preciso de Luke.

Nossos rostos já estão tão próximos, que posso sentir sua respiração. E eu espero para finalmente para ter seus lábios nos meus.

Mas isso, infelizmente, não acontece.

Não acontece, pois uma voz vinda de não muito longe berra tão desesperada e escandalosamente, que eu chego a assustar. Ela ecoa pela caverna e me faz arrepiar.

– Luke, Emily?! Onde vocês estão? – Nos chama, com pavor.

Me afasto de Luke instantaneamente com o susto, encarando-o preocupada. Ele parece tão incrédulo quanto eu.

Nina se move lentamente para a direção de onde a voz vem. Vem do caminho pelo qual chegamos até o Oráculo. Vem do longo corredor, na direção da parede de pedras dividida que tivemos de abrir oferecendo nosso sangue.

– Mas o que... – Ela é começa a raciocinar, quando é interrompida novamente pelos gritos aterrorizantes.

– Onde vocês estão?! Sou eu, Serena. Respondam!

Não fico nada feliz em saber que é Serena quem grita tão desesperadamente por nós. Isso significa que há algo acontecendo, algo ruim, algo fora dos planos. E tudo o que não precisamos é de mais catástrofes.

Minhas mãos recém-acalmadas, voltam a ficar trêmulas e sinto uma pontada em meu estômago.

– Estamos ouvindo! – Luke grita em resposta, ainda encarando meus olhos com uma expressão preocupada. – O que está acontecendo Serena?

Ela demora um pouco para responder e isso deixa a situação mais tensa e desagradável ainda.

O som de sua voz ecoando pela caverna é distorcido e acabo não entendendo absolutamente nada do que diz. Olho para os rostos de Jeremy, Luke e Nina e eles parecem tão confusos quanto eu.

Mordo meu lábio inferior, com um péssimo pressentimento. Luke está com suas mãos fechadas em punhos e dentes cerrados quando pergunta:

– O que ela está dizendo?!

– Também não consigo entender. – Respondo, fazendo o máximo que eu posso para me concentrar nas palavras de Serena.

Jeremy coloca-se à frente e nos encara com sua lança em uma de suas mãos.

– Não parece ser algo bom. – Ele diz, nervoso. – Acho melhor irmos até ela.

Luke parece pensativo e preocupado, mas acena com a cabeça concordando.

E quando eu me dou conta, já estamos correndo.

***

A longa caminhada que fizemos para chegar até o Oráculo parece ainda mais longa, e olhe que dessa vez estamos correndo.

Não sei o que está acontecendo, mas sei que é algo ruim. Inúmeras possibilidades de acontecimentos ruins passam pela minha mente e eu prefiro parar de pensar nelas.

Percebo que Nina já carrega seu arco e flecha, assim como Luke e Jer também estão com suas armas. Desembainho minha adaga prateada enquanto corro e já vou me preparando para o pior.

Começo a me cansar quando avisto as duas paredes divididas por onde entramos e que ainda estão abertas.

Serena está um pouco mais afastada, mas mesmo assim consigo ver as lágrimas escorrerem pelo seu rosto. Está tão horrorizada que acaba me assustando.

Encaro Nina, que me encara de volta. Ela está tão curiosa e preocupada quanto eu.

Percebo que não há nenhuma luz vindo de fora e só o que ilumina o local são as luzes das tochas nas paredes do corredor. Isso me faz arrepiar de certo modo, afinal, não pareceu que ficamos tanto tempo aqui embaixo, e lá fora, parece já ter anoitecido!

– Está escuro. – Jeremy observa.

– Aparentemente, o tempo aqui embaixo passa mais devagar do que lá em cima. – Nina tenta encontrar uma explicação para o ocorrido.

Chegamos cada vez mais perto das paredes divididas e assim que as ultrapassamos, elas se fecham com um estrondo. Tudo fica extremamente escuro, mas instintivamente, Jeremy incendeia sua mão, reiluminando o local.

Encaro as paredes, agora já fechadas novamente, marcadas pelo meu sangue e de Luke. Acabo chegando a conclusão que somente o meu sangue seria o bastante para abrí-las, afinal, querendo ou não, possuo tanto sangue de feiticeiros negros, como de feiticeiros brancos.

Uma das coisas que mais me intriga, para falar a verdade, é o fato de eu possuir apenas poderes de feiticeiros brancos. Já que sou a junção das duas raças de feiticeiros, deveria possuir os dois tipos de poderes. Talvez isso funcione como a genética do mundo humano e eu tenha herdado somente os genes do domínio dá água e do ar, do meu pai.

Chegamos até Serena, que por sinal está arrasada. Nina logo segura uma de suas mãos para acalmá-la, como sempre costuma fazer com todo mundo. Luke está logo ao meu lado, assim como Jeremy está do outro.

– O que está acontecendo? – Luke finalmente pergunta, não se importando em esperar a sereia se acalmar e parar de chorar para falar. Acontece que está tão preocupado que não tem tempo para isso.

Serena soluça uma ou duas vezes, mas então começa finalmente a falar.

– Anoiteceu. Vocês ficaram tempo demais aqui embaixo e eu e Peter estavamos famintos. Sem falar nos demônios que poderiam aparecer... – Ela começa a se justificar, como se algo terrível tivesse acontecido e como se fosse sua culpa.

– O que está acontecendo, Serena? – Luke repete sua pergunta, pressionando-a.

Mais lágrimas deslizam pelo seu rosto enquanto ela fala.

– O levei até a praia, disse para ir até a caverna e ficar escondido por lá, mas Peter não quis. Ele não queria me deixar sozinho, mas eu não podia deixar vocês aqui. Começamos a discutir e de repente, eles apareceram.

Tenho uma leve ideia de quem eles possam ser, mas sem muita certeza, é claro. Espero realmente que não sejam quem penso que são.

– Eles quem?! – Pergunto, berrando com o desespero.

Mas quando ela responde, acabo preferindo que não tenha respondido, já que confirma minhas hipóteses.

– Os lobisomens. Muitos deles, para falar a verdade. Surgiram do nada, como sempre. Eu tentei puxar Peter de volta para o mar, mas ele é teimoso e quis tentar lutar!

Esses fatos me pegam de surpresa e tento manter a calma.

– Peter está morto?!

– Não, mas os lobisomens o levaram como refém. – Ela diz entre as lágrimas e depois me olha como se eu fosse a culpada, como se eu mesma tivesse mandado os lobisomens raptarem Peter, o que eu não entendo por um momento, até ela concluir sua frase. – Eles o levaram como refém, mas o que eles querem de verdade é você, Emily. E você deve se sacrificar para resgatá-lo!

Essas palavras me atingem de tal forma que me sinto péssima. É claro que fico louca com o que Serena acaba de dizer e tenho vontade de socá-la, mas por outro lado, percebo que está certa.

Peter já correu risco de morte uma vez por minha causa e eu não posso deixar que corra outra vez. Não se eu puder impedir. Não se eu me entregar aos lobisomens para que o libertem.

Luke estremece ao meu lado e de repente sinto sua mão em meu ombro de forma protetora. Ele percebe o que eu estou pensando e aparentemente não aprova.

– Nem pense nisso, Emily. Podemos lutar juntos contra os lobisomens, mas eu não vou deixar que você se entregue.

Baixo meus olhos e encaro o chão, aborrecida. Luke, nem nenhum dos meus amigos me deixariam fazer o que estou cogitando fazer.

Então, infelizemente, será preciso fazer sem a permissão deles.

A passagem da caverna para o mar está a poucos metros de mim e tudo o que eu preciso fazer é alcançá-la. Posso criar outra bolha de ar para me proteger dos demônios marinhos e nadar até a superfície. Luke, Nina e Jeremy precisarão da ajuda de Serena para me alcançar e isso demorá. Talvez eu consiga...

Se for mesmo verdade o que estamos pensando sobre os lobisomens serem liderados por Agramon, eles me levarão até meu pai. Assim, posso finalmente ter uma conversa franca de pai para filha. Uma conversa nada agradável, se depender de mim. Posso tentar convencê-lo a não dominar Opposite e se não funcionar, terei de tomar outras providências.

Penso e chego a conclusão que é a melhor coisa a se fazer. Penso como uma feiticeira digna, que é capaz de entregar sua própria vida para salvar o seu povo. Eu posso provar para mim mesma que não sou essa feiticeira covarde, criada por humanos.

Algo que eu reconheço por bravura e vontade de lutar surgem em meu coração pela primeira vez, e eu percebo o quão disposta estou a fazer isso.

Acontece tudo em frações de segundos. Luke ainda me observa com o olhar preocupado e tem uma de suas mãos em meu ombro. Com um movimento inesperado, tomo posse da espada dourada, em sua outra mão, afastando-me. Sem pensar em qualquer outra coisa, corro na direção da água.

Escuto gritos desesperados de Nina, Jer e especialmente de Luke ao perceberem o que estou fazendo. Também os ouço correndo atrás de mim e realmente não sei como ainda não conseguiram me parar.

Não me deixo abalar pela emoção e não olho para trás. Apenas fecho meus olhos e salto para fora da caverna.


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