The Key escrita por Ronnie


Capítulo 4
Capítulo 4




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-Posso te deixar ir embora... – ouvi minha voz e sentia minha boca se movendo, mas eu não conseguia me controlar. Era como se a raiva dele estar invadindo a casa fosse mais forte que o meu medo ou qualquer outro sentimento que tentasse se manifestar. – Se nunca mais vir aqui.

 Eu podia ouvir o chiado de minha serpente ao se enrolar mais e mais no pescoço do garoto.

 -Eu não voltarei mais aqui! Eu juro! – ouvi sua voz em minha cabeça. Eu nem ao menos piscava para que o contato visual não se esvaece e ele fosse embora sem uma ameaça.

 Sorri, quase o deixando ir, quando me lembrei que ele estava ali por algum motivo.

 Podia sentir ele relaxando, quando minha serpente voltou a apertar sua garganta e seus olhos saltaram novamente, quase pedindo misericórdia.

 -O que estava fazendo aqui?! – perguntei, sentindo-me poderosa.

 -Meus superiores falaram que estava aqui o poder dos Nirhaquianos. – falou ele, respirando com dificuldade e mais cuspindo do que pronunciando as palavras.

 -E como era esse tal “poder”? – ele ficou em silêncio, então ordenei a minha serpente que ficasse ainda mais apertada e ela o fez, graciosamente. –Como era?! – gritei para que dissesse.

 -Disseram-me que era um bracelete ou algo assim. – falou ele, olhando em meus olhos.

 Só poderiam estar falando de meu bracelete. – pensei, sem tirar os olhos dele.

 -E quem é seu superior? – falei depois de um tempo calada.

 -Não posso falar. – disse ele, parecia mais nervoso e agitado que o normal.

 -Se não falar, morrerá. – é claro que eu não o mataria, mas eu precisava tirar tal informação preciosa dele. Assim, eu poderia falar para Beth, talvez ela conhecesse esse vampiro que o mandou ali.

 -Eu morrerei se contar. – sua voz soava trêmula.

 -Está entre a cruz e a espada. – achei engraçada minha fala súbita. Vampiros não gostavam de nenhum dos dois, então... 

 Ele continuou em silêncio, então minha serpente o apertou ainda mais e pos seus dentes cravados em sua bochecha em que desciam lágrimas.

 -Zack de La Kuart. – falou ele, agora movimentando seus lábios e quase gritando de dor. Eu podia sentir o pavor dele e por incrível que parecesse aquilo era muito bom. Dava uma sensação de poder e de trabalho feito. Era uma espécie de prazer que eu nunca sentira antes. Uma mistura de bom com satisfatório, eu não sabia explicar.

 -Mel? – ouvi a voz doce e melódica de Beth, atrás de mim. O que me fez desviar o olhar do menino e olhar para trás.

 Beth estava tão horrorizada que deixou sua cesta de frutas cítricas caírem no chão. Olhei mais adiante e vi Matthew, Peter e Lara. Todos estavam em estado de choque, menos Matthew, que parecia mais desapontado.

 Como me desconcentrei, o garoto caiu no chão, respirando fundo e procurando ar, enquanto minha serpente voltava para o meu braço e eu podia jurar vê-la rir para mim.

 -Quem é esse?! – Beth passou por mim e foi ajudar o vampiro esticado no chão, com a marca dos dentes de minha serpente em sua bochecha. – Querido, você está bem? – ela estava tratando-o a pão de ló, sendo que ele invadiu sua casa para tentar pegar meu bracelete. Ladrãzinho filho da mãe! – pensei furiosa.

 -Como pode tratá-lo assim?! Ele invadiu nossa casa Beth! – falei inconformada, vendo-a dar água a ele.

 -Ele é filho de meu irmão. –falou ela com as mãos de baixo da cabeça dele, dando-o água.

 -Como é que é?! – falei espantado, ao vê-lo implorar mais e mais água.

 -Tia... – escutei a voz fraca dele. – Eu não sabia que estava morando aqui! – ele estava bem preocupado, queria se explicar antes que eu dissesse o que aconteceu, imaginei.

 -Eu sei querido. – falou ela, olhando-o com ternura, me deixando irada.

 -Zack me mandou aqui para pegar o bracelete. – falou ele arfando após beber um grande gole de água.

 -Zack te mandou aqui?! – ouvi Matthew e Peter falarem ao mesmo tempo, se aproximando dele, com nojo, enquanto Lara apenas olhava de longe. Ela tinha muito medo de vampiros, pelo que me contou.

 -Mandou, mas não contem a ele que eu os contei. – suas palavras pareceram confusas para mim nos primeiros segundos, mas depois eu consegui entender o que ele quis dizer.

 -O que ele quer com o bracelete da Mel? – Peter não se aproximou muito do garoto, afinal, ele era um vampiro sem alma, esquisito e estranhamente desprovido de pulsação.

 -Ele disse que é a fonte de poder de vocês. – disse ele, se levantando e se sentando em uma das cadeiras solitárias da cozinha.

 Mal sabiam os vampiros que Hélio me falara que o poder máximo estava concentrado em mim e não no bracelete, questão essa que eles nunca poderiam saber! Nunca! Se soubessem iriam querer me matar, ou sei lá o que!

 -Mas... – Lara começou a falar, desajeitada e encolhida, mas todos nós lançamos olhares a ela para que não falasse nada e ela pareceu entender, após dar um sorriso de canto de boca.

 -Mas? – perguntou o garoto com os olhos esperançosos.

 -Mas, o poder dos Nirhaquianos não está no sangue? – perguntou ela, notoriamente improvisando uma fala rápida e esperando que fosse convincente.

 -Achamos que estivesse. – o garoto ou era muito burro, ou sofria de algum problema de audição, porque todos ouviram a voz de Lara vacilar várias vezes, enquanto falava.

 -Hm... – soltou ela, indo em direção a sala e se jogando no sofá.

 -Tia, agora preciso ir. – falou ele, se levantando e atacando-me com os olhos.

 Ele parecia estar com muita raiva de mim, pelo que o fiz passar. Mas, não era para menos! Invadir a casa de alguém, ainda mais a minha, com certeza ele estava procurando por confusão. Apesar de os vampiros serem mais fortes que qualquer outra criatura, a não ser os Nirhaquianos que eram fortes igualmente.

 -Ok! E não venha mais aqui sem avisar Cristoff! – falou ela sorrindo e o vendo sair pela porta da frente, ainda me fuzilando com os olhos.

 Virei-me para as pessoas da casa, esperando vê-las fazendo suas coisas de sempre. Beth cozinhando o jantar, Matthew indo até a estufa pegar alguns cogumelos com a ajuda de Peter e Lara vendo algum filme no Tele Cine, mas dessa vez foi diferente. Olhei para eles e todos estavam me fitando curiosamente e até um pouco assustados, eu diria.

 -O que foi aquilo Melany? – a voz de Beth não soava mais com afeto e preocupação de mãe. Parecia que ela estava querendo arrancar a confissão de uma adolescente que havia saído de casa escondido para ir a uma festa as três da madrugada.

 -O que? – sabia o que havia sido, mas preferi me fazer de desentendida.

 As mãos de Beth estavam na cintura e seu pé esquerdo batia no chão em tom de autoridade materna, enquanto Peter e Matthew me olhavam com caras feias e braços cruzados sobre o peito e Lara assistia uma nova série em algum canal que não me incomodei de tentar verificar, mas sabia que seus olhos estavam na TV e seus ouvidos na conversa. Essa era esperta!

 -Você estava quase matando Cristoff! – falou Beth com os braços, agora, cruzados e de cara feia.

 -Ele invadiu sua casa Beth! E eu não sabia que ele era filho do seu irmão. – não sei por que não falei sobrinho, mas preferi dizer como ela havia dito. Eu estava tentando me explicar, mas o que eu havia feito, parecia ser muito mais grave do que realmente era.

 -Melany, não é por isso que estamos... – Peter disse, olhando para os lados, procurando as palavras.

 -Tão espantados! – Matthew completou.

 -É porque então? – agora eu que cruzei os braços e me apoiei na parede, com um olhar cortante.

 -Eu jamais vi alguém com tal controle mental que teve com ele e sua serpente a obedecia de tal forma... Quase hipnótica! – falou Peter, se aproximando de mim e parando a alguns metros. – Tem alguma coisa errada aí Melany. – falou ele desconfiado.

 -Não tem nada de errado. Só fiz o que Hélio me ensinou. – falei em minha defesa.

 -Hélio não ensinou controle de mentes para Taylor. – falou Beth, se encostando na bancada, parecia meio zonza.

 Até que Matthew e Peter foram ajudá-la a sentar, de tão fraca que já estava.

 Ela apontava para mim com a mão trêmula e um horror estampado no rosto, com os olhos arregalados.

 -Não é a serpente que te controla... – a voz dela saiu falha e minha dureza expressiva, foi se dissipando quando as palavras dela foram sendo cuspidas em direção a mim, afetando-me. – É ela quem controla sua serpente!

 Todos olharam para mim chocados e eu não pude fazer mais nada além de respirar fundo e não desabar no chão, chorando que nem uma criança com medo do escuro.

 Por mais que fosse extremamente bizarro, eu tinha medo de mim mesma. Ao mesmo tempo em que eu me sentia forte, eu me sentia perigosa e tinha medo de perder o controle como naquele dia quando descobri que eu era uma Nirhaquiana. Eu não era má e não queria ser má! Eu apenas não tinha muito controle de todo poder que existia em mim. Eu poderia ser uma arma como uma ameaça, um monstro como um anjo, era só eu saber usar minha força e poder para o bem e nunca, jamais para o mal. O problema é que às vezes, o que é bom para uns, é terrível para outros.

 -Eu... – gaguejei. Eu sabia daquilo! Hélio já havia me dito, mas a interpretação deles foi de longe, super distintas. Hélio achou fantástico e Beth achou detestável. – Eu não sei o que está havendo. – falei e corri para o meu quarto, no andar de cima. Correndo com as pernas bambas e com lágrimas nos olhos.

 Cheguei à porta e a fechei, quando passei por ela. Deslizando sobre ela e caindo sentada no chão, onde me aninhei e chorei de soluçar.

 Eu chorava sem nenhum motivo aparente, mas dentro de mim eu sabia o porquê.

 Corava por eles me acharem uma abominação! As únicas pessoas que eu poderia contar no mundo inteiro e elas me achavam uma abominação. Uma espécie de monstro que ninguém conhecia. Eu me sentia uma forasteira.

 Por quê?! Por que eu era assim?! E o pior era que EU era assim. Não era somente a serpente que me fazia ser como eu era e sim, eu mesma. Eu havia nascido daquela forma, um monstro!

 Eu sabia que seria caçada assim que a população de Alídea soubesse que eu era a mais poderosa dos Nirhaquianos. Eu iria ser caçada para servir ao bem e ao mal. Eu não queria aquilo! Eu queria ser normal!

 Ter problemas nas notas de matemática na escola, sair escondido para uma festa no meio da madrugada, ter caries nos dentes, ter espinhas e não poder ir na festa de formatura, querer me matar por meu namoradinho ter terminado comigo... Coisas normais de adolescentes! É claro que eu não teria tantos problemas assim, ou desse tipo, mas ter problemas normais! Era pedir demais?!

 Eu queria apenas uma chance de mostrar que eu poderia ser uma pessoa normal! De fugir daquilo tudo! Fugir de Charlie, de Alídea, de minha serpente... Menos de Lara, Peter, Matthew e Beth que estavam perto de mim sempre, menos naquele momento.

 Meu estômago deu voltas e voltas ao lembrar daquilo, de que eles não estavam do meu lado, naquele momento, então eu chorei mais.

 -Melany?! – ouvi a voz abafada de Matthew atrás da porta, depois de ouvi-lo bater.

 Eu não queria vê-lo. Não queria ver ninguém. Queria ficar com a minha dor só para mim. Era engraçado até... Uma pessoa indestrutível como eu e chorando por uma razão tão boba, como aquela. Mas, eu tinha coração, eu não era má e ser chamada subliminarmente de má, não é nada legal para alguém como eu.

 -Não quero falar com ninguém agora. – disse com a intenção que ele não me escutasse, mas para meu azar ele escutou.

 -Mel... – sua voz soou tão melódica e tão boa que quase tive um treco! – Deixe-me entrar... – ele fez uma pausa. – Precisamos conversar. 


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Notas finais do capítulo

Desculpa a demora! =)