- Quem sou eu Lindsay? – perguntou Jack. – Vamos, me responda, você sabe a resposta.

- Se você é realmente quem acho quem é – começou Lindsay já demonstrando certa indignação no tom de sua voz. – Por que deixou que isso acontecesse? Por que pelo que vejo você não está aprisionado em meu irmão ou muito menos em mim. Estava preso numa masmorra e agora me vem com essa de me transportar pro passado?

- Escute menina – disse Jack com a voz extremamente intimidadora – Você é uma pessoa impaciente, e isso me irrita. Mas respondendo às suas perguntas, eu estou aprisionado em você sim, isso tudo que estou lhe mostrando está acontecendo no seu subconsciente – a paisagem ao redor sumiu e tudo ficou branco, e homem à frente de Lindsay se transformou em uma fênix negra e gigante – e quem vai fazer algo para mudar essa situação é você.

Lindsay que antes que mostrava autoconfiança e decisão, agora demonstrava medo. O poder que emanava de Flames era algo arrebatador, suas pernas amoleceram, e uma pequena tremedeira tomou conta de suas mãos. Ela estava maravilhada por ver algo tão magnifico como Flames. Sim, essa a palavra que melhor o descrevia. Magnifico.

- Você ainda é uma criança – começou Flames. – Você tem dentro de si quase todo o meu poder e mal sabe manter uma bola de fogo acesa por um longo tempo. Eu disse que seria uma péssima ideia manter seus herdeiro longe de nossos costumes, pois agora que é quando mais precisamos de você, você não sabe nada – sua voz não trazia mais aquele tom bondoso, agora trazia a raiva acumulada durante os 3000 anos que ficou aprisionado. – Eu deveria incinerá-la e depois o seu irmão, assim poderia reaver meu poder e acabar com aquele verme que se intitula rei.

- Não se atreva a chega perto do Mikey – ela não sabia de onde havia tirado coragem para usar um tom de voz tão autoritário como usou, mas isso fez com que Flames prestasse devida atenção na garota, então ela não baixaria a cabeça agora. – Você tem razão, eu não sei de nada, mas você deveria saber que eu não sou tão imprestável como você diz. Essa ultima semana que se passou eu aprendi muito sobre magia, e quem foi que disse que não consigo usa-la? Me responda uma coisa, se você tem toda essa liberdade de tomar conta do meu subconsciente por que não usou o seu poder para acabar com os guardas quando nos encurralaram na biblioteca de Clarissa? – ela não deixou que ele respondeu e continuou antes que perdesse a coragem. – Você só está dizendo tudo isso porque sabe que precisa de mim para poder liberar seu poder. Sabe que sem mim você não passa de uma misero passarinho preso em uma gaiola. Sabe que sou a única que no momento pode usar seu poder para chutar a bunda de cada um desses idiotas que acabaram com a vida do reino – sua respiração estava acelerada, sua afobação fez com que ela apenas despejasse as palavras rapidamente por receio de perder a coragem de enfrenta-lo. – Você sabe que eu preciso de você. Sabe que só conseguirei derrotar Hector se você me liberar seu poder completamente.

Flames encarava a garota, mas não pronunciou nenhuma palavra, ficou apenas flutuando ao redor da garota. Ele estava analisando-a. O desconforto era inegável. Na cabeça de Lindsay ela o havia insultado falando daquela maneira, então ela acreditava que ele estava pensando de qual forma a mataria, mas no fundo ela sabia que estava com a razão, afinal se ele pudesse já teria feito tal ato assim que ela o chamou de passarinho.

- Você tem o rosto de Clarissa – disse Flames. – Tem a aura dela. E pelo que vejo tem a mesma mania de sair falando o que bem pensa só temendo o peso de suas palavras depois delas já serem ditas – ele pousou e ficou de frente para a garota. – Mas o mais importante, está claro que você é tão forte quanto ela era.

- Como? – aquilo surpreendeu Lindsay. O que se passava naquela cabeça de passarinho?

- Clarissa sempre fora subestimada pelo fato de ter uma saúde fraca, mas quando o assunto era proteger algo que ela amava, como seu reino, ela sempre demonstrou sua determinação em suas palavras, e quando pisava no campo de batalha a vitória era praticamente garantida – seu tom ainda era intimidador, mas já causava certo alivio em Lindsay. – Vou lhe dar um voto de confiança menina...

- Eu tenho nome – disse Lindsay emburrada.

- Certo – continuou Flames. – Vou lhe dar um voto de confiança Lindsay. Quando acordar você terá acesso a todos os meus poderes. Também encontrará um guarda que foi lhe buscar a mando de Hector para você se aprontar para o tão esperado ritual. Você terá a chance de brincar com ele e mostrar do que é feita, e ainda lhe aconselho a libertar Gates, ele será de grande ajuda. Mas fique sabendo, se eu achar que você falhará, vou te incinerar de dentro para fora e acabar com todos que estão ao seu redor. Então espero que você me prove que não precisarei fazer isso – ao dizer isso Flames simplesmente sumiu.

- Ei! – gritou Lindsay. – Volta aqui! O que você quis dizer com libertar o Gates? – nada, nem sinal de Flames. – Volta aqui seu passarinho metido a Deus! EEEEEEEEI.

~*~*~*~

- Acorda garota – mandou um guarda chutando as pernas de Lindsay.

- O que? Onde estou? – perguntou a garota, como ela havia voltado?

- Na masmorra lembra? – perguntou o guarda em tom de tédio. – Agora anda, o rei quer falar com você.

Lindsay estava completamente alheia ao caminho que estava fazendo, a única coisa que ela conseguia pensar eram as ultimas palavras de Flames. Até parecia que ele estava pensando alto ao invés de dar conselhos sobre o que fazer a respeito de Hector. Quando se deu por si, estava em frente a uma porta de marfim com no mínimo cinco metros de altura, toda trabalhada com detalhes de ouro.

O guarda abriu as portas e empurrou a garota para dentro do aposento, fechando a porta logo em seguida. Um pouco receosa ela foi andando em direção à janela para observar a noite, que àquela altura já deveria ser o final da madrugada e logo o Sol surgiria para exibir o seu esplendor. Ela reconhecia aquele lugar, era o quarto de Clarissa que vira em seu primeiro sonho, mas havia algumas mudanças, como a cama que antes era de uma madeira clara agora era de uma madeira escura e em maior que a anterior. Pelo visto Hector tinha mania de grandeza.

- Parada desse jeito olhando para o nada se parece ainda mais com Clarissa – Hector estava dou outro lado do quarto encostado na parede. – Antes que me pergunte algo, seus amigos estão vivos. Por enquanto – disse em tom ameaçador.

- O que quer de mim? – perguntou Lindsay tentando mostrar que a presença repulsiva daquele parasita não a incomodava.

- Bom minha cara – começou Hector desencostando da parede e indo em direção à Lindsay. – Já que em algumas horas começarão os preparativos para o ritual onde eu vou extrair cada misera gota do poder de Flames que está em você, e com isso lamento informar que você morrerá, achei que seria uma boa ideia prepara-la devidamente para tal evento – disse parando há alguns passos de distancia. – Mandei prepara um banho relaxante para você, depois uma equipe inteira estará te esperando para vesti-la apropriadamente. Quando eles terminarem o serviço que designei, você será conduzida até a sala de jantar onde um delicioso banquete estará te esperando para enfim, podermos começar o ritual.

- E por que você acha que eu vou fazer tudo isso de livre e espontânea vontade sem tentar fugir ou fazer algo para sabotar o ritual? – perguntou Lindsay em tom desafiador.

- Bom, primeiro eu tenho como refém não só seus amigos mas também o seu pai. Mas o mais importante, você ficou por quase duas semanas trancadas naquela masmorra, então sua energia não está alta o suficiente nem para acender uma vela, oque lhe torna uma completa inútil – ele disse quase duas semanas?

- Espera, você disse quase duas semanas? – perguntou incrédula.

- Sim minha cara, é normal você ficar com essa sensação de ter se passado apenas algumas horas ou no máximo um dia, mas sim, você ficou lá por quase duas semanas – Lindsay não disse nada afinal ela estava naquela viagem maluca com Flames. – As serviçais virão te chamar quando o banho estiver pronto – disse indo em direção à porta. – Te vejo no jantar.

Hector possuía um cheiro forte. Não um cheiro provocado por algum perfume. Pode até ser um perfume, mas havia algo a mais misturado, algo que impregnava as narinas de Lindsay e lhe causava um calafrio. Poderia ser cheiro do perigo? E perigo lá tem cheiro? Ela não sabia a resposta, mas aquele estava impregnado no local.

Aos poucos uma luz começou a entrar pelo quarto, ao virar-se para a janela Lindsay viu o amanhecer. Viu a luz do sol cobrindo tudo ao seu alcance, trazendo pela primeira vez um pouco de esperança para a garota. Um calor reconfortante tomou conta da garota, aquecendo-a de dentro para fora. Ela conseguiria serrotar Hector? Talvez conseguisse. Mas também, talvez nem conseguisse lhe causar um arranhão. Mas ela morreria tentando.