Harry’s POV

Eu estava nervoso. Não sei exatamente porque, acho que tinha medo que Victoire ficasse exposta a perigos novamente.

– Vic, se tudo isso é por causa de suas roupas, eu posso resolver. Compro novas roupas. Compro uma loja de roupas. Se quiser compro uma fábrica de roupas, mas por favor, não vá até lá – falei de olhos fechados.

– Tarde de mais para dar para trás – ela falou e segundos depois o carro parou.

Não era chamativa, parecia uma casa normal, toda de tijolos laranjas meio avermelhados e algumas trepadeiras tomando conta da parede. Dois andares. Janelas com grades. Uma porta branca e uma chaminé no telhado. Um gramado e algumas plantas. O muro que dividia ela das outras casas era baixo. Me perguntei se os vizinhos conseguiam perceber o que se passava dentro daquela casa.

– Vamos rápido – falei impaciente, pegando o braço de Vic.

– Vocês esperam no carro. Não vamos demorar. – ela falou decendo da perua de Louis ao meu lado.

– Qualquer coisa vocês, hmm... gritem, ok? – eu revirei os olhos para a fala de Louis. – eu vou virar o carro e ficaremos do outro lado da rua. – falando isso ele ligou o carro e começou a manobrar.

– Vamos Harry – ela enlaçou seu braço no meu, não por estar com medo, mas por causa do frio. – Eu acho que vai nevar – ela falou tentando quebrar o curto silêncio, sem encolhendo um pouco ao meu lado. O vento forte que nos atingia era mesmo gélido.

– Você acha que tem alguém? – eu perguntei tentando olhar pela janela, mas os vidros eram muito grossos.

– Acho que não. Ele não ficava muito em casa durante o dia... – ela deu de ombros.

– Como vamos entrar?

– Eu tenho a chave. – tirou uma chave da bolsa e a enfiou na fechadura, dentrancando-a – Pronto – ela sussurrou.

Ela foi a primeira a entrar, comigo em seus caucanhares. Estava tudo escuro, e a primeira coisa que Victoire fez foi procurar o interruptor, uma tarefa feita com muita facilidade por ela.

Assim que a claridade iluminou o local, eu me assustei. Embora por fora a casa fosse normal, por dentro estava longe disso.

Bagunça. Muita bagunça. Sujeira, fedor. E mais bagunça.

– Ele andou arrumando isso aqui... – ela sussurrou, a voz falhava.

– Se isso é arrumado, nem quero imaginar o auge do cáos.

– Não é hora para piadas Harry!... Ele deve ter ficado... com medo não, apreensivo que eu contasse à polícia sobre alguma coisa.

– Sem piadas, isso era pior? – ela agora andava pelo cômodo. Foi da sala para a cozinha.

– Acredite em mim, bem pior. Tinham drogas, armas, cadernos cheios de informações... Sei que isso tudo continua aqui, só que em algum lugar mais bem guardado.

– Vamos fazer o que temos que fazer, não temos tempo para sentar e tomar chá. – ela tirou os olhos de algum lugar e assentiu.

– Vem, vamos até o meu quarto. – pegou minha mão e fomos escada acima.

A porta de seu quarto estava no chão.

O quarto era bem arrumado, diferente do resto da casa. Tinha duas camas de solteiro, uma cômoda entre elas e dois pequenos guarda-roupas. Notei que na parede tinham alguns posters nossos, alguns remendados com fita-adesiva.

– Gostei do quarto, principalmente das paredes. – falei observando um poster nosso pregado na parede. – Até que eu estou gostosinho, mas esse cabel...

– Foco Harry! Me ajuda aqui – ela chamou. – Me levante para eu poder alcançar as malas, estão em cima do guarda.

– Ok – fui ao seu lado. – quando eu contar três, você pula... Um, dois, três – ela pulou e eu fiquei segurando-a pela cintura. Não era uma tarefa difícil, ela era leve.

– Pronto – jogou a mala na cama e abriu o guarda-roupa, jogando na mala tudo dentro ele.

Cinco minutos depois, todos os cabides estavam vazios.

– Vamos dar o fora daqui – eu andando na frente, mas na metade da escada percebi que ela não estava atrás de mim. – Victoire?

– Ahn... já vou Harry – ela falou baixo.

Meu celular apitou.

“HARRY, VOCÊS PRECISAM SE ESCONDER. O PAI DE VICTOIRE ESTÁ ESTACIONANDO O CARRO DO LADO DE FORA. NÃO SAIAM PELA PORTA DA FRENTE, ELE VAI PERCEBER. –NIALL”

Fiquei encarando a tela brilhante do celular por meio segundo sem reação. Pisquei uma vez e comecei a correr.

Fui até o primeiro andar, apaguei a luz e tranquei a porta novamente – assim ele não perceberia que alguém tinha estado aqui – voltei ao quarto de Victoire, ela estava parada junto a cama, segurando um papel.

Escutei barulho da porta sendo aberta.

– Harry! – ela se virou limpando uma lágrima. – O que você... Meu pai. – ela sussurrou - Temos que ir embora. Agora. – ela começou a andar, mas eu puxei seu braço. – O que foi Harry? – ela aumentou a voz – Não podemos ficar aqui, a menos que queira morrer! E... – tapei sua boca com minha mão e a puxei para dentro do guarda-roupa, sendo a primeira coisa que consegui pensar.

Victoire’s POV

Num segundo eu estava tentando sair da casa. No outro estava dentro do minúsculo guarda-roupa. Junto com Harry.

– Ele já está aqui. Escutei a porta sendo aberta. Temos que esperá-lo ir embora outra vez – ele sussurrou, soprando seu hálito quente em meu rosto. O espaço do guarda-roupa era obviamente muitíssimo pequeno, nossos corpos estavam completamente grudados.

Lembrei do que estava em minha mão direita, e a vontade de chorar voltou, dessa vez mais forte. Engoli o choro e continuei a encarar Harry, ele me olhava do mesmo jeito que eu devia estar o olhando: com tensão e medo.

– Não se preocupe, logo ele vai embora – afagou minha bochecha.

– Eu sei... só tenho medo do que vai acontecer até lá. – murmurei.

Ficamos alguns minutos em silêncio, apenas com o barulho das nossas respirações aceleradas.

– O que está te incomodando? – a pergunta me pegou desprevenida – está muito inquieta.

– É só... – não queria preocupá-lo com isso – tem alguma coisa fincando minhas costas. Mas deixa pra lá, ele já deve estar indo embora, então também poderemos ir.

Mais alguns minutos e o celular dele apitou.

“Ele já foi. Podem sair, mas saiam pelos fundos. –Liam”

Suspiramos aliviados e saímos do guarda-roupa.

– Saímos vivos dessa. Agora posso fazer piadas de novo certo? – Harry sorriu enquanto saímos pelos fundos da casa.

– Claro – sussurrei.

– O que foi? – ele parou subtamente.

– Nada – eu ri sem nenhum humor.

– Você mente mal sabia? – ela sorriu zombeteiro. Eu apertei mais o papel amaçado em minhas mãos, como eu queria que eu tivesse entendido errado...

– Eu só não me sinto muito bem – admiti. Ele me olhou com reprovação.

– Eu te avisei que só gente louca sai do hospital direto para uma aventura mortal.

– Quem mencionou em algum momento que eu fosse mentalmente estável? – ele revirou os olhos e bufou, sorrindo de lado – E eu não estou me sentindo mal fisicamente, só... – abaixei a cabeça e foi suficiente, ele não falou nada, apenas passou um braço sobre minha cintura e eu aconcheguei-me encostando minha cabeça em seu ombro enquanto andávamos.

Talvez valesse à pena correr os riscos, estar com Harry me fazia bem, me fazia sentir viva.

“I am finding out that maybe I was wrong
That I've fallen down and I can't do this alone”