Harry’s POV

Estava impossível de decifrar sua expressão.

Depois do médico ter falado aquilo, Victoire arregalou um pouco os olhos, mas não disse nada, nem se mexeu. Ficou feito uma pedra.

Eu também não sabia o que dizer. Não sabia se aquilo era uma coisa boa ou ruim, afinal.

- Você seria o pai, rapaz? – o médico perguntou.

- N-Não. Somos só amigos. – respondi me sentindo um pouco estranho.

- Oh, sim. Me desculpa pela pergunta demasiada pessoal... Enfim, a causa do aborto parece ser as anormalidades cromossômicas e por hábito iremos fazer uma curetagem – ele continuou explicando o que essas paradas significavam, mas eu não consegui prestar atenção. E aparentemente nem Victoire, que continuava congelada.

[ ... ]

- Como a Vic está? – os meninos perguntaram se levantando das cadeiras da sala de espera.

- Bem na medida do possível. Eles vão tomar as providências necessárias e ela vai passar a noite aqui, em observação, pois ela está mais machucada do que eu imaginava. Vamos ir para casa, e amanhã voltamos.

- Mas ela está bem com isso tudo? – Els falou – Ela deve estar muito abalada.

- Não sei, ela ficou completamente muda. Não falou nada, só balançou a cabeça para algumas perguntas do médico. Mal piscava. Ficou olhando para a parede, ficou pálida. – senti um arrepio ao me lembrar da sua cara inexpressiva.

[...]

Voltamos para o hospital naquela manhã, chegamos lá e Victoire ainda estava dormindo. Os meninos ficaram de novo na sala de espera e apenas eu entrei no quarto onde ela estava.

O médico falou que quando ela acordasse já poderia ser liberada. Ele falou que ela ainda estava muito fraca (provavelmente por causa das suas duas noites nas ruas gélidas e sem comida de Londres) e que precisaria de muito repouso para se recuperar.

Me sentei ao seu lado e fiquei observando-a dormir. Sua respiração era suave e a expressão despreocupada e inocente. A conheci há vinte e quatro horas atrás, e mesmo assim foi tempo o suficiente para ficar estranhamente apegado. O seu jeito tímido, o seu olhar sofrido e misterioso, sua expressão constantemente frágil – apesar de ela tentar na maioria das vezes esconder a dor com uma máscara mal disfarçada – o que mostrava que ela precisava de cuidados, de um porto seguro onde tivesse pessoas que ela pudesse confiar e amar.

- Harry? É você? – Victoire falou antes de abrir os olhos, pegando na minha mão que estava em seu rosto.

- Como sabe que sou eu? – sorri involuntariamente.

- Bom... Você foi a única pessoa que me sobrou. – abriu os olhos e me encarou tristemente.

Antes que eu pudesse responder, o quarto foi invadido.

- Eu não vou ficar parada sem fazer nada com você nos excluíndo – Els falou com o resto da gangue atrás.

- O que a senhorita-sutileza-de-uma-granada tentou dizer é que estaremos aqui por você – Dani falou pegando a mão de Victoire, que sorriu em agradecimento.

- É, isso mesmo... Quer dizer, não aqui aqui né? Por que comida de hospital é uma droga e eu tô morrendo de fom...

- NIALL! – todos o repreenderam ao mesmo tempo.

- Não se preocupem gente – Victoire disse rindo. – eu tô cheia de fome e comida de hospital é mesmo um pé no saco.

Victoire’s POV

Terminei e fazer alguns exames e vesti uma roupa decente.

Logo tudo já estava pronto para irmos embora.

Mas tinha uma coisa. Uma coisa que nenhuma pessoa racional iria fazer nesse momento.

Mas eu precisava. Se eu quisesse mudar tudo e começar de novo, isso seria necessário.

Mas teria que fazer isso sozinha, assim não colocaria a vida de mais ninguém em risco além da minha.

Harry’s POV

Todos já estavam no carro (dessa vez, decidimos vir na ‘mini-van’ de Louis para não precisarmos de dois carros)

- Vic, algum problema? – perguntei ao perceber que ela tinha uma cara pensativa e que ainda não tinha entrado na van.

- Na verdade... Sim. – pegou mu braço e me levou para fora do carro.

- O que foi?

- Olha... eu sei que isso não seria apropriado de se fazer. Também sei que você não vai me deixar ir. Mas quem vai sofrer as consequências disso vai ser eu. E somente eu. Por isso eu vou sozinha. – ela não olhou em meus olhos.

- Do que você tá falando Victoire?

- Eu preciso ir até a casa do meu pai.

Victoire’s POV

-Mas o que...? VOCÊ FICOU LOUCA? NÃO. VOCÊ NÃO VAI. EU NÃO VOU DEIXAR – ele gritou balançando a cabeça de um lado para o outro com veemência.

- Você não tem que deixar Harry. Vou lá apenas para pegar minhas coisa. Eu tenho a chave. É simples, vocês me deixam na frente da casa, eu entro, vou até meu quarto, pego as minhas coisas e vou embora. Ele nem vai perceber a minha presença.

- Não, Victoire! Foi você mesma quem disse que eu “não tenho idéia do que ele é capaz” e agora quer ir dar um tapa na cara do inimigo?! – ele não gritava, mas seu tom de voz ainda era alto.

- Harry... – sussurrei e pus uma mão em seu rosto – Vai ficar tudo bem, por favor confie em mim.

Ele desviou o olhar e pensou por quase um minuto. Depois disso voltou a me encarar.

- Ok... Mas com uma condição. – não falei nada e ele deu continuidade – Eu vou com você. – Soltei minha mão de seu rosto e dei um passo para trás.

- O que...? Não. Sem ch...

- É essa a condição. Ou nós vamos juntos, ou ninguém vai. – Ele falou calmo.

Vendo que não tinha outro jeito, tudo o que fiz foi assentir, revirar os olhos e entrar no carro.

O caminho foi silêncioso, só era quebrado quando eu tinha que dar as direções para Louis, que estava dirigindo. Os outros, assim como Harry, eram totalmente contra eu ir até lá. Todos tentaram me convencer do contrário (principalmente Niall, que faltou pouco me amarrar no banco do carro), mas foi em vão, pois eu já tinha tomado minha decisão, e quando isso acontecia, era quase impossível de me fazer voltar atrás.

“I've hoped for change,
but still I feel the same”