Victoire’s POV

- Como se sente? – ele perguntou sério enquanto me ajudava a tirar seu casaco.

- Nojenta, com fome, com sono, com dor...

- Vamos fazer assim então: eu preparo o jantar, ou o café da manhã devido a hora, enquanto você toma banho. Depois podemos capotar na cama, já que eu também tô um caco. Ok?

- Aham.

- Então vem. – pegou minha mão e me levou até um quarto (todo bagunçado), foi até o guarda-roupa e tirou de lá uma toalha branca e uma camisa social também branca. – Não vai ficar perfeeeeita, mas acho que vai servir como um quase vestido. – sorriu torto.

- Muito obrigada Harry, eu nem sei como agradecer – na verdade, eu até podia ter uma idéia. Mas Harry não tinha cara de ser um homem desse tipo – , eu estaria provavelmente morta se você não aparecesse lá e...

- Shhhh. Agora você está comigo e o pior já passou. – com a ponta de seu dedo limpou uma lágrima que teimou em escorrer.

- Obrigada. – ele assentiu e foi para a porta do quarto.

Tomei um banho demorado. Me senti até mais leve depois disso. Ainda enrolada na toalha, localizei uma pequena caixa de primeiros socorros debaixo da pia. Assim limpei e fiz curativos em alguns ferimentos. Procurei na caixa algum remédio para cólica, já que eu sentia uma dor forte e estranha um pouco abaixo do estômago. Achei um analgésico e tomei dois comprimidos.

Guardei cuidadosamente a pequena caixa e me olhei no espelho. Não pude deixar de soltar um suspiro de decepção.

Desisti de tentar achar algo bom em mim mesma e vesti a roupa que Harry havia me emprestado.

Penteei meu cabelo e o prendi da melhor forma possível, lavei meu rosto com a água fria e tirei a maquiagem borrada.

[...]

- Hmm, até que o quase vestido não ficou nada mal em você – Harry falou com um sorriso malicioso enquanto encarava toda a extensão do meu corpo. E eu que achava que cantores de boybands eram puros e inocentes.

Revirei os olhos e me sentei na bancada da cozinha.

- Não se importa de comer a pizza do almoço né? – ele tirou uma caixa de pizza da geladeira.

- Nem um pouco. A glicose no meu sangue tá tão baixa que eu vou me sentir num restaurante cinco estrelas. – ele sorriu e se sentou ao meu lado.  Começamos a comer, e eu nunca fiquei tão feliz de comer sobras de pizza fria na casa de um cantor famoso que eu acabara de conhecer.

Depois de terminarmos a comida, ajudei Harry (que insistia em deixar a sujeira acomular) com a louça. Quando terminamos tudo já era quase quatro horas da manhã.

- Vamos dormir então. Você pode ficar no quarto de hóspedes. Vem, eu te mostro onde fica. – pegou novamente a minha mão e foi me guiando pela grande casa – É esse.

- Boa noite e... Muito obrigada mais uma vez – sorri e entrei no quarto, fechando a porta atrás de mim.

[...]

Harry’s POV

Meu celular apitou. Uma mensagem. Era do Niall.

“Cara, dá pra destrancar a porta? Vamos apodrecer aqui fora”

Antes de mandar uma bomba atômica via torpedo para o irlandês por ter me acordado, olhei as horas. Uma e meia da tarde.

Resmungando alguns palavrões, saí da cama sem me importar de estar apenas de cueca e fui destrancar a porta.  Lá estavam esperando Louis, Niall, Zayn e Liam.

[...]

- Harold – Liam me chamou. Estamos todos vendo desenho jogados na sala feito crianças.

- Que foi? – desviei meus olhos da TV.

Ele saiu saiu do meu quarto com um sutiã nas mãos.

 - Haaam, de quem é isso? – perguntou jogando a peça na minha cara. Os meninos começaram a rir e a tacar almofadas em mim. Tinha que ser o Liam.

- Não é nada que estão pensando – fizeram cara de “me engana que eu gosto” – É SÉRIO! Dessa vez eu juro que não aconteceu nada.  – fui até  meu banheiro e tirei as roupas de Victoire que lá estavam.

- Então explica o que isso estava fazendo no seu banheiro...

- Argh! Essa menina, Victoire é o nome dela, estava perto daquele lugar esquisitão que Zayn tinha falado. Eu a encontrei num estado horrível...

- E a trouxe para cá?! – Niall falou rindo.

- Ela tinha sido estuprada pouco antes de eu a encontrar. Satisfeitos agora?! – eles pararam de rir. – Ela não me contou tudo, mas pelo o que eu entendi, ela fugiu de casa... – olhei o relógio, já eram quase quatro da tarde – Ela também perdeu a irmã a apenas três dias atrás, está bem abalada, além de machucada. Resumindo ela está frágil e não tem para onde ir. Então... tentem ser... menos idiotas, que eu vou acordá-la.

Entrei no quarto e me assutei.

Ela se revirava no meio dos lençois embolados. Estava toda suada, lágrimas e mais lagrimas molhavam o travesseiro e murmurava algumas coisas ininteligíveis.

Victoire’s POV

Meu pai fora atrás de mim, e dessa vez eu não conseguiria escapar. Ele me encurralou num beco... O mesmo beco da noite passada.

“Pensou que fosse fugir de mim, né?” ele avançou mais um passo apontando uma faca pra mim. Os soluços do choro aumentaram e me encolhi, ele levantou a faca. “Porque tão ingênua? Pensei que tivesse tirado alguma lição da sua mãe e da sua irmã... Mas pelo visto, eu estava enganado... O QUE VOCÊ ESTAVA PENSANDO? NÃO ME CONHECE? NÃO SABE QUE EU IRIA ATRÁS DE VOCÊ MAIS CEDO OU MAIS TARDE? Sabe que nenhum polícial é páreo para mim.

“E-E-Eu n-n-n-não t-t-t-tinha a intenção de c-contar n-n-nada para p-políc...”

“CALA A BOCA... Que assim me poupa tempo” Deu um puxão em meu cabelo, me fazendo cair de joelhos. Fechei os olhos, esperando pela morte. Pela experiência própria, iria aceitar a morte de bom grado, pois sabia que o que viria depois se eu sobrevivesse seria inexplicavelmente pior.

“Solte-a” uma voz masculina gritou atrás de mim.

“Vá embora moleque”

Então uma figura encapuzada avançou para o meu pai e o jogou no chão.

“Corra” a pessoa me ordenou.

Assim o fiz, corri sem olhar para trás, tentando entender quem era aquela pessoa e porque ela estava me ajudando. Mas poucos minutos depois, escutei o inconfundível barulho de tiro. Mas um minuto e alguém me puxou pelos cabelos.

“Aquele seu amiguinho cheio de cachinhos pensou que erá páreo para mim... Idiota. Foi um completo desperdício... Assim como você será”

Ele matara o meu herói. E o meu herói tinha “cachinhos”. Ele matara Harry, assim como matara minha mãe e minha irmã.

Harry’s POV

- Victoire? Victoire! Acorda – sacudia seus ombros levemente.

- NÃO! – se levantando de uma vez. Ela meu viu e começou a chorar tanto que chegava a soluçar.

- O que aconteceu? – perguntei limpando suas lágrimas.

- Pesadelos. – enfiou a cabeça entre os joelhos, respirando fundo – Mas já passou. – levantou a cabeça me encarou sorrindo. Um sorriso triste. Daqueles em que as pessoas obrigam os cantos da boca a se levantarem, mas não sorriem com os olhos.

- Como se sente?

- Atordoada – jogou a cabeça para trás e suspirou. – E dolorida... Quantas horas?

- Quase quatro da tarde... – ela arregalhou os olhos – Deve estar com fome né?

- Um pouco.

- Ótimo, venha... – nos levantamos da cama. – Ah! E vou aproveitar para te apresentar uns amigos ok?

- Os outros integrantes né? – ela abaixou a cabeça.

Pus minha mão em seu queixo, a obrigando a olhar em meus olhos.

- Hey, não fique triste, há sempre um outro dia. Pense que agora a Emily está num lugar melhor. Posso apostar que ela não te quer sofrendo. Eu também não quero. 

- Você está certo – ela sorriu um pouco menos triste – Pedir um abraço é abusar da sua hospitalidade?

Também sorri.

- Nem precisava pedir, vem cá – a acolhi em meus braços.

“And it's okay, there's always another day”