Ele foi pra casa e eu fiquei lá, bebendo e ouvindo musica. Tudo aqui é tão diferente, as pessoas, os modos, a cidade em si, não sinto o cheiro de fumaça de carros nem barulhos de buzinas e sirenes. Na verdade, acho que nem sinto falta disso tudo. Lá, precisava usar um RG falso pra sair, aqui eles não pedem nada, isso é muito bom. Tenho que ver meus e-mails, nem dei noticias ao século XXI ainda.
“Oi Anne,Como anda as coisas na Era Jurássica? Já conheceu a escola nova? Alguma coisa boa por ai, ou é tão ruim quanto o sítio do seu padrasto?De noticias assim que possível, estamos todos com saudades.Beijos, Tommy e Ammy.Ps.: Sábado tem show de um cover americano de Ramones aqui, você não perderia por nada, não é?”.
Não acredito que estava me conformando com a mudança, vou perder um show muito foda por causa dessa cidade e mudança de merda...
“Oi pessoal,Aqui está tudo uma merda, e por ai? Não tem nada nessa cidade, e a escola não tem nada de bom, só pessoas chatas que parecem se animar por mim ser nova na cidade.A única coisa boa é que não me pedem mais identidade e ninguém pega mais no meu pé. Agora tenho um quarto só meu, fora da casa.Beijos.
Ps.: Vão nesse show e me mandem fotos, queria muito ir também. Agora vou dormir”.
Na manhã seguinte, acordei atrasada para a aula, mas nem me importei, queria muito ficar em casa e evitar mais contato com as pessoas.Chegando na escola, ninguém ficou mais me olhando como no dia anterior, só aquele menino bobinho de ontem, que nem sabia quem foi o Sid Vicious. Acho que estou fazendo um amigo.-Oi Anne! Como foi o resto da noite? –Será que ele não sabe fechar o bico? Tem que falar todo tempo. Sorria e acene, Anne...-Oi Tama! Foi na mesma, como disse ontem, estava indo embora já...-E como comprou uma bebida? Já é maior de idade? –Fui obrigada a rir com essa, e me olhei de cima à baixo.-Você acha mesmo que aparento ter sua idade? Olha bem pra mim, e responde...-É... Não sei nem como te deixam entrar com essas roupas na escola...Fiquei de cara com isso, desde quando dei tanta intimidade pra ele falar do meu modo de vestir? Não acho que calça rasgada e blusas de banda sejam proibidas na escola, mas não ia discutir com ele, só me limitei a sair e ir pra sala.A aula passou rapidamente, nem sei sobre o que era e nem mesmo a matéria. Ele ficava me olhando o tempo todo e, realmente, não sei se isso me incomodou de verdade, mas o que ele falou, ficou na minha cabeça. Ainda não entendo o que há de errado nas minhas roupas e nem quem ele pensa que é pra meter os dedos nisso.-Bateu o sinal, garota. –Dessa vez foi Mike que me tirou dos pensamentos com uma recepção calorosa. –O que você pretende fazer agora?-Vou passar no mercado, comprar um whisky e ir pra casa afogar as magoas, por que? –Olhei e vi Tama cutucando o amigo.-Estávamos pensando se você não queria ir jogar video game comigo e com o Tama, vai mais um pessoal que não é da escola. Topa?-E são de onde? Do seminário do Tama? –Fui obrigada a falar isso, ele falou de mim. –Nem sabia que aqui existia video game. –Completei.-São amigos de fora da cidade. –Disse Tama.- Estão a passeio aqui e vão lá pra casa.-E não tem problema de entrar lá com “essas roupas”? –Disse irônica.-Tama, o que você falou para ela? –Perguntou Mike, perdido depois de tantas alfinetadas e ironias.-Não disse nada. Você vai Anne? Não ligo de ser com essas roupas, meu quarto não fica na casa.Acabei indo, mas antes passamos no mercado e compramos umas cervejas e outras coisas para comer. Não estava trabalhando, mas meu pai ainda me mandava dinheiro para poder comprar minhas coisas. A prioridade da minha mãe era sua bebê nova, então meu pai me ajudava no que precisava que não fosse comida.Nunca imaginei o tipo de amigos que ele poderia ter, éramos quase iguais, viviam na cidade como eu, levaram bebidas também, e sabiam quem era o Sid Vicious. Tama, ficou olhando a noite toda, parecia uma coruja de vigia no ninho. Agora está aqui na frente de casa, veio me deixar, disse que nem iria achar o caminho de casa sozinha...-Como você conversava com eles como se os conhecesse a tanto tempo? –Perguntou ele sobre os amigos.-Temos os mesmos gostos, só isso. É estranho que você fale de mim e tenha amigos que gostam da mesma coisa que eu e se vistam da mesma forma.-Não estava criticando, era um elogio, queria ser como você. Mas minha família é extremamente “politica da boa vizinhança”, por isso eles foram lá em casa hoje, porque não tinha ninguém.Continuamos a conversar, sobre tudo, aqui mesmo na frente de casa. Agora estou aqui parada, sem reação, antes de sair, ele me deu um beijo, não na boca, mas no cantinho dela, o coração sai pela boca nessas horas né?! Nunca me senti assim antes. Ele é tão diferente de mim, acho que opostos se atraem, vai saber. Pode ser uma experiencia pra ele também.
Acho que vou tentar entrar agora...