The Ruler And The Killer escrita por Marbells


Capítulo 8
Allies and targets




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/242221/chapter/8

De manhã eu quase não consegui levantar-me, estava exausta pela noite mal dormida e doíam-me algumas partes do corpo, onde Cato apertara no dia anterior, mas isso era o menos. Levantei-me, como sempre, mais cedo e fui para o meu quarto, que continuava uma desgraça, e vesti-me rapidamente. Mais uma vez, prendi o cabelo num coque bem alto mas frouxo e não coloquei maquiagem. Vesti-me logo para o treino que ia ter depois do pequeno-almoço e fiz logo o meu aquecimento. Nem me preocupei em arrumar o quarto, pois já que estava ali para morrer ao menos podiam arrumar o meu quarto, certo?

Saí do quarto e fui comer. Ainda era bem cedo e só estavam duas avox de pé, pelo que comi sozinha e ainda tive alguns momentos de “paz” até que Niah e Brutus aparecessem para comerem também.

-Madrugou hoje, querida?

-Eu sempre madrugo. – respondi com a boca cheia - Mas hoje acordei mais cedo. – Brutos olhou para mim com um ar desconfiado.

-Não dormiu bem? – encolhi os ombros e, com uma indeferença que me pareceu surpreende-lo, respondi:

-Não.

-O que aconteceu com o seu quarto, querida? Passei por lá antes de vir para aqui e estava um caos! – Niah fez uma expressão chocada e levou a mão ao peito.

-Eu tive um pequeno… momento de descontrolo. – Brutus franziu o nariz.

-Pequeno?

-Oh, sim! Bem pequeno na verdade, - disse uma voz conhecida atrás de mim – pois os estragos podiam ter sido bem maiores se a Clove estivesse de mau-humor. – Brutus riu e Niah olhou para mim em choque.

-Esteja calado, Cato. O seu humor pode ser melhor que o meu, mas o auto-controle é dez vezes pior. – restroqui, mas isso não apreceu afetar Cato.

-Como eu disse, podia ser pior! – Cato gargalhou e eu, num impulso, peguei a faca que estava ao lado do meu prato e atirei no ar, pelo que ela se cravou na parede, a poucos mílimetros da cabeça de Cato – Porra! Ficou louca de vez, Clove? – gritou ele ainda em choque (já fazia alguns dias que eu não jogava nenhuma faca tão perto dele)  e eu apenas ri maldosamente.

-Podia ser pior! – zombei repetindo o que ele tinha dito momentos antes e saí dali indo para o quarto dele, já que o meu estava arruinado.

O quarto de Cato era típico de qualquer garoto no fim da adolescência, com as hormonas aos pulos e mais um “cérebro” que, juntando ao outro (que é real no sentido lietral), era o mesmo que se eles não tivessem nenhum. As paredes do quarto eram pintadas de vermelho e azul escuro, os móveis eram modernos e havia livros espalhados no chão.

 Deitei-me na cama de Cato e olhei para uma faca reluzente em cima de uma cadeira encostada á parede do quarto. Quase ri ao pansar que, aquela mesma faca que eu tinha oferecido a Cato há apenas alguns dias, já tinha causado problelmas.

No dia anterior, durante uma sessão de treino com os outros tributos, Cato discutiu com um garoto que, como estava de costas, não me foi possível ver-lhe o rosto. Cato berrava agressivamente “Você, você roubou a minha faca!”, enquanto o garoto tentava defender-se a todo o custo, o que, contra Cato, era praticamente em vão. Depois do dois serem separados por alguns Peacekeepers, eu vi a garoto do Distrito 11, Rue, com a faca de Cato nas mãos. Ela tinha-se escondido durante a discussão e humilhara Cato, mas eu não ia esquecer isso.

Tal como todas as crianças, a garota se distraiu facilmente e eu roubei a faca, guardando a minha vingança para quando estivessemos na arena. Eu nem tinha interesse em matar a garota, seria uma luta demasiado fácil. Eu apenas desejava ter a oportunidade de a ver morrer e, se não tivesse, não teria importância, a garota nem deveria sobreviver ao primeiro dia na arena.

Lembrei-me também de Glimmer. Argh! Aquela garota era tão convencida e inúltil que a minha vontade era de degola-la naquele momento, mas não… as malditas regras não nos deixam matar ninguém antes de entrarmos na arena. Talvez isso até seja bom, assim tenho mais tempo para pensar em como matar a garota “mais bonita do Distrito 1” como Marvel lhe chamou quando ela não estava por perto. Isso me irritava ainda mais. Quero dizer, já não bastava ter uma incopetente na minha aliança também teria de ter um tapado apaixonado? Gemi de frustração, mas Marvel até era suportável, ao menos ele sabia manejar uma arma. O garoto era realmente bom com as lanças e com armas mais pesadas, só é pena que ele se limitasse a apenas isso, pois a cabeça devia ser quase tão oca quanto a de Glimmer. E o pior não era isso, é que, além das suas investidas em Cato, o idiota do meu amigo não punha fim ao ataque! Houve uma hora em que eu quase vomitei de tão enjoativas que aquelas cenas eram. Sempre Glimmer com as mãos no peito ou nos barços de Cato, dando sorrisinhos ridiculos e desprezíveis, além de que não a vi nem uma vez a usar uma arma. Nem para a camuflagem para a burra foi! Sei que Cato também deve ter desconfiado da utilidade de Glimmer, mas deve ter decidido “desculpar” isso porque a garota não o larga e ele adora isso.

Estava tão distraída que nem reparei quando Cato entrou no quarto. Apenas notei a sua presença quando, já deitado a meu lado, Cato me puxou para si.

-E aí, dormindo acordada? – perguntou com o sorriso, o episódio de há momentos atrás já esquecido.

-Não, mas bem que podia fazer isso, estou com sono. – respondi bocejando alto.

-Você está melhor? – havia um rasto de preocupação na sua voz e eu sabia aquilo a que Cato se referia.

-Sim, eu estou melhor. – fechei os olhos e franzi o nariz – Acho que foi pior porque não tinha pesadelos á tanto tempo.

-Acho que estou a perder a qualidade. – ele resmungou com um misto de sarcasmo e frustração – Dormir comigo smepre funcionava para você não ter pesadelos.

-É, eu sei. – bufei – Mas, veja o lado positivo, ao menos assim já pode ter a cama inteira para você! – exclamei com sarcasmo mas, ao contrário de mim, Cato pareceu levar isso bem a sério.

-O quê? Você vai deixar de dormir no meu quarto por causa disso? – gargalhei e abri os olhos, para ver a sua expressão que estava entre o assustada (que raramente era vista no rosto de Cato) e ultrajada – Nem pensar! Eu não deixo! – deixei de gargalhar e fechei o meu sorriso.

-Você não manda em mim, gigante!

-Eu não sou gigante, anã!

-Ao menos eu tenho cérebro! – retruqui. Ficámos a olhar um para o outro durante alguns minutos, as expressôes indecifráveis e os sobrolhos franzidos. De repente, Cato solta uma das suas típicas gargalhadas arrebatadoras e, contagiada com a loucura dele, faço o mesmo.

*

Depois de termos treino individual, Cato e eu fomos falar com Glimmer e Marvel, durante o treino com os outros tributos. Já tinhamos falado com a garota do Distrito 4 e a aliança estava confirmada, mas não tinhamos concordado nada ainda com o garoto do 4, pois ele era muito novo e em principio não ia valer a pena fazer aliança com ele.

-A Niah foi falar com o nosso mentor hoje de manhã, - disse Marvel – a aliança está confirmada, então?

-Parece que sim. – Cato respondeu, de uma forma tão rude que me surpreendeu. Pelos vistos Marvel teria de ter cuidado com Cato, pois o meu parceiro de Distrito não parecia muito contente com ele.

-Você já têm alguma ideia do que vão fazer quando nos “soltarem” na arena? – perguntei aos dois, mas apenas Marvel respondeu, Glimmer já estava ao lado de Cato a fazer as mesmas figuras ridiculas que me davam vontade de a esmorrar.

-Mais ou menos. – Marvel parecia um pouco confuso quando respondeu – Quero dizer, não é só correr até á cornucópia, matar quantos podermos e pegar no que precisamos?

-Claro que sim, idiota, mas você tem de ter um plano, ou então acaba morto antes mesmo de chegar á cornucópia! – resmunguei entediada e fui para a estação das armadilhas treinar, mas ainda tive tempo de ouvir Marvel perguntar “O que foi que eu disse?” e Cato responder num tom de diversão “Ela não parece gostar muito de você!”.

Passei todo o meu tempo entre as armadilhas, o arco e as facas. De vez em quando olhava á minha volta á procura de Cato e encontrava-o, como já era de esperar, com Glimmer. “Maldita oferecida!” praguejei mentalmente, juntamente com outras coisas que não eram aconselháveis de dizer em voz alta.

Marvel veio para as mesmas secções que eu. O garoto insistia em ter uma conversa comigo e, apenas para não o mandar embora aos pontapés ou ser levada por Peacekeepers, eu concordava ou balançava a cabeça de vez em quando. E eu não lhe disse uma única palavra durante mais de duas horas, até que, incoscientemente, Marvel ganhou toda a minha atenção com aquela frase:

-Eu não sei o que ela vê nele. – lamentou-se e eu larguei o arco que estava usar á momentos.

-Nele quem? O Cato? – eu nem precisava de perguntar a quem ele se referia em relação a “ela”, era óbvia a resposta.

-Sim, o Cato. – Marvel disse o nome de Cato com nojo e eu tive de me controlar para não lhe bater – Cada vez que falo com a Glimmer ela só fala do Cato. “E o Cato fez isto, e o Cato fez aquilo!” – quase que me ri com a encenação de Marvel, que levantava as mãos no ar e batia os cílios tal como Glimmer, enquanto fazia uma voz fina e quase tão irritante como a dela – Já estou farto disso! O que será que ela vê nele? – neguei com a cabeça e disse com raiva:

-Não, não, a questão é que merda se passa com vocês! – apontei para Cato e para o peito de Marvel, que olhava para mim surpreendido. Eu não tinha ainda nem começado – Aquela garota não sabe usar nenhuma arma e você não se cala! Acha o quê? Eu não sou sua psicóloga! Se quer falar sobre as suas frustrações amorosas contrate alguém ou escreve a porcaria de um livro! Agora, me deixe em paz! – gritei a última frase e Marvel levou os braços ao ar, como um ladrão faz quando é apanhado por um polícia (mas apenas quando correr o mais depressa possível não funciona).

-Calma, garota, tenha calma! – suspirei pesadamente e saí dali, alguns tributos tinham ouvido a nossa “discussão” e estavam a olhar. Fui para um sítio onde não estava ninguém e Marvel veio atrás de mim.

-Há quanto tempo você gosta dela? – perguntei quando já estava mais calma, mas Marvel não respondeu, apenas fingiu estar confuso – Você é um péssimo ator, garoto, se a nossa sobrevivência na arena se basea-se na capacidade de atuar você tinha sido o primeiro a morrer! – Marvel suspirou e olhou á volta.

-Há dois anos. – respondeu e eu gargalhei, mas isso pareceu irritá-lo – O que foi?

-Gosta dela há dois anos? E é um carreirista? – dei uma gargalhada – Se eu tivesse pena de você até podia achar isso dramático! – isso pareceu ser a gota de água. A expressão de Marvel mudou totalmente, ele parecia estar bem irritado. Se eu foss eoutra pessoa até o teria achado assustador, muito assustador. Marvel aproximou-se de mim e rosnou:

-E você? Acha que ainda ninguém reparou na forma como olha para o seu amiguinho de Distrito? – uou, do que ele estava falando?

-Do que você está falando, idiota?

-Não sabe, é? – Marvel riu ironicamente e apertou o meu queixo, tentei afastar a mão dele mas ele segurou as minhas mãos com a que estava livre – Pois, eu sei e você é tão rídicula como eu!

-Largue-me! – ordenei mas pareceu não ter efeito, o aperto aumentava cada vez mais – Largue-me, seu miserável!

-E quem me vai obrigar, hein? – Marvel tinha um olhar quase doentio e gargalhou novamente – Diga-me, Clove, quem me vai obrigar a largá-la?

-Eu vou! – uma voz familiar disse atrás de Marvel. Eu sabia de quem era, mas não o podia ver, pois o seu corpo estava tapado pelo de Marvel. Marvel largou-me nesse momento e foi puxado para trás por Cato, que, de um forma totalmente raivosa e descontrolada, gritou:

-O que você estava fazendo, seu filho da puta?

-Na… Nada, eu não estava fazendo nada! – Marvel gritava, enquanto Cato o jogou contra a parede e o prendeu contra ele, dando-lhe pontapés nas pernas e murros na barriga – Eu não fiz nada, nós estávamos só falando!

-Seu mentiroso! – Cato deu-lhe um soco mesmo em cheio na cara e eu ri baixinho, era bom ver a situação invertida, embora Marvel nunca conseguisse magoar-me como Cato poderia fazer com ele – Nunca mais toque nela, entendeu, seu idiota miserável? – Marvel apenas gemeu de dor – ENTENDEU? – o berro de Cato alertou-me, ele estava mesmo descontrolado e Marvel nunca podeia ser um perigo para mim, eu conseguiria ter-me soltado dele se Cato não tivesse aparecido. E agora Cato estava ali, sem controlo e estava bem capaz de matar o desgraçado do Marvel.

-Cato, pare! – aproximei-me dele e o toquei no ombro, mas Cato ignorou-me – Cato, olhe para mim! – gritei e ele pareceu ouvir-me. Os seus olhos mostravam o quanto ele estava descontrolado, o modo-arena estava ligado e os seus olhos estavam frios e distantes como sempre ficavam quando isso acontecia. Era algo que o antigo treinador de Cato lhe tinha ensinado, uma forma de ser totalmente fatal e cruel durante os Jogos. Isso era psicológico e dificil de controlar, mas eu sempre conseguia fazer Cato voltar ao normal – Está tudo bem, Cato. Solte-o, - olhei para Marvel, que estava encolhido no chão e choramingava – Não vale a pena.

-Mas ele magou você! – Cato exclamou, afastando-se de Marvel e analisando-me de cima a baixo, á procura de alguma ferida – Você está bem? – a sua mão foi para o meu rosto, acariciando-o e eu sorri para ele que me olhava com preocupação evidente.

-Estou ótima. – Cato sorriu torto e abraçou-me, apenas Marvel estava ali e eu dúvido que naquela hora ele ainda estivesse cosnciente, Cato com raiva era muito perigoso.

Continuámos abraçados até que Cato estivesse totalmente controlado e depois fomos embora, Marvel que se aguentasse e eu também duvidava muito que Cato fosse capaz de olhar novamente para ele e não o matasse de vez. Os peacekeepers não deviam demorar muito para encontrar Marvel e perguntar-lhe quem o tinha agredido, mas tenho a certeza que ele falaria tanto como uma porta. Ou seja, nada.

Cato era muito protetor e possessivo em relação a mim e eu gostava disso. Porque eu sentia-me segura perto de Cato, onde tudo o resto ficava longe. Naquela tarde não voltámos a treinar, fomos para o apartamento e ficámos lá os dois, juntos e a apreciar um dos últimos momentos que teríamos assim, longe de câmeras, de mentores e de tributos e, sobretudo, um dos últimos momentos juntos antes de sermos enviados para a arena com a missão de matar para sobreviver.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentem, gente!