The Ruler And The Killer escrita por Marbells


Capítulo 7
Promises and Nightmares


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo e obrigada ás pessoas que comentaram!



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Comi como nunca antes. O treino tinha-me deixado esfomeada e por mais que eu comesse queria sempre mais.

–Você vai ficar mal se continuar a comer assim, Clove. – avisou Niah, petiscando a sua comida. Encolhi os ombros e coloquei outra garfada na boca.

–Você não esteve treinando durante horas, eu estive. Então pode aproveitar a sua comida de coelho que eu aproveitarei muito bem a minha. – Cato gargalhou, mas ele comia ainda mais que eu. Brutus apenas fez uma careta de reprovação.

–Ela sempre come assim, Cato?

–Oh, sim, - ele limpou a boca com um guardanapo – mas antes era pior!

–Pior? – agora Niah estava chocada, com os talheres caidos ao lado do prato e os olhos quase a saltarem das órbitas – Mas isso é ultrajante!

–Você ao menos sabe o que isso significa? – perguntei sarcasticamente, o meu humor apenas tendia a piorar quando eu vinha dos treinos.

–Tenha maneiras, Clove! – repreendeu ela – Uma garota da sua idade, ainda por cima vinda do Distrito 2, devia ser bem mais educada.

–E eu sou bem educada, - retroqui e ela rolou os olhos – mas fui educada para matar, não para me comportar como uma princesa.

–Então guarde essa educação para quando estiver na arena, porque, agora, será o comportamento de “princesa” que lhe trará patrocionadores.

–Está bem. – resmunguei e, depois de encolher os ombros, voltei a comer no mesmo ritmo acelarado de antes.

Depois de jantarmos fomos todos para a sala. Eu e Cato ficámos no sofá maior, enquanto Brutus e Niah estavam sentados cada um na sua poltrona. A televisão estava ligada e estava a dar um programa que reconheci como sendo o de Caesar Flickerman. Ele tinha como convidados dois vencedores de edições anteriores dos Jogos Vorazes. Eles estavam a falar sobre os tributos deste ano.

–Então, qual é a estratégia?

–Oh, a estratégia! – Niah bateu palmas entusiásticamente e eu não pude evitar rolar os olhos – Explique você, Brutos, cada vez que eu falo essa garota rola os olhos!

–Apenas rolo os olhos para não fazer algo pior. – murmurei e Cato, que estava sentado ao meu lado, sussurrou:

–Controle-se, Clove. O que eles têm para nos ensinar é importante e vamos precisar disso para sobreviver na arena.

–Para sobreviver eu só preciso de um pack de facas. – retroqui no mesmo tom.

–Não, pequena, você precisa também de comida, água e remédios e só eles podem nos ajudar a saber como conseguir isso. – Cato tinha razão, eu tinha de fazer um esforço para aguentar os discursos de Niah e Brutos – Esforce-se só um pouco, pode ser?

–Sim, mas não vai valer a pena pedir-me isso quando estivermos na arena. – resmunguei em aviso.

–Eu sei disso, pequena. – um pequeno sorriso formou-se no meu rosto como sempre acontecia quando Cato me chamava assim, porém este sorriso não era tédio ou aborrecimento, era de satisfação.

–Então, agora que já acabaram de segredar coisas um ao outro, vamos falar do que realmente interessa. – disse Brutos seriamente – A estratégia.

A tão importante estratégia era muito mais simples do que imaginara. O plano era fazer uma aliança com Marvel, Glimmer e os garotos do 4, mas isso eu e Cato já tinhamos em mente antes de chegarmos á Capital. Além disso, Niah preparou-nos para a entrevista com Caesar Flickerman, que seria dali a dois dias. Pelo que Niah nos contou, as nossas roupas para esse momento já estavam a ser decididas pelos nossos respetivos estilistas e os penteados e a maquiagem já tinha sido selecionados. Niah preparou-nos para todo o tipo de perguntas que Caesar nos poderia fazer. Como Brutus sugeriu (e todos nós concordámos com ele) Cato passaria por verdadeira máquina de matar, sem remorsos ou dúvidas. Eu, por minha vez, seria sarcástica e falsamente dócil. Era suposto que eu aparentasse ser inocente e feminina e, mas apenas um pouquinho, aparentemente frágil. Cato riu imenso quando Niah disse que eu já parecia frágil, mas que nunca conseguiria parecer tão feminina quanto Glimmer. Não liguei ao que a mulher da Capital disse, e, por acaso, até fiquei satisfeita com o último comentário de Niah. Eu não gostava de Glimmer e agradava-me imenso o facto de sermos tão diferentes uma da outra. Nem morta eu seria feminina e “cor de rosa” como aquela garota. As minhas facas eram bem melhores do que aquela cor berrante e infantil que ela insistia em usar sempre, mesmo que só em uma peça de roupa ou em um acessório.

Depois do comentário de Niah, pensei em como seria fácil fazer o que ela nos “pediu”. Nós já eramos daquele jeito mesmo, tirando a palavra “frágil” e “dócil” que se podiam aplicar tanto a mim como a Cato. Nós eramos tudo menos isso. Eramos invencíveis quando juntos.

Por sua vez, Brutos informou-nos sobre as armadilhas na arena e sobre o cuidado que ia ser necessário para sequer dar um passo. Um passo em falso e estaríamos presos em uma rede ou seríamos perseguidos por algum animal genéticamente modificado que nos mataria da forma mais terrível e lenta possível. Eu teria cuidado mesmo, pois embora tivesse em mente que provavelmente teria de facilitar a minha morte a alguém, não morreria nas garras de um animal. Eu sempre sonhei que a minha morte seria em batalha épica e memorável, então, se não podia ter isso, ao menos teria algo que não me humilhasse antes de morrer.

Fomos alertados sobre os muitos perigos da arena, além dos mutantes também era muito provavel que estivessem espalhadas pela mesma fruta ou animais envenenados. Brutos ensinou-nos a distinguir o que era e não era venenoso, embora já tivessemos ouvido algo muito semelhante na sessão de treino naquele mesmo dia. Todos os animais que aparecessem no nosso campo de visão em momentos demasiado previsíveis ou não fugissem quando os tentávamos caçar e fossem demasiado grandes ou estranhos estariam, muito provavelmente, envenenados geneticamente. “Mas isso será fácil de perceber” disse Brutos “o difícl mesmo será conseguirem controlar-se e não cairem na tentação. Lembrem-se que, naquela arena, qualquer coisa pode ser o vosso pior enimigo, principalmente um estômago vazio”. Brutus tinha razão, a fome podia bloquear-nos a mente e enfraquecer-nos, mas era por essa mesma razão que os carreiristas aprendiam desde pequenos a lidar com a fome. Apenas duas refeições por dia durante uma semana por cada mês era o suficiente para nos dar uma ideia de como seria na arena e também para nos prepararmos psicológica e físicamente para a fome que poderíamos passar durante os Jogos. Mas ali na Capital era diferente. Eu apenas comera tão abundantemente ao ponto de quase explodir porque sabia que aquela seria uma das últimas oportunidades de ter uma farta refeição.

–Já é tarde, vocês deviam ir dormir. – Brutus levantou-se e saiu da sala.

–Ele tem razão, amanhã vocês vão ter um dia preenchido. – Niah levantou-se também – Amanhã de manhã eu vou falar com o mentor dos garotos do Distrito 1 e 4, apenas para tornar as alianças oficiais.

–Não é isso que me impedirá de matar a garota do 1 enquanto ela estiver a dormir. – murmurei e Niah sorriu de um jeito estranho que não era falso nem doce como costumava ser.

–Desde que faça isso na arena, terá uma plateia a aplaudi-la, querida. Mas apenas na arena. – Niah dirigiu-se á porta da sala e fitou-nos aos dois – O tempo de treino está a acabar, vão só não ter mais dois dias para se prepararem e eu aconselho-vos que o façam também psicológicamente.

–Nós já estamos preparados psicológicamente, Niah, - Cato afirmou – fomos treinados para isto quase toda a nossa vida.

–Eu sei que sim, querido. Toda a população de Panem sabe que vocês e todos os outros carreiristas foram treinados para serem mais fortes, resistentes e estratégicamente inteligentes. Mas há algo que ninguém está preparado para fazer e eu só vos peço que pensem nisso. – um sorriso triste formou-se nos lábios pintados cor de rosa florescente e Niah deu-nos um olhar que me pareceu cheio de compaixão e até pena – Eu sempre apostei nos Distritos 1, 2 e 4 para ganharem os Jogos Vorazes e este ano eu aposto no vosso Distrito, em vocês.

–Nós vamos ganhar este Jogos, Niah.

–Não, Cato, vocês não vão. Um de vocês pode ganhar esta edição dos Jogos Vorazes, mas apenas um de vocês, querido. Apenas um.


*

“Apenas um de vocês” essa maldita frase acompanhou-me durante toda a noite. Depois de Niah terminar o seu “discurdo-preparação-bláblá” eu levantei-me, sem olhar para Cato, fui para o meu quarto.

Admito que tenho pena da pobre pessoa que tiver de arrumar aquele quarto, porque o lugar estava caótico. Num surto de raiva, nervos e aflição eu acabei por derrubar tudo o que estava de pé. Livros, roupa e tudo o mais estava jogado no chão. Mas o meu verdadeiro alvo foi a cama. Estava tudo rasgado, eu tinha literalmente esventrado a cama com as duas minhas facas e isso foi muito prazerozo, mas não o suficiente para me acalmar.

–Clove, abra a porta! – Cato repetiu pela centésima vez. Ele estava do outro lado da porta, que eu tinha trancado, e não parava de lhe dar socos e pontapés há quase dez minutos – Abra a porta ou eu mesmo a arrombo! – e eu não tinha dúvidas de que Cato o poderia mesmo fazer mas eu não estava capaz de ver ninguém, embora apostasse que ele se sentia ainda pior que eu.

Não digo que Cato fosse mais sensível que eu, mas sim que ele era mais irritadiço e não conseguia controlar as suas emoções tão facilmente e isso fazia dele uma bomba-relógio. E eu podia apostar todas as minhas facas em como pouco faltava para a bomba explodir.

–Clove Breil! – ouvi o rosnado de Cato e, se aquele fosse um momento “normal”, eu estaria a fazer troça da figura que ele estava a fazer e da sua falta de auto-controlo – Abra.essa.maldita.porta! AGORA!

Dei as costas e fui para o banheiro. Molhei o rosto e fiquei alguns minutos a encarar o espelho. A imagem que nele era refletida era muito semelhante áquele que eu tinha em mente. O meu rosto, mesmo depois de lavado, estava vermelho e havia um brilho de loucura nos meus olhos, mas isso já não era novidade. O meu cabelo, que eu sempre prendia num rabo de cavalo ou em um coque, estava solto e só aí eu percebi o quanto comprido ele estava. Talvez ainda tivesse tempo de o cortar um pouco antes de entrar na arena. Mas aí lembrei-me o quanto Cato o elogiava, ele dizia que todas as garotas do nosso Distrito tinham inveja de mim por causa do meu cabelo.

Continuei a analisar a minha imagem refletida no espelho quando um estrondo chamou a minha atenção. “Aquele idiota vai acabar morrendo na arena por não se controlar” pensei enquanto prendia o cabelo e saía do banheiro. Estava na hora de lidar com os estragos da explosão.

–Cato, o que… - não pude acabar a minha frase, pois Cato já esatva dentro do meu quarto, a andar furtivamente na minha direção, com os punhos fechados e o maxilar cerrado. Atrás dele, tal como eu previra momentos antes, a porta branca, onde estava uma placa de plástico com o meu nome, estava caída no chão, totalmente fora de lugar e maltratada com pontapés e socos de Cato.

No segundo seguinte eu estava de costas contra a parede do quarto, as mãos de Cato apertavam os meus ombros e impediam-me de sair dali. Os seus olhos azuis pareciam fulminar-me de tanto ódio mas, ao mesmo tempo, estavam tristes e desolados.

–Cato… - foi a única coisa que eu disse, não valia mesmo a pena dizer algo mais, no estado em que estava Cato não ouviria nada nem que eu gritasse. Ele estava cego e surdo pelas emoções.

–Não ouviu eu chamá-la? – perguntou alguns minutos depois, a sua voz já um pouco mais calma.

–Sim, mas eu não queria falar com ninguém.

–Eu não sou ninguém, porra! – as suas mãos foram para o meu rosto, apertando-o e fazendo-me olhar para ele – Você pode falar sobre tudo comigo, Clove! Eles vão enviar-nos para aquela merda de arena para nos matarmos uns aos outros e você não quer falar comigo? – Cato gritava naquele momento e eu já estava a ficar desconfortável devido ao aperto das suas mãos no meu rosto. Cato estava completamente descontrolado.

–Eu não pedi para você vir comigo! – sussurrei e posso jurar que vi um lampejo de dor nos olhos de Cato. Dor, não arrependimento – Estamos nesta porcaria de situação porque você se voluntariou!

–Eu tinha de o fazer. – Cato pegou numa madeixa do meu cabelo e enrolou-a no dedo, mas a outra mão continuava firme no meu rosto – Não podia deixar você vir sozinha, ninguém pode machucar você!

–Já machucaram, Cato. – ele franziu as sobrançelhas – Você me machuca todos os dias desde se voluntariou. Eu não quero lutar contra você!

–Não precisa, pequena. – ele disse um tom suave, apenas comigo Cato falava assim e isso fazio o meu ego inchar – Não vou deixar ninguém machucar você e eu lamento muito se estou a fazer isso neste momento, mas eu não… - as suas mãos largaram-me e foram diretas para o seu cabelo, prendendo-o e esticando-o. Eu quase caí quando ele me soltou – Merda! Eu odeio a Capital!

–Calma, Cato! Tenha calma! – tentei aproximar-me dele mas Cato afastou-se.

–Eu vou matá-los a todos, Clove, eu vou vingar-me por nos terem posto nesta situação. – prometeu com um olhar determinado – Quando formos para a arena com os outros tributos nós vamos esmagá-los e nada nos vai deter. Só nós os dois, pequena. – Cato aproximou-se novamente de mim e abraçou-me. Era sempre assim, mas eu tinha uma questão pertinente.

–E quando sobrarmos nós os dois? – sussurrei e senti o arrepio que percorreu o corpo de Cato, ao mesmo tempo em que o mesmo acontecia comigo – Eu não vou matar você, Cato. Não vou.

–Não pense nisso, pequena. - a sua voz estava tensa – Eu quero que você se concentre apenas nos tributos que vai matar, entendeu?

–Sim, mas e se…

–Não, Clove. – Cato segurou os meus ombros e fez-me olhar para ele – Não há “se” nem “mas”. Não vamos pensar nisso até chegar o momento, se chegar o momento. – balançei a cabeça em concordância.

–Está bem, não vamos pensar nisso. – afirmei e Cato deu um pequeno sorriso.

–É assim mesmo, pequena.

Como o meu quarto estava caótico, vesti logo o meu pijama e fui para o quarto de Cato. Mas nessa noite, mesmo estando ao lado de Cato, que dormia profundamente, a minha mente não parava nem um segundo. Nem mesmo quando eu estava a dormir.

*

Estava tudo escuro e não havia nenhum som naquele lugar. Sentia-me cega e surda naquele momento, mas continuei a andar a caminho do desconhecido. De repente, vi al longe uma luz, parecia fogo e deitava imenso fumo. Tudo á minha volta continuava pintado pela escuridão, mas, no horizonte, algumas chamas crepitavam e motivavam-me a continuar.

Não consegui reprimir um sorriso quando, já no lugar onde antes tinha avistado as chamas, encontrei Katniss e Peeta. Os dois estavam juntos, lado a lado e cada um deles com uma pedra bem grande na mão. Katniss estava séria e Peeta parecia assustado. “Idiotadisse ppara mim mesma, enquanto avançava na direção deles.

Não me lembro em que momento me dei conta que, na minha mão diireita, estava uma faca.

Longa e reluzente, a lâmina coberta de sangue parecia ter vida própria quando, com extrema rapidez, eu ataquei Peeta. Não faço ideia porque ataquei o garoto primeiro, mas talvez tenha isso por ele parecer tão frágil naquele momento. Um alvo fácil e idiota que permaneceu imóvel e não deu luta. Peeta caiu no chão, com a garganta degolada e vários cortes no rosto. Sorri sádicamente e virei-me na direção de Katniss. Pela a expressão no seu rosto a garota ia dar luta. Isto vai ser divertido.

–Assassina. – ela murmurou com ódio e eu apenas pude gargalhar.

–E com muito gosto. – limpei a faca nas minhas calças e ergui-a no ar – Já que está tão triste, talvez seja melhor ir fazer companhia ao seu amigo de Distrito. – zombei sarcásticamente, aquela garota me irritava quase tanto como Glimmer.

Katniss não me respondeu, apenas deu uma espécie d erosnado e veio a correr na minha direção. Além de ser estúpida também é suícidapensei enquanto avançava velozmente sobre ela. Katniss debatia-se sob mim e tentava sair do meu domínio mas, embora eu fosse mais baixa que ela, tinha mais força e sabia controlá-la melhor.

–Quer dizer as suas últimas palavras, Katniss? – disse o nome dela com nojo e curvei um pouco a cabeça, aquela imagem era bastante cómica, a garota ainda pensava que ia conseguir soltar-se! – Então, ficou sem língua?

–Largue-me! – gritou e continuou a debater-se.

–Só quando estiver morta. – sussurrei com ódio e levei a minha faca á sua garganta – Diga-me, Katniss, qual é a sensação de estar quase a morrer? – para aumentar a minha raiva, a garota não respondeu, mas continuou a gemer de dor á medida que eu movia a faca pela sua pele, pressionando-a e sorrindo ao ver o sangue deslizar pelo seu pescoço.

–Clove… - ela murmurou e eu ignorei o fato de a voz dela estar um pouco mais grave – Clove, não! – ignorei mais uma vez e foquei-me no sangue que escorria com rapidez – Clove, por favor! – os meu olhos abriram-se por completo quando reconheçi aquela voz, a faca caiu das mãos e o meu corpo tombou para o lado devido ao choque.

–Não.

Já não era o corpo de Katniss que estava prostrado no chão, com uma poça de sangue, que apenas tendia a aumentar, na zona do pescoço e da cabeça. Era a Cato quem pertencia o corpo mutilado e quase sem vida estendido no chão.

–Cato! – aproximei-me devagarinho, quase a rastejar, até onde ele estava, de olhos semicerrados e os maxilares cerrados devido á dor – Cato! Cato! – eu não sabia o que podeia dizer, as palavras nãos abiam e a minha mente stava confusa. Aquilo não era possível.

–Clove, - funguei e coloquei a minha mão sobre a sua, enquanto olhava á nossa volta, procurando freneticamente por Katniss ou outra pessoa qualquer – você fez isto. – acusou e eu esbugalhei os olhos.

–Não, não era para ser você. Eu não sei porque…

–Você me matou. – ele sussurrou com uma expressão que nunca antes vi nele. Era totalmente louca e macabra. Afastei-me dele como se tivesse levado um choque e Cato começou a tossir. Ele tossia sangue e o mesmo líquiso vermelho escorria do seu nariz – Você…fez…isto.

–Não! – gritei – Não, não é verdade! Isto não é verdade! – eu continuava a gritar, enquanto Cato sangrava cada vez mais e o desespero tomava a minha mente – Cato! Não, não!

–Você…me…matou… - ele disse pela última vez e fechou os olhos. Uma lágrima escorreu pelo meu rosto e ao longe eu ouvi o som de um canhão.

Acordei aos gritos, o suor cobria a minha pele e a minha respiração estava ofegante. Eu tinha tido um pesadelo. O primeiro desde que passara a dormir acompanhada de Cato.

Assustada com a intensidade do sonho, apenas me lembrei da presença de Cato quando o ouvi chamar-me:

–Clove, você está bem? – tentei falar mas não consegui, era como se não tivesse voz.

Senti o corpo de Cato junto ao meu, ele estava em cima de mim, as minhas pernas estavam presas entre os seus joelhos e as suas mãos limpavam as lágrimas que, ridiculamente, eu não conseguira conter.

–Hey, o que aconteceu, pequena? – continuei de olhos fechados, enquanto fungava e ofegava ao mesmo tempo. Aquilo tinha sido demasiado real, demasiado doloroso e em todos os meus anos de treino eu nunca fora preparada para esse tipo de dor – Clove, porque está a chorar? Clove! – agora Cato parecia quase tão desesperado quanto eu, mas eu não conseguia responder. Sem outra opção, os meus braços foram para o seu pescoço e trouxe o seu corpo para mais perto do meu, num abraço intenso e desajeitado.

Durante vários minutos nada foi dito, Cato estava á espera que eu me acalmasse e, enquanto isso, não me largou nem um segundo. Sorri quando o senti cheirar o meu cabelo, aquele idiota tinha esse hábito estranho e sempre que podia cheirava o meu cabelo. “É o meu cheiro preferido” ele disse uma vez, pouco tempo depois começarmos a ser amigos, o que resultou em uma faca a poucos centímetros da sua cabeça, mas Cato não se deixou intimidar por isso.

–Já está mais calma?

–Sim. – limpei o rosto com a manga da blusa. Eu já tinha parado de fungar e chorar, mas, mesmo assim, Cato não quebrara o abraço.

–Porque estava a chorar, pequena? – perguntou.

–Tive um pesadelo. – murmurei, tenatndo a todo o custo não recordar aquele sonho detestável.

–Pesadelo? – Cato parecia ainda mais surpreendido que eu, se alguém deixasse (o que era algo que acontecia a todo o momento) ele tornava-se mesmo muito convencido e confiante.

–Sim, mas eu não quero falar sobre isso. – afastei-o e ele deitou-se ao meu lado, puxando-me para os seus braços. Obviamente, não recusei.

–Tudo bem, mas isso é estranho. Você não tem pesadelos há muito tempo.

–Eu sei e, se calhar, é por isso que ele foi tão mau. – murmurei em resposta.

–Talvez. – Cato fez uma breve pausa, ele estava curioso e preocupado e eu sabia perfeitamente o que ele queria.

–Vá, pergunta logo, Cato. – resmunguei.

–Sobre o que foi o sonho?

–Os Jogos Vorazes. – senti o corpo de Cato enrijecer e os seus punhos apertarem a minha cintura – Eu matei você, no pesadelo.

–Não se preocupe com isso, Clove. – ele murmurou suavemente contra o meu cabelo – Se tiver de me matar será apenas no final dos Jogos e eu não a culparei por isso.

–Mas eu me culparei! – exclamei com raiva, afastando-o de mim com força suficiente para fazer Cato quase cair da cama – Seu idiota! Como pode achar que eu concordo eu matar você? – naquele momento eu já estava de pé, em frente á cama de Cato.

–Clove, tenha calma! – Cato veio até mim e eu dei um passo para trás – Clove.

–Afaste-se, Cato. – rosnei.

–Não.

–Afaste-se!

–Não. – ele repetiu seriamente e continuou a andar na minha direção – Não me peça para me afastar de você, Clove.

–E porque não? – desafiei, erguendo a sobrançelha.

–Porque não importa quantas vezes o faça eu não vou obedecer. – a voz de Cato estava suave e bastante séria, ele não estava a brincar.

–Eu não vou matar você, nunca. – afirmei.

–Nós já falámos sobre isso, Clove.

–Eu sei, mas… - olhei nos seus olhos azuis e suspirei – Se sobrarmos só nós, eu não vou matar você. – disse num tom inquestionável – Você vai ter de matar-me. – o choque passou pelo rosto de Cato.

–Você está louca? – disse ele, quas gritando – Eu não vou matar você, Clove! Nunca!

–Então como pode esperar que eu o faça com você? – Cato agarrrou os meus braços com força e aproximou os nossos rostos. Eu podia até sentir o seu hálito e ver o brilho de perigo nos ollhos de Cato.

–Eu. Não. Vou. Matar. Você. E qualquer um que tentar isso vai acabar morto, eu não estou a brincar.

–Eu sei que não. – e não estava mentir.

–Eu nos meti nisto, Clove, - o meu nome saiu suavemente da sua boca e Cato já não segurava os meu braços com tanta força, mas, tal como acontecera nesse mesmo dia, a minha pele ficaria marcada – se um de nós merece morrer sou eu, não você.

–Eu sou a garota detestada pelo Distrito 2, - forçei um sorriso – se você não voltar irá partir o coração de toda a população feminina do nosso Distrito. – Cato rosnou.

–Que se foda o nosso Distrito, Clove! – o rosto de Cato estava vermelho e era possível sentir a tensão que, tal como acontecia comigo, parecia brotar dos seus poros – Se eu voltar para aquele Distrito será apenas se você ganhar os Jogos Vorazes! – não disse nada, não valia a pena discutir.

Afinal, eu já tinha o meu plano e, quer Cato concordando quer não, eu ia cumpri-lo.



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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Comentem!