The Ruler And The Killer escrita por Marbells


Capítulo 5
Like winners and hunters


Notas iniciais do capítulo

Está aqui mais um capítulo, espero que gostem - se é que alguém está lendo isto.



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O pequeno almoço foi lento e aborrecido. Eu continuava com sono e bocejava de 5 em 5 minutos, enquanto Cato conversava com Brutus sobre várias técnicas para usar a espada com eficácia. Eu não sabia nada sobre espadas e muito menos conseguia usar uma e antingir o alvo. A não ser que o alvo fossem os meus pés. Eu não conseguia usar armas de grande porte com a exceção de lanças.

-Não conseguiu dormir, Clove? – Niah perguntou preocupada.

-Consegui, mas podia ter dormido mais se você não tivesse ido acordar-me. – resmunguei e continuei a comer.

-Mau humor matinal. – ouvi-a dizer a Brutus, que riu baixinho. Olhei para o meu prato e concentrei-me na comida.

Realmente eu não tinha conseguido dormir lá muito bem. Algumas horas depois de ir para o quarto de Cato, acordei e não consegui voltar a dormir. Aquela foi a primeira vez em que tive pesadelos mesmo estando ao lado de Cato. E eu não tinha dúvidas que aquelas tinham sido os pesadelos mais confusos e assustadores que alguma vez tinha tido.

Voltei para o meu quarto quando faltava uma hora para que Niah viesse acordar-me. Não queria que me visse deitada na cama de Cato, com os seus braços á volta da minha cintura e o rosto no meu pescoço. Isso seria o mesmo que gritar aos quatro ventos: “Olhem, eu tenho um ponto fraco! Atingam-me onde dói mais”. Não, isso seria estúpido e irresponsável demais.

-Vou para o meu quarto, - disse levantando-me – não deve faltar muito para o trem parar.

Levantei-me e dirigi-me para o meu quarto, mas ainda tive tempo de ouvir Brutos perguntar a Cato:

-Ela sempre é assim mal-humorada? – Cato riu.

-Não, só quando não consegue matar ou lesionar alguém. – Brutus gargalhou e continuei o meu caminho.

Era verdade o que Cato tinha dito. Eu estava a sentir uma necessidade incrível de bater em alguém até não conseguir mais mexer as minhas mãos. Tudo por causa dos idiotas da Capital. Eu teria de estar numa arena durante quase duas semanas com Cato, com a possibilidade de ter de lutar com ele até um de nós morrer, e apenas porque o Presidente Snow achava que isso colocaria os Distritos na linha. Eu ainda esperava que houvesse uma revolução. Talvez Cato fizesse isso quando ganhasse os Jogos Vorazes, talvez se rebeliasse contra a Capital. Talvez…

Deitei-me na cama e fiquei a olhar para o teto. Fechei os olhos passados alguns minutos, a faca ainda estava na minha mão e eu passava os dedos pela lâmina, sentido o ferro sob os meus dedos.

Não sei quanto tempo passou desde que fechei os olhos mas voltei a abri-los quando ouvi alguém bater á porta. Levantei-me e fui abri-la. Niah esperava-me sorrindente como sempre e cantarolou com o sotaque típico da Capital:

-Estamos chegando! Vá cumprimentar a multidão que a espera, Clove!

Multidão. Essa palavra nem chegava perto da palavra necessária para descrever os milhares de pessoas que estavam lá fora. Eles gritavam e aplaudiam o nome do nosso Distrito. Os berros eram tão altos que dava para ouvi-los perfeitamente ainda dentro de trem.

-É tanta gente! – exclamei ainda a olhar para a janela, enquanto Cato fazia o mesmo e acenava para a “multidão”

-Eu sei, mas ainda há mais além deles.

-Mais?

-Muitos mais. – respondeu Brutus, com uma garrafa de wisky na mão – Esses são só os que conseguiram entrar.

-Eles são mais do que o triplo da populção do Distrito 2. – murmurei, acenando também, o que fez os gritos de euforia aumentarem.

-Muito, mas mesmo muito mais do que o triplo da população do Distrito 2, garota. – Brutos comentou rindo, já sobre o efeito do álcol.

-Não pare de acenar, Clove. Eles já nos adoram! – Cato sorria presunçosamente para a multidão e foi aí que a gritaria se tornou insuportável. Está bem que ele até era bonito, mas não era preciso exagerar!

-Se eles gritarem mais um pouco fico surda! – resmunguei, contendo-me para dizer que me apetcia cortar-lhes as gargantas para que se calassem de uma vez.

-Eles gostam de nós.

-Não, eles gostam da ideia de que verão 23 de nós morrer. – Cato suspirou e virou-se de costas para a janela, o sorriso tinha sumido do seu rosto e Brutus gargalhou:

-Acertou em cheio, hein, garota? – ignorei o nosso mentor e voltei-me também de cosas para a janela.

-Até percebo porque eles estão assim, mas queria ver se iam gritar de euforia se estivessem comigo na arena. – sorri maldosamente com a imagem na minha cabeça.

-Tenho a certeza que não, Clove, só de olhar para você dá arrepios.

-O que quer dizer com isso? – lançei-lhe um olhar ameaçador e Cato riu.

-Não faça perguntas cujas respostas não vai querer ouvir. – Brutus cantarolou.

-Sou eu que não quero ouvir a resposta ou é você que está com medo de mim? – ergui a sobrançelha e ele cruzou os braços sobre o peito, com um ar superior.

-Mas é claro que não, pequena.

-Ei, não me chame isso á frente de outras pessoas! – resmunguei e ele riu baixinho.

-E porque não? Você é pequena mesmo.

-Idiota. – Cato olhou nos meus olhos e se aproximou perigosamente de mim.

Brutus já havia saído daquela divisão, pois em minutos o trem ia parar. Cato levou sua mão ao meu rosto e tirou uma mecha de cabelo que me caia á frente dos olhos. Não conseguia desviar os olhos do rosto de Cato, que olhava para mim tão intensamente que até me dava arrepios. Os olhos de Cato sempre estiveram entre os mais bonitos que eu já tinha visto na Vida, porém, naquele momento, eles sobrepunham-se a todos os outros. O olhar de Cato sobre mim era de uma intensidade explosiva e eu me sentia com se estivesse prestes a entrar em combustão expontânia.

Cato, sem quebrar a troca de olhares, deu um sorriso torto e afagou a minha maçã do rosto. Agora a sua expressão era menos séria e eu já estava á espera que ele fosse dizer algum disparate.

-Posso ser idiota, mas você me… - antes que Cato pudesse terminar a frase Niah, felizmente, apareceu.

-Chegámos! – cantarolou novamente. Afastei-me de Cato e fui até Niah.

-Onde é a porta de saída? – perguntei.

-Está com pressa querida?

-Sim, quanto mais depressa sair daqui melhor. – bufei e ela gargalhou.

-Venham, queridos!

Niah disse a mim e a Cato que seria melhor se fossemos os primeiros a sair e que o fizessemos juntos. Quando a porta do trem se abriu eu quase que levei as mãos aos ouvidos, com a intenção de os proteger. Era nestas horas que eu tinha vontade de ser de um dos últimos Distritos, pois ao menos dessa forma a multidão já estaria mais cansada e com muito menos vontade de gritar do que naquele momento.

Brutus já me tinha dito, quando estava sóbrio, que eu tinha de conquistar os telespetadores, pois era a única forma de arranjar patricionadores para me ajudarem na arena. Eu ia fazer isso, mas, é claro, á minha maneira. Eu seria apenas eu e se eles não gostassem então azar, quem ia matar na arena era eu e não eles.

Pus um sorriso sarcástico e um olhar determinado. Levantei o braço e acenei á multidão. Eles adoraram. Cato fazia o mesmo que eu mas o seu sorriso era diferente e dirigido á população feminina. “Mulherengo convencido” pensei e continuei a andar a seu lado até que entrámos num prédio onde, penso eu, estaria o apartamento onde ficaríamos.

Mal entrámos no prédio, onde ficámos uns minutos á espera de Brutos e Niah, senti o braço forte de Cato sobre a minha cintura. Já estava acostumada a isso, por vezes Cato tinha alguns ataques de possessividade e me tratava como se fosse dele. E eu não me importava, mas ele me apertava tão forte que estava a começar a doer.

-Cato, importa-se de me largar?

-Desculpe, magoei você? – pergunta e olha para mim, como se procurasse algum machucado no meu corpo. Rio, mas reparo que, embora tenha afrouxado o aperto na minha cintura, ele não me largou.

-Você, magoar-me? – gargalhei – Nunca, Cato. Nós somos invencíveis, lembra? – ele sorri.

-Como podia esquecer-me disso? Afinal, é para provar o quanto somos invencíveis que estamos aqui, certo? – assenti e parei de rir quando Brutus veio ter connosco.

Brutus e Niah levaram-nos para o apartamento onde eu e Cato ficaríamos nos próximos dias. Antes de sermos levados para a arena ainda iamos ter o desfile, que seria dali a algumas horas; os treinos; a avaliação dos Idealizadores e também a entrevista com Caesar Flickerman, o apresentador dos Jogos Vorazes.

Fui apresentada ao meu estilista, Colan. Colan e a sua equipe iam “tratar” do meu aspeto físico e, como ele mesmo dissera, iriam “garantir que você parece ameaçadora e séria mas, ao mesmo tempo, que faça com que todos queiram chegar perto de você”. Concordei apenas com a primeira parte, pois quanto mais afastada eu estivesse daquela gente da Capital melhor eu estaria.

Cato foi também levado pela sua estilista, Caryn, que não parava de o olhar de cima abaixo como fosse algo comestível. Isso me deu raiva e tive uma vontade enorme de tacar a minha faca na sua cabeça, mas me controlei, afinal, nunca tive muita vontade de virar uma avox.

O “tratamento de beleza” foi rápida e doloroso. Eu raramente fazia aquilo a que na Capital eles chamavam de depilação com cera. Era um pouco doloroso e eu não tinha tempo para isso lá no Distrito Dois. Também lavaram o meu cabelo e todo o meu corpo, mas apenas depois de me avaliarem dos pés á cabeça.

-Hum… Não sei o que vou fazer em relação às suas sardas… - o meu estilista murmurou, indeciso, enquanto analisava as pequenas pintas que eu tinha no rosto – Talvez eu as tape com base ou deixo-as como estão. – Colan olhou mais uma vez para as minhas sardas e pareceu finalmente decidir-se – Vamos deixá-las assim, querida, isso irá mostrar que você não tem vergonha de ser como é.

-Era susposto eu estar com vergonha de ter sardas? – perguntei. Nunca simpatizei muito com as minhas sardas, davam-me um ar jovem e indefeso mas, naquele momento, isso até podia ser bom. Enganar os meus inimigos e fazê-los pensar que eu era uma presa fácil, embora, durante os treinos, eles fossem perceber que eu era tudo menos isso.

Colan não chegou a responder á minha pergunta, apenas deu um risinho e prosseguiu com o seu trabalho.

No final eu suspirei de alívio. Depois de tantos anos de treino árduo e exaustivo, eu sempre controlava o cansaço e me obrigava a continuar. Mas aquilo era entediante. Eu estava parada, enquanto várias pessoas analisavam o meu corpo e escolhiam roupas e a maquiagem que ficaria melhor em mim, empre com o cuidado esconder as imperfeições na minha pele.

Colan sorriu quando terminou e, sobre a roupa que eu já vestia, fez-me colocar uma armadura que parecia, mais eu sabia não ser, de ouro. O meu cabelo (ainda mais liso que o que era costume) foi preso em um rabo de cavalo alto e apertado. A minha cabeça doeu durante uns segundos com tanta força que fizeram para prender o cabelo. Os meus olhos também foram pintados, de uma forma natural e leve e eu mal sentia o pó colorido sobre as minhas pálpebras. Depois disso, uma espécie de chapéu, que também parecia ser de ouro, foi colocado na minha cabeça. O “chapéu” tinha uma asa de cada lado, assim como os sapatos também dourados que eu usava naquele momento.

-Tal como uma gladeadora dos tempos antigos! – disse uma das ajudantes de Colan e, sem me aperceber, sorri. Eu já ouvira falar desses gladeadores dos tempos pré-Panem e, pelo que sabia, os gladeadores eram temidos e conhecidos por matarem sem dó. Tal como eu.

-Obrigada. – agradeçi e a mulher, tal como os outros que ali estavam me olharam surpreendidos – Eu gostei do resultado, obrigada. – repeti e votei a sentar-me.

Até percebi porque ficaram surpreendidospelo meu agradecimento, mas algo que eu respeitava acima de tudo era o trabalho e o esforço. Eu gostava que reconheçessem o meu trabalho e, por isso, reconheçia o trabalho dos outros. Uma troca justa, eu acho.

Como já estava pronta, fui levada para uma sala onde estavam os outros tributos e os seus mentores. Niah, Brutus e Cato estavam ao lado na nossa carruagem e pareciam estar a falar sobre algo importante. Aproximei-me rapidamente, enquanto via as reações dos outros Tributos. Os carreiristas do Distrito 1 e 4 pareciam confiantes, enquanto todos os outros estavam sérios ou com olhares tristes e desesperados. Seriam tão fáceis de matar. Fáceis de mais até, talvez.

-Clove, querida, você está linda! – elogiou Niah e eu forçei um sorriso, Cato pareceu concordar com ela.

-É, você está linda! – zombou com um sorriso idiota.

-Cala a boca, gladeador! – resmungei e, com a sua ajuda, subi para a carruagem. Dentro de poucos minutos a carruagem do Distrito um entrararia e logo a seguir seria a nossa – O que vocês estavam falando antes de eu chegar?

-Estratégias. – ele respondeu e eu olhei interrogativamente – Temos de conquistar os patricionadores e Brutus acha que se tivermos uma estratégia eficaz conseguiremos apoio suficiente para se sobrevivermos na arena. – a carruagem do Distrito 1 começou a mover-se e nos avisaram que em 1 minuto a nossa iria também.

-E qual é a estratégia?

-Eu já lhe conto, mas, agora, concentre-se na multidão, Clove. – Cato aproximou-se do meu ouvido e sussurrou – Eles têm de nos adorar, têm de aplaudir até não poderem mais.

-Você está ficando muito convencido, não acha? – cruzei os braços e olhei para Cato, ele apenas deu um sorriso que, não sei porquê, pareceu-me um pouco triste.

-Eu apenas quero garantir que temos o suficente para sobreviver, Clove. Nós os dois. – não disse mais nada, apenas olhei em frente e foquei-me na porta que em breve se abriria.

Cato estava errado, eles não tinham de adorar-nos. Nós os dois não podíamos ganhar os Jogos Vorazes, as regras apenas permitiam um vencedor. Eles tinham de adorar o Cato, não a mim. Mas eu faria o máximo possível para o ajudar a conquistar os patricionadores. Ele podia vir a precisar de ajuda e eu podia não estar por perto nesse momento.

-Distrito 2, preparem-se! – anunciou um homem que mais parecia uma versão masculina de Niah.

-Está pronto, Cato? – perguntei esticando a minha mão para dele.

-Sempre. – ele deu o seu sorriso torto e convencido e eu não pude evitar rir. Mas logo tive de me controlar e mudar a minha expressão. Eu queria parecer determinada e séria, queria mostrar que estava bem ali e que tinha um objetivo a cumprir e que ninguém me demoveria dele.

-Boa sorte! – ouvia Niah gritar.

O desfile foi rápido. O caminho era longo e parecia que estávamos encurralados por todos so lados. Em qualquer direção que eu olhasse havia sempre alguém a olhar apar nós, para a minha mão entrelaçada na de Cato. Nas nossas espressões de conquistadores e, sobretudo, na carruagem que estava a vários metros da nossa.

Os gritos da multidão aumentaram quando, através das telas, eu vi a garota do Distrito 12 entrar. Ele e o garoto estavam vestidos de preto, de uma forma estranha e com algo que pareciam chamas coladas á roupa. “Devem ser falas” pensei com raiva e quase rosnei, mas controlei a minha expressão e continuei a acenar para as pessoas. Cato resmungou um pouco quando apertei de mais a sua mão. Pedi desculpas discretamente e concentrei-me no meu objetivo naquele momento: não matar ninguém.


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Notas finais do capítulo

No capítulo anterior não tive nenhum comentário e por isso tenho de avisar que se isso continuar a acontecer eu vou deletar a fic. Isso seria muito triste e algo drástico, mas é ainda pior postar capítulos e não ter comentários. Digam qualquer coisa, se gostaram, se detestaram, o que acham que eu posso melhorar. Enfim, comentem.
Este é o meu blog no tumblr: http://clato-borntodie.tumblr.com/