Memórias Insuportáveis escrita por Carol C


Capítulo 1
Lágrimas, apenas lágrimas.


Notas iniciais do capítulo

triste, sim. mas eu nunca matei ninguém!



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Já faziam dois anos.

Dois anos desde a última vez que o vi sorrir, que o ouvi sua voz, senti seu abraço, o vi andar, correr, pular, livre. Dois anos, muito ou pouco tempo? Para mim sempre me pareceu uma eternidade. Hoje, exatamente hoje, fazem dois anos que o acidente aconteceu. Fazem dois anos que o perdi para a escuridão.

"Nessa semana, senti sua falta mais do que nas outras. Tudo o que podia dar certo deu errado. Me culpava pelo acidente, mais agora do que nunca. Sentia a vontade de te abraçar, de poder contar com seu ombro amigo, de poder falar tudo e ter a certeza absoluta de que você estava me escutando.

Por que nessa semana tudo deu errado? Você deve estar se perguntando isso, não é Michael? Primeiro, Jack, meu namorado, aquele que você pediu para nunca me magoar, descobri que ele estava me traindo com a Meg, nossa melhor amiga. Fiquei com tanta raiva! Você não tem ideia. Depois, por conta disso, lembra daquele festival que íamos? Consegui me inscrever para o concurso de música do festival desse ano. Perdi, Jack me deixou com tanta raiva e Meg tão triste que acabei confundindo algumas notas. Por último, quando fui contar ao Sr., que agora nem ouso mencionar o nome, que sabia das traições, ele disse: 'se está com tanta raiva e tão triste, com quem você vai falar sobre o que sente? Você não tem ninguém agora! Não gosta de falar com seus pais sobre seus problemas, com quem mais vai falar? Michael não pode te ajudar por culpa sua! Inteira e completamente sua!'. Quando cheguei em casa nesse dia chorei, pois era a única maneira de me livrar de tudo. Chorei por horas, e dormi chorando. Mas, quando você acordar, me diz? Me diz se o acidente foi minha culpa, por favor.

Naquele dia, o acidente foi o meu primeiro sonho. Eu não queria lembrar, era insuportável, mas fui obrigada. Cada detalhe me veio causando tristeza e culpa, uma agonia.

Nós estávamos no carro, saindo do cinema. Você tinha me levado para ver o filme da Katy Perry, nós saímos comentando.

- Nunca tinha visto um filme de auto biografia tão legal! - você disse com os olhos castanhos brilhando.

- Também não. A Katy é incrível! - comentei.

Você olhou para mim de forma pensativa, e logo voltou a atenção para a estrada. Nessa hora, queria saber o que você tinha pensado. Começou a tocar Part of Me no rádio, eu fiquei cantando igual uma doida, enquanto você ria. Teve uma hora, no meio da música, que você parou num sinal e olhou para mim, quase que você me prendeu com seus olhos profundos e seu cabelo jogado castanho.

Já estava quase no final da música, você estava atravessando um cruzamento. Você olhou para frente, ficou surpreso e jogou o carro para a direita, enquanto pisava no freio. Depois disso, só me lembro de tudo escurecendo.

Acordei num quarto branco, num hospital. Minha mãe estava sentada do meu lado  dormindo.

- Mãe? - chamei-a baixinho. Ela acordou na hora.

- Que bom que você está bem! - ela disse me dando um meio abraço.

- Mãe, o que... - eu ia perguntar, mas ela me interrompeu.

- Você fica em silêncio enquanto eu falo. - permaneci quieta para ela continuar, ela deu inspirou fundo e disse - Você e o Michael sofreram um acidente. Você só desmaiou por causa do impacto e ficou com alguns arranhões. Ele... - eu fiquei preocupada, mas ele tinha que estar bem, não? - Ele jogou o carro pra direita, o carro que vinha na contramão bateu do lado dele, ele ficou com um machucado sério na barriga e também os arranhões. E por conta disso ele...

- Ele o que?

- Ele entrou em coma.

Essas palavras fizeram meu mundo desabar. Não podia ser verdade. Eu não queria que fosse. Mas, infelizmente, era. Chorei por dias, não sabia com quem contar para me abraçar. Você sempre tinha sido a minha única fonte de consolo.

As lágrimas estavam escorrendo no meu rosto de novo. Mas, já tinha me acostumado.  O pior não foi me lembrar disso. Foi quando eu percebi que o carro iria me acertar se você não virasse-o. Fico me culpando e me perguntando: 'Por que você virou o carro?', às vezes queria que fosse eu nessa cama, não você.

Depois do acidente ficaram me perguntando: 'Você está bem?', 'O que aconteceu?' ou 'Onde ele está?'. Quem não sabia me fazia essas perguntas, os curiosos também, mas elas só me deixavam pior. Eu descobri que não importava o que fizesse você não iria sair da minha cabeça, então, decidi que viria ver você todo o dia. E nunca deixei de velo nesses dois anos. Espero que você acorde logo, vê-lo deitado, sem sorrir até hoje me deixa triste. Quero ver esse lindo sorriso novamente."

Depois de falar tudo o que aconteceu, pensei em ir embora, mas decidi aproveitar mais um pouco. Deixei a cabeça encostada ao lado da dele, meu rosto estava molhado, mas não importa. Minha mão estava entrelaçada com a dele, como todo o dia. Nem acreditava, dois anos sem ver aquele sorriso, sem ouvir aquela voz ou sentir aquele abraço. Fechei os olhos, estava tentando arrumar vontade para ir embora, quando senti algo diferente na minha mão. Um leve aperto, tão leve que eu poderia não tê-lo sentido. Apertei, também levemente, enquanto abria os olhos surpresa. A resposta foi um pouco mais forte.

Não me aguentei de felicidade. Virei para vê-lo, e os olhos dele estavam piscando com força. Logo ele os abriu. Aqueles olhos, olhos castanhos profundos, aqueles que nunca esqueci. Estavam me olhando, pela primeira vez em 730 dias. Michael sorriu com os cantos da boca, e não me aguentei, chorei, chorei de felicidade. A esperança nunca tinha acabado e hoje me mostrou que fiz bem em tê-la.

- Senti sua falta. - sussurrei.

- Eu mais ainda. - ele respondeu no mesmo tom.

- Fica parado um instante, vou chamar o médico. - ele assentiu e eu fui.

Quando o médico ouviu a notícia ficou surpreso, me seguiu, quase correndo, até o quarto. Eu já tinha dito que o médico é o pai dele? Ele chegou falou com o filho, do mesmo jeito que eu estava,chorando. Conversaram um pouco e logo ele veio pra mim.

- Obrigada, ele vai fazer uns exames e amanhã você poderá ficar o dia inteiro, para compensar.

- Obrigada.

- Pode avisar pra mãe dele também?

Saí quase pulando, quando contei a notícia para as mães, a minha e a dele, quase que elas não acreditaram. Naquele dia, dormi feliz. Logo de manhã já estava no hospital, entrei no quarto e Mick estava encostado na parede apenas com o soro no braço. Era bem melhor vê-lo assim do que com todos aqueles aparelhos.

- Bom dia - dissemos juntos. Eu ia sentar na cadeira do lado da cama, ele bateu a mão na beirada da cama, e sentei lá.

- Eu ia te responder ontem, antes de você sair, por que joguei o carro pra direita. - permaneci calada, deixando que ele continuar. -  Eu joguei, por causa disso. - ele se aproximou e me beijou. Esse fez meu coração ir para a lua, era tão apaixonado, e só afirmou a dúvida que eu tinha 'Eu o amo?', desde o término estava pensando nisso.

- Eu te amo, desde sempre. - ele disse assim que nos separamos.

- Eu também, só me toquei agora. - respondi e ele riu.

- Então...

- Então...

- Quer se tornar minha namorada?

Não respondi, apenas o beijei novamente, e ele entendeu o recado.

Essa é uma mensagem à todos que já sofreram algo parecido. Nunca abandone a esperança.


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Notas finais do capítulo

então?
gostaram?
sentiram?
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