Notas Suicidas escrita por Pu_din


Capítulo 35
Anotação n°34




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Os dias daquela semana foram assombrosos. O meu abatimento físico foi notado por todos os professores da minha escola, até os que eu nem conhecia, tirando que comida era a última coisa que queria ver em minha frente. Eu quase vomitei em uma cliente da lanchonete que comia com prazer um horroroso hambúrguer, e agradeço a alma por ela não ter percebido. A rotina nas aulas era a mesma: sempre adormecia por causa da insônia que tinha durante a noite. Isso só pra não citar as fugas repentinas de Joseph do trabalho, coisa que deixava minha cabeça a mil só para entender seu estranho comportamento. Talvez ele corresse contra o tempo para arrumar meu funeral, mas isso eu ainda não tinha como comprovar essa teoria.
E Frank, para ajudar, não apareceu em nenhum dia na escola. Eu me sentia um ser em putrefação.

Era sexta-feira. O sinal para o intervalo havia soado e todos os alunos corriam ao pátio, no entanto, eu não agüentava nem o peso da minha cabeça. Eu estava de bruços na mesa, ouvindo os passos inquietos dos outros em minha volta, temendo morrer ali mesmo. Nem meus olhos queriam abrir. Juro que pensei estar prestes a ter um derrame no cérebro e a tornar-me um legítimo vegetal.
Foi quando eu senti uma mão gelada percorrendo minha nuca. Aquilo me reavivou.
- Gerard? Você está bem?
Eu não sabia quem era, e meus instintos forçaram meus olhos a abrirem. Era a Tracy.
- Ótimo – murmurei com um sarcasmo ácido na voz.
- Você está tão pálido... Quer que eu te ajude? – o magnetismo de seus olhos azuis não deixava que os meus se fechassem, e agradeci mentalmente por isso.
- Eu estou bem, Tracy. Pode deixar...
- É claro que não! Eu estava passando por aqui e te vi quase imóvel. Jurei por qualquer coisa que você estivesse morto.
Eu forcei um sorriso para despreocupá-la.
- Morto eu ainda não estou. Eu juro.
Ela sorriu, e aquele foi o sorriso mais lindo que eu vi em toda a minha vida. Pensei que estava vendo alucinações.
- Eu acho que eu estou vendo uma alucinação... – murmurei, fora de mim.
- Como?
- Quem diria que você estaria falando comigo? Juro que isso é ilógico.
- Ilógico seria eu deixá-lo morrer aqui, sozinho.
Eu sorri, ela corou. Tudo estava muito sem-sentido. As regras dizem que ela não deveria corar. Eu estava ficando louco...
O sinal avisou que o intervalo terminara. Tracy tirou seus dedos gelados de minha nuca e correu para a saída.
- A gente se vê, Gee...
Gee. Juro que quis matar.


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