Notas Suicidas escrita por Pu_din


Capítulo 33
Anotação n°32




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A moça abriu a porta do quarto com delicadeza e afastou o corpo para que eu entrasse.
- Caso necessite de algo, toque a campainha ao lado da maca, está bem?
- Claro. Obrigado – eu sorri, enquanto ela fechava a porta atrás de mim.
Suspirei, pensando no que fazer naquele quarto. O silêncio me obrigou a olhar para o rosto pálido de Sebastien, que mantinha os olhos fechados, como se dormisse. Seus cabelos estavam melhor hoje do que no dia em que o conheci. Estavam bagunçados.
Olhei para o aparelho que indicava seus batimentos cardíacos. Pareciam fora de ordem, mas estavam calmos, dopados, como Sebastien aparentava deitado imóvel em sua maca. Cheguei mas perto dele, e percebi o coração apertar ao ver que ele havia feito uma operação para a retirada da bala de sua carne, perto do peito esquerdo. Imaginei-o sangrando ao lado do corpo inerte de Hayley, soltando gritos de ódio e dor. Isso me fez sentir um frio nos ossos, o que me obrigou a usar o gorro preso à minha jaqueta.
- Jeff? Pierre? Estão aí? – Ouvi Sebastien sussurrar com fraqueza, abrindo lentamente os olhos.
- Não, nenhum desses. Eu sou o Gerard, amigo de Hayley. Lembra de mim?
Seu olhar semicerrado vagava pelo teto sem nenhum interesse, e após alguns segundos ele o fechou, permanecendo imóvel, como se dormisse. Estava claro que Sebastien só queria me ouvir naquele momento.
- Você me viu lá na casa da Hay, lembra?
Ouve uma pausa. Sebastien parecia pensar.
- Gerard Way! Claro! Lembro sim... – e com certa dificuldade ele sorriu, apertando as mãos ao lado de suas coxas.
- Você tá se sentindo bem?
- Bem melhor, mas bem ainda não – ele riu e gemeu um pouco. Parecia sentir dor.
- Eu não vou te estressar mais, juro. Eu sei que você tem que fazer todas essas coisas. Dormir e repousar, digo. Eu só queria te perguntar uma coisa, na verdade. Além de ver se você está bem, é claro... – eu sorri, mesmo ele estando de olhos fechados.
- Pode falar.
- Você soube que a Hayley... Faleceu, não soube?
Seu sorriso sumiu de imediato de seus lábios.
- Claro. Foi horrível. Tanto pra mim quanto pra você, suponho.
- É, foi mesmo. Mas você sabe de algo? Digo, que possa prender o cara que fez isso?
Ele abre os olhos, fitando a imensidão branca acima de nossas cabeças, e os leva até meu corpo paralisado na beira de seu leito. Ele se espanta, e seu coração começa a pular no monitor do aparelho.
- Tudo bem, Seb? Você tá bem?? – eu pego em sua mão, sentindo-o apertar de modo massacrante. Ele a solta, com o olhar atônito.
- É melhor você ir embora, Gerard. Eu... Eu não estou muito bem para conversar com você.
- Eu já vou, prometo, mas só uma coisa, pela Hayley.
Lefebvre me encarava sério, sem deixar transparecer em suas feições nenhum tipo de emoção.
- Tente recordar, Seb. O cara que assaltou vocês, você se lembra de como ele era?
- Eu já disse à polícia.
- Mas você lembra? Talvez... Talvez eu possa ajudar. Pela minha Hayley, por favor...
Eu juro que se desse eu iria editar essa frase para cortar o “minha Hayley”. Sebastien ferveu com essa nota.
- Vou falar o que eu lembro, e depois você vai embora, tudo bem? – ele suspirou e fechou os olhos, como se fosse chorar a qualquer momento. Ele tremia. – Ele não era forte, mas também não era magrelo e tinha um cabelo preto e...
- Continue... – eu disse assombrado com a velocidade das batidas de seu coração. Fechei meus olhos com medo, e pude sentir minhas veias saltarem da carne.
- Ele... Seu rosto era... – ele parecia buscar a mais remota lembrança do assassino, o que fez lágrimas caminharem por toda sua pele suada. – Ele não tinha rosto. Usava um daqueles moletons pretos com gorros... E seus olhos eram... chocantes.
Os batimentos aumentavam a cada segundo que se passava, e tive medo de vê-lo morrer a qualquer instante, por isso me calei, hesitante. Mas Sebastien continuou, colocando para fora toda sua fúria numa última descrição:
- Seus olhos eram verdes, Gerard. Verde-desbotado.
Olhei-o pasmo, e seus olhos esmeralda cravaram-se nos meus com uma intensidade vertiginosa.
- Eram cinza? – indaguei com certo medo da resposta.
- Cinza! – ele urrou, apertando as mãos no lençol sobre suas pernas. – Agora vá embora, por favor. Eu não agüento mais...
Assombrado, corri para o outro lado da maca e apertei a campainha várias vezes, sem desgrudar os olhos do rosto contraído de Lefebvre. A enfermeira correu até o quarto e escancarou a porta.
- Venha, por aqui.
Ela me agarrou pelo braço e ajudou-me a sair de lá com rapidez. Depois, um médico voou para perto do moribundo e aplicou-lhe uma agulha extremamente grossa em um dos braços, que o fez adormecer em questão de segundos.

- O que aconteceu??? – Jeff me puxou pelo braço atônito, e Pierre me encarava com um medo escondido em seus olhos.
- E-eu não sei muito bem, mas a gente estava conversando, e ele começou a... – eu fechei os olhos, chocado. Eu tentava terminar a frase, porém as palavras se agarravam em minha língua, que travara risivelmente. Eu solucei, soltando-me das mãos de Jeff.
- Meninos, - a enfermeira aproximou-se de nós. – achamos melhor que venham vê-lo amanhã, pela tarde. Agora ele precisa descansar, tudo bem?
Jeff e Pierre se entreolharam enquanto eu observava a moça afastar-se de nosso grupo e entrar no quarto de Sebastien.
- Então eu venho amanhã. É melhor eu ir... – Stinco murmurou.
- Cara, coitado do Seb... – o outro lamentava, coçando a nuca.
- Ele vai melhorar, podem crer... – disse eu, ainda com uma ponta de pânico na voz.
- Tudo bem, então. Pierre, amanhã a gente vem aqui, junto com os pais do Seb – Jeff proferiu as palavras com um pesar, olhando para baixo. Depois se virou para mim e despediu-se com um sorriso forçado: - A gente se fala, Gerard – ele acenou vendo-me retribuir o aceno aos dois e cambalear para as escadas do hospital.


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Notas finais do capítulo

Posha gente, sorry a demora , ontem minha internet tava um ** :B Bgs ;*