Notas Suicidas escrita por Pu_din


Capítulo 30
Anotação n°29




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Aquela semana foi perturbadora. Frank faltou todos os dias, deixando meus nervos à flor da pele. Minha expectativa me devorava toda vez que era frustrada, e era sempre quando eu corria para a sala de aula e avistava todos os alunos sentados, uniformemente depressíveis, e só sobravam, lá no fundo, as três cadeiras de três espectros semimortos: o meu, o de Hayley e o de Frank. Foi uma semana angustiante.
- Gerard! Espere!
Era sexta-feira. Eu tinha acabado de sair da escola, e estava começando a sentir os efeitos da depressão. Eu estava visivelmente mal.
Virei-me para saber quem me chamava sem nenhuma expectativa, e quando avistei a sombra de Joseph vindo em minha direção, fiquei surpreso.
- Pai? Não está trabalhando? – ajeitei a mochila nas costas, embolando, ao mesmo tempo, minha velha jaqueta. Ele corou aparentemente confuso.
- Eu? Não... Saí cedo, hoje.
- Poxa, que bom... – estranhei.
- Quer uma carona pra casa?
- Não, pai! – exclamei nervoso enquanto atravessava a rua. – Você tá de folga, mas eu não.
- Eu passei lá no seu trabalho – Joseph me seguia com passos rápidos, ainda estranho. – O Sr. Goldheart te liberou... Hoje ele não vai abrir a lanchonete.
Nessa hora eu parei, sentindo-me perturbado. Procurei por Joseph, que estava atrás de mim, e o encarei.
- Você passou na lanchonete??
- Passei – ele abaixou o olhar.
- Você nunca passou na lanchonete!!!
- Tem sempre a primeira vez, não é mesmo?
Arqueei a sobrancelha e calei-me, pensativo.
- Vem, Arthur. Vamos pra casa.
Não discordei, e senti meu pai pousar a mão em minhas costas, me empurrando para seu carro prateado. Enquanto eu colocava o cinto Joseph ligava o motor, seguindo o caminho para casa.
- Como você está na escola?
Juro que eu gelei nesse momento. Ele nunca perguntou isso em toda minha vida escolar, mesmo assim eu respondi, com a voz rouca:
- Bem, eu acho. Só em química que eu estou um pouco ruim, mas no geral, dá pra passar o ano.
- Mas como você está se sentindo na escola? – ele insistiu, apertando as mãos no volante.
- Ah, tá – murmurei, pensando em ter entendido a pergunta. – Não vi nenhuma garota interessante, ainda. Tem a Tracy, ela é bonitona...
- Que bom, Arthur – ele bufou e balançou a cabeça na negativa. Isso me irritou profundamente.
- Eu não entendi onde quer chegar... – direcionei meus olhos para o chão, confuso.
- Você ainda não respondeu minha pergunta – houve um silêncio perturbador, e Joseph só quebrou-o no momento em que estacionou o carro na porta de casa: – Como você está?
- Eu... Eu não sei, pai – sussurrei, com a cabeça baixa.
- Você precisa de ajuda, Gerard.
- Eu sei...
- O que acha de um psicólogo? Vai te ajudar a ficar normal.
Ele não tem idéia de como isso me deprimiu, e com um tom ácido na voz, retruquei:
- Eu posso ser tudo o que você tá pensando, mas eu não estou louco, tá legal?
- Mas é o que você precisa! Um psicólogo! – ele bateu as mãos no volante, irritado.
- Eu não preciso de merda nenhuma! – rosnei com um sentimento de culpa, e saí do carro, porém Joseph permaneceu sentado, apertando os dedos na chave, ligando o motor.
- Aonde você vai? – eu perguntei, vendo-o prestes a dar uma partida acelerada.
- Hoje você não vai sair de casa, ouviu? – meu pai ordenou, com a voz autoritária. Nunca o ouvi falar assim na minha vida inteira.
E o carro quase arrancou um pedaço do asfalto.


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