Notas Suicidas escrita por Pu_din


Capítulo 29
Anotação n°28




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Quase tropeçando na calçada, vi meus pés se mexerem rápidos em direção a lugar algum. O crepúsculo caía sobre a cidade, e mesmo assim continuei a correr, procurando Frank em qualquer beco mal-iluminado que existisse em meu campo de visão. E era lógico que desse jeito eu nunca o encontraria, até que me lembrei de Mary, a mãe dele. Meu rosto se iluminou ao pensar que a casa cinematográfica era o local onde Iero poderia estar. E meus pés correram, agora, para a parte mais nobre do bairro.

Cheguei ao portão da mansão sentindo a alma sair pelos poros, junto com o suor, e apoiei-me por um instante no muro a fim de recuperar a respiração. Enquanto ofegava como um louco – eu não sou acostumado a correr, sou um sedentário -, eu procurava a campainha, se é que existia uma naquele palácio. No mínimo seria um daqueles sinos enormes e de ouro branco, todo cheio de gravuras do século XV. Mas logo vi que o dono não ia ter coragem de colocar um troço daqueles na rua, e descartei essa possibilidade, avistando uma campainha com interfone. Era razoável, até.
Apertei com insistência, e uma voz masculina me respondeu:
- Residência dos Canterville, quem fala?
- Gerard Way – respondi com certa vergonha do meu nome. Era comum demais...
- Quer falar com quem?
- Frank Iero, o filho da Mary...
- Filho de quem?!
- Da empregada... – disse como um idiota.
- Vou chamá-la.
- Mas eu queria falar com o Fr...
Nem deu tempo pra completar a frase, pois o moço simpático do interfone desligou com uma notável violência no ato. Respirei fundo, imaginando dois brutamontes de terno preto virem em minha direção e me agarrarem pela jaqueta, jogando-me, por fim, no meio da rua. Porém, pela minha sorte, vi a figura exausta de Mary aparecer.
- Oi, Mary! – exclamei, vendo-a aproximar-se de mim. Estava nervosa, com o rosto enrugado por um sentimento que não consegui captar.
- O que quer com o Frank? – murmurou, com os olhos secos penetrando os meus.
- Só queria falar com ele... – minha voz saiu fraca, surpresa com a secura de Mary.
- Vá embora. Ela não quer te ver.
- O Frank tá bem?
Com repulsa nos olhos ela berrou, como se jogasse em cima de mim toda sua fúria materna:
- Deixe meu filho em paz!!! Vá embora!
- Mas o que eu fiz?? O que aconteceu??? – indaguei confuso, minha cabeça girando.
- Nos deixe em paz... – agora sua voz soava baixo, por causa das lágrimas que cobriam seu rosto. Ela se apertou dentro de seu casaco e sumiu no meio das rosas do jardim já escurecido pela noite, deixando-me sozinho do outro lado do portão.
Acho que eu fiquei uns dez minutos com os olhos arregalados, diante de todo aquele palácio impenetrável. Meus sentidos estavam atordoados, já que meu cérebro só se ocupava em entender toda aquela conversa sem nexo algum. Frank, Frank... Agora tudo parecia mais claro. Quero dizer, tão claro que eu não conseguia achar a resposta no meio de tantas alternativas injustas. Alternativas que eu não queria nem pensar.
Hayley... Será que... Não. Claro que não.
Balancei minha cabeça dormente e caminhei para casa, absorto na inércia da morte.


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