Notas Suicidas escrita por Pu_din


Capítulo 26
Anotação n°25




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Acordei atordoado, perdido no tempo e no espaço. Olhei no relógio perto da cama, que marcava terça-feira, cinco e meia da manhã. Quis quebrá-lo em pedaços, mas lembrei-me da escola. E de Hayley, naturalmente.
E de Frank.
Eu tinha que contá-lo da tragédia. Com certeza ele não sabia, tinha que ser avisado. No mínimo iria sofrer junto comigo, e previ que esse dia iria ser fúnebre. Meu humor estava minguado, e não havia Hayley com seus doces coloridos para me consolar. Eu gelei.
Levantei-me ainda moído e concluí que suor e sangue velho cheiravam mal, e tomei um banho um tanto doloroso. Observei-me no espelho com uma ponta de terror, e vi que os machucados estavam feios principalmente no rosto, onde as pedras me arranharam, mas estavam cicatrizando.
Enrolei minha cintura com uma toalha e corri ao meu quarto. Troquei-me e tomei um café desajeitado, prendendo os livros contra meu peito.
Voei para a rua.

O outono não dava tréguas. Aquele céu cinza deixava tudo mais difícil, e o vento cortante fez-me perceber o vácuo que Hayley deixara. O pátio estava cheio, mas ao mesmo tempo estava vazio. Primeiro pela falta dos cabelos alaranjados voando com o vento; depois pela ausência de Frank.
- Onde está ele?? – eu sussurrava a mim mesmo enquanto corria para a sala.
Fui empurrado por dois idiotas, e apoiei-me na mesa do professor, quase caindo. Os dois marginais pegaram as melhores carteiras, como sempre. Sobrou pra mim uma decadente, bem no fundo, porém Frank não estava lá, como de costume.
- Gerard Way? – o professor chamou-me, com os olhos baixos.
- Sim, senhor.
- Meus... pêsames – ele apoiou sua mão em meu ombro, de modo consolador. – Hayley fará muita falta, eu sei disso.
- Com certeza – murmurei com meu humor em trevas. – Obrigado.
Corri desajeitado para a carteira, passando os olhos por toda a classe, procurando por ele, até que, na porta, Frank aparece abraçado à sua mochila, com o gorro negro cobrindo boa parte de seu rosto.
Acenei em sua direção, e Iero assustou-se. E fez questão de sentar-se longe de mim, na primeira carteira. Estava rígido, com o capuz parecendo proteger-lhe de pessoas irritantes. De pessoas como eu.
E não pude conter a surpresa em minha feição, pois além de seu comportamento anormal, seus olhos tinham a coloração verde, assombrosa e desbotada. Estavam praticamente cinza.
Estava estranho.

O sinal tocou, e todos os alunos correram felizes em direção ao pátio. Mas eu ainda permanecia sentado, fitando o gorro negro de Frank, que me ignorava por completo.
Suspirei, confuso por não entender essa situação angustiante. E durante minha desordem interna, Iero levantou-se como uma sombra e saiu da sala, despercebido por quase todos. Eu o segui.
- Frank! Cara, espera aí! – eu gritava atrás dele, mas este me ignorava.
Ele atravessou todo o terreno tentando se misturar com os outros estudantes, tentando me despistar. Só que ele era inconfundível, pelo seu jeito sobrenatural de atrair meus olhos. E parecia que Iero sabia disso, e pôs-se a correr mais rápido.
- FRANK! – eu berrei já cansado de buscá-lo.
Ofegante, apoiei-me em uma árvore qualquer, enquanto sentia leves pontadas na barriga. E só pude observar aquele ser sumir no meio da multidão.

 


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