Depois de um bom tempo deitado, meu coração parecia mais calmo. As batidas estavam normalizadas. A terapia do se-afoga-na-almofada sempre dava certo, e esse dia não seria uma exceção.
Eu estava com os olhos pesados, de bruços na cama, admirando a escuridão do cômodo, quando ouvi os sussurros de Joseph. Falava ao telefone, estava claro, e não quis saber quem estaria ao outro lado da linha. Semicerrei os olhos no pôster escurecido de Wolverine, tornando-o um borrão negro no meio do nada, e notei que os sussurros haviam cessado. Agora o barulho era de passos hesitantes, em frente à porta de meu quarto.
- Gerard? – Joseph adentrou-se de modo tímido, porém eu fingi que dormia.
Senti que ele se sentava em minha cama, próximo ao meu tórax, e seus dedos afastavam meus cabelos rebeldes de minha boca, grudados com suor e sangue. Ele estava mudo, porém seus gemidos praticamente inaudíveis tomaram conta do quarto.
Ele chorava, e era difícil vê-lo chorar.
Muito mais difícil era ouvi-lo chorar grudado ao meu corpo e acariciando meu suor e meu sangue.

Apertei mais os olhos, temendo que uma onda de lágrimas denunciassem minha barata atuação. Ainda sentindo sua mão em minha cabeça, concluí que alguém explicara a ele meu surto.
E sem nenhum esforço e com muito remorso, apaguei.