Notas Suicidas escrita por Pu_din


Capítulo 15
Anotação n°14


Notas iniciais do capítulo

Mande um review e faça uma ficwriter feliz *-* QTAL? BD



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Quando fui me dar conta das horas já era um pouco tarde. Hayley me fez prometer não contar nada a ninguém sobre Sebastien, mas aí é que eu não entendo: pra quem eu iria contar? Para Frank? Não. Mas para deixá-la mais tranqüila prometi, e em seguida despedi-me dela e de sua mãe, e corri pra casa. Bem, na verdade eu tentei correr pra casa, mas não consegui. Eu sei que Joseph ia falar um monte pra mim, mas eu não estava inspirado para ficar assistindo a TV novamente. Isso me soava deprimente naquela noite. Então comecei a andar pelos quarteirões. As ruas estavam mergulhadas em um breu estranhamente sombrio, porém não me intimidava. Não me lembro muito bem, mas sei que eu andava sem parar. Nem sabia onde estava, só sei que eu não permitia que meus pés parassem.
Eu admirava a escuridão em uma rua totalmente deserta, com pouca iluminação. Parecia perigoso, mas eu não dei muita importância. De repente, vi uma silhueta conhecida. Era o Frank. Estava sentado na quina da calçada, e parecia amedrontado. Ele abraçava os joelhos expostos pelos enormes rasgos em sua calça como se quisesse alguém para abraçar, e parecia chorar. O gorro preto cobria todo o seu rosto, como sempre, mas mesmo assim dava para perceber que não se sentia bem.
Corri em sua direção e parei em sua frente.
- Frank – chamei-o, com os olhos perdidos na escuridão.
Ele não me olhou diretamente, mas senti que fitava minhas canelas.
- Frank!... – chamei-o mais uma vez, mas ele parecia ausente.
- Frank! Cara, tudo bem??
- VAI EMBORA! – ele gritou com uma voz de raiva e tristeza. Eu me surpreendi. Nunca o vi falar assim.
Eu me calei, mas não o obedeci. Não fui embora. Sentei ao seu lado e passei a fitá-lo, mas aquele maldito gorro não me deixava ver seu maldito rosto. Mesmo assim, eu o encarei.
Olhei-o durante uns cinco minutos, mas acho que não percebeu por causa da touca. Tive a idéia de afastá-la um pouco, para que assim nós pudéssemos começar um diálogo, mas só foi eu tocar na ponta de sua cabeça que suas mãos, que antes abraçavam os joelhos, puxaram o gorro com mais violência. Soltou um gemido, e senti que Iero se arrependeu uma vida inteira por isso.
- Você não quer falar, não é? – perguntei no tom mais macio que consegui fazer, mas o silêncio de Frank me respondera muito bem. Passei, então, a mirar o chão, maquinando. Porém, enquanto eu pensava, senti-me embaraçado, pois dava para se ouvir, bem baixinho, o choro de Iero. Eu juro que me senti acanhado. Nunca o vi chorando, e não tinha a mínima idéia do que fazer.
- Frank, - murmurei – o que foi?
Ele olhou pra mim, mas não pude ver sua face muito bem por causa da pouca iluminação. O que vi foram aqueles olhos verdes e úmidos ficarem cada vez mais desbotados. Eu já havia percebido que quando ele fica abatido seus olhos se desvanecem. Tive pena dele, só de ver que chorava. Depois ele tirou o gorro que cobria seu rosto, e espantei-me com o tamanho do machucado que tomava conta de toda a sua bochecha esquerda. Sangrava. E parecia ser a marca de unhadas. Frank parou de me fitar, e pousou os olhos na casa do outro lado da rua.
- O que aconteceu?? – perguntei atônito.
- Eu não queria, Gerard... Não queria.
Eu olhava aquele machucado ficar pior, e me sentia cada vez mais assustado.
- O que foi, merda?!?!
Ele suspirou e começou a falar com a voz triste, ainda com os olhos colados na parede:
- Se eu te falar, não conta pra ninguém?
- Não.
- Nem pra Hay? Eu que tenho que falar pra ela, e não você...
- Eu juro que não.
Ele inspirou, parecendo tomar coragem, e pôs-se falar em um tom um pouco mais alto que um sussurro:
- Lembra quando me perguntou se minha mãe estava bem? Pois é. Ela não estava. Na verdade, ela nunca esteve bem. Tem uma doença. Eu... eu nem sei o nome direito, mas não tem cura, cara. Ela vai morrer. É isso...
Frank não desgrudava um segundo sequer seus olhos do outro lado da rua. Enquanto falava, consegui perceber que engolia suas lágrimas para si. Continuou:
- E a gente é muito pobre, você viu. Eu tinha que a ajudar a comprar os remédios. Eles a ajudam a ter um resto de vida melhor, entende?... – soluçou, e engoliu mais uma vez o choro – Mary pensa que eu trabalho, mesmo não gostando da idéia. Mas... mas na verdade...
- Você rouba, não é?
Ele balança a cabeça positivamente, o que fez com que poucas lágrimas escorressem pelo seu machucado. Porém Frank não gemeu, fez questão de engolir sua dor, como sempre.
- Eu não queria, Gerard. Você entende? Mas eu tinha que fazer alguma coisa. Hoje eu fui fazer essa merda toda de novo, só que eu não esperava que iriam reagir e...
Iero não agüentou mais engolir suas lágrimas, e elas começaram a cortar seu rosto alvo, misturando-se com o sangue. E eu o olhava aflito. Agora sim conseguia entender todos aqueles enigmas. Entendi o roubo da Tracy, entendi o porquê tentou sair sem pagar da lanchonete, entendi seus mistérios, mas não conseguia expelir nenhuma sílaba. Nem um consolo.
O envolvi com meus braços, e sua cabeçinha veio afundar-se no meu peito, em carne viva. Eu apoiei minha outra mão sobre seu ombro, e ele me abraçou como se o mundo estivesse acabando naquele momento. Senti que seu coração rufava desesperadamente.
- Eu não queria, Gerard. Eu não queria... – sussurrava, fora de si.
Beijei-lhe a testa demoradamente, sentindo poucas lágrimas descerem de meus olhos. Frank ainda se afogava em meus braços, mas seu coração parecia se acalmar.


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