Never Comes So Easy escrita por SpoonsHaters


Capítulo 1
Capítulo 1




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Dançar. Era tudo o que eu pensava. Dançar com o corpo e a alma. Respirei fundo. “Vamos, mais uma vez”. Tinha que fazer certo, pelo menos uma vez. Já havia escurecido, mas não importava, precisa terminar aquilo que eu tinha começado. “Você nunca irá saber se nunca tentar.” A voz vinha na minha cabeça. De novo.  A mesma frase. A mesma voz. Inspirei o ar de novo, passei a mão na minha testa. Estava exausta, tinha passado do meu limite há tempos. Encarei meu reflexo no espelho que ia de ponta a ponta do estúdio, do teto ao chão. Dirigi-me até o rádio portátil que estava perto das barras. Apertei o play e corri até o meu lugar. “Ok, mais uma vez, faça certo agora”. Aquela voz me perturbava. Muito. Sacudi minha cabeça tentando afastá-la. Contei mentalmente as batidas da música que eram compatíveis com as do meu coração. Os passos eram tão simples, não sei qual a dificuldade do meu corpo apenas fazer o que eu mandava. O refrão. Esse era o problema. Meu coração acelerava quando a música chegava à ponte, antes do refrão. Talvez ele soubesse que essa seria a parte que eu faria o solo. Pela primeira vez, dançaria sozinha, com os holofotes em mim e apenas em mim. Suava frio só de pensar em dançar no Piccadilly Circus, um dos maiores teatros de Londres. A maior oportunidade da minha vida, não podia desperdiçá-la. Ainda mais perdê-la, por erros bobos, como errar um passo. Desde quando recebi a notícia que eu fui selecionada para dançar, o qual foi há quase dois meses, eu venho treinando arduardamente. A música escolhida, Espectrum (Say My Name) do Florence+The Machine, era boa, a princípio fácil também. A batida era boa, facilitava a contagem. A escutava em todos os lugares, dançando mentalmente, tentando gravar a ordem, mas não estava dando certo. “Dance com o corpo e alma”. Foi o que eu fiz. Esperei a música começar, os passos iniciais eram bem fáceis, complicava no refrão. “Ouça seu coração, não sua mente.”. Maldita voz! Atrapalhou-me novamente. Acontecia sempre a mesma coisa. Fazia tudo certo até que essa voz invadia meus pensamentos. Dei uma rasteira em mim mesma. POR HOJE CHEGA! Não dava mais. Cai no chão gelado, deixando meu corpo se esparramar, relaxando todos os meus músculos. Ficaria por mais algum tempo ali no chão, mas fui interrompida pelo meu celular. A preguiça era tanta que fui rastejando até a minha bolsa que se localizava pendurada na barra do lado do rádio. Coloquei minha mão dentro da bolsa, procurando o aparelho que emitia um barulho irritante. Assim que eu o achei, ele parou de tocar.

-- Beleza... – falei comigo mesma... – Nove da noite?! – olhei para o relógio surpresa. Provavelmente não tinha mais ninguém no prédio. Sozinha... Naquele prédio... De noite... Não era uma boa ideia. Deixei de frescura e comecei a me arrumar e juntar minhas tralhas espalhadas pelo cômodo. Desamarrei minha sapatilha, a coloquei dentro da minha mala e botei meus tênis All Stars. Peguei meu rádio e fui em direção à caixa de energia para desligar as luzes. Assim que o fiz, fechei a porta e fui até o elevador. – Porque tá demorando? – estava impaciente. Bufei com a demora. Essas coisas são feitas para agilizar nossas vidas, mas acaba atrapalhando. Decidi ir de escada, mesmo que eu estivesse no sétimo andar. Meu celular tocou de novo. Dessa vez nem olhei quem era, estava ocupada demais prestando atenção nas escadas e tentando fazer com que as minhas pernas obedecessem meus comandos – Sim, pois não?

-- Ainda tá no estúdio? Onde você tá? Tá em casa? Você tá bem? – a pessoa do outro lado da linha perguntava.

-- Ah, oi maninho. To saindo daqui agora. E não se preocupe, eu to bem.

-- Você quer me matar que preocupação? É isso? – por que ele tinha que ser tão dramático? – Olha... Fica ai dentro que eu to indo te buscar. Ok? Entendeu?

-- Ok. Entendi. – revirei os olhos. Já tenho idade o suficiente para cuidar de mim mesma, sozinha, mas ele continua me tratando como um bebê.

-- E não revira os olhos mocinha. – como ele descobriu?

-- Como você...? Ok. Para de falar e vem logo senão eu vou a pé.

-- PODE PARAR. Já to indo. Beijos. – e desligou. Deu um pequeno riso. Sabia que se ameaçá-lo ele viria. Demorei mais do que o normal para terminar de descer todos os degraus. Assim que abri a porta pesada de metal, ele estacionou o carro bem na minha frente. Não queria admitir, mas ele era um motorista incrível. Ele abriu a porta do acompanhante para mim sem sair do carro. Andei rapidamente e me acomodei no macio banco de couro do seu Aston Martin One-77. Ele juntou todos os centavos para comprar aquele carro. Ainda cheirava novo. Respirei o ar com aromatizante da fábrica. Encostei a cabeça no encosto e fechei meus olhos.

-- Você tá bem? – ele perguntou me dando um beijo estalado na bochecha.

-- Sim. Só um pouco... – abri meus olhos para poder olhar seu rosto. Preocupado, como sempre. — Só um pouco cansada. – forcei um sorriso fraco, mas sincero.

-- Quer que eu te leve a um médico? Hospital?

-- Liam! Eu não quero nada disso! – segurei o seu rosto com as minhas mãos, olhando nos seus olhos. – Meu irmão, eu to bem. Pare de se preocupar tanto assim. Só quero ir pra casa e tomar um banho. E comer. E dormir.

-- Tem certeza? – ele perguntou. Olhei para ele querendo dizer “Já chega né?”. Ele entendeu o recado. – Ok. Vamos pra casa. – seguimos o caminho em silêncio, somente com o som baixo do rádio. Tinha quase pegado no sono quando a “minha” música começou a tocar.

-- AH NÃO! NÃO É POSSÍVEL! PODE TIRAR DAÍ! – dei um grito do nada. Acabei assustando o Liam.

-- AH! JESUS CRISTO! VOCÊ NÃO TAVA DORMINDO?! QUER ME MATAR MENINA?! – ele me olhava sério. Ri da cara de assustado dele. Estava muito engraçada. – PARA DE RIR! NÃO TEM GRAÇA! – quanto mais ele falava, mais eu ria. Ele queria permanecer sério, mas acabou não conseguindo e riu também. – Que isso não se repita! Ok?

-- Ok, maninho. Ai ai... – me virei, olhando a rua. As luzes produzidas pelos postes faziam meus olhos lacrimejar. Estava com sono, fome, meu corpo doía... Só queria ir para casa, tomar um banhinho quente, deitar na minha caminha e dormir.

-- Tá chorando? – ele me perguntou, enquanto desviava o olhar da rua e o direcionava a mim.

-- Não. – cocei os olhos. – Só estão... Coçando... – olhei no espelho e eles estavam bem vermelhos. – A gente tem colírio em casa né?

-- Sim, acho que sim.

-- Ah, que bom. – voltei a olhar a paisagem novamente. Ele não estava fazendo o caminho de casa. Estranho... – Você não tá fazendo o caminho de casa... – olhei para ele, querendo uma resposta. – Liam...? Não me ignore. – ele fez a cara de cachorrinho perdido. Lá vem... Já até sabia o que era. – Ok, ok. Não tem problema. Eles podem ir pra casa...

-- Ah! Obrigada maninha! Vou te compensar. – ele estava com um sorriso lindo no rosto.

-- Não precisa não. Só continue sorrindo assim que pra mim já tá bom.

-- Aw, Lily...

-- Verdade, maninho! Sua felicidade já compensa. – ele sorriu de novo para mim. Gostava de vê-lo feliz assim. Também estava com saudade dos meninos. Eles eram outros irmãos para mim. Animaria-me um pouco ficar um tempo com eles. Reencostei a minha cabeça no vidro e acabei pegando no sono. Devo ter dormido o percurso todo porque despertei com os gritos. Provavelmente vindo dos meninos.


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