Vitória escrita por Ephemeron


Capítulo 1
PRÓLOGO




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/24149/chapter/1

Jamiel – Pouco depois da traição de Aioros

Era noite e ele já havia colocado a criança para dormir. O pequeno Kiki aprendia rapidamente a controlar o objeto com sua mente, mesmo tão novo...Fora um presente dos deuses, pensava Mú, para que não se sentisse tão sozinho naquele lugar isolado de tudo e todos...

Caminhou sem fazer barulho algum, tinha essa habilidade inerente desde os dias de treinamento...indo ao encontro do seu trabalho. Teria que consertar aquela armadura de prata ou então geraria ainda mais atritos com o novo Mestre do Santuário. A oficina era fria e iluminada somente pela luz branca da lua, mais a luz dourada do cosmo do cavaleiro. Mu era metódico. Todas as ferramentas tinham de ser separadas, limpas e organizadas na ordem de uso antes dele começar seu serviço. Um perfeccionista...E é por conta dessa perfeição que muitos vão procura-lo...para melhorarem suas armas, armaduras e, porque não, magias...

Concentrado em seu trabalho, o rapaz de longos cabelos claros não se incomodava em preocupar-se com quem poderia chegar ali...Se a montanha não se encarregasse de impedir alguem de continuar, o prédio em que estava – sem portas – obrigaria a pessoa a chama-lo. Claro que ele pensava nisso com a hipótese de que seria um ser humano comum...no máximo um cavaleiro...

- O que preciso fazer para que consertes algo para mim?

Os instrumentos caíram das mãos do rapaz, que se virou assustado ao escutar voz tão melodiosa e firme em suas costas. Qual não foi sua surpresa ao ver uma mulher dentro de sua oficina, com um tecido negro que cobria-lhe todo o corpo, seus cabelos e parte do rosto?!

- Como chegou até aqui?!

Perguntou abismado sem, no entanto, demonstrar hostilidade ou medo. Ela permaneceu com a mesma expressão.

- Preciso dos seus serviços, isto me fez vir até aqui.

A mulher tinha sua altura, ele pensava, e Mu era um cavaleiro alto...não se preocupou em saber quem era ela, pois sendo um serviço manteria o sigilo dos procedimentos como a tradição mandava. A pessoa só falaria a que veio e seu nome se assim quisesse. Mas estava no mínimo intrigado em como ela conseguira subir a montanha e, mais ainda, como subira os 7 andares de seu edifício sem portas. Com essas duvidas se esqueceu que não tinha ao menos sentido a presença dela no local...

Ele a observou por alguns instantes...e por fim deixou as ferramentas de lado e limpando as mãos em um tecido claro, disse:

- Em que posso ajuda-la?

Seus olhos eram afinados, mas podia perceber que ela não era oriental...tampouco egipcia...sua pele era clara demais para o ultimo...e seu rosto afinado demais para ser o primeiro...Não tinha nenhuma noção de onde ela vinha...mas aqueles olhos cor de esmeralda pareciam pintados por algum tipo de artista que jamais faria obra tão perfeita novamente...

Ela estendeu a mão entregando-lhe uma espécie de colar...Mú olhou-a intrigado...

- Desculpe, Sra., mas eu não tenho capacidade para conserto de jóias...

Não foi cínico, nem sarcástico...foi sincero. A mulher tomou então sua mão e colocou o que seria o pingente, um tipo de medalhão na palma dele...

- Mas tem a capacidade para faze-lo em um artefato. Sei que você pode sentir...a magia que o envolve.

Ela dizia e o objeto brilhava na mão do cavaleiro. Sim, ele sentia. Ali tinha muito mais do que ele sequer sonhara em termos de magia envolvendo o sentimento e a vida de alguém.

- Aquele que o construiu esta inacessível para mim e para todos. Mas você, sendo descendente dele poderá ver seus defeitos e poderá fazê-lo novamente...precisarei disso em breve.

Mu observava o artefato com curiosidade e admiração, era um trabalho perfeito! Porque ela estava ali? O objeto estava...

- Hm...

Não, não estava bom. O medalhão tinha o desenho de um anjo de asas abertas. As asas envolviam algumas pedras preciosas coloridas, cada uma – ele imaginava – representando uma energia diferente. Algumas delas possuíam pequenas rachaduras. O dourado da corrente estava opaco, o que demonstrava que estava “morto”...os cuidados precisariam de um material importante que não sabia se ela poderia dar.

- Não sei do que se trata este artefato e não questionarei os motivos de vir até aqui com ele. Também não entendo do que fala quando se refere a eu ser descendente de alguém, o que não me interessa no momento.

Ele deixa o medalhão sobre uma tira de seda branca que estava em uma mesa próxima que continha os trabalhos ainda pendentes. Volta-se para ela com seriedade, sentia-se estranho perto daquela mulher...os olhos dela atraiam os seus de tal forma que perdia as palavras...perdia o fôlego...perdia o sentido...Olhos de alguém cheia de mistério, sofrimento e dor...mas que continha uma beleza tão inocente quanto um anjo...

- Precisarei de algo seu.

Ele se aproximou dela lentamente, a respiração visivelmente tranqüila da mulher o fez se espantar. Ela não tinha medo. Acreditou ver um lampejo de diversão no olhar dela, achando graça daquela situação da qual já sabia que ocorreria. Mas pode ter sido só impressão, pois ela era fria como o Himalaia ao redor deles. Estendeu, então, um pequeno frasco que continha um liquido rubro como...sangue.

- Te entrego isto.

- Este não é seu.

- Não posso lhe dar meu sangue.

- Preciso dele, é imprescindível.

- Imprescindível é o conserto deste artefato. Não só para mim, caríssimo, mas para a humanidade. Acredite, este frasco é suficiente.

- Não sei quando irei terminar, você diz para breve...mas este trabalho não será fácil.

- Eu não disse que seria, e o meu breve é diferente do seu.

Mu olhava para ela intrigado e pegou o recipiente das mãos da mulher a sua frente...abriu-o lentamente...e ao tocá-lo pôde saber que ela falava sério...Aquele sangue, não era de qualquer um.

- Porque matar um ser encantado para tal trabalho? Tem medo de dar-me seu sangue, Sra?

Mú provocara, pois sabia que teria que fazê-lo para descobrir algo daquela a sua frente. E conseguiu o que queria. A expressão dela se tornou ainda mais fechada e gelada, e ela pareceu crescer a frente dele... pela primeira vez ele sentiu um resquício de cosmo naquela mulher... E sentiu... medo.

- Julga-se capaz de adivinhar, mortal? Como pode ter tanta certeza de que matei tal ser?

Ela se adianta para ele, sem mudar a expressão...tão séria estava, que Mu era capaz de ver a morte próxima, rápida e indolor que ela daria a ele se quisesse...aquela mulher definitivamente tinha poder.

- Jamais poderia dar meu sangue a um mortal que desconheço.

O cavaleiro prende a respiração. Aquele tipo de fala...aquela altivez...tudo começava a fazer sentido. Claro, como não pensara nisso antes?

- Poderia ser um erro fatal para sua espécie e para os humanos. Alguns fariam tudo para ter uma gota de meu sangue, e digo-te...

Sua mão dança levemente sobre o medalhão e dentre as cores das pedrarias, o cinza parece subitamente predominar entre eles...como se escorresse por todo o objeto...

- Farão de tudo para ter isto que guarda.

- E porque esta deixando comigo?

- Porque jamais imaginarão que está com você.

Sua honesta crueldade fez Mu se arrepiar de indignação, na verdade ela não se importava se ele seria sacrificado por aquilo ou não. O que ele não tinha idéia, é que de tantos outros como ele...a mulher o tinha escolhido por saber que ele tinha plena capacidade de proteger aquele artefato. A moça então fez menção de retirar-se, andando até a “varanda” do prédio do cavaleiro. Ele estava nervoso, com medo e irritado...mas ainda assim não ousava sequer dirigir-lhe a palavra...a admiração e o respeito por ela eram maiores que qualquer outro sentimento.

- Não tenha pressa em fazer este serviço, como eu disse meu breve é diferente do seu...

- Como irei encontrá-la quando o trabalho estiver pronto?

Foi o tempo dele se virar para colocar o frasco ao lado do medalhão, sentiu uma brisa como um ruflar de asas e quando notou, ela não estava mais lá. Não conseguiu conter mais este espanto, boquiaberto correu até o parapeito, mas nada encontrou...Súbito um arrepio na espinha, o perfume de um campo florido e a voz forte e doce da mulher dentro da sua mente:

- Me encontraras sempre ao lado direito de Athena, Mu...descendente das estrelas de Hefestos...

.................................................................................

Santuário – Pós Batalhas de Hades

“Olho diretamente para a estatua de Athena no Templo do Santuário... em especial para sua mão direita. Há muito percebera, mas não tive coragem de vir ate aqui... pois sabia que ela estaria me esperando...

- Lhe disse que seria breve, descendente de Hefesto...

- Seu breve não é o mesmo que o meu...Niké”.

CONTINUA...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Esta é uma fic iniciada em 2006 de presente para uma querida amiga minha. Depois de muito tempo sem escrever, enfim estou reiniciando o processo dessa saga. Aguardem muitas surpresas!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Vitória" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.