Café, Solidão E Plástico Bolha escrita por K Blodeuwedd


Capítulo 2
Parte II: Café


Notas iniciais do capítulo

Parte II...
Agradeceria imensamente se ganhasse alguns comentários.
Sem mais delongas



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Bella bebericou o café. Estava forte, sem açúcar e quente, fez uma careta, mas continuou sua pequena tortura, decidida a se esforçar para provar um pouco mais da vida.

– Então, Isabella...- começou Edward. Era a primeira vez que se falavam, após o longo silêncio ocorrido durante o trajeto, por isso, foi cauteloso, escolheu com minucia todas as palavras que utilizaria e tentou soar seguro.

Bella fez mais uma careta, levando Edward a pensar que apesar de tudo ele nunca saberia como falar com sua amada. Visivelmente contrariado, ele parou seu longo discurso e esperou aflito, baseando-se, sem no entanto saber, em outros idiotas apaixonados que lhe precederam.

– Bella.

Percebendo o por que da careta e do desgosto, Edward riu aliviado, pegou seu próprio café e bebericou alguns goles, prolongando o momento, antes de dizer:

– Então Bella, por que exatamente quer morrer?

Ela passou a mão no cabelos e Edward perdeu-se ali, no movimento em ondas do cabelo caindo por sobre o ombro da sua amada e no modo como os dedos dela friccionavam os fios. O som dos violinos havia se extinguido, porém o som das batidas do coração de ambos passou a ser a trilha sonora, a melhor de todas, para eles.

– Decidi, por que simplesmente quis.

Edward levantou as sobrancelhas e tentou acalmar-se, afinal ele sabia que ela era sua alma gêmea, entretanto na teoria haviam se conhecido a exatos 5 minutos e esse período não era exatamente uma base para que expusessem todos os seus segredos.

– Isso não é uma resposta.

Encararam-se intensos. Incomodada, Bella desviou primeiramente o olhar, fixando-o no café e no vapor a sua frente.

– Sabe quando você sente que está irremediavelmente só?- perguntou, sem esperar uma resposta. - Eu sempre me senti assim. Bem, esta foi a primeira razão.

– E a segunda?- testou Edward.

Bella suspirou.

– Os problemas...- balançou a cabeça e riu de si mesma.- São tantos que eu nem ao menos me lembro deles.

Edward tentou permanecer quieto. Jurou para si mesmo que o faria, no entanto, assim que as palavras foram ditas teve que se manifestar.

– Se não se lembra quais são os problemas você não os tem.- conclui.

Bella não comentou a resposta de Edward. Soprou a xicara a sua frente, levou-a aos lábios e bebeu mais uma vez dela.

– Não é tão simples.- rebateu ela em dúvida, por puro reflexo. Como todo ser humano não gostava de ser contrariada e ter que responder a perguntas, não era agradável.

– Então me explique.

Bella sempre soube que suas respostas não eram exatamente satisfatórias e suas evasivas em pouco ou nada resultavam, mas como sempre, foi ingênua o suficiente para recorrer a elas. Abandonada ao seus próprios pensamentos, ela continuou bebericando seu café. Edward como um cavalheiro, respeitou o seu silêncio e tentou se concentrar nas mesas da cafeteria, seus ocupantes pouco amistosos e o cheiro inconfundível de stress impregnado em todos aqueles corpos humanos. Não houve resultados positivos, na realidade, ele se sentiu ainda pior, uma vez que, de modo doentio ele queria apenas continuar observando-a.

– Eu sei que tenho problemas, não sei quais, mas os tenho.- respondeu Bella, enquanto um Edward vencido pela própria vontade a olhava, tudo bem, olhar não é exatamente o verbo correto. Edward admirava-a, gravava todos os seus mínimos traços em sua mente, guardava-a.

Definitivamente, ele estava louco.

– Não vou pressiona-la para conseguir respostas, - ele disse, acalentando-a com o tom suave e rouco de sua voz.- se quiser falar sobre isso fale, se não, não há necessidade.

Bella o encarou admirada. Era a primeira vez em anos que alguém respeitava seu silêncio, mesmo quando o olhar contrastava com as palavras ditas. Analisou-o abertamente e perdeu um pouco o compasso de sua respiração. O homem a sua frente era incrivelmente branco, quase como uma folha de papel, e possuía cabelos bronze desgrenhados, em uma profusão de pequenos nos. “ Será que ele não tem um pente?” pensou Bella, atendo-se aos mínimos detalhes de Edward, como o modo que seus olhos verdes brilhavam ao olha-la, o modo como seus dedos acariciavam a xicara mesmo esta estando claramente fumegante, e o modo como seus olhos se estreitavam, em uma batalha claramente interna.

– Por que não quer viver?

Mais um gole de café. Mais uma careta.

– Pelo mesmo motivo que quero morrer. – a voz de Bella saiu suave, sem pressa, em um sussurro.

Ela olhou para fora, constrangida, por ser observada de modo tão... intimo e se arrependendo terrivelmente de haver devolvido tal olhar.

– Seja mais especifica.- pediu ele.

Decidida em dar tudo de si nesta ultima conversa, Bella libertou-se de tudo, medos, pesar e principalmente das amarras que a atavam a sensação de que contar seus mais íntimos segredos era algo irrevogavelmente errado. Decidida e munida de uma profusão de novas palavras, ela deixou que a verdade a tomasse pouco a pouco, sem perceber a grandiosidade do momento, e falou.

– Por que cansei, está bem? Cansei de ver meus pais em conflito, mesmo depois de separados, cansei de perder todos os meus bichinhos de estimação, cansei de estar sozinha ao chegar em casa, cansei de ir ao mesmo entediante trabalho todos os dias, cansei de sonhar com que possivelmente nunca vou ter, cansei de passar horas em filas para resolver problemas e pagar contas, cansei de olhar pela janela e encontrar um prédio...- Bella suspirou tomando folego e continuo seu desabafo para o doce estranho a sua frente. – Cansei de olhar a televisão e ser vitima de propagandas, cansei de pessoas me dizendo como devo viver. Cansei de viver a minha vida, entende?

Bella respirou fundo, fechou os olhos e sentiu as lágrimas que tinha o intuito de conter, deslizando por sua face. Cansada até mesmo do seu próprio desabafo, ela desabou. Repousou seu rosto entre as mãos na mesa e escondeu-se do olhar questionador e pesaroso de Edward. E ele apenas escutou-a, procurando adjetivos que definissem o que o rompante dela significava a ele. Absolutamente impossível. Após alguns segundos, lembrou-se da pergunta que ela lhe fez e pela primeira vez desde que a havia conhecido, pensou que a sua garota era louca... Maluca de fato. Desistir de tudo apenas por cansaço? Devido a rotina?

– Na verdade, não.- ele foi sincero, como de habito.- Nunca tive uma rotina. A proposito alguém já lhe disse que você é adoravelmente louca?

Bella sentiu-se corar. Droga, deveria estar completamente vermelha, com a face molhada e os olhos marejados. Em um estado deplorável.

– Não mude de assunto.- pediu. A voz para completar aquele pequeno desastre estava tremula e devido a isso, ela teve que se manter firme para não derramar novas lágrimas.

– Tudo bem.- ele concordou e cedendo a seus impulsos, recolheu uma das mãos dela entre as suas, afagando-a. Bella ante a atitude simplória, porém carinhosa de Edward permaneceu estática, evitando até mesmo respirar. – Entendo que deseja morrer por que está cansada, mas creio que você se esqueceu de como a vida pode ser boa. Por exemplo: lembra-se do brilho das estrelas, do barulho da chuva, de como é sentir-se gargalhando, da textura da grama e do gosto de um beijo?

Edward sabia que estava falando demais. Não pode-se deter, entretanto. Queria ver a reação dela, escuta-la, pois faria tudo para mantê-la viva, para mantê-la apenas ali, falando com ele, esquecendo-se da ponte e das águas do rio Piscataqua.

Escutando as palavras dele, ela se sentiu um pouco mais calma, afinal Edward estava falando clichês bem conhecidos por ela. Neste caso ela sabia exatamente o que responder, sabia até mesmo como calcular as reações que teria dele.

– Aqui as estrelas não brilham tanto, - levantou a cabeça, mantendo sua mão na dele, e fixando nelas também seu olhar.- a chuva cai, mas eu só escuto buzinas, a cidade pulsando. Quanto as gargalhadas, elas me dão dor de cabeça, e a grama, eu me lembro muito bem da sensação, andei um ano descalça.

Surpreso, Edward soltou a mão de Bella, levantou seu rosto, deliciando-se com o toque, e observou-a. Chocado percebeu que aparentemente ela dizia a verdade. O rosto corado, a face molhada e todos os outros indícios de sofrimento, no entanto, foram os fatos que mais lhe impressionaram, infligiram-lhe dor.

De um Edward atônito a um Edward sofrido. Suspirou, soltou a face de Bella, e tentou encontrar mais motivos para que ela permanecesse falando.

– Por que andou um ano descalça?- perguntou.

Ela riu.

Bella deveria ser um paradoxo, ria, mesmo que estivesse triste, no entanto, aparentemente o ato a levava a ter dores. Permanecia ao lado de um desconhecido contando-lhe o que parecia um mal de alma. Bebericava um café que aparentemente odiava, sem disfarçar o desgosto.

– Por que como você insinuou, eu havia me esquecido da textura da grama.- dizendo isso, ela afastou-se dele, se abaixou e retirou um par de sapatilhas pretas, suas prediletas. Levantou-se e as depositou na mesa.

Edward olhou-a assustado. Uma alma-gêmea aparentemente maluca para um homem igualmente estranho, uma surpresinha do senhor destino, para variar o seu dia.

Em sincronia, ambos olharam o par que repousava na mesa, como um pedido, e riram. Bella esqueceu-se das afirmações anteriores e Edward comparou o ocorrido a Cinderela. Definitivamente, eram perfeitos um para o outro.

– E quanto aos beijos?- perguntou Edward, parando abruptamente suas risadas.

– Meus relacionamentos não duram muito. Não gosto que me toquem.- explicou Bella soando seria.

Mais uma surpresa. Quando ele iria aprender que não deveria se surpreender?

– Por que?

– Não gosto que invadam meu espaço pessoal. – respondeu.

Bella estava constrangida pelo rumo que a conversa tomava e pelos olhares que atraia para si, estando a plenos sorrisos com um desconhecido, lindo, mas ainda sim um desconhecido.

– Por isso vai se matar?- insistiu ele.

Ignorando-o, ela se levantou, se deliciando com o chão plano e grudento em que pisava.

– Quantas horas?

Seguindo o exemplo dela, Edward se levantou e segurou-a pelo pulso, implorando mentalmente que ela ficasse.

– Vai para a ponte? – retrucou, sabendo que se a resposta fosse positiva ele não respondia por suas reações.

– Quantas horas?- repetiu Bella, estressada pela primeira vez com a proximidade.

Edward a contragosto, olhou o relógio analógico que estava na parede da cafeteria atrás de Bella e respondeu:

– Sete.- afagou o pulso que estava em sua mão, surpreendendo-se ao ver que os pelos dela se eriçavam ao seu toque.- Eu acho que você e eu vamos ficar juntos, por favor me deixe convence-la a viver. – Bella corou novamente e tentou livrar-se do aperto em seu pulso. Bateu-lhe com a outra mão e tentou andar, tudo em vão.- Por favor. Juro que te levo novamente para a ponte as 9. Só...Por favor.

– Não acredito em amor a primeira vista.- declarou Bella, olhando-o nos olhos.

Tinha suas próprias ideias que lhe bastavam, não precisava das dele a respeito de amor a primeira vista, entretanto elas estavam tão longe, talvez nem ao menos haviam escutado a conversa.

– Eu acredito, mas isso não vem ao caso agora, já que deseja morrer.- Edward suspirou. – Vem comigo, dê apenas uma chance.

Sem saber por que, Bella estava tentada a aceitar. Era apenas uma chance. Uma única chance. Poderia ser bom, não poderia? Os últimos e poéticos sims, para a vida e um desconhecido galante. Talvez ele estivesse certo. Em meio ao conflito interno de Bella, Edward sorriu, sabendo-se vencedor da batalha. E foi assim que ela descobriu que afinal de contas, poderia dizer sim.



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Notas finais do capítulo

Próxima parte vai depender do meu animo. Entretanto, porém e todavia, não vai demorar tanto por ser uma one-shot. Estou programando mais duas partes apenas, para quem deseja saber.
E agora a pergunta que não quer calar: gostaram?



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