With A Little Help From My Friends escrita por Shorty Kate


Capítulo 2
John e Paul conhecem-se


Notas iniciais do capítulo

Obrigada pelo incentivo para continuar. Devo dizer que por mais à nora que tivesse começado isto, agora já tenho um objetivo traçado. Já sei as voltas que isto tudo vai dar e espero que continuem a ler.



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25 de Setembro de 1949

Pela mão de Sally vinha mais um. Era assim, não deveria haver um dia em que uma criança nova não entrasse por aqueles portão vermelho, já enferrujado e velho. Mas este era diferente; Sally trazia uma pequena mochila por isso este não era abandonado.

O pequeno caminhava chutando os cordões desapertados dos sapatos castanhos. Sally baixou-se ainda antes de entrarem no portão e apertou-os. Todos gostavam da Sally porque ela era a única pessoa simpática naquela instituição. Ela então levantou-se de novo e o garoto agarrou na mão dela. Era o medo natural de todos. Nunca nenhum se habituava a entrar ali. Muitos entravam e só saíam quando ficavam maiores de idade e eram obrigados a viver sozinhos.

Mas Sally achava que este garotinho não ia ser um desses casos. Não tinha sido criança de rua, era ainda relativamente novo e era extremamente educado. Vestia uma camisa axadrezada castanha e branca metida para dentro de uns calções também castanhos que lhe davam pelo joelho e tinha uns suspensórios cuja alça do lado direito caía-lhe pelo ombro abaixo. Assim que ele entrou no portão, passou a ser mais um.

O menino começou a olhar para todos os lados enquanto Sally o levava para o gabinete do diretor e todas as outras crianças o olhavam e comentavam. Lá fizeram-lhe um monte de perguntas e disseram que o médico o iria ver nessa noite e fazer um relatório médico. Depois foi-lhe pedido que esperasse do lado de fora do gabinete. Ele sentou-se na cadeira, balançando as pernas e olhando o céu atrás da janela. Lá dentro, Michael South, o diretor do orfanato perguntava a Sally se o processo daquele garoto poderia ser posto na pilha dos possíveis candidatos a adoção. Sally respondeu que sim sem hesitar.

Saiu e chamou o menino. Subiram até ao primeiro andar, sombrio e cheio de humidade e infiltrações nas paredes. O piso resumia-se a portas que davam acesso a quartos. Sally abriu uma delas e o pequeno entrou a medo. Havia quatro beliches naquele quarto que cheirava a mofo e o menino jurava ter visto uma barata correr e esconder-se debaixo do único guarda-fatos. Ele ficou com uma das camas de baixo e Sally deu-lhe um cobertor, mesmo sabendo que na manhã seguinte ele já não o teria. Disse-lhe então depois que fosse para o pátio para conhecer outras crianças.

Um círculo juntou-se à volta dele, rindo, comentando, tocando-o. Ele tentou que todos se afastassem quando um rapaz, apenas dois anos mais velho que ele, parou em frente a ele. Os cabelos do mais velho pareciam quase loiros com o reflexo do sol desmaiado de Outono.

–Deixa-me passar, por favor. – O mais pequeno disse.

O maior riu e comentou. – Bem-educado ele, uhm?

Todos os outros riram e o garotinho entendeu que aquele que estavam em frente era como que o líder dos outros. O pequeno tentou contorná-lo mas o maior deu uma passada para o lado e bloqueou-lhe a passagem, tendo os braços atrás das costas.

–Não passas! – Ele gargalhou, gozando.

–Passo sim! – E ao dizer isso empurrou o maior e caminhou. Todos os miúdos largaram um “uh” com a atitude do miúdo.

–Hei, - O grande deitou-lhe a mão no ombro e fê-lo virar-se. – como te chamas?

–Paul. – Ele disse a medo. Ele estava à espera que todos se juntassem para lhe bater.

O mais velho manteve uma atitude séria, mas depois riu e disse. – Sou John. – Ele tinha ficado impressionado com a coragem de Paul ao enfrentá-lo. – Vem daí. Sabes jogar ao berlinde?

Paul não deixou que lhe repetissem o convite e correu, deitando-se de barriga no chão terroso, jogando com John e os outros. Ele tinha acabado de ser aceite no grupo, e iria criar uma grande amizade com John. O dia estava quase no fim e quando todos ouviram as portas do primeiro piso abrirem-se souberam que era hora de jantar.

–Anda logo se não ficas com o pior da comida! – John berrou puxando Paul por um braço enquanto corriam entre os outros.

De alguma forma, ele engraçou com o miudinho, coisa que nunca tinha feito antes com qualquer outro. Só tinha tido um amigo, Stuart, que tinha sido adotado à quase um ano. Desde então, e já nessa altura com Stuart, costumavam espicaçar os recém-chegados. Mas Paul era diferente, de alguma forma.

John não era dos mais velhos do orfanato, mas isso dava-lhe estatuto suficiente para empurrar os mais pequenos que ele. Atropelou uns quantos deles e correu para pegar um tabuleiro. Logo atrás dele apareceu um outro rapaz que deu uma palmada nas costas de John e se juntou a eles. Paul carregava o tabuleiro com dificuldade e tropeçou. Espalhou a comida por todo o chão e levantava-se embaraçado enquanto todos que tinham visto se riam.

Uma mulher dos seus cinquenta anos, bem rechonchuda, de lábios pintados de vermelho vivo e os olhos esborratados com sombra azul deu-lhe uma esfregona para a mão, berrando. – Quero isso tudo limpo!

Paul ficou a limpar o chão como sabia sob o olhar atento dela, de mão na cinta. Depois devolveu-lhe a esfregona e perguntou. – Posso ir buscar comida agora?

A mulher soltou uma alta gargalhada. – Filho, estragaste, agora não há mais!- Ele olhou a barriga; o pequeno estômago de Paul roncou com fome, mas ele obedeceu.

–Hei, Paul, - John acenou no ar para que ele o visse. – vem para aqui. – Paul correu até ele e o outro rapaz que tinha visto quando pegavam na comida e sentou-se ao lado deles. John pegou a tigela com um pouco daquilo que a cozinheira chamava sopa e colocou em frente do garoto. – Pega, come.

Paul não se fez de rogado e pegou na colher, começando logo a comer. Nem se importou que aquela sopa fosse mais água que outra coisa; a fome era demasiada.

–Paul, este é o Randolph. A gente chama-o Pete.

–Então, - Pete falou depois de engolir a comida. – porque é que estás aqui?

Paul encolheu os ombros. – Não sei. Eu estava com o meu amigo George na rua enquanto os meus pais não chegavam quando aquela senhora chamada Sally me foi buscar e me trouxe para aqui.

–Eles não vão voltar mais. – Paul não entendeu o que Pete quis dizer com aquilo e continuou a comer. – Eles morreram, miúdo! – John pontapeou Pete debaixo da mesa. – Que queres, Lennon? Ele tinha que saber algum dia!

–Não ligues, Paul. Quando ele nasceu uma enfermeira deixou-o cair e ele bateu de cabeça mesmo no chão!

Paul gargalhou, mas perguntou inocente. – A sério?

–Não, mas não acredites muito no Pete. Ele é mentiroso! – John riu enquanto Pete o empurrava. Depois o outro desistiu, não o conseguindo deitar abaixo da cadeira. – Então, Paul, quantos anos tens?

–Tenho sete anos. E tu e o Pete?

–Eu tenho nove e o Pete ainda só tem oito! – John deitou a língua de fora para aferroar ainda mais Pete que estava zangado.

Eles continuaram a falar e quando acabaram de jantar dirigiram-se ao quarto. Paul tinha ficado no mesmo quarto de John e Pete, juntamente com outros cinco rapazes que ele ficou a conhecer: Michael, Cole, Joshua, Matthew e Thomas, ficando no beliche de baixo deste último. Assim que apagaram as luzes, Thomas saltou do beliche e puxou o cobertor de Paul. Cole veio também a correr e puxou-lhe o lençol.

Paul tiritava de frio, encolhido, agarrando os joelhos contra o peito. Esperou que todos adormecessem e levantou-se indo até ao beliche que o John partilhava com Pete. – Que foi? – John resmungou com sono ao ser abandado.

–Estou com frio e eles levaram-me o cobertor. – Ele sussurrou.

–Eu disse-te para segurares bem o cobertor, não disse? – John virou-se outra vez, mas Paul abanou-o de novo. – O que é que queres?

–Deixa-me dormir contigo.

–Tu sonhas ou coisa do género? Vai para a cama e dorme!

–Mas eu estou cheio de frio! – Paul choramingou, esfregando as mãos nas pernas e nos braços.

John bufou e arrumou-se na cama, levantando o lençol. – Chato!

Paul deitou-se de barriga para cima e cobriu-se até ao pescoço, não se mexendo. John virou as costas para ele e acomodou-se para dormir.

–John?

–Uhm…?

–Aquilo que o Pete disse era verdade? De os meus pais terem morrido?

–Cala-te e dorme! – John estava a poupar o rapaz da verdade, mas Pete tinha razão. Mais cedo ou mais tarde ele teria que saber.




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Notas finais do capítulo

Tive que deixar uma foto destes dois adoráveis meninos.
Espero que continuem a comentar...