09 - White as Snow

Acordei com uma música alta e extremamente animada nos meus ouvidos. Conhecia aquela música de longe, óbivo. Love Scream Party, da SuG, meu toque para mensagens. Me revirei algumas vezes na cama antes de esticar o braço para pegar a budega do celular. Três horas da manhã e alguém estava me mandando mensagem. Quem ousa... ? Peguei-o, fiquei cega por alguns minutos por causa da luz da tela do celular, blá blá blá... Depois que a cegueira passou, consegui ler o que estava escrito bem no meio da tela.

43 mensagens não lidas

Hã? OI?

Como assim?

Eu estou a um dia na cidade e já tenho 43 mensagens? Respirei fundo e abri a caixa de entrada. Deveria saber que ia dar nisso. Na verdade, tinham apenas doze mensagens. O resto se dividia entre mensagens da operadora e avisos erros em mensagens enviadas. Comecei a ler as mensagens restantes.

" Momo? Já acordou? "

Essa era do Kyle.

" Momo! Cadê você? "

Outra do Kyle.

" Hey... Acho que fiz uma pequena merda. "

Mais uma do Kyle. " Merda? Que merda? " pensei.

" Me descuuuulpe! Eu acabei deixando escapar o número do seu celular pro Clyde. Sinto muito, muito mesmo. "

Quem é Clyde?

Fui passando as outras mais rapidamente. Todas eram do Kyle me implorando perdão. Eu não tinha entendido nada, mas ok. A última era de um número desconhecido. " Hm... Deve ser desse tal de Clyde ou coisa do gênero ". Dei de ombros e abri a mensagem.

" Oi, Miyuu. Já tá acordada? Peguei seu número com o Kyle. Bem... Você tem companhia pra ir pra aula hoje? Não que seja necessário... Mas se quiser ir comigo... Me dá um toque. "

Espera.

Espera, para tudo.

Eu só conheci quatro pessoas ontem. E só um deles me chama de Miyuu.

KENNY?!! O ALOIS?! ME MANDANDO MENSAGEM?! É O QUÊ?! HÃ?!

Acalme-se, acalme-se.

Bufei mais uma vez e vi o tempo no relógio. Ele tinha mandado a mensagem já tinham se passado... Menos de 5 minutos? A mensagem que tinha me acordado era a dele. Nem precisei fazer os draminhas de garotinhas adolescentes normais. Respondi a mensagem no mesmo segundo.

" Ken? Ah, oi. Não tem problema, hehe (^ ^). Tudo bem então, vamos juntos :3 Eu tenho algumas coisas para fazer aqui, então... Me liga seis e meia? "

Foda-se o exagero de emoticons, foda-se tudo. Enviei, taquei o celular no outro lado do quarto. Soltei um longo suspiro e olhei para a janela. Estava nevando de novo. Bem que os garotos disseram que é normal... Mas ok. Me levantei, fui até o pequeno banheiro perto do meu quarto e fiquei ali, parada, encarando minha própria imagem refletida no espelho. ” Tá bom, Momiji, chega de enrolação “ pensei “ Se for pra fazer, faça logo “.

–--...---

– Ah, bicha!

Sim, eu gritei por causa do celular que tinha vibrado. Sim, sim, isso foi muito gay. Eu estava viajando, não tive culpa. Ou melhor, estava reavaliando o quão idiota eu sou. Já saí com muitas garotas nesse meu curto tempo de vida, sei como elas ficam putas ao serem acordadas de manhã cedo, principalmente nesse frio terrível de South Park. Elas conseguem ser mais assustadoras que o Stan cansado. Agarrei o aparelho e abri a caixa de entrada. Miyuu tinha me respondido! Yey! (de novo, isso foi muito gay). Sentia minha sombrancelha se levantar a cada palavra que lia naquela mensagem. Em momento algum, ela parecia estar irritada. “ À esse ponto, ela já deve estar querendo me queimar vivo... ” pensei, deixando o celular em um canto qualquer. Pelo menos ela aceitara meu convite. Talvez isso seja um sinal de que não vou conseguir chegar vivo na escola ou coisa do gênero. Claro, ficar sem sono e mandar mensagens para incomodar os amigos às três horas da manhã é normal mas... Quando essa pessoa é uma garota, a coisa muda de figura. Principalmente se for mais ou menos da minha idade, aí fica foda. Miyuu disse para ligar às seis e meia... Ela ia ficar se arrumando até lá? Nossa. Soltei outro suspiro e olhei para a estante na parede, perto da porta do quarto. “ Tenho três horas e meia... ” pensei “ Por favor, um pouquinho só não mata ”. Me levantei da cama e comecei a remexer a estante. Revistas pornográficas, video games, revistas pornográficas, cartuchos velhos, livros aleatórios, mais revistas pornográficas... “ Ah, finalmente ”. Percebe-se que eu não queria ler putaria. Pessoas amadurecem, perdem alguns costumes dos velhos tempos. Meus amigos ficaram impressionadíssimos quando passei perto de uma seção pornográfica na livraria e nem sequer dei uma olhada. Ainda as leio de vez em quando, mas não é que nem antigamente. Agora tenho outros interesses.

Sentei na cama e tirei meu copo de metal lotado de lápis debaixo da cama. Apoiei meu caderno no colo. Ele era o que, se eu fosse menina, chamaria de... Meu bebê (nossa, isso soa mais gay do que eu pensava). Para a maioria das pessoas, aquele era só um caderno largo de capa preta comum, nada demais. Para mim não. Ele era mais do que isso. Meu caderno era especial. Quando eu começava a rabiscar nele, era uma das melhores sensações que poderia ter. Colocar alguma música no fundo, apagar a mente e deixar o lápis correr sozinho pela folha, e só ver o resultado no final. Era bom demais. “ Três horas e meia... Dá perfeitamente ” pensei “ Vamos ver no que vai dar ”.

–-...--

– AH!

Porra. Tenho que parar de levar esses sustos repentinos. Larguei o lápis e me virei para o relógio na mesinha de cabeceira. Seis e vinte e nove... Espera, SEIS E VINTE E NOVE?! Merda, tinha esquecido de ligar para a Miyuu. Que bosta... Agarrei o celular rapidamente. “ É ela ”. Atendi.

– A-Alô?

– Kenny?

Fiz uma pequena pausa ao ouvir a voz dela do outro lado. Parecia mais doce que o normal.

– Oi... Miyuu...

– Esqueceu de me ligar, é?

– Desculpe... Eu estava... É, desculpe.

– Tudo bem. Já terminei o que tinha que fazer.

– Ah, então tá. Eu vou passar aí e...

– Ken, vira pra trás.

Não entendi de primeira o que ela quis dizer mas mesmo assim me virei. Tinha uma janela na parede. Tinha acordado um pouco lerdo, então demorei alguns segundos para perceber que eu tinha que olhar pela janela. Lá embaixo, vi um pequeno ser de cabelos longos, olhando para mim com seus olhos lilases cintilantes e acenando com um sorriso no rosto. Não conseguia acreditar no que estava vendo. Se não fossem pelos olhos, eu não a teria reconhecido. Aquela garota com a franja separada e cabelos castanhos... Tinha sumido de um dia para o outro (literalmente). A criatura lá embaixo possuía cabelos brancos, que chegavam a se misturar com a neve, e uma pequena franja na testa, cobrindo as sombrancelhas também brancas. Não tenho palavras para descrever o quão linda ela estava, francamente. Coloquei o telefone no ouvido novamente.

– Ei, você está vivo?

– Hn? A-Ah... Sim, eu...

– Então desce!

– T... Tá bom...

Rapidamente, guardei o caderno na mochila e saí correndo em disparada. Freei em frente à ela, que me olhava com um semi sorriso no rosto. Momiji levantou uma sombrancelha.

– Oi, né? – Riu ela – Que foi? Está tão estranho assim?

– N-Não, é que...

– Não tem problema. Pode ser franco comigo.

Ela deu alguns passos na minha frente, e eu dei uma corrida para alcançá-la. Como assim, feio? Ela estava realmente linda com aqueles cabelos brancos, e ainda insistia que era feio?

– Nossa, Miyuu... Esse... Esse cabelo é mesmo seu?

– É sim... Não acredito que esteja tão feio as...

Aí, eu não suportei. Não conseguia entrar na minha cabeça que ela poderia achar aquilo feio. Não ia aguentar... A garota parou alguns passos à minha frente, e então retornou uns dois ou três passos.

– O que foi, Ken? Por que parou de rep...

– Miyuu. Não diga isso de novo.

– O-O que?

– Por favor. Não diga isso novamente.

–-Continue--