Absinthe escrita por Moira Kingsley


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Desculpem se tiver erros...



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Fazendo desenhos aleatórios em uma poltrona com seus dedos, Apolo parecia estar em outro mundo. Estava usando uma camisa polo preta, com listras horizontais em branco. Uma calça e tênis sociais. O estilo playboy e mauricinho sempre foi mais o seu tipo.

No que ele estava a pensar? Na guerreira selvagem que ocupava o quarto 975º. Mais precisamente, em uma memória. Em uma noite, em seu quarto. Um beijo. Simples, mas marcado pelo calor que a tanto aflorava por Ártemis. Balançou a cabeça em frustração quando se lembrou da proeza que foi não agarrá-la em seu quarto.

Não sabia realmente em que exato momento a desejou pela primeira vez. É certo que passou anos tentando esquecê-la e vê-la como somente um de seus caprichos por mulheres impossíveis. Mas ele sabia. O sentimento por Ártemis era muito mais complexo e completo do que tal teoria. Apolo tinha convicção do nome de igual sensação íntima. Entretanto, não ousava pensar naquela palavra de quatro letras que fez até Tróia cair.

Isso o martirizava. Ah, como odiava sentir aquilo. Ser um tolo apaixonado devia ser sua sina. A maldição de ansiar por alguém inatingível sempre o perseguia. Mas a solidão abrigava-se em seu peito. Não importava quantas mulheres ele conseguia. Nenhuma o satisfazia. Porém, estava disposto a continuar nesse jogo de sedução não importasse o que falariam até conseguir alguém que o fizesse apagar Ártemis do coração.

É claro que não poderia dizer que sua vida e reputação de mulherengo eram um transtorno. Pelo contrário. Afinal, ele era homem. Mas chega um momento da existência que é quase impossível de continuar sem alguém especial ao seu lado. Pelo menos, ele pensava assim.

Olhou para o lado, onde pode ver uma parte da recepção do Plaza. Recordou sobre mais cedo. Afrodite, com toda certeza, estava por trás daquilo. Um truque muito usado por ela em seus planos amorosos. Ele conhecia bem, já que em alguns deles, ele próprio a ajudou.

Sim, Afrodite sabia. Ela era a deusa do amor, tinha faro para isso. Além de que, os dois se entendiam bastante e eram amigos, de modo que a ruivinha percebeu rapidamente. Todavia, no que estava pensando? Queria matá-los? Pois era isso que aconteceria se Apolo e Ártemis ficassem juntos.

“Pelos céus, por que teve que fazer aquele maldito juramento?” Fechava sua mão em um punho pelo pensamento. Mas, se não poderia tê-la como tanto imaginava. Achava que se contentaria com a sua amizade. Porque mais um dia sem receber um carinho, pelo menos, fraternal de Ártemis o trazia angústia.

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Seus cabelos quase brancos estavam sendo penteados com destreza e um pouco de força bruta, pois estava exaltada. A barra do seu vestido cor de lavanda remexia-se nas coxas com o pentear. Via-se no espelho enquanto isso, refletindo sobre a intimação de Apolo.

Mas ela iria. Não por ele, ela negava. Estaria na boate pela simples curiosidade de descobrir como era lá. Nunca tinha ido para lugares mortais assim. Tinha suas festas com as ninfas e outras pelo Olimpo. Entretanto, cuidar de seus bosques e caçadoras era mais importante do que visitar o mundo mundano e suas orgias.

Vestiu uma jaqueta de couro e algumas pulseiras no pulso e seu coturno negro lustroso e bem engraxado. Olhou pela última vez seu reflexo, arrumando seus cabelos sedosos e pondo um batom do tom de sua pele para ter toda a atenção nos olhos esfumaçados e com boas camadas de rímel.

- Espera! O que você está fazendo? – Perguntou-se surpresa. Naquele momento, reparou que estava se embelezando para alguém. Aquilo a fez chocar-se e, rapidamente, parou o que estava fazendo. Correu para a porta e em seguida entrou no elevador antes que se arrependesse de ir.

Nas escadas para o saguão principal, passeava seus olhos ao redor, a procura do deus. Já no fim da escadaria o avistou se levantando de uma das poltronas espalhadas pelo salão, aproximando-se com um leve sorriso.

- Nossa, demorou, mas você está linda! – Disse aproximando-se demais. Ele pôde sentir o aroma de seu perfume inundar seus pulmões. Adorava os vestidos curtos de Ártemis e suas longas e esguias pernas.

- Hum... Isso? Peguei a primeira coisa que vi... – Murmurou tentando soar despreocupada. – Então, vamos?

O táxi parou na 39 East 58th St. Junto a um restaurante italiano de mesmo nome, o Lavo NY era uma boate que ficava no andar de baixo do estabelecimento. Pela janela do carro, Ártemis pode se entreter com figuras sofisticadas e descoladas. Era um domingo e a fachada do local estava amontoada. Ao contrário do que parecia, a multidão praticamente deu espaço a dupla que chegava.

- Você já veio para cá? – Perguntou Ártemis reparando nos olhares sorrateiros.

- Sou VIP. – Afirmou como se tivesse visto Ártemis pela primeira vez.

O brutamonte de terno na frente da porta giratória do local parecia reconhecer Apolo, pois em questão de segundos os dois passavam de fora, para dentro em um corredor meio escuro. A vibração da música já podia ser sentida. Parecia que as paredes sacudiam dançando ao mesmo compasso.

Uma escada os levou até uma grande porta cinza, que ao ser puxado, inundou seus olhos de cores dispersas. O tom de roxo era mais visível, apesar de às vezes a iluminação mudar para vermelho ou amarelo abruptamente e incessantemente. O som fazia suas orelhas virarem tambores, tangendo.

O globo, enfeitado com lantejoulas, rodava em translação pondo uma pálida luz no centro da boate. Corpos se debatiam em uma espécie de dança maluca. O aspecto do local continha um ar de cabaré. Revestido de veludo, o vinho preenchia as paredes dando ao ambiente um toque de luxúria. Mulheres com roupas pequenas e curtas, com suas meias arrastão dançavam em miúdos palcos espalhados pelo Lavo NY. E lá atrás, pessoas tiravam fotos de um DJ famoso que estava a dedilhar discos com seu mega fone pendurado no pescoço.

Ártemis se encolheu instintivamente. Era abrupto demais, não estava acostumada. Não queria se conter daquele jeito, todavia, o fazia indiretamente, pois a cada relance da boate avistava pessoas coladas, em uma dança extravagante e envolvente e, outras, beijavam-se sem pudor algum.

- Fique perto de mim, ok? – Falou Apolo exaltando a voz por conta da música muito alta.

Eles foram devagar passando pelas pessoas, que se sacudiam e falavam alto demais, até o bar. Sentaram-se em duas vagas banquetas cromadas em preto. Apolo se virou como se estivesse à procura de alguém.

- Quer dançar?- Ele inquiriu vago. Ártemis o fitou e então olhou para a pista de dança. Aquele bacanal definitivamente não era o seu tipo de lugar. Mexeu a cabeça negativamente. E ele só deu de ombros e simplesmente saiu em busca de algo pela boate. A deusa o seguiu pelo olhar e revirou os olhos quando descobriu que não era algo que estava a procura e sim, alguém. Na verdade, só foi ele pisar na pista de dança que as pessoas começaram à o rodear e chamá-lo por seu nome mortal. Depois de perdê-lo de vista, limitou-se a olhar as garrafas de bebidas alcoólicas penduradas na parede, cuidadosamente na frente de espelhos. Até o bar man a perguntar se desejaria algo para beber. Ártemis olhou para os lados e só o que enxergava eram garrafas de cervejas, e drinks esquisitos.

- Hum... Será que você tem algo sem álcool, ou gordura? – Perguntou se inclinando para não ter que gritar.

- Tenho uma coisa perfeita para você. – Falou enquanto pegava um copo no balcão e se virava para abrir um frigobar debaixo do mesmo patamar. – Aqui está! – Exclamou com um sorriso irônico colocando uma garrafa de água a frente de Ártemis e indo atender outras pessoas.

Sentia-se um tanto desconfortável ali. A música eletrônica podia estourar seus tímpanos a qualquer momento. Não encontrava Apolo em lugar nenhum. Mas não iria ficar o procurando pela boate cheia. Ficaria ali mesmo.

- Está sozinha? – A voz veio de um cara falando ao pé de seu ouvido. Ela estremeceu quando pode sentir o cheiro repugnante de álcool vindo do hálito de um homem de escleras vermelhas. Sua camisa estava suja de bebida e o cabelo, um tanto desgrenhado.

- Infelizmente, não mais. – Comentou olhando para frente, dando um gole no copo com água.

- Posso te acompanhar na bebida, princesa? – Sentou-se de uma forma desajeitada no banco, pegando o copo de Ártemis e provando da bebida. – Água? – Perguntou um pouco surpreso.

- Sim, não bebo mais... – Disse forjando simpatia. Aquele ser estava sendo atrevido. – Sabe, daqui para frente não posso beber. – Enquanto ela falava ele tomava mais uma golada. – Por causa do coquetel contra AIDS. – Comentou com um sorrisinho, fazendo-o cuspir a água na mesma hora.

Ela aproveitou para escapar do homem idiota e foi em direção ao toalete. Entrou no ambiente feito de mármore, paredes de pedra calcária e o chão era de um polimento suscetível. Escorou-se em uma das pias do banheiro, estava enfadada e entediada. Umedeceu as mãos e lavou o rosto. Em seguida pôs suas mãos em seus cabelos cãs, os pondo para o lado. Preparava-se para sair do estabelecimento de vez. Boates eram um saco.

Todavia, escutou soluços abafados. Curiosa, seguiu o som das lamurias. Na última cabine do banheiro, encontrou uma garota com os braços envolvendo a privada de louça.

- Por que está chorando? – Questionou pondo uma mão no ombro esquerdo da menina debruçada na latrina. A garota, que tinha cabelos com mechas californianas, respondeu em uma mistura de voz fina e escandalosa, embrulhada com um choro.

- O quê? – Perguntou Ártemis com uma careta, pois não tinha entendido nada da garota gasguita que falava demasiado rápido pelo nervosismo.

- Eu disse: “Ele disse que me amava”. O Peter... Meu namorado... Quer dizer, nem sei mais o que ele é! – E verteu lágrimas desesperadas.

- O que aconteceu? – perguntou se agachando, para ficar ao seu lado.

- Me traiu! Acredita?! Três anos me enrolando! Íamos nos casar... Mas ele me traiu. Aquele estúpido! – Brandia ela.

- É por isso que está chorando? – Inquiriu compreensiva.

 – Não! É porque eu ainda amo aquele traste! – Ártemis não podia acreditar que, depois do que o homem mortal fez, ela ainda nutria sentimentos por ele. Era seu dever fazer alguma coisa.

- Qual é o seu nome?

- Sandy. – Respondeu fungando o nariz.

- Sandy, homens são uma raça maldita. Alimentam-se de ilusões amorosas e são um atraso de vida! Você deveria esquecê-lo e dar graças pelo reembolso de sua liberdade. – Ditou com convicção. Por um momento, Sandy ficou hipnotizada, em seguida seu rosto tornou-se verde. Ártemis somente teve tempo de dizer uma “Opa!” e se afastar agilmente antes dela se virar e vomitar no sanitário ao qual estava abraçada.

- Sandy! – Gritavam umas duas garotas em coro que entravam no banheiro naquele momento.

- Hum...acho que ela não está bem. – Murmurou apontando para o último cubículo. As garotas recém-chegadas foram em direção a Sandy. Uma segurava seus cabelos para que não os sujasse com aquele líquido espesso nojento.

- Sandy, o que foi? Procuramos você por todo canto, amiga! – Perguntou a outra, com as mãos na cintura. Tinha cabelos muito ruivos e curtíssimos. Seus brincos grandes chacoalhavam enquanto falava.

- Ah, eu só estava falando aqui com a minha nova amiguinha. A... Como é mesmo o seu nome? – Disse engasgado antes de voltar para o vazo.

- Caroline. – Ártemis replicou com seu nome mortal, tentando não olhar a cena.

- Desculpe Caroline. Eu sou a Meg e essa é a Carly. – Apresento-se uma garota que parecia ter vinte e poucos anos, estatura mediana e cabelos negros. A nossa amiga está passando por um momento muito difícil. – Comentou a garota que estava a ajudar Sandy.

- Sim, ela me contou. Um bastardo a traiu.

- Nós a fizemos vir até aqui com muito esforço. Pensávamos que assim, iria melhorar dessa depressão. – Disse a ruiva magérrima.

- Pois é, mas o problema é que ela insiste em gostar dele. Sandy... Achamos que você iria superar vindo aqui.

A moça de mechas californianas voltou a sua cor normal e ergueu-se com a ajuda das amigas. Lavou-se e as quatro decidiram sentar juntas em um dos acentos que rodeavam a pista de dança. Antes disso, Sandy parou para pegar algumas bebidas.

- Ah, não. Eu não bebo. – Negou Ártemis com a mão após Sandy oferecer-lhe um drink com um guarda-sol rosa pendurado.

- Vamos lá. Precisamos de animação! – Ártemis olhou novamente para o copo estendido a sua frente. Bem, se isso tornaria as coisas mais divertidas...

- Tudo bem. Talvez um pouquinho não faça mal, afinal de contas.


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Notas finais do capítulo

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