Absinthe escrita por Moira Kingsley


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Sim, eu não morri! ~Coro dos anjos~ O capítulo 9 está aqui!!! Aproveitem (se ainda tiver alguém que queira ler essa fic, claro...).



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As luzes do recinto se moviam de modo cadenciado e volúvel, de maneira mais intensa para os olhos de Ártemis. Como ela estivesse girando na cadeira fincada ao chão da boate. Suas órbitas adquiriram um tom meio rubro pela embriaguez. O drinque enfeitado pelo pequenino guarda-sol fez a deusa ter a impressão que as batidas que o DJ proporcionava estavam mais ensurdecedoras.

Era seu quarto copo de álcool junto a um corante de sabor artificial limão. Carly, Meg e Sandy estavam ainda mais embriagadas, já que mortais são mais suscetíveis e fáceis de embebedar que deuses. Naquele momento, as três mortais riam por tudo. E Ártemis começou a ditar uma palestra com gestos tortos pelos drinques.

- Meninas, homens são patifes indecentes. Macacos são mais respeitosos e educados que eles! Por que toda mulher, com metade do cérebro funcionando, não odiaria os homens? – Perguntou ela como se falasse a coisa mais óbvia que existisse. Porém, ao perceber os olhares das garotas a sua frente prosseguiu. – Não me entendam mal. Eu não estou falando que prefiro mulheres, porque, eu prefiro nada. Simplesmente optei por uma vida centrada na minha independência feminina. Vocês deveriam fazer o mesmo. – Falou com superioridade. As meninas somente acenavam positivamente com a cabeça para Ártemis, porém, estavam mais preocupadas em olhar homens charmosos que estavam no bar e implorar para eles as chamarem até a pista de dança em um apelo mental. Ao notar isso, rapidamente, Ártemis continuou a palestrar com mais entonação para que prestassem a devida atenção. – É como minha meia-irmã vive a dizer, “o sucesso profissional suprime qualquer decepção amorosa”. Por que não investir na carreira, sim? Ou, quem sabe, evidenciar sua liberdade! Vejamos... Comprar uma moto! Sim... Viajar por aí, tomando conta de seu próprio nariz, não depender de ninguém, sentir o vento no rosto, a adrenalina...

- Espera um minuto! – Exclamou Sandy engasgando com sua bebida de cor avermelhada e canudo escuro. Pôs a mão aberta no ar em sinal de pare. – É isso mesmo! – A garota sacudia-se em empolgação com um sorriso de orelha a orelha.

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Ser o centro das atenções era exatamente o que Apolo queria. Seu ego inflava a sussurros das belas mortais que enchiam seus olhos com passos voluptuosos. A confiança voltava a bater em seu peito a cada piscada de olho e sorrisos atraentes. Precisava daquilo. Dançar e preencher seu tempo com as suas conquistas era o seu milagroso remédio. Ártemis teria que sair de sua cabeça através de algo. E nada melhor que beijos em desconhecidas no escuro daquele lugar.

Poderia não ter sido muito recomendável ou gentil da sua parte, deixar a deusa para trás em qualquer canto da boate Lavo NY, porém, os perfumes de todo o tipo o chamavam desesperadamente para a diversão realmente começar. Era popular no local. Bem, e aonde Apolo não era popular?

Ártemis ficaria bem. Ela sabia se cuidar. Afinal, era isso que ela sempre dizia...

- Cale. Faz um tempo que não te vejo, hein? – A voz tentadora o convidou a se virar para avistar a quem pertencia. Tinha pele quase translucida, e cabelos loiros avermelhados ondulados na altura dos ombros. De certo, o lembrava de alguém. Todavia, não conseguia puxar na memória o nome da mulher de vestido carmim. – Sou eu, a Regan! – Falou surpresa com um sorriso, mas em seguida, moveu a cabeça em desaprovação e com um risinho comentou:

 – É bem a sua cara, Cale, esquecer o nome de quem você leva para a cama.

Regan. Seu vestido brilhava em seu corpo, destacando suas curvas femininas em um jeito vulgar. Brilhava como a cor do sangue dos mortais no breu do Lavo NY. Apolo deu uma boa olhada na mulher, não se importando de manter a elegância. Seus olhos desceram para suas pernas e um sorriso fino de malícia se formou nos lábios do deus da luz. Ele se aproximou sem cerimônia, pondo sua mão na cintura de Regan, puxando-a sem sutileza. Ela pareceu gostar, pois já envolvia o pescoço de Apolo com os braços.

Regan era fácil. O tipo de mortal que Apolo usava somente para passar o tempo. Deveria ser por isso que ele não se lembrara dela.

A música recomeçava com suas batidas agitadas. A pouca luz não impedia o deus de enxergar a fisionomia da jovem. Seu nariz era fino, com uma leve curvatura na ponta. A boca brilhava pelo gloss aplicado e pareciam carnudos. Somente os olhos eram irreconhecíveis, esses estavam cheios de glitter nas pálpebras.

Os corpos, agora colados, mexiam-se no mesmo ritmo das vibrações da boate.

Simplesmente era um sacrilégio para Apolo ver os jovens humanos desperdiçarem a vida em noites vazias, deixando os momentos mais pingentes irem embora.

Por isso admirava tanto Nova Iorque. A cidade exalava sensações aventurosas e excitantes. Gostava de andar pelas ruas próximas a Broadway a procura das mulheres com aspecto romântico no meio da multidão e imaginar que, em apenas alguns minutos, estaria dentro de suas vidas, que nem por um curto pedaço de tempo. E, mesmo que em algum período do crepúsculo na cidade, sentisse uma solidão assombrosa quando olhava o luar se esvaindo, começava tudo outra vez.

Na boate, os vultos aconchegavam e a voz cantando em seu ouvido emanava a luxúria do álcool. Apolo poderia ser doce e condescendente, mas percebeu que a mulher a sua frente não queria carinhos. Com muitas era assim, somente algo carnal movido pela bebida em suas veias, quando o deus estava em boates. Para algumas mulheres, ser gentil não quer dizer nada e somente o cheiro da bebida as tornavam desesperadas e movidas apenas pelo calor do momento.

De repente, o riso em seu cangote sobressaiu e a voz fina de Regan sibilou palavras sujas de uma forma cálida e pretensiosa.

Apolo riu consigo mesmo e, em resposta, empurrou-a vagarosamente até a parede mais próxima. Encostou o corpo espremido pelo pequeno vestido na parede ilustrada de tribais negros, que poderia ser vermelha, mas a luz dos holofotes deixavam-nas roxas como uvas frescas. As luzes dançavam com tamanha rapidez que o casal parecia se mexer como desenhos animados.

O beijo que Apolo concedeu a mortal foi quente e nenhum pouco suave. Suas mãos experientes a vasculhavam por todos os cantos no negrume do local e Regan só o fazia colar mais intensamente e provocativamente nela.

Tudo correria bem e conforme os desejos de Regan se ela não pronunciasse um nome por entre os beijos distribuídos em seus lábios entre as suas ofegadas.

Fora inconsciente, o deus podia notar, pois a face de Regan mostrou temor. As sobrancelhas dele se uniram e ele olhava para o chão, agora um pouco mais afastado da garota, tentando raciocinar.

Regan tinha dito “Apolo”. Mas como? Como ela sabia quem ele era?

Apolo a puxou pela mão com força para distante do barulho e da multidão. Parou em um hall melhor iluminado e se virou bruscamente para ver o rosto da mortal. Agora ele sabia com quem a mortal tanto o lembrara.

- Discórdia! – Cuspiu a palavra como se algo azedo estivesse em sua boca.

Os olhos dourados de Éris a incriminaram. Sua pele translúcida, quase azulada e mórbida era uma de suas características. Ela riu com escárnio de um jeito maléfico, desfazendo o temor de ser descoberta. A Senhora da Discórdia, aquela que se deleitava dos sons da agonia dos homens nos campos de batalha.

- Ops. – Sussurrou divertida, enquanto seus cabelos, antes loiros e da altura dos ombros, esticavam e estreitavam em linhas cor de sangue. Seu corpo curvilíneo emagreceu e adquiriu o tom cadavérico próprio da filha de Nix. – Justo agora que estava me divertindo... - Comentou se aproximando.

- O que faz aqui? Anda me perseguindo de novo? – O deus da luz segurava com rigidez os braços finos e ossudos da deusa.

- De maneira nenhuma. Não seja tão narcisista. Quem poderia imaginar que você estivesse aqui em Nova Iorque...

- Não sei. Só o Olimpo inteiro? – Disse entre dentes. – Todos sabiam que eu e Ártemis viajaríamos para cá. O que quer? Já não estragou toda a minha existência?

- Por que está assim tão bravinho? Não parecia com raiva lá dentro. – Apontou com a cabeça para o lado de onde a música continuava a tocar. – Você gostou da Regan? Mas se quiser, posso trocar. – Sua fisionomia agora se transformava. Seus cabelos encurtavam e se tornavam negros, sua boca afinava. – Ah, esqueci! Você prefere as loiras-platinadas, não é? – A voz transbordava dissensão. E sua boca adquiriu um tom rosáceo e cheio. Seu nariz afilava e os cabelos enchiam em ondas quase brancas. – Você gosta assim? – Perguntou com inocência.

Apolo a fitou. A face pura de alguém que não poderia nunca amar. Suas mãos afrouxaram dos braços da deusa a sua frente. E a mesma aproveitou para ficar cada vez mais perto dos lábios do deus.

- Não! Você não é ela! – A empurrou, despertando de seu breve delírio.

- Ótimo! Mas ainda vou conseguir o que quero, Apolo! – E desapareceu, deixando uma fumaça negra.

Fascinante. Só faltava aquilo! Apolo esmurrou a parede, mas ainda sim sem sua verdadeira força sobre humana. Éris em Nova Iorque... Por que aquela mulher não caia em si de uma vez!

Tentou se acalmar e clarear a mente. Teria que ser mais cuidadoso agora, pois Éris sabia ser bem traiçoeira. Apolo tinha plena certeza que veria a deusa da discórdia em breve.

Olhou para o relógio de pulso no seu braço esquerdo e decidiu que deveria chamar Ártemis para irem embora. Percorreu o caminho de volta a pista de dança e foi até o bar. Lá estava lotado, entretanto, nenhum sinal de Ártemis.

Estava começando a se exaltar, achando que algo tivesse acontecido. Ou pior, Éris podia ter encontrado Ártemis.

A única dificuldade de sair do Lavo NY foram às garotas que teimavam em chamar sua atenção. Mas, enfim conseguiu. Estava um tanto úmido lá fora e algumas pessoas fumavam e compravam bebidas. Alguns chamavam táxis ou pediam por seus carros para irem embora. Apolo esperou perto do meio-fio, sem saber ao certo o que fazer.

Odiou-se por ter deixado-a sozinha. “Deve ter ido para o hotel”, pensou preocupado. Isso não aumentava o placar de reconciliação dos dois. Acenou para um táxi que vinha. Quando abria a porta, o som de um motor potente e excessivamente alto o fez dar uma careta. Foi quando a moto verde estacionou perto do táxi que estava prestes a entrar, e a pessoa de vestido tirou o capacete escuro que a boca de Apolo se tornou um tremendo O.

- Ártemis?!

Ela era mesmo. Seu sorriso convencido enfeitava o rosto de menina. A imagem da mulher que tanto o balançava, montada naquela moto fez seus batimentos ficarem mais rápidos. Porém, não deixou isso o abater por um longo período. Bateu a porta do táxi e deixou que ele fosse embora. Dirigiu-se a Ártemis com um semblante sério.

- Como pode sair assim? Eu fiquei te procurando por todos os lugares. Se queria tanto ir embora, era só me dizer.

- Você estava muito ocupado na sua dança do acasalamento, para eu te chamar. – Falou afagando seu próprio cabelo.

- E que moto é essa?

- Uma graça, não é? – Disse a alisando. – É elétrica. Não afeta o meio ambiente e ainda é potente e ágil.

- O quanto você bebeu para comprar uma moto no meio da madrugada?

- Só um pouquinho... – Disse um pouco culpada.

- Então você está bêbada?! Olha, eu esperaria isso de qualquer um, menos de você.

- Ah, o que importa? Virou meu pai agora, é? Não é hora de bancar o irmão responsável, Apolo... Afinal, quer ir embora ou não? – Perguntou um pouco engasgada pelo efeito do álcool.

Apolo queria saber quem, em sã consciência venderia uma moto a álguem fora de sua sanidade mental e no meio da noite. Mas escolheu não se preocupar com isso.

- Sim, vamos embora. Mas eu vou dirigindo. Não quero que você mate nenhum pedestre inocente. – Ártemis murmurou um “chato” e deixou que Apolo montasse a sua frente. – Ártemis, se não segurar em mim, você vai cair. – Disse antes de dar a partida.

A deusa bufou de um modo infantil, que fez Apolo rir mentalmente, e enlaçou seus braços lentamente no tronco do deus. Aquele toque fez com que um calor aconchegante queimasse em seu peito, mas tratou de achar que fora somente o aproximar dos corpos que proporcionou, por uma forma cientificamente provada, o aquecer.

As ruas por onde passavam não estavam bem movimentadas. O que fez Apolo ficar mais tenso. Enquanto paravam por um sinal, um grito fez os dois deuses estremecerem.

- Socorro! – Aquilo foi o bastante para tirar Ártemis da moto.

- Ártemis, o que pensa que está fazendo? – Apolo gritou autoritário.

- Você não ouviu? – Perguntou a deusa incrédula já perto da calçada. – Há alguém em perigo. Vem daquele beco. – Ela apontou para um local escuro perto da rua que estava somente iluminada por um outdoor de um restaurante chinês e alguns postes de luz que não estavam quebrados. As casas não tinham aparência boa, paredes descascadas e muros pichados com maldizeres.

- Espera aí. Eu vou com você. – Estacionou a moto e correu em sua direção.

Ambos prontamente caminharam a passos largos até o apelo da pessoa em perigo. Apolo viu alguns homens a uns quatro metros de distância. Ártemis o chamou pelo ombro e se esconderam atrás de uma grande caixa de lixo verde-escura. Havia uma mulher, grávida e desesperada aos prantos e um homem esguio abraçado a ela, tentando protegê-la.

-Quantos são? – Sibilou Ártemis no ouvido de Apolo. Estavam espremidos no canto de um muro sujo, de modo que somente o deus conseguia ver a cena.

- Três ao todo. – Apolo espremeu os olhos em direção aos criminosos e viu um relampejar, cintilante e metálico. – Eles têm facas. Pelo menos, dois deles. Alguma ideia? Ei!

A deusa da luz lunar levantava-se para correr em direção aos ladrões para total perplexidade de Apolo.

- Aí, idiotas! – Exclamou a deusa destemida.

- Olha só! – Um dos homens com um gorro cutucou com o cotovelo outro para chamar atenção. – A mocinha veio dar uma de Mulher Maravilha? – Riu. - Pega a carteira dela também. – Disse mais sério para o homem alto atrás dele.

Quando o mais alto ficou a uma pequena distância dela, Apolo apareceu bem atrás de Ártemis.

- Eu fico com esse. – Estava bem perto de seus cabelos, fazendo com que, enquanto falasse, assoprasse em sua nuca. Apolo seguiu a sua frente e a deusa tirou proveito disso para ir em direção aos outros dois.

O ladrão mais alto empinou a faca para a barriga de Apolo. Mas ele foi mais ágil e pulou para trás. O ladrão, então, empunhou a lâmina do alto em direção a ele. O deus o impediu com seu braço batendo no dele com tamanha força que o fez soltar a faca. Apolo utilizou-se disso para bater em seu estômago com o joelho, o fazendo cair de dor, a segurar seu tronco em um abraço.

Ao mesmo tempo, Ártemis dava uma rasteira no primeiro que se aproximava, e correu para o que parecia o líder do trio. Ele tinha uma faca e a deusa não queria joguinhos.

- Corram! – Ela gritou para o casal e eles obedeceram muito nervosos.

Bem, pelo menos, eles estavam salvos. A careta que o marginal um pouco mais alto que ela e com a barba rala fez fora extremamente ameaçante. E em resposta a ela, Ártemis apenas riu em deboche.

- Vou arrancar esse risinho bem rápido! - Alguém a segurou, prendendo os seus braços. Era o cara que ela tinha botado no chão alguns minutos antes.

- Solta ela! – Apolo urrou. Ártemis deu uma cotovelada nas costelas do criminoso e conseguiu se soltar. Mas o líder estava pronto para enterrar sua faca nas costas da deusa.

Em reflexo, Ártemis se abaixou e por pouco não ganhou uma punhalada. Apolo dava chutes nas costelas do homem desarmado que começara a levantar. E em seguida, foi em direção a Ártemis.

O ladrão levantou as sobrancelhas em desespero a se ver sozinho, pois seus comparsas estavam gemendo de dor ao chão.

- M-mas, quem diabos são vocês?! – Perguntou assustado o homem, soltando a faca.

Apolo e Ártemis se olharam e riram juntos. Eles estavam se divertindo.

Entretanto, tudo o que o homem pode receber em réplica a pergunta foram dois murros de dois deuses imortais.


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Notas finais do capítulo

Longo, né? rsrs. Tinha que me redimir. Mereço reviews? Porque eu tô carecida deles, sabem? kkk.
Agora, falando sério. Ainda não posso estar, todo final de semana escrevendo e postando. Desculpem.
Mas o que acharam da Éris aparecer por aqui...? O que acham que vai acontecer? Gostaram desse capítulo?
Beijinhos e até o próximo!