A Culpa escrita por Mara S


Capítulo 3
Capítulo II




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Jeff tinha parado seu carro velho em frente de casa. Não sei se meu pai estava parado na varanda me olhando, mas eu duvido que estivesse, seria melhor para nós dois.

Meu amigo, Jefferson Duncan, chamava muita a atenção de mulheres e homens. Era alto e louro e com um físico atlético que gostava de mostrar para todos, aliás, ele era um exibicionista nato.

- Você vai gostar de lá. Eu digo, da cidade. O apartamento é um lixo! Eu consegui um emprego, depois te falo mais detalhes, eu acho que posso descolar um pra você também. – ele me olhou com seus grandes olhos verdes.

- O que?

- Surpresa!

- Por que você decidiu ir embora assim, de repente?

- Problemas com um pessoal.

- Dívidas?

- Mais ou menos. Não se preocupe, eu já tinha tudo preparado.

A minha casa da estrada não era longe e em poucos minutos chegamos à rodovia.

- Eu gosto do seu cabelo assim – Jeff disse enquanto prestava atenção na estrada.

- Ele está desbotado.

- Não tá não. Se fosse você deixava com essa cor de louro.

- Eu enjôo.

Ele riu. Adorava o sorriso dele. Poderíamos dar um casal interessante, os dois pobres, cheios de problemas e bonitos, mas a nossa relação era definida como: amizade e sexo, só.

- Qual é a cor original de seu cabelo, eu nunca vi.

- Louro escuro – menti, pois era branco. Nunca usei meu cabelo da cor natural, porque sabia que iria causar problemas, as comparações surgiriam como balas de uma submetralhadora. “Ela tem a cor branca, como de todos meio-demônios.” ou “É mal de mestiços” Já estava costumada a pintá-los.

- Deve ser bonito também. – disse distraído.

- Não precisa falar para me agradar! Continue prestando atenção na estrada.

- Eu não disse... Oh, você é impossível! Agora já sei porque não namoramos!

Não sei quanto tempo esse relacionamento daria certo. Morar junto com Jeff não seria nada interessante.

Depois de uma hora chegamos à cidade. Talvez fosse dez vezes maior que o lugar que morava, ideal para me esconder. Demoramos cerca de uma hora até pararmos na frente do prédio.

- Sujo, degradante, no meio do submundo! – ele riu enquanto saia do carro.

- Deve ter ratos aqui.

- Definitivamente! Mas não se preocupe, somos seres noturnos, como os ratos. Você não irá encontrá-los! – piscou me puxando para a entrada. O resto do prédio era pior que a rua e como fedia!

- Lar doce lar!

- Vou adorar isso aqui! Você sabe que faremos uma boa limpeza nesse lugar! – joguei minhas coisas em uma mesinha de canto podre.

- Ah, mas eu demorei tanto pra arrumar e você está me dizendo que não ficou bom?

- Cale a boca!

- Agora, como eu disse, nós não ficaremos aqui a noite. Já são quase nove horas da noite. Vou te levar para conhecer seu futuro emprego.

- Agora você virou agenciador também?

- Nós vamos trabalhar juntos, assim posso te vigiar.

 

- Boate Baby Baby Love? – perguntei quando chegamos a uma boate horrível a poucas quadras de onde estamos morando. O lugar era estranho, do lado de fora as figuras mais diferentes que já tinha visto em toda minha vida e não pude deixar de sentir uma leve dor de cabeça quando entrei no local. – Você só pode estar brincando comigo! O que você faz aqui? É barman?

- Não! Eu sou péssimo em preparar bebidas. – disse gritando.

Era impossível entender muito bem o que estava acontecendo lá dentro.

- Bem vinda ao paraíso. – ele piscou para mim.

Era estranho, mas logo me encantei. Apesar da aparência degradante por fora, dentro até era interessante. Mulheres nuas e seminuas dançavam em mesas, de longe pude notar que também havia homens provocantes dançando. O cheiro do local era forte, um misto de cigarros e drogas.

- Eu sou stripper! – ele falou enquanto me levava para uma porta no fundo do local.

- Mentira? – perguntei assustada. Jeff dançando seminu em um balcão era algo que nunca imaginei. Adorei a idéia e ri para ele.

- E é o que você vai ser também! – ele abriu e me empurrou para dentro.

- Vai pro inferno! Eu nunca vou dançar nua para homens fedorentos e sem vida sexual!

- Mas você é linda!

Como ele poderia pensar que faria algo assim? Eu estava no fundo do poço, mas não tão fundo assim. Ainda não estava precisando tirar minha roupa para ganhar dinheiro. Logicamente tudo aquilo me encantava, mas não para ganha a vida!

- Desista!

- Certo, eu prometi para ele que você faria isso.

- Não se faça de vítima. Eu não quero saber, se precisar faça uma dança particular para ele. – gargalhei enquanto caminhávamos pelo corredor estreito.

 

Lá estava o gerente, Marco, até que era bonito, mas não o suficiente para me fazer mudar de idéia. Ele tentou me convencer e depois que disse que poderia fazer outra coisa lá dentro menos dançar nua, ele respirou profundamente e disse enquanto me encarava.

- Loura, cabelos longos, corpo maravilhoso como esse. Seria ótimo. Mas já estou feliz com seu amigo aqui, ele ganha bastante por noite. Se você não quer, não posso te obrigar. Por acaso você sabe preparar bebidas?

- Eu sei e o que não sei, aprendo. Não é tão difícil assim.

- Ótimo, pode ir pro bar agora. Amanhã apareça com uma roupa mais provocante. Quero ganhar clientes.

- Certo. – disse  um pouco mais séria que o costume pelo o que Marco havia dito, sai acompanhada de Jeff que ficou encarregado de me apresentar para o outro barman.

- Até mais tarde Julia. Nós vamos embora juntos. – ele disse se afastando.

Para os humanos eu era Julia. Somente meu pai usava o nome Taria.

O trabalho não era complexo e muito menos maravilhoso, mas a diversão era a melhor parte. Apesar de conviver com pessoas de todo tipo o local era o tipo de coisa que estava querendo, lá eu era somente a mulher que trabalhava no bar, sem ninguém me perguntando detalhes sobre minha vida. Lá eu era uma desconhecida.

 


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