A Emboscada escrita por Lana


Capítulo 19
Cap. 18 - Cartas expostas à mesa.


Notas iniciais do capítulo

Oie
Antes de mais nada, a dedicatória:
Finalmente a recomendação da Giovanna Donatelli chegou, depois de muitas tentativas, néh Gih?!
Foi linda, muito obrigada, e claro, esse capítulo é seu! *-*
Eu considero esse capítulo o mais importante até aqui. Acredito que a maioria dos leitores esperam a séculos por ele...
Enfim, torço para que apreciem e deixem comentários.
Boa Leitura!



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Capítulo 18



“Cartas expostas à mesa.”


A cidade de montanhas geladas agora era visível. Os três meio-sangues estariam felizes pela tranquilidade da viagem, não fosse o motivo que os fizeram chegar até Aspen: o sequestro de Annabeth Chase. À essa altura, eles nem sabiam se a garota ainda estava em liberdade, como a filha de Zeus havia visto em seu último sonho, ou se estava de volta ao cativeiro. A alternativa plausível era seguir para a única pista concreta que tiveram até agora - a cabana em Highlands.

Pousando abruptamente na base da montanha, Thalia finalmente conseguiu respirar aliviada. Voar com pégasos não havia sido de todo ruim, na verdade, ela até gostara, mas a segurança que o chão lhe transmitia era muito melhor do que sentir os pés vagando pelo ar. O grande problema era o clima, que não estava nem um pouco favorável naquela noite.

Os animais foram dispensados por Percy para que pudessem descansar, afinal, do estreito de Long Island até o Colorado são muitas e muitas milhas, e para repor a energia gasta, seriam necessárias uma grande quantidade de torrões de açúcar e várias horas de sono. Os três semideuses acenaram em despedida à medida que os pégasos se afastavam. Seguiriam sozinhos a partir dali, adentrando a floresta para alcançar a trilha íngreme até encontrarem a famigerada cabana.

– O que acham que vamos encontrar por lá? Digo, e se eles fizeram algo com Annabeth? – a voz de Thalia morreu quando seu cérebro processou algumas possibilidades. Haveria chances de Annabeth estar morta? Nico tratou de desfazer tal inquietação.

– Sei que ela ainda está viva, e isso é bom. Se tivesse morrido, eu saberia. – Nico disse encarando o nada.

– Eu só queria saber por que isso está acontecendo. Das outras vezes, as coisas não eram tão mal explicadas assim... Eu me pergunto quase a todo instante quem é esse homem que sequestrou ela. – Percy murmurou triste. Todos se encolhiam a cada rajada de vento seguido por flocos de neve que eram arremessados a eles. Isso dificultava demasiadamente a caminhada.

– E quem é Alliz? Eu também não consigo me desvencilhar desse nome desde o sonho. – Thalia suspirou.

Nico, pegando um graveto do chão e jogando-o em uma árvore próxima, falou:

– A única coisa que sei é que Alliz está no Mundo Inferior. Nos Campos Elíseos.

Thalia olhou confusa para ele como se quisesse extrair mais alguma informação do garoto das trevas, mas ficou claro que isso era tudo que ele sabia. Quanto a Percy, ele parecia inebriado demais com a neve para mencionar qualquer coisa.

Depois do último comentário de Nico, todos se calaram. Talvez tivessem entendido que fazer especulações acerca do assunto que levou Annabeth até ali somente aumentaria a tensão e diminuiria a vigilância ao contornarem a base de Highlands.

Escondidos sob os pesados casacos de pele de lontra, puderam ver uma fraca luz iluminar a neve recém caída ao chão. Ainda fofa e escorregadia, ela cercava uma pequena casinha de madeira no meio de uma clareira, de onde saía uma voz tenebrosa e ainda assim sombria. Eles haviam chegado à cabana.

A Caçadora fez sinal para que se aproximassem e cochichou.

– Vamos observar o que há lá dentro, sem barulho. É melhor termos um plano se quisermos sair com vida disso. Não sabemos o que nos espera. – ela estava apreensiva.

Cautelosamente, foram abaixados até a janela frontal da cabana, onde a sombra de uma árvore encobria a luz das velas, ficando assim totalmente escondidos. Percy voltou à realidade, e com o cenho franzido, observou o interior da cabana, assim como os outros dois. Viram Annabeth e outra garota sentadas num fino e surrado colchonete, e dois lestrigões guardando os cantos direito e esquerdo do local. Uma dracaenae sentada à mesa com seu característico olhar sanguinário e amedrontador e de frente para as garotas um homem troncudo com feições muito duras. Este último só podia ser o bendito sequestrador, eles pensaram. E sem dúvidas estavam certos.

Annabeth murmurou algo que fez o sequestrador sorrir brevemente. Ele então começou a falar ininterruptamente e parecia contar a história que o motivou a chegar a essa situação. Eles pararam pra escutar, pois essa poderia ser a chave de tudo.


“ A primeira coisa que devem saber é que o mundo não é justo.

Qual seria a justiça em matar uma criança que nunca fez nada de impróprio a ninguém, especialmente a nenhuma divindade de Olimpo? Pois sim, foi isso o que fizeram.

Eles mataram Alliz, sem nenhum motivo.

Você deve estar se perguntando o que você tem haver com isso não é Annabeth? Na verdade não muita coisa, apenas o fato de que ela era sua irmã.

Eu me envolvi com Atena na minha juventude, e não me arrependo disso. Alliz nasceu e finalmente eu tive um motivo para sorrir de verdade, coisa que me foi tirada quando minha família faleceu num desastre quando estavam de férias, e eu não estava junto porque naquela época já servia ao exército. Não gosto de pensar nisso, pois seria muito melhor que eu estivesse junto a eles naquele maldito carro. Pouparia todo o sofrimento.

Mas voltando ao assunto principal: quando Alliz fez oito anos, Atena veio me comunicar que ela estava em perigo, por conta de uma profecia que eu fiz questão de não saber qual era. Ela queria me separar da menina para enviá-la ao acampamento onde teoricamente ficaria em segurança. Obviamente eu hesitei, pois sendo um mortal que vê através da névoa, eu sabia identificar quando a situação era desfavorável, pois já tive alguns amigos meio-sangues e por causa deles já me deparei com vários monstros. Eu não senti nenhum perigo se aproximando dela, e caso houvesse, eu a protegeria com minha própria vida.

Atena insistiu muito para que eu levasse a menina para o tal acampamento em que receberia o treinamento adequado, mas eu não dei o braço a torcer, até que ela se deu por vencida.

E então aconteceu.

Voltávamos da praia e estávamos muito perto de casa quando uma fúria irrompeu a rua e debruçou sobre o para brisa do meu carro, tapando minha visão. Eu freei de súbito e senti que algo sólido se chocava com a frente do carro, ao mesmo tempo em que bati a cabeça fortemente no volante, mas não dei importância porque a porta escancarada ao meu lado tirou toda a tranquilidade que me restava: minha filha, anteriormente ali, havia desaparecido do carro, e eu suponho que ela tenha sido arrancada dali.

Fiquei tão atordoado que não percebi que a fúria havia sumido também. Desprendi meu cinto e saí à procura dela, encontrando- a na parte de trás do carro, desmaiada e com o rosto ensanguentado. Minha visão ficou turva e eu não consegui observar o estado do resto de seu corpo, apenas apanhei um lenço e limpei o sangue do semblante dela, que ainda respirava.

Quando olhei pra frente, me surpreendi ao ver outro corpo estirado no chão, dessa vez de um adolescente desconhecido. Foi o suficiente para perder o resto da minha sanidade. Eu ouvi o último suspiro da minha própria filha no instante em que as ambulâncias chegaram, junto com a polícia.

Entrei em estado de choque e só me recuperei três dias depois, quando me informaram que eu seria acusado pela morte do jovem.

Como se não bastasse perder a única coisa com que me importava, eu ainda seria preso injustamente. Por culpa dos deuses, foi o que compreendi refletindo sobre as visitas de Atena. Ela me disse que Alliz era um perigo para os deuses, se não aprendesse que o lado deles era o correto. Como não me dobrei à vontade da mãe da garota, minha filha morreu e eu pagaria um preço muito pior do que a morte.”

E o céu continuava caindo. A nevasca não tinha trégua enquanto a verdade era espalhada em meio ao vento gelado do interior da cabana.

Os músculos arrefecidos, e a cabeça funcionando como um gravador. Annabeth tentava fazer sinapses entre sua atual condição e a história de Kurt, ao passo que Giovanna parecia impressionada com as palavras que saiam da boca de seu sequestrador.

Até que, enfim, a tempestade de neve cessou em uma demonstração de piedade advinda de Zéfiro com os meio-sangues que estavam fora da cabana - boquiabertos com a real história do mortal em questão - e claro, com as Caçadoras de Artémis presas num buraco de no mínimo três metros de profundidade. Agora elas estariam em condições de escapar.

Kurt estava nostálgico mas decidido a continuar a narrativa. Ele resolveu mostrar o porquê de sua ira em um lapso de decência, coisa que ele havia abandonado no instante em que começara a planejar a emboscada, que se ele estivesse certo, não demoraria a se concretizar. Até agora, tudo havia sido a preparação do terreno.



“ Eu passei quatro anos inteiros na prisão.

Vi todo o tipo de coisa lá dentro, desde simples surras até cruéis execuções. É de se admirar que eu tenha conseguido sair inteiro de lá, pois apanhar era minha rotina, especialmente por minha escolha de não me enturmar. Eu precisava de tempo para pensar, e quando me convenci de que a morte de Alliz não seria em vão, comecei a bolar um plano que intitulei de ‘emboscada’, e por isso você está aqui Annabeth. Agora a Giovanna foi um presente que ganhei do meu padrinho divino, e confesso que veio a calhar, pois minha ira se estende perfeitamente a ela.

Eu estava tão cego de ódio que não ponderei a possibilidade de meu plano inicial não dar certo, até porque o meu parceiro – se é que posso o chamar assim – me fez ver que como um simples mortal eu não teria muito sucesso à minha empreitada. Ele me deu os instrumentos necessários, deu-me poder, e me fez chegar até aqui. Com a ajuda dele, agora eu posso me vingar dos três grandes, fazendo a mesma coisa que eles fizeram comigo.

E isso é tudo o que você precisa saber.”


Kurt Spencer encerrou com um brilho maligno inundando sua esclera. Giovanna estremeceu enquanto Annabeth continuava a analisar seu sequestrador com o olhar. Eles mantiveram a batalha silenciosa até Annie não resistir e perguntar.

– Por quem você é apadrinhado? Deve ser um deus olimpiano, eu imagino... – Annabeth estava com as engrenagens funcionando a todo vapor em sua mente.

– E você acha que vou entregar o ouro assim? Fique satisfeita de saber o por que de estar aqui! – Kurt foi ríspido, mas não o suficiente para fazê-la calar.

Annabeth muniu-se de coragem e disparou:

– A culpa é sua. A garotinha morreu porque você não ouviu Atena. – Ela gritou.

Kurt pareceu indignado com que ouvira, embora em seu íntimo sempre soubesse que era a verdade. Ele nunca gostara de admitir, mas Alliz morrera por uma escolha sua, somente sua. A razão pela qual ele compusera a emboscada era estender a culpa a outros prováveis culpados por não conseguir suportá-la sozinho. Contudo, ele jamais diria isso em voz alta.

– Você realmente está a fim de morrer, não é garota? Só não te matei ainda porque você é necessária. A partir do momento que sua parte no meu plano acabar, eu planejo ceifar a sua vida assim como fizeram com a minha Alliz. Atena sofrerá uma segunda vez por não ter salvado a própria filha, cinco anos atrás.

Annabeth se pôs de pé enquanto Giovanna se encolhia no colchão. Ela devia estar muito surpresa com tudo que estava ouvindo, e provavelmente assustada também, tanto que deixara de falar incessantemente como fizera a maior parte do tempo em que esteve no cativeiro.

Apontando o dedo diretamente para o rosto de Kurt, a filha de Atena se pôs a gritar novamente. Os monstros que ali estavam permaneciam parados, mas em posição para atender qualquer ordem de Kurt, mesmo que parecessem alheios à situação, o que era totalmente compreensível por não se tratar de criaturas racionais.

– Não tenho medo de você. Na verdade, eu já entendi qual é a sua, Kurt! Pode me matar agora, e eu até te aconselho a fazer isso, porque eu não deixarei você machucar a Giovanna e nem ninguém. – Ela estava muito raivosa.

Retirou sua adaga presa ao cinto e fez Kurt segurá-la. Pela sua reação, o mortal ficou muito assustado por ver Annabeth pedir pra morrer. Ele achou que ela estivesse blefando, mas não conseguiu encontrar nenhuma razão para ela ter feito isso. Ele então deu de ombros e para não demonstrar covardia, ergueu a faca de bronze celestial com a intenção de apenas machucá-la.

Entretanto, Giovanna não entendeu assim e lançou-se na frente de Kurt no exato momento em que ele desferia o golpe. Um talho enorme se abriu em seu antebraço e Annabeth gritou em desespero e segurou a filha de Poseidon, zonza pela enorme quantidade de sangue que jorrava de seu ferimento.

Kurt começou a se divertir com as expressões desesperadas das suas duas vítimas. Giovanna chorava enquanto Annabeth a deitava no colchonete, e em seguida levantou e se virou novamente para seu sequestrador.

– Você não podia machucá-la. Era pra você ter me matado! – ela disse exasperada.

– Sinto muito queridinha, mas ela se jogou na frente. E eu não te mataria, já disse que você faz parte do meu plano. Mas se quiser mais um machucado para sua coleção, eu posso fazer sem demoras... – ele se aproximava perigosamente a Annabeth. A adaga empunhada ia em direção a seu rosto quando a porta da cabana foi escancarada em um intenso barulho, e atrás dela, estavam os tão esperados e devidamente armados Percy, Nico e Thalia, que correu para cuidar do ferimento de Giovanna. Os monstros que ali estavam quiseram atacá-los, mas o sádico fez um gesto que os fez ficar onde estavam.

Kurt se sentiu imensamente satisfeito ao vê-los e em um movimento rápido, imobilizou Annabeth e colocou sua própria arma em seu pescoço.

– Agora você já pode morrer Annabeth. Meus convidados de honra chegaram.





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Notas finais do capítulo

E com esse fim bem tenso eu peço mais uma vez que comentem. Há uma quantidade enorme de leitores fantasmas nessa história, e eu me pergunto o que custa deixar um review escrito apenas "legal" ou "mais ou menos" ou até "ruim". Por favor, não estou pedindo nada demais.
Quem quiser capítulo dedicado, é só mandar uma recomendação.
Até o próximo!
Bjs



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