Bigger Than Us escrita por IsaS


Capítulo 6
CAPÍTULO 5º


Notas iniciais do capítulo

Demorou, mas tá aí! Relaxem, que agora eu vou postar com mais frequencia. NÃO ME BATAM/ABANDONEM A FIC!



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CINCO

PDV – Charlotte

            Entrei na cozinha, agradecendo mentalmente à Brenda por aparecer assim, sem mais nem menos. Estava com medo do que viria agora. Uma parte de mim, a parte secreta, que sabia mais ou menos do meu passado e de minha vida, estava sendo ameaçada. Mas aquilo me parecia uma troca justa que a vida me propunha. Mexi o purê de batatas com raiva.

– ¿Hola, que tal? – Brenda entrou animada na cozinha, e eu pulei de susto. Odiava um pouco aquela situação com essa exposição de sensibilidades, como me dar ao luxo levar um simples susto.

– Quase que o purê voava na sua cara. – sorri histericamente, quase jogando o purê nela mesmo depois de alertá-la.

– É, seu motivo de histeria é bem bonitinho, hein... – ela deu um sorriso malicioso. – Posso ficar com um deles?

– Se não desfazer esse sorriso maldito vai ficar sem dentes na boca, isso sim. – respondi mal humorada e sentindo que minha irmã postiça de 17 anos estava lidando melhor com a presença dos ‘irmãos Coragem’ do que eu.

– Deixa de ser respondona. – ela riu gostosamente da minha desgraça e eu bufei, colocando o purê de batatas fumegante num prato. – Que tal um pouco de Elvis pra te deixar mais relaxada? – ela me sorriu e eu acompanhei.

Elvis era a minha vida e escutá-lo seria bom demais. Brenda ligou o rádio rapidamente – ela parecia saber do meu estado de nervos – e organizou os pratos na mesa, enquanto cantarolava Sylvia, e eu acompanhando, porque não tinha coragem nem ânimo para cantar em alto e bom som.

– O que eles fazem aqui? – arg! A pergunta que eu temia. Respirei fundo antes de tentar explicar com mais clareza possível o pouco que eu podia relatar.

– Descobri-os numa caçada. Eles vão me ajudar. – disso eu tinha certeza. Ou não.

– Assim? De graça? – aquilo no rosto dela era um sorriso malicioso? Filha de uma puta! Deixei a carne grelhar enquanto me virava com as mãos na cintura, e um sorriso irônico/histérico na cara.

– Está pensando o quê? Que eu vou transar com eles? – devo ter perguntado muito alto.

– Eu não me importaria. Não sei Sammy, mas... – Dean deu de ombros enquanto eu observava sua entrada – lê-se, invasão – na cozinha. Parei chocada, perplexa e sem saber o que fazer. Quase me esqueci dos bifes, e só lembrei com um grito de Brenda sobre o pano de louça – que estava em cima do fogão – pegando fogo.

– Ah! Mas o que você pensa que está fazendo? – perguntei afobada, com medo de admitir que estivesse assim por sua forte presença na minha cozinha. Ele era muito vívido, e eu nunca mais havia tido contato com esse tipo de vivacidade, a não ser pelos poucos momentos que tinha com minha pequena família, que nem meu sobrenome tinha. Eu não queria admitir mas, com a presença daquelas três pessoas na minha casa, a luz do sol parecia querer brilhar mais por entre as vidraças da sala, e de todos os cômodos.

            Eu não me acomodaria a isso, é claro.

– Bem, estava apenas seguindo meu olfato. – ele deu de ombros, enquanto Brenda segurava o riso e eu me movia desconfortavelmente de uma perna a outra, tentando procurar o que falar quando Sam entrou pela porta, esbaforido, com uma mão no estômago.

– Desculpe meu irmão, Charlotte. Ele é muito guloso, não pode sentir nem de longe cheiro de comida... – deu um sorriso sem graça, e eu o acompanhei, agradecendo-o mentalmente por ter me tirado daquela situação desconfortável.

– É Charles. – todos paramos e olhamos para Brenda.

– Pois não, querida? – perguntou Dean, com um meio sorriso.

– Chame-a de Charles. – ela piscou, mascando o chiclete de forma engraçada, enquanto eu voltava para a situação que havia saído há pouco: constrangimento em auge.

– Sentem-se de uma vez. O almoço já está pronto. – resmunguei mal humorada e vi todos se posicionarem na mesa, como um bando de esfomeados.

            Felizmente o silêncio não ocupava o ambiente sozinho, pois a voz do Rei não deixava, e eu o agradecia internamente por isso. No fim das contas, eu não estava desagradável; o rock bobinho dos anos sessenta e o cheiro de bife grelhado nos entretinha. E o mais importante: entretinha os Winchester.

– Então, vocês gostam de Elvis. – disse Sam. Dean esperou que eu respondesse, mas me safei desta, porque Brenda respondeu por mim.

– Somos alucinadas por Elvis. – coloquei uma garfada de arroz na boca. – Charles fez toda nossa família curtir o cara.

– Manipuladora, tipo, Paola Bracho? – parei de mastigar para sorrir minimamente e sem vontade para Dean.

– Papai te chamou para passar um tempo lá. Eu disse que ia falar com você mas eu acho... – ela me olhou, com um sorriso que só eu podia ver, porque só eu ali a conhecia. – acho que você vai estar ocupada.

– E você deveria estar na faculdade. – rebati.

– Acho que vou desistir de química e vou viver de arte e música, e fazer um altar para Andy Warhol. – Brenda tomou seu resto de refrigerante e suspirou romanticamente.

– Se fizer isso, te deserdo. – alertei do mesmo jeito que Carl/papai havia me alertado quando adolescente.

– Você era artista quando jovem e fazia tudo isso, não seja hipócrita! – eu sorri, e ela riu alegremente. Brenda sabia que eu não a impediria de seguir a carreira que quisesse. E eu estava tranqüila, porque sabia muito bem que ela não iria largar química pra ser quem eu havia sido. Era uma perda de tempo, apesar de eu ser apaixonadíssima por arte.

– Você era artista? – perguntou-me Sam, e eu me lembrei que havíamos visitas em casa.

– Não.

– Claro que era! – fui desmentida quase que na mesma hora. Fuzilei Brenda com os olhos, enquanto me levantava pra colocar o prato na pia.

– Não estou a fim de viajar para Indiana agora. – mudei de assunto enquanto me encostava no balcão, bebericando minha cerveja.

– Pois é lá que ele está. – ela levantou-se depressa. – E é pra lá que estou indo agora.

– Já vai? Não quer torturar Sammy mais um pouquinho, não? – perguntou Dean, com a boca cheia, e eu tossi disfarçando uma risada enquanto Sam se remexia inquieto na cadeira.

– Talvez mais tarde. – ao contrário de mim, ela não disfarçou nem um pouco em examiná-lo de cima a baixo e sorrir gostosamente. – Cuidem de Charles pra mim.

            E saiu, enquanto eu ainda tentava me recuperar do choque de saber que minha irmã postiça de 17 anos podia ser mais carismática e sensual que eu, com quase 30.

– Seu pai mora em Indiana? – perguntou Sam. Percebi que só ele me fazia perguntas, e que Dean só escutava. Logo consegui traçar mais um traço de sua personalidade: orgulhoso, assim como eu.

– Não... quero dizer, sim! – me enrolei e me olharam curiosa. – É meu pai postiço. Todos na minha família são.

            Tirei os pratos da mesa, enquanto aquela informação pairava no ambiente, e eu sentia a tensão deles. Involuntariamente, fiquei tensa também, porque não queria ou precisava daquele sentimento de piedade. Não era por isso que eles estavam ali, e por causa disso, eu me sentei na cadeira rapidamente, chamando a atenção deles, e fui direto ao ponto.

– Não temos a eternidade para adiarmos essa conversa. Eu preciso de ajuda, e vocês já devem saber.

– O que quer da gente para nos dizer onde está Sammuel? – olhei confusa para Dean, e percebi Sam balançando a cabeça em negação, lentamente, como se o irmão tivesse feito uma besteira.

– Nunca pediria algo em troca desse tipo de informação. – resmunguei meio ofendida. – Estou esperando uma troca de favores, mas não vou força-los a nada. Se não quiserem me ajudar, não vou ficar chocada ou ressentida, mas não vou desistir. E outra: eu não sei. Mas posso ajuda-los a descobrir. Mesmo não sabendo nada sobre quem é Sammuel, além dele ser avô de vocês. – completei, dando de ombros.

            Silêncio. Por essa, nem eu esperava.

– O que você quer da gente? – perguntou Dean, e eu percebi que seu tom era menos incisivo, mas continuava sério.

– Quero que me ajudem a encontrar quem matou meu pai. – respondi automaticamente, sentindo os olhos vazios e o corpo dormente.

– Como ele morreu? – Sam perguntou, o cenho franzido e eu quase senti raiva dele por estar sentindo aquela piedade patética que eu podia sentir de longe.

– Ele morreu dormindo. – dei de ombros, enquanto o silêncio se instalava novamente.

– Charles, muitas pessoas morrem dormindo... – disse Dean, tentando me reconfortar, mesmo de longe. Franzi os lábios de frustração.

– Posso provar que sua morte não foi natural.

            Antes que qualquer um de nós pudesse voltar a falar, o telefone ao lado do balcão tocou, e eu pulei da cadeira para atendê-lo.

– Sim?

– Venha já! – disse Carl.

– Mas papai... – fui interrompida.

– Brenda me ligou e disse que os Winchester estão aí. Não quero saber se é longe, quero que venha!

– Sam está doente, não posso submetê-lo a isso agora... – fui interrompida novamente, e trinquei os dentes enquanto passava os dedos pelos cabelos impacientemente.

– Então venham amanhã. É só isso que eu quero, e não se atreva a me desobedecer. Senão te deserdo. – e desligou.

– Me submeter a quê? – perguntou Sam, e eu suspirei pesadamente.

– Bem, Carl quer vê-los. Ele conhece o pai de vocês. Faz parte da família. – dei de ombros.

– Como assim: faz parte da família? – perguntou Dean olhando para Sam, inquieto.

– Ele é meu padrinho. – dei de ombros. – John Winchester é meu padrinho. Ele conheceu meus pais verdadeiros.

– Sério? – Dean parecia impressionado. – Tipo, seu padrinho? Padrinho mesmo?

– Por acaso eu falei russo? – revirei os olhos. – Quero que descansem. Partiremos para Indiana amanhã.

 PDV DEAN

            Eu não estava acreditando muito naquilo, não. Mas quando Charlotte deixou o quarto de hóspedes e Sammy e eu pudemos conversar, ele me disse que ficasse calmo e que deixasse que ela nos guiasse até seu ‘pai postiço’.

– O que achou sobre essa coisa do pai dela? – perguntou Sam.

– Acho uma besteira. Pessoas morrem dormindo todos os dias, isso não quer dizer que houve qualquer interação com o sobrenatural.

– Bem, nós não sabemos. Ela disse que podia provar. Vamos esperar.

– É bom que esperem. – pulamos de susto com o aparecimento de Cass. – A morte do pai dela não foi natural.

– Como você pode saber? – perguntei de má vontade.

– Nada é impossível. Não acho que você tem direito de duvidar de algo assim, afinal, vocês prenderam Lúcifer e recuperaram a alma de Sam. Como duvidar de mais alguma coisa depois de tudo isso?

– Ela lutou no apocalipse? – Sam perguntou, e notei que nunca havia ouvido falar dela, também.

– Ah, sim. Mas ela lutou em favor de seus interesses, e não pelos interesses no planeta.

– Bem a cara dela. – resmunguei incomodado com todo aquele conforto, e sentindo falta dos motéis sujos e das comidas gordurosas.

– O que devemos fazer? – imitei Sammy, e me inclinei para Cass também em dúvida. Nem eu sabia o que fazer no meio de tudo aquilo.

– Devem ajuda-la. Ela precisa mais de ajuda do que vocês imaginam. Ela faz parte de um plano muito grande que está por vir. – respondeu vazio, franzindo o cenho como de costume.

– Como sabe disso? – perguntei impaciente.

– Acreditem em mim. – e sumiu.

            Deitei-me em uma das camas, e respirei fundo. Depois de tantos anos sem confiar em ninguém, ou sem receber qualquer mão amiga, meu irmão e eu estávamos naquele quarto, naquele conforto, tranquilos e quase sonolentos. E tudo isso, por causa de uma desconhecida.

– Como está seu estômago? – perguntei a Sam.

– Bem, eu me sinto muito melhor. E sua sobrancelha? – perguntou, e eu fui me olhar no espelho do pequeno banheiro que havia no quarto.

– Parece melhor também. – sai do banheiro e dei um sorriso torto pra Sam, que já estava grudado em seu notebook. – Pelo menos ela não costurou minha sobrancelha errado.

– Pelo menos. – ele sorriu.

PDV CHARLOTTE

            Passei a noite sem dormir. A esperança pulsava forte em meus ouvidos junto ao meu coração. Pela primeira vez em toda a minha vida, eu estava esperançosa sobre meus planos. Mas a felicidade não era plena, afinal, a verdade não era uma opção. Apesar de saber que, no fundo, eles saberiam cedo ou tarde de que meu maior interesse por quem havia feito o estrago na minha vida ia além da morte de meu pai.

            Desisti de tentar dormir e me levantei com calor. Andei de um lado pra o outro e percebi que minha garrafinha de água estava vazia. Abri a porta do quarto lentamente para não fazer qualquer barulho, e desci as escadas sem a garrafinha, como havia acabado de perceber. Olha, que ótimo! Caminhei até a cozinha, o caminho sendo iluminado apenas pela luz do corredor, e enchi um copo d’água. Mas como era minha casa – principalmente por esse motivo – meus instintos estavam mais aguçados do que o normal, e por isso, ouvi quando alguém passou pala soleira da porta.

– Boa noite. – disse sem me virar.

– Como sabia que eu estava aqui? – disse Sam.

– Dean tem cara de quem tem um sono pesado... – dei de ombros, me virando pra ele. – Servido?

– Obrigado. – ele recusou a água, e sentou-se à mesa, como um convite mudo para que eu me sentasse também.

– Como está o estômago? – perguntei, pra tentar quebrar o silêncio incômodo que havia formado entre nós.

– Melhor. – ele sorriu. – Obrigado por isso.

– É o meu trabalho. – dei de ombros, tentando não parecer sem graça.

– Faria almoço a outro paciente? – desafiou.

– Não seja metido! – sorri. Era mais fácil conversar com Sam, porque ele não parecia estar a fim de me alfinetar tanto quanto Dean. Mas mesmo assim, eu não baixava a guarda.

– Tudo bem. – ele suspirou, e o silêncio passou a se tornar nosso companheiro novamente. – Poderia me contar mais sobre o caso em que quer ajuda?

– Apesar de eu estar louca para contar, – e eu estava mesmo. – prefiro que seja na casa de Carl.

-– Ele também é caçador?

– Você conhece, não é? Negócio da família... – dei de ombros e tomei o ultimo gole de água do copo.

– Sei como é isso. – suspirou parecendo insatisfeito. – Eu já pensei em parar, sabe. Fazer uma família, ser alguém diferente... Dean tentou, e eu digo que não sinto falta, mas...

– Eu também queria ser alguém diferente. – de repente, me deprimi. As lembranças martelando em meus ouvidos fortemente e lutei para não demonstrar fraqueza na frente de um Winchester. – Mas nunca vamos conseguir.

            Coloquei o copo na pia e caminhei para o corredor, deixando Sam sem qualquer outra resposta a não ser meu desgosto e medo de minhas palavras serem realmente verdade.

            O dia amanheceu e eu ainda não havia dormido. Desisti de tudo e tomei um banho para ficar desperta logo cedo. Me enfiei em qualquer calça jeans, em qualquer camiseta e vesti a jaqueta e a bota. Olhei-me no espelho e pensei que minha aparência não estava das melhores e, como eu iria para casa do meu padrasto – e minha irmã, que estava lá, iria saber que não havia dormido a noite toda – resolvi passar alguma coisa na cara. Nada mais que um delineador nos olhos e um pó. Eu não tinha tempo pra qualquer outro capricho. Amarrei um lencinho vermelho da cabeça, e saí me sentindo a pinup. Ridícula.

            Arrumei as xícaras na mesa, fiz torradas, fritei os ovos de Dean e fiz panquecas para Sam. E enquanto estava sozinha, aproveitei para ouvir meu amado e fumar um cigarro, em paz.

– Bom dia, flor do dia! – pulei de susto. – O cheiro do seu cigarro tá afetando o cheiro desse bacon maravilhoso.

– Bom dia Dean. – resmunguei, sem me importar com a ultima parte.

– Você que fez o café? – perguntou com a boca cheia e eu sorri.

– Acho que sim.

– Bom dia. – Sam sentou-se a mesa e me perguntei se ele havia ficado chateado comigo por ontem a noite, mas resolvi não me posicionar sobre nada. Não queria sua amizade, queria seus serviços de caçador, nada mais. – As panquecas estão ótimas. Obrigado.

– Bem, por nada. – dei de ombros e apaguei o cigarro na pia.

– Desde quando fuma? – perguntou. Olhei para Sam, e depois para Dean, que só sabia mastigar e segurei um sorriso.

– Desde que descobri que fazia mal. – dei de ombros e subi as escadas atrás de minha mala.


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Notas finais do capítulo

É isso aí, espero que curtam. Mais logo em breve, ein! Beijos, se cuidem e não me abandonem!