Joey chega em casa suando frio e cansado de tanto correr. Entra rápido, bate a porta da cozinha e a tranca. Olha pelo olho-mágico, só para ter certeza de que não foi seguido. Após alguns minutos, ele se vira e nota que os pais e Jessica estavam reunidos ali, jantando, e se assustaram bastante com as atitudes dele.

– O que foi, filho? Está tudo bem? – perguntou o pai.

– É, tá parecendo que viu fantasma! – disse a mãe.

– Que foi? Tá tendo um caso com a menina aí da frente? – zombou a irmã.

– N-não, q-que é isso?! – ele gaguejou. Parte por suas pernas estarem tremendo de medo, parte pelo comentário da irmã, que fez seu rosto corar violentamente. – Eu só estou com sono! – Mas nem mentir ele não conseguia fazer direito! Pegou um pouco da comida e se trancou no quarto, neuroticamente.

Fincada na parede em cima da cama, havia uma flecha.

Tenha medo. Tenha muito medo.

Joey nem ousou olhar pela janela naquela noite.

Em seu pesadelo, se viu fugindo de algo, sem saber o que era. Flechas gigantes caiam próximas a ele. Ele conseguia desviar delas por pouco, até que tropeçou e caiu no chão. Ao olhar para cima, era ela. Seu rosto era pouco visível na escuridão da noite, oculto pela chuva que caía em seu rosto. Só a identificava pela pouca claridade que os raios a sua volta proporcionavam.

Joey acordou suado, se debatendo na cama, e com seus pais gritando do lado de fora do quarto.

– Joseph! Joseph! Está tudo bem?! O que são esses gritos? O que está acontecendo?

O garoto juntou forças e destrancou a porta.

– Pai, mãe – ainda suava frio – Fiquem calmos. – estava pálido – Está tudo bem.

Sorriu. Logo após isso, desmaiou.

Quando acordou, sua visão estava embaçada. Um homem perguntava “Quantos dedos tem aqui?”, enquanto seus pais pareciam aliviados.

– Hã... Seis? – respondeu

– Ele vai ter que ficar de repouso por alguns dias.

– Mas o que ele tem, doutor?

– Bom... Chamamos isso de desmaio psicológico. É causado por um grande choque emocional que ele pode ter sofrido. Tentem se lembrar. Desde quando ele vem agindo assim?

Os pais pararam e pensaram um pouco antes de responder.

– Desde ontem, quando ele voltou da casa dos vizinhos.

– Falei – disse Jessica – Isso é por causa daquela garota.

– Wandinh... – Joey desmaiou novamente.

De certo modo, era culpa dela, sim.

Quando acordou novamente, Joey estava em seu quarto, no sótão. Teve que passar uns três dias na cama, se alimentando apenas de sopa. Tinha alucinações frequentes. Mas, no quarto dia, já se sentia bem melhor. Um pouco fraco, mas melhor.

– Ótimo. Como já está bem, acabou a moleza. – dizia a mãe – Vá até a padaria e traga leite.

– Claro.

Na calçada de casa, quase virando o quarteirão, ele tentava esvaziar seus pensamentos, quando deu de cara com ninguém mais, ninguém menos do que Wandinha e Feioso Addams. Joey não pôde deixar de soltar um gritinho e cair para trás. Por um instante pensou que poderiam ser alucinações, mas eram reais.

– O-o que vocês querem aqui? – perguntou assustado – Achei que não saiam de casa!

– E não saímos – disse Feioso, sorridente.

– Considere-se sortudo. – disse Wandinha, incomodada.

– Então, o que vocês querem?

– A Wandinha quer te dizer uma coisa.

– Não, obrigada! Eu já estou feliz assim, adeus!

– É, ele já está feliz, vamos embora Feioso.

– Fala. – ele disse, sério. Wandinha se negou – Fala!

– Desculpe – disse ela relutante.

– Por o que mesmo? – complementou Feioso

– Por ter exagerado na brincadeira...

– E...

– Por ter te feito desmaiar e não sair mais de casa e parecer uma menininha assustada. Está feliz, Feioso?

– Estou. Eu tentei te pedir desculpa, mas parece que você não percebeu.

Notando a expressão de confusão no rosto de Joey, Feioso aponta com a cabeça para o telhado de sua casa, onde havia uma enorme placa, dizendo “Desculpa!” em letras grandes e garranchadas, como eles costumavam trocar bilhetes. Então Joey percebeu. Estava tão assustado que não conseguia nem olhar para a casa.

– Tudo bem. Só não venham me pedir para “brincar” de novo, ok?

– Pegarei mais leve – disse Wandinha – Todos felizes? Podemos voltar para casa agora?

– Claro. Te vejo depois Joey!

– É. Até, então.

Antes que ele se virasse, ouviu Wandinha gritar:

– Ei! Garoto dos biscoitos! Ainda está convidado para a minha aula sobre explosivos!

Ele olhou bem para ela, e sua única reação foi um grande sorriso que se abriu em seu rosto.