Mii’s POV

Estava tudo indo tão bem. Cada dia que se passava eu gostava mais do Caco, e assim a Pri não se desgrudava do Diego. Ela só foi me contar o que aconteceu no intervalo, durante a aula de história, em que nós tivemos atividade em dupla.

(...).

Durante o caminho até minha casa, me surpreendi com a pergunta tão inesperada do Caco.

- Mii, ce vai comigo no baile né? – ele diz com um tom preocupado.

- Não né Caco! Eu não te suporto, menino... Eu vou é com o Diego! – soltei, sem pensar, e rindo da situação.

- Nossa! Valeu mesmo! Então vai lá, ficar com ele.

- Não, não... Não vou roubar o Di da Pri...

- É mesmo! Nosso plano não deu certo... E agora, você tem idéias?

- Hm... Nem... Mas o baile ta chegando. Dessa vez, não vamos interferir no casal.

- Então voltando ao assunto... Ce vai comigo no baile? Hun?

- É lógico! – me jogo em seus braços, enlaçando seu pescoço e dando vários selinhos.

Mais alguns passos e cheguei até minha casa. Hoje, eu e o Caco deveríamos estudar, mas ele teve que sair e eu acabei de por estudar sozinha. Foi nesse momento em que eu me di conta que faltava apenas duas semanas, para acabar o ano. (...).

As aulas passaram rápidas, mas algo me intrigou. Desde o começo da semana, eu não pude deixar de reparar que a Ana, uma dessas alunas ‘patricinha’ da nossa sala, não tirava os olhos do Diego. Ela, uma menina que nunca reparou nele e muito menos foi de falar com ele, estava tentando se tornar uma amiguinha dele.

Claro que Pri reparou nisso e não gostou nem um pouco do que estava acontecendo. O ciúmes estava estampado em seu rosto, e eu apenas ria da situação de minha amiga.

Passaram-se segunda, terça, quarta-feira e todas as vezes que Ana passava pelo Diego ela soltava um “Oi, Di...”, e ele apenas respondia com um sorriso no rosto, sem perceber o que estava acontecendo, ou qual era a intenção da garota.

Enfim chegou a semana do baile. Já estava tudo planejado: roupas, pares e enfins. O baile seria na sexta-feira a noite, mas nós não iríamos ter aula na parte da manhã.

Prit’s POV

“Como ele sai e não me avisa nada?’’ Ok, amanhã era o baile, e o planejado era eu passar na casa do Diego, para pegar meu livro que eu havia esquecido no dia anterior, e depois voltar para minha casa para esperar a Mii, para decidir a roupa.

Sai em passos rápidos, e por conseqüência acabei por não ver a Mii e o Caco. Com os livros em meus braços fui à direção da casa do Diego. Eu não entendia o motivo dele sair antes, sem falar nada!    

Quando já estava próxima de sua casa, vejo a sombra de duas pessoas. Uma eu percebo na hora que era do Diego, a outra eu fui perceber mais perto. Era uma... Mulher? Vagarosamente fui chegando e ficando mais próxima, e... NÃO! Aquilo não estava acontecendo! Um desespero tomou conta de mim, e não controlei o meu grito:

- NÃO! – lagrimas começaram a sair de meus olhos – O quê...?

Eu não conseguia tirar os olhos daquela cena, que tanto me machucava. Aquela menina beijando o Diego... Seus dedos entrelaçado no cabelo do menino...

Ao ouvir meu súbito grito, aquele beijo indesejado por mim fora cessado. Ele me olha espantado, boquiaberto e sem ação.

Com o choque deixo, deixo o material que estava nos meus braços caírem. Abaixo a cabeça e saio em passos rápidos, sem destino. Diego apenas emburra a garota para longe, e tenta me segurar pelo braço, mas me esquivo e saio:

- Não toca em mim! Vai ficar com a sua nova namoradinha!

- Perae! – mas não o deixo terminar e dou as costas para sair de lá.

Sai sem rumo... Na verdade, fui para a praça mais próxima à casa do Diego. Aquela cena não saia de minha mente, e cada vez mais que ele voltava, me dava um aperto no peito.

A praça estava vazia, tinha umas cinco pessoas circulando e mais um casal sentados no banco, abaixo de uma árvore. Alguns minutos depois, comecei a me sentir mais calma, mas sem coragem de voltar para casa. Porém, algum tempo depois, sinto uma presença atrás de mim. Olho para trás e vejo quem eu não queria ver, não agora.

- Pri... Deixa eu te explicar... – e coloca meus livros ao meu lado

- Você não precisa se explicar.

- Mas... Não fui eu quem beijou...

- Diego, eu vi muito bem! E vi que você tava super a fim! – e me limitei a abaixar a cabeça, para esconder a lágrima – Por favor, vai embora... Agora você tem um novo par pro baile... Eu só quero ficar sozinha... Melhor, você fica e eu saio!

- Pri! Como você é... Teimosa! – e novamente ele tenta me impedir de levantar.

Eu não agüentava mais olhar aquela carinha. Ver aqueles olhos angustiados apertava mais o meu peito. Mas a raiva que eu sentia no momento estava tomando conta de mim.

- Isso não tem nada havê! Eu me iludi e cheguei a acreditar que você era diferente de todos os meninos! Por isso eu... Acabei...

Não conseguia algo me impedia que terminasse. Era como se uma avalanche de raiva, com dor e amor caísse e me fizesse soltar:

- Por isso, eu acabei gostando de você! – e dessa vez não escondi as lágrimas.

Ele estava chocado e apenas ficou olhando pra mim. O silencio reinou naquele momento...

Eu não podia falar mais nada, e ele ficava me olhando, e pouco piscava. Como não recebi nenhuma resposta, nem nada, sai de lá.

Em poucos minutos já estava em casa. Ouvi minha mãe resmungar alguma coisa na cozinha, mas não fui vê-la. Subi de dois em dois degraus até chegar meu quarto. Lá, me joguei na cama e fiquei sem querer sair, sem querer falar com ninguém.

Várias vezes minha mãe foi até meu quarto. Batia na porta e perguntava o que tinha acontecido. Apenas respondia que nada, só queria ficar sozinha. Mas na sétima vez ela disse que eu tinha visita.

Mii’s POV

Quando bateram umas 14 horas, resolvi sair de casa para ir até a Prit. Quando cheguei lá, não a vi na sala como de costume, e estranhei tal fato. Sua mãe me mandou esperar, pois ela ia chamar a menina. Acho que depôs de uns 10 minutos, as duas desceram. Me assustei ao ver o rosto de minha amiga. Ela estava com a face vermelha e os olhos um pouco inchados.

Ela sentou-se ao meu lado, sem dizer uma palavra, apenas me mostrou um meio sorriso bem forçado.

- Pri, não finge... Que aconteceu?

- Ah... Se lembra que eu tinha que ir até a casa do Diego?

- Sim... Que foi?

- Então... Eu o vi beijando uma menina... A Ana...

- Explica direito essa história, Priscila! Isso é impossível!

Rapidamente, expliquei o acontecido para ela. E vi que a Mii estava perplexa.

- Quê? Impossível! Ele não varia uma coisa dessas...

- Ah... Pois é... Mas eu vi com os meus olhos. Depois eu fui para a praça e discutimos...

E tem mais uma coisa...

- Tem? Meu Deus! O que?

- Eu contei pra ele, no meio da briga, que eu gosto dele...

- E ele?

- Não fez absolutamente nada... Nada! – e neste momento, ela derramou uma lágrima.

Eu não sabia o que dizer. Nada fazia sentido, nada batia.

- Mii, eu nem vou mais ao baile ok?

- Como assim? Quem é você? Priscila, eu não te reconhecendo mais...

- Mii, não tem como... Não vou conseguir olhar pra ele...

- Se vinga dele, oras!

- Como?

- Simples você vai a esse baile, linda e maravilhosa, e fica com um moleque... Se ele quiser ficar com a Ana, deixe ele... Você vai perder um ano, um baile por ele Pri?

Ela me olhou, como se não tivesse mais saída e que o único jeito fosse ir até o baile. Ficamos horas procurando um vestido e acho que depois de umas duas horas ela mostrou um sorriso.

Ao fim do dia, quando já estava anoitecendo meu celular tocou. Minha mãe me ligou, pedindo que voltasse logo para casa:

- Pri, vou ter que sair agora... Se você precisar de uma coisa, pode me ligar ta?

- Tudo bem... vai lá!

Pouco tempo depois já estava em casa. Cumprimentei minha mãe e fui ao meu quarto. Tudo o que a Prit me disse não fazia sentido. Se o Diego gostava tanto dela, como ele poderia ter feito isso? Ele ia ficar com ela no baile... Isso era armação da Ana... Mas por que ela faria uma coisa dessas?

Minha cabeça estava fervendo com tantas hipóteses, idéias, pensamentos... E para ajudar o baile ia ser amanhã.

Estava tão concentrada em meus pensamentos que nem ouvi meu celular tocar. Tive que retornar a ligação. Era o Caco, e ele só me atendeu no primeiro toque:

- Ce que ligou aqui, amor? – pergunto.

- Foi sim, Mii... Tudo bem com você?

- Ta... Aconteceu alguma coisa?

- Você já deve ta sabendo do Diego e da Pri, né?

- Sim... Ela me contou...

- Pois é... O Diego ta aqui na minha casa, e ele também me contou...

- E como ele ta?

- Péssimo... Nem tem o que dizer... Mor, eu nunca vi ele assim... Agora, ele foi tomar um banho, e a gente vai ficar aqui por causa da banda...

- A gente, precisa fazer alguma coisa por eles... A Pri... Tadinha da menina, nunca vi ela do jeito que ela ta por um menino...

- E você tem idéias, mor? O baile é amanhã...

- Agora não... Mas eu preciso falar com ele... Posso ir ai?

- Claro!

- Então daqui a pouco eu to ai. Beijos mor, te amo.

- Também te amo, beijos.

Desliguei o celular e avisei minha mãe que estava de saída, mas que daqui uma duas horas eu voltava.

Em cinco minutos já estava na casa do Caco. Ele me atende, com um selinho um pouco demorado. O Diego ainda estava tomando banho, mas não demorou a sair. Ao vê-lo descendo a escada vejo que a sua cara, não era uma das melhores...

- Oi Mii...

- Oi Diego... Como ce ta? – pergunto por educação, mesmo sabendo a resposta.

- Me sentindo a pior pessoa do mundo... Como eu pude ter feito aquilo? – ele disse, sentando no sofá.

- Vou pegar algo para beber... – o Caco levanta-se para ir até a cozinha.

- Mii, você sabe o quanto que eu gosto da Pri, você acha que eu faria uma coisa dessas?

- Eu sei Diego... Por isso que eu acredito que foi a Ana quem te beijou.

- Como eu queria que a Pri soubesse, assim como você...

- E por que você não contou? Quando ela disse que gostava de você? Era um ótimo momento... Talvez vocês não estivessem sofrendo...

- Eu não esperava por aquilo, entende? Quando ela me falou aquilo, meu mundo caiu...

- E o dela também...

- Ela vai ao baile amanhã?

- Eu a forcei, mas ela não quer te ver... Diego, eu gosto muito de vocês dois... Faz alguma coisa...

- Como? O que? Eu nem vou conseguir pra cara dela...

- Bem... Eu mandei ela se vingar de você – e ligeiramente, mostrei um sorriso – Mas ela não vai conseguir...

Neste momento o Caco chega, com três copos de Coca-Cola bem gelado. Senta-se ao meu lado, e coloca o braço sobre meu ombro.

- O que eu perdi?

- Nada não... Mas você conseguiu ter alguma idéia? – pergunto a ele.

- Nem... Eu já disse pra ele, que o que vai ajudar é ir conversar com ela...

- E eu tentei, mas ela é teimosa... – ele diz, com uma voz desanimada.

- Simples, seja mais teimoso que ela! Se eu a conheço, ela vai tentar de evitar o máximo possível...

- Ótimo... Ela me odeia...

- Não Diego – eu me intrometo rapidamente – ela te ama, e eu nunca vi ela assim por alguém... Por isso que ela vai te evitar, para não sofrer mais...

Era incrível, a reação do garoto quando eu disse que ela o amava. Ele abaixou a cabeça, se sentindo culpado, mesmo ele sabendo que não era. Nessas horas a Ana deveria estar rindo da desgraça que ela causou.

- Mas, voltando ao assunto... Como surgiu o beijo?

- Então, a Ana me seguiu até minha casa porque segundo ela, tinha um homem a seguindo e ela estava com medo. Eu nem liguei, mas quando eu cheguei à minha casa, ela veio com assunto do baile e me perguntou com quem eu ia aí eu disse que era com a Prit... Na hora, ela foi se aproximando de mim, e eu sempre tentando fugir. Ainda disse que ela era muito sortuda pelo fato que eu gosto dela...

- Depois veio com o papo que ela sempre foi a fim dele – o Caco disse.

- Como é que é? Ela? Ela nem nunca olhou pra você o ano inteiro. Eu lembro muito bem do primeiro dia de aula quando a Pri entrou na sala e você olhou pra ela... A Ana só faltou matar a menina... E ela sempre namorou os garotos populares... – disse incrédula.

- Pois é... A gente estuda junto desde quinta série, e ela sempre me zoou por eu ser meio nerd...

- Então só temos uma explicação para isso...

- Qual? – os dois disseram meio assustados e em coro.

- Ou ela é lésbica e se apaixonou pela Pri, ou sentiu competição desde primeiro dia de aula...

- A segunda opção é a mais provável, amor... Competição? – Caco, indagou.

- Sim, a Ana sentiu que a Pri poderia competir com ela... Roubar a majestade dela...

- Que idiota... Por isso ela me beijou... Para machucar a Pri... – o Diego soltou. Se eu lesse pensamentos, diria que ele estava xingando a Ana de todos os nomes possíveis.

- Di, dessa vez a gente não vai se meter... Conversa com a Pri no baile, mesmo que ela não fale nada, só fala a verdade e o que você sente por ela... – o Caco disse preocupado com o amigo.

Meu Deus, o Caco falando coisas sábias! Isso me impressionou! Apenas concordei com ele.

Ficamos lá mais algum tempo e depois eu resolvi ir embora com o Diego. No caminho, eu fiquei o observando e descobri uma pessoa séria, e com medo ao mesmo tempo. Em outras palavras um alguém totalmente diferente do menino que eu conhecia...

- Di, você não precisa se culpar por algo que você sabe que não foi culpado... Pára de sofrer, pelo menos um pouco...

- Eu sei Mii... Valeu por se preocupar comigo, mas eu to assim pela Pri...

Cheguei até a minha casa e me despedi dele com um forte abraço.

- Vocês vão ficar juntos... ‘cê vai ver...

- Agora eu só quero que ela fique bem e feliz...

- Tchau – dissemos em coro.