Eram três da madrugada. Não ia adiantar muita coisa eu ficar olhando para o teto e esperando o sono chegar. Ele nunca chega. Desci para tomar um copo de água e quem sabe, o sentimento de culpa não fosse embora da minha cabeça? Desci as escadas devagar, até porque eu não pretendia acordar ninguém. Estava tudo escuro, apenas um leve claro das luzes dos postes públicos, que refletiam pela janela. Um braço me agarrou pela cintura e me puxou até a cozinha. Já mencionei que isso é super clichê? Coisa de filme! Achei que eu estivesse sonhando, mas não. Andrew me olhava sorrindo, apertando minha cintura e me deixando entre o balcão de granito e ele.

- Eu não te perdoei, esqueceu?! - Arqueei uma sobrancelha.

- Ei, relaxa. - Mordeu os lábios. - Não vou fazer nada que você não queira!

- Ótimo! - Sorri cínica - Porque eu não quero exatamente nada de você.

- Desculpa?! - Pediu chegando bem perto.

- Vou pensar no teu caso. - Virei o rosto e ele beijou minha bochecha. - Isso mesmo, amiguinho! - Ri.

Andrew me olhou com uma cara de decepção e depois, subiu. Mas o que ele estava fazendo na minha casa, ás três da manhã?! Vai saber, né. Peguei o copo e enchi até a metade com água e bebi devagar. Nada de sono, até agora. Quando cheguei na sala, ouvi um fungado abafado e soluços. Hesitei em perguntar se tinha alguém ali e por mais óbvio que seja, eu quis perguntar. Era evidente que alguém estava ali, chorando. Eu só não sabia onde.

- Trev? - Chamei.

Ninguém respondeu.

Dei passos curtos e mesmo assim, apressados. O sentimento de culpa veio com toda força e um nó se formou na minha garganta. É, ele estava lá, enrolado em um cobertor, fungando. Só faltou um pote de sorvete de chocolate do lado pra acompanhar aquela cena. Ele estava de costas, com a cabeça enterrada no braço no sofá. Fiquei de joelhos e fiz carinho no seu cabelo.

- Trev? - Quis que ele me olhasse nos olhos. - Vai pra cama, está tarde...

- Não quero, July! - Resmungou. - Pode ir, vai dormir e me deixa!

- Só vou se você me desculpar. - Peguei o queixo dele, fazendo com que ele olhasse pra mim.

Suspirou.

- Desculpar pelo quê? - Limpou uma lágrima que escorreu no canto do rosto.

- Eu fui idiota quando desliguei a caixa de som. - Disse quase inaudível. - Acho que nossos pais não iam gostar.

- Nossos pais ou você?! - Ele sentou. 

- Eu também te amo. - Fechei os olhos, receosa. - Eu só acho que... - Me interrompi, ao sentir o polegar do Trevor acariciando meus lábios.

- Acha que...?! - Olhou no fundo dos meus olhos, quase me hipnotizando. - Diz, July, diz!

Eu não consegui falar. Ele me beijou. Senti suas lágrimas quentes cairem sobre a minha perna. Ele me beijava devagar, tentando absorver toda a tristeza. Enquanto ele fazia isso, eu limpava suas lágrimas que escorriam pela bochecha. Não tinhamos pressa, então o beijo durou bastante tempo.

- Vai dormir agora?! - Perguntei. 

- Não vou conseguir dormir, pequena... - Me abraçou, afundando o rosto no meu cabelo. - Ainda tô bem mal!

- Mas eu tô aqui, com você. - Murmurei.

- Eu sei, eu sei...

[...] 

Acordei com os fones tocando Californication - Red Hot Chili Peppers no último volume. Eu não tinha vontade de levantar da cama, não queria olhar para o Trevor depois de tudo isso. Mas mesmo assim, eu sabia que de qualquer forma, eu teria que continuar a conviver com ele, mesmo depois de tudo isso. Desci, tentando parecer menos preocupada e me joguei no sofá, ainda com os fones, que agora tocavam Yellow - Coldplay. A música não ajudou muito, já que quando eu a ouvia, me dava vontade de chorar. Fechei os olhos e suspirei. Senti alguém puxar um dos meus fones e me dar um beijinho na bochecha.

- Trevor? - Mordi os lábios e franzi o cenho.

Ele sentou do meu lado e suspirou.

- Dormiu bem? - Perguntou.

- Não muito. - Desviei o olhar. - E você?

- Não dormi. 

- Desculpa?! - Perguntei involuntáriamente.

- Ei, eu já disse que não precisa se descul... - O interrompi.

- Eu tô falando sério! Desculpa por ter desligado a caixa de som, por agir como criança desde que eu cheguei. - Senti um líquido quente escorrer pela minha bochecha. - Eu tenho feito tudo errado, Trevor! - Suspirei. - Droga...

Ele me puxou para o seu colo sem dizer nada e ficou acariciando minha bochecha. Suspirei.

- Trev?! - Chamei e ele me olhou. - O Andrew dormiu aqui ontem? - Perguntei.

- Não.

O quê?! Foi tudo tão real! Ah cara, eu devo estar ficando louca.