Minha cabeça se encosta no confortável travesseiro. Que dia!
            Todas as imagens se passam na minha cabeça, mas uma é a que mais me impressiona. Como pode ser verdade?
            Lembro-me dos lábios de Justin me tocando, de suas mãos me abraçando...
            Após o beijo, Justin me olhou com timidez. Nós continuamos nos olhando, sem conseguirmos falar uma mínima palavra. Nossas mãos continuam tocando, um ao outro. Seus olhos se alternam entre meus olhos e minha boca. Minha respiração está ofegante, e sou incapaz de pensar na minha próxima ação.
            - Está esfriando... – Ele me disse, quebrando o silêncio. - Eu acho melhor dormimos agora. Eu vou te mostrar o seu quarto.
            Até agora não mencionamos nada sobre o beijo, aliás, não mencionamos mais sobre nada. Apenas ficamos calados.
            Será que eu estraguei tudo? Mas afinal, foi ele quem me beijou, não foi?
            Um barulho interrompe o meu pensamento, o que é isso? Demoro um pouco até entender que é alguém batendo na porta do quarto, sem dúvida é ele!
            - Posso entrar? – Ele me pergunta. Eu grito afirmando, e ele entra devagar. – Eu acho que você deve estar um pouco confusa, acho que nós precisamos conversar! – Ele senta-se na beirada da cama. – Nós não nos falamos muito, nos conhecemos hoje, mas eu realmente precisava tentar aquilo... – Ele se aproxima de mim. – Espero que você não tenha se ofendido. Mas também não quero que você crie falsas esperanças. Eu ainda estou um pouco confuso, terminei meu namoro recentemente por isso, preciso de um tempo para pensar. Mas acho que preciso te dizer que aquele beijo foi um dos mais...  – Ele para. – Não sei como me expressar... – Ele se aproxima de mim, e segura meu pescoço com as duas mãos. Após encostarmos os lábios eu me afasto.
            - Acho melhor não! – Ele se afasta um pouco, mas não tira as mãos de mim. – Também preciso pensar um pouco e... – Ele me ignora e me beija novamente.
            Eu não sei como ele consegue, também não sei o que é, mas algo naquele beijo me fez ficar totalmente vulnerável, totalmente sem ação. Ele se ajeita na cama, sem desgrudar nossos lábios. Eu seguro sua cintura, e sua perna se coloca em cima da minha. Desço a mão até sua coxa e aperto-a com força. Espero que ele não tenha achado ruim, mas me deixou bem mais confiante. Ele coloca seu corpo em cima do meu, me obrigando à voltar minha mão para sua cintura, até que ele separa nossos lábios e beija meu pescoço.
            Seu telefone toca nos interrompendo.
            - Desculpe! Eu tenho que atender, pode ser importante. – Ele se desvencilha de mim e vai até o quarto ao lado para pegar o celular. – Alô?... O quê? Mas como? Tudo bem! Venha para cá o mais rápido que puder! – Ele desliga o celular com pressa, e volta para o quarto onde estou. – Venha! Rápido! – Ele puxa meu braço com força, até me machucando um pouco, sem me explicar uma só palavra. Nós corremos para o quarto dele. Ele tranca a porta rapidamente, e empurra seu armário para o lado revelando uma pequena porta.
            - Justin! – Eu grito e ele faz um sinal para eu falar mais baixo. – O que está acontecendo? – Eu sussurro.
            - Não tenho tempo para explicar! – Ele sussurra em meu ouvido, e depois abre a porta com uma chave em seu bolso. Nós entramos em uma pequena sala. Ele acende as luzes e eu observo o local. Aproximadamente seis monitores encostados em uma parede, e na outra estantes com alimentos é galões d’água. Mas o que mais me chamou atenção foi um quadro localizado na parede do lado da rua.
            - É o que eu estou pensando? – Eu ainda sussurro. – Isso é uma espécie de quarto seguro?
            - Eles nos enganaram! – Ele ignora minha pergunta enquanto liga os monitores revelando imagens da casa. – Estavam de alguma forma nos seguindo esse tempo todo, até chegarem aqui.
            - Eles estão aqui? – Não consigo deixar de gritar.
            - Shh! – Ele parece tenso. – Apenas um, está aqui dentro, em algum lugar... – Ele analisa os monitores. – Joe está vindo nos buscar, em pouco tempo estará aqui. – Um homem com roupas pretas surge na tela, na câmera da piscina. – Aqui está! – Ele aponta para o homem de preto. – Ele parece estar procurando alguma coisa além de nós... – Suas mãos passam por todo seu rosto, enquanto ele fecha os olhos. – Eu esqueci! Deixei o envelope naquela parede de pedras, por mais que seja seguro, ele pode descobrir! Eu preciso pegá-lo! 
            - Não! Você não pode ir lá! – O celular dele anuncia uma nova mensagem, mas meus olhos continuam fixos nos monitores. A tal mancha preta, agora se desloca para dentro da casa, passa pela sala, e sobe as escadas em direção ao andar de cima, onde estamos. – Ele sabe sobre esse lugar?
            - Não, eu espero que não! – Ele ao menos olha para mim, e fica compenetrado em seu aparelho. – Droga!
            - O que aconteceu? – Eu tento espiar por cima de seu ombro algum sinal. – O que foi? – Ele aponta para o monitor. O homem de preto está no quarto de Justin, exatamente ao lado de onde estamos. – Ele não pode entrar aqui certo?
            - Certo! – Eu suspiro de alívio. – Mas nós também não podemos sair! – Meus olhos acompanham o homem, enquanto ele revira todo o quarto. Abre e esvazia todas as gavetas, examina todas as roupas do guarda-roupas, e transforma o quarto em um verdadeiro caos. – Joe está aqui na frente – Ele volta a sussurrar. – Vamos ter que fazer algo arriscado, mas necessário!
            - O quê? – Ele aponta o dedo para eu me calar novamente e eu obedeço. Ele retira o quadro da parede, e eu entendo sua função. Em baixo do quadro, há duas cordas que quando são puxadas, revelam uma passagem para a rua.
            Após algum tempo, me assusto com batidas na porta. Vejo o monitor, e percebo que é o tal homem, batendo na porta por onde entramos, tentando abri-la sem sucesso.
            - Me desculpe, mas é o único jeito! – Ele vai até a prateleira e retira uma escada, com os degraus pendurados por corda, semelhante àqueles usados nos filmes de ação, quando o mocinho tem que subir em um helicóptero que surgiu do nada.
            Justin prende a ponta da escada na beirada da passagem, e vem em minha direção.
            - O carro já está lá em baixo, desce primeiro, eu vou bem atrás de você! – Ele se desvia de mim, abrindo meu caminho até a passagem.
            Não posso fazer isso!
            Mas é preciso...
            Mas eu nunca enfrentei uma situação como essa!
            Tem um seqüestrador aqui!
            Após olhar um tempo para baixo, assustadoramente, coloco meu primeiro pé na escada, viando de costas. Resisto um pouco, mas Justin está bem atrás de mim, esperando para descer.
            Finalmente coloco o outro pé de desço alguns degraus até conseguir colocar minha mão.
            - Não olhe para baixo! - Minha mente dizia, enquanto o vento forte batia em meus cabelos. Resolvo então olhar para cima, e vejo que Justin está com muita pressa, e eu estou atrapalhando-o. Preciso ir rápido!
            O chão ainda parece distante, então meus olhos ficam fixos na parede à minha frente.
            Para piorar a situação, sinto alguns pingos em minha mão.
            Não! Chuva agora não!
            Antes que pudesse concluir meu pensamento, uma forte chuva se inicia, transformando o chão de terra em pura lama.
            Continuo descendo, faltam apenas alguns degraus, que estão ficando cada vez mais escorregadios!
            Piso em falso em um dos degraus e escorrego da escada. Tento segurar com as mãos em algum dos degraus, mas é inútil, acabo machucando o pulso por bater em um deles com força.
            Por sorte, o chão molhado pela chuva acabou amortecendo minha queda, porém a dor do impacto ainda foi forte.
            Grito em minha mente, mas me mantenho calada, para não despertar a atenção do homem de preto, que ainda estava dentro da casa.
            Justin desce com pressa e se agacha para me socorrer.
            - Você está bem? – Ele sussurra em meu ouvido. Incapaz de falar, aceno com a cabeça. – Venha! Eu te ajudo! – Ele me carrega no colo, e coloca-me dentro da limusine de Joe. Após Justin fechar a porta, Joe acelera pela estrada molhada. Minha cabeça está encostada no colo de Justin, e seguro meu pulso para tentar amenizar a dor.
            - Como ela está? – Joe pergunta do banco da frente.
            - Eu estou bem. – Falo com a voz baixa. – Minhas pernas e meu pulso doem um pouco, mas acho que posso suportar.
            - Você vai ficar bem! – Justin pega um baixo do banco, uma mala de primeiros socorros, e me dá um comprimido para dor. – Tome isto, vai te deixar melhor! – Ele me entrega uma garrafa d’água, e eu engulo o comprimido, sentindo seu gosto amargo.
            O carro segue em alta velocidade para algum destino desconhecido.

0O0

            Depois de várias horas, nos continuamos correndo, dentro do carro, e minhas dores já passaram, graças ao remédio. Olho para Justin, ele está encostado na janela, observando o obscuro caminho.
            - Você sabe para onde estamos indo? – Pergunto para ele, curiosa. – Parece ser algum lugar bem longe não é?
            - Nem tanto... – Ele diz, parecendo não se importar muito. – Mas eu fiquei preocupado com você! Não está mais doendo mesmo? – Ele me pergunta pela milésima vez.
            - Já disse que não! Não confia em mim?
            - É claro que sim, mas foi uma queda feia. – Ele olha para meu machucado na perna. – Qualquer coisa é só me falar que eu vou estar aqui! – Ele segura minha mão, e então me lembro do nosso ultimo beijo na minha cama. Teria sido aquele o último?
            Minhas lembranças voltam. De manha eu era apenas uma adolescente fanática por ele, como todas as outras, e de noite eu o conheço e depois o beijo!! Será verdade mesmo?
            Será que tudo isso não se passa de um sonho? Essa historia de um “tesouro” escondido na minha casa, os beijos, o refúgio... Será que ainda estou dormindo?
            Aproveito que Justin não está olhando e me belisco.
            Aaahh! – Grito em meu pensamento, pela dor do beliscão. Mas nada acontece, é tudo verdade! Justin Bieber realmente me beijou! Espero que ele não tenha se arrependido.
            O carro para.
            Olho para o lado, e vejo o estacionamento escuro e vazio em que paramos.
‘           - Eles não podem nos encontrar de novo – Explica Joe. – Por isso vamos mudar de lugar todas as noites, então não se apeguem ao local. A SMS chegou no refúgio, mas eles conseguiram fugir, antes de serem pegos.
            - SOS? – Pergunto para Justin.
            - Serviço Oculto de Segurança. É a empresa que faz cuida da minha segurança, está nos ajudando neste caso. – Ele me explica com paciência.
            Subimos por uma escada pouco iluminada, até chegarmos a um pequeno quarto de hotel. Nada se compara ao refúgio, mas é apenas por uma noite então tudo bem.
            Ouço Justin falando com Joe, e em poucos segundos ele levas suas coisas para um outro quarto.
            - Ele não vai ficar com a gente? – Pergunto para Justin.
            - Eu pedi que ele fosse ao outro quarto – Ele se aproxima de mim. – Tem uma coisa que eu quero fazer esta noite!